As manhãs de Plinio – 1 – Riqueza de aspectos no ambiente de São Paulo
A São Paulo de minha primeira infância era uma cidade pequena – tinha entre cem e duzentos mil habitantes –, pacata e silenciosa. E sua atmosfera compunha-se da junção de vários fatores.
Riqueza de aspectos no ambiente de São Paulo
Em primeiro lugar, sentia-se muito a proximidade do campo, por causa das colinas que circundam a cidade, cobertas de mato. De vez em quando sopravam certos ventos, trazendo um remoto odor de vegetação, que parecia vir impregnado de vida.
Isso causava um verdadeiro bem-estar, acrescido pelo fato de serem os jardins do bairro dos Campos Elíseos, onde eu morava, muito bem cuidados e sempre floridos. Então, o aroma longínquo da mata e o perfume próximo das flores somavam-se a uma abundância de passarinhos – sobretudo beija-flores e tico-ticos – e de borboletas, o que me parecia ser um ósculo entre a civilização e a natureza bravia, quase selvagem.
Em segundo lugar, havia um ecletismo muito grande, pelo qual era freqüente ver, no mesmo bairro, palacetes e casas de operários. Eu presenciava em frente à minha residência cenas como esta: vinha um grande automóvel europeu ou norte-americano, com um ou dois “chauffeurs”. De longe ouvia-se a buzina, e o copeiro de certa casa, entendendo que os patrões estavam chegando, descia correndo para abrir o portão. Eles entravam, vindos de uma reunião social, com a atitude de quem chega de uma recepção no Bois de Boulogne, em Paris. Pela janela viam-se quadros, espelhos e bonitas cortinas, que deslumbravam quem passasse pela rua.
Ao lado disso, havia uma família de imigrantes na calçada, sentados em cadeiras formando roda e comendo em torno de um braseiro que aquecia não sei que pizzas ou polentas. Aquele odor do alho ou da cebola, misturado ao perfume da senhora que entrava na mansão e ao cheiro de combustível do veículo faustoso, constituía um todo com o ar de serrania e de jardim civilizado que descrevi. Eu me encantava em observar essa riqueza de aspectos.
Ruídos da madrugada
Durante toda a minha vida tive muito bom sono, mas uma vez ou outra acontecia-me acordar de madrugada ou de manhãzinha, passar uns quinze ou vinte minutos desperto e depois adormecer novamente. Nessas ocasiões começava a ouvir os discretos e sugestivos ruídos da noite que ia acabando e da vida na cidade que ia começando. Entre esses havia alguns de que me lembro especialmente.
A pouca distância de minha casa, na alameda Glete, havia uma enorme estação da Light, uma empresa canadense, de energia elétrica e bondes. Em certa hora, começava o barulho dos bondes que cessavam seus percursos e entravam ali. Então, mesmo que eu não acordasse inteiramente, aquilo me trazia idéias dentro da penumbra: vinha-me vagamente a imagem de motorneiros atravessando a noite, dirigindo inutilmente veículos vazios – pois ninguém os tomava nessa hora – e girando pelas ruas. Eu pensava como estariam esses homens na dianteira do bonde, sem proteção contra a ventania fria, na neblina da São Paulo daquele tempo, onde as lâmpadas de gás reluziam como sóis de prata.
Esses condutores possuíam uma enorme disposição para conduzir o bonde. Eu imaginava um deles exausto, mas chamejante e vivo, com a bigodeira – pois quase todos usavam bigode – úmida de neblina, mas sentindo uma espécie de vitória sobre a névoa que ele atravessava heroicamente. Lembrava-me então de alguns que eu conhecia especialmente e via-os recolhendo-se naquela hora para irem dormir em suas casas. Como seriam eles ao chegar, mal podendo movimentar-se de cansaço? Daí a quinze ou vinte minutos estariam jogando-se na cama e começando a gozar do repouso. Eu julgava que eles teriam a sensação de um batalhador que venceu a noite, o frio e a solidão. E também pensava:
“Fulano comentou ontem que fica nervoso quando ouve esses bondes passarem. Eu não compreendo bem a razão do seu nervosismo. Os bondes estão lá fora! Não entram no quarto dele! Eu estou ouvindo esse ruído e, curiosamente, não estou nervoso nem um pouco. Até me sinto bem calmo. Parece-me inclusive que essa barulheira toda tem qualquer coisa de divertido… É bom que eles tenham esse movimento e essa animação, e que eu ouça tudo daqui, sem estar engajado nisso… Eu não quereria estar num bonde agora, por nada do mundo! Vou continuar sob estas cobertas, que estão boas para mim!”.
Aquilo era uma minúscula reflexão, em que eu confrontava a minha calma com a agitação nascente de São Paulo, e com as reações nervosas daqueles que sentiam a cidade crescer.
Às vezes eu estava dormitando e ouvia os passos de um homem que tinha sofrido uma amputação e usava uma perna de pau. Não sei quem era esse coitado! Ouvia-se muito regularmente aquela cadência da perna artificial e do passo normal, e ele andava: pum-pam, pum-pam, pum-pam, com tanta decisão e pressa, que eu pensava: “É dura a vida desse homem. Como deve ter sido dolorida a amputação dessa perna!”. Eu tinha uma ideia muito vaga de anestesia… “Por que terá sido cortada? Que sofrimento! A perna está cortada, mas a vontade é forte! Ele sabe carregar seu próprio infortúnio e caminha com uma resolução que não possuem certas pessoas que eu conheço, as quais arrastam as pernas…”.
Provavelmente esse homem era muito pobre e nunca imaginou que estava dando uma lição de fortaleza a um menino que acordava nessa hora, numa cama muito confortável. Aquilo, para mim, marcava de algum modo o ritmo forte do trabalho para o qual São Paulo estava acordando, e eu sentia o pulsar da cidade naquele homem cujo passo era um estímulo para tirar os preguiçosos da cama… Impressionava-me ouvir o andar daquele pobre estropiado, enquanto muita gente de constituição física normal levava uma existência mole. E enquanto o perna-de-pau ia se afastando, eu me virava do outro lado e adormecia novamente, concluindo: “Mais vale ter cabeça que perna, e mais vale possuir alma de que saúde”.
Isso me encaminhava para um princípio geral: a ideia de que a vida, nas camadas mais humildes da população, apresentava uma deliciosa compensação que nossa classe não possuía, pois certas coisas a amoleciam um tanto. Tudo isso se passava no meu subconsciente. E eu adormecia de novo.
Análises ao despertar
Éramos obrigados a estar de pé às sete horas da manhã, como convém às crianças, mas creio que a Fräulein desejaria que fosse ainda mais cedo…
Em certas ocasiões, entretanto, acontecia de eu acordar antes da hora oficial. Nem minha irmã nem a Fräulein – que era o grande “despertador” compulsório – haviam se levantado ainda. Eu ouvia os tico-ticos fazendo a sua folia, a luz do dia já entrava pela minha veneziana e, olhando em torno de mim, eu começava a tomar gosto pelas coisas que me cercavam. Prestava atenção na minha roupa de cama, no meu travesseiro, nos meus cobertores – se era inverno –, nos móveis, nos quadrinhos de santos e outros objetos fixados na parede, e fazia a comparação com artigos do mesmo gênero que eu via, às vezes, em outras casas, pensando: “Como é gostoso tudo o que há no meu ambiente! Olhe aqui este lençol… Que coisa macia e agradável! E são dois lençóis. Que bom!”.
Às vezes eu passava a mão sobre o travesseiro e dizia para mim mesmo: “Travesseiro… Como é isto? O que tem dentro dele?”. Olhava o papel de parede e o lustre, refletindo: “Isso está bom e se coordena com tais e tais outras coisas…”.
Eram as primeiras sensações do dia, em meio à atmosfera calma de São Paulo. Eu continuava pensando: “Que tranqüilidade agradável! Que pena não poder permanecer aqui o dia inteiro, sem que ninguém entre – quando muito, mamãe! – e assim eu aprenderia como são certas coisas, das quais depois concluiria muitas outras…”.
Havia, no jardim de casa, uma lata de folha-de-flandres, com forma vagamente cônica, na qual os empregados recolhiam o lixo, de manhã bem cedo, colocando-a na rua, onde ela permanecia até passar o lixeiro, que a abria deixando a tampa cair no calçamento, fazendo ruído. Então, ele a levava correndo até o carro, onde jogava o lixo, trazia-a de volta e a tampava.
Nessa hora, a vida da camada modesta da população começava a se manifestar, de modo um tanto barulhento: havia carroças, puxadas por cavalos, que transportavam leite para ser distribuído nas residências. E as garrafas, chocando-se umas contra as outras, faziam um ruído característico, seguido da batida da portinha do veículo. Ouvia-se também o som muito poético dos sininhos de um rebanho de cabras.
Tomando leite de cabra na cama
A medicina daquele tempo já empregava algumas normas do nutricionismo de hoje e dava muita importância a certos alimentos como fator para manter a saúde. Entre as coisas tidas como “dogmáticas”, os médicos reputavam ser o leite de cabra muito saudável. Portanto, nada era melhor para tonificar as crianças do que beber leite fresco de cabra, logo ao amanhecer. Naturalmente, mamãe queria que minha irmã, minha prima e eu o tomássemos.
São Paulo era ainda tão campestre que, na rua Sebastião Pereira, quase na esquina com a alameda Glete – no coração da cidade, portanto –, havia uma criação de cabras, propriedade de um velho senhor monarquista. Todas as manhãs ele mandava conjuntos de quatro ou cinco cabras, com um responsável, para vários endereços, pois havia famílias que faziam “assinatura” de leite de cabra. As crianças eram acordadas e tomavam o leite quente na cama, antes mesmo de se levantarem.
Era muito bonito escutar todos os dias, ao longe, na rua ainda silenciosa e, às vezes, cheia de neblina, o bimbalhar dos guizos das cabrinhas: blim-blim, blim-blim, blim-blim, em vários pontos da cidade. Eu já tinha visto os rebanhozinhos de cabras na rua: iam amarradas no mesmo jugo e deixando-se guiar bastante bem.
Meio dormindo ainda, eu ouvia o barulho aproximando-se e reconhecia o meu leite de cabra que vinha chegando. Devia ser um caminho com ziguezagues, pois o som ia de um lado para o outro e sumia ao longe, numa casa. Depois voltava e passava pela minha residência sem parar, pois, antes de chegarem as “minhas” cabras, passavam outras. Havia hora marcada para cada encomenda, já que era preciso beber o leite ao despertar, mas as crianças acordavam em horários muito diferentes.
Eu gostava de ouvir aquele aproximar-se e distanciar-se do leite de cabra, como quem diz: “A gostosura está vindo; não, ela está indo, mas ela acaba voltando aqui”. Parecia-me que as cabras tocavam um sino, anunciando o primeiro prazer da manhã: “Nasceu o sol, a manhã está bonita, o jardim de casa está cheio de borboletas e de flores. Daqui a pouco mamãe acorda e a vida começa agradável. Logo entra a criada com a bandeja, tendo um ‘copaço’ de leite de cabra para mim”. Aquilo me parecia o próprio som do que ainda havia de inocente em São Paulo. Era como se a inocência da infância se fizesse ouvir através daquele “blim-blim” dos sininhos, quebrando outros ritmos e resistindo à opressão da agitação que subia na cidade.
Entretanto, eu não queria beber o leite de cabra apenas por gostar muito dele. No meio disso havia uma análise que eu não era capaz de formular mas estava implícita: as coisas agradáveis da vida são assim; elas se aproximam e se distanciam, fazem ziguezagues, mas deixam sempre um sinal de que chegarão. Isso era uma regra da vida, um tanto metafísica, que se executava na ida e vinda do leite de cabra como na ida e vinda dos negócios, das amizades e das estações balneárias. Todas essas coisas seguiam a mesma irregularidade simpática e amável.
Eu ficava então deitado, procurando interpretar a marcha do leite de cabra.
Afinal, o tropel chegava. Uma criada chamada Belmira tinha o seu quarto embaixo do meu e eu percebia que ela se levantava para abrir a porta. O condutor das cabras as ordenhava e o leite ia diretamente para o copo. De acordo com instruções recebidas, ela – ou mamãe, às vezes – levava-o para a copa e misturava-o com canela e conhaque francês ou vinho do Porto, alternando conforme as crianças gostassem. Em certa ocasião, o leite foi servido com duas gemas de ovo batidas, de que não gostei, pois o achei esquisito, e ninguém insistiu comigo sobre isso…
Lembro-me da Belmira entrando com uma bandeja e servindo aquela bebida espumante num grande copo de cristal. Eu não era muito entusiasta do vinho, mas a mistura me agradava muito. Eu bebia avidamente grandes goles e a criada dizia:
– Seu Plinio, o guardanapo também veio!
Eu entendia que era para enxugar a boca, limpava-me, ela ia embora satisfeita e eu, mais contente ainda, afundava na roupa de cama por mais uma meia hora.
Saboroso café da manhã
– Pliniô!!
Era a Fräulein… A vida começava.
A hora de levantar era agradável para mim. Sentava-me na cama e rezava. E, sem corre-corre, ia “tomando o ar” das coisas: ouvia os ruídos domésticos ou da rua, sentindo a vida que começava a pulsar em torno de mim. E o hábito estabelecia a seguinte seqüência: banho, café da manhã e “bom dia” para mamãe.
Minha irmã e eu tomávamos o café numa saletinha especial para esse fim. Essa refeição consistia em algo muito comum, mas que eu apreciava altamente: café com leite – sem que o leiteiro misturasse nem uma gota de água! – e pão excelente, trazido logo de manhã e feito com farinha importada da Argentina, no qual se sentia o gosto bom do trigo. Não havia geleia, nem queijo, nem iguarias especiais, mas manteiga muito boa, feita de verdadeiro leite e passada abundantemente sobre o pão. A Fräulein havia descoberto um local, nos arredores de São Paulo, onde a colônia alemã comprava certa manteiga cuja boa qualidade ela nos explicava. Era um prazer simples para almas equilibradas. Uma delícia!
Métodos enérgicos para abrir o apetite
Entretanto, em certo período fui um menino de pouco apetite. Não queria me alimentar, apesar da recomendação dos médicos, e emagrecia muito. Então, a Fräulein Mathilde aplicava toda a energia dos métodos alemães para me forçar a comer. Ela punha os seus dedos pontudos em minha face e ordenava:
– Abra a boca!
Eu a abria e ela continuava:
– Não feche, pois será pior!
Ela me enchia a boca de pão com manteiga, fechava-a e dizia:
– Coma! Engula! Ou você engole ou não lhe deixo abrir a boca!
Ela não fazia isso com brutalidade, mas de um modo delicado e peremptório ao mesmo tempo, sem nunca me machucar. Eu tentava resistir durante algum tempo, mas depois acabava engolindo, para não ter de enfrentá-la. Logo depois ela dizia:
– Abra a boca de novo! Mais uma!
– Quantas são?
– Cinco… não, três ou quatro.
E continuava… Um outro menino talvez se revoltasse, mas eu achava mais cômodo comer sem fome do que me revoltar, pois isso traria conseqüências desagradáveis…
Terminada a refeição, ela me levava até onde estava mamãe, que perguntava:
– Você comeu bem, meu filho?
E eu recebia um carinho que era o melhor atrativo para engolir o alimento da próxima vez. Aquilo formava um misto de duas educações… Eu sabia que a Fräulein fazia isso porque mamãe tinha dado licença e, sabendo que mamãe não errava, eu aceitava.
Entretanto, às vezes eu adotava uma solução intermediária. Na hora do café da manhã, a Fräulein cortava pedacinhos de pão, passava manteiga, punha-os no meu prato e mandava:
– Em dez minutos estarei de volta e todo esse pão tem de estar comido.
– Sim, senhora.
Ela saía e eu ouvia o passo dela distanciando-se. Mas, em certa ocasião, mexendo na mesa da saletinha – a mesma que está hoje em minha sala de jantar –, descobri que havia nela uma espécie de mecanismo de madeira para poder ampliá-la em certas ocasiões, e algumas tábuas permaneciam guardadas. Então, quando ela se retirava, eu escondia todas as fatias ordenadamente naquelas traves, debaixo da mesa. Dez minutos depois, estava tudo “comido”… Era a solução! Eu não queria brigar, mas, já que também não queria comer, punha tudo lá embaixo… Ao voltar, ela perguntava:
– Você comeu?
– Sim, senhora, eu comi.
Infelizmente, eu não tinha nenhuma dificuldade em dizer aquela mentira… Certo tempo depois, alguém foi mexer naquela mesa e caiu uma quantidade de pedaços embolorados de pão com manteiga! Então perceberam o que eu fazia… A Fräulein deu risada e não se zangou nem um pouco.
Depois, com a ajuda dela e pelas mil solicitudes de mamãe, meu apetite se abriu… ou melhor, escancarou-se! Transformei-me então num menino muito categórico em matéria de gastronomia.
Conversa matutina com mamãe
Por volta das oito horas, eu me dirigia ao quarto do fundo do corredor:
– Bom dia, mamãe!
Meu pai já havia se levantado. Ela estava deitada na cama, acabando de tomar o café da manhã e, devido à sua doença, levantar-se-i mais tarde. Eu entrava pelo lado da cama onde dormia meu pai e chegava até ela. Abraçava-a, beijava-a várias vezes e depois ficava sentado aos pés da cama, olhando para ela numa atitude de admiração em que entrava muitíssimo afeto.
A governanta quereria os horários fixos, mas já havia compreendido o jeito de ser brasileiro, para o qual o horário é fixo nas linhas gerais… Em certos dias tudo começava mais tarde, pois eu permanecera conversando com mamãe… Minha irmã e minha prima tinham afazeres de meninas, naturalmente um tanto separados dos meus, e não participavam dessas conversas. Nessas ocasiões, mamãe parecia existir apenas para mim! Eu sentia que ela “penetrava em mim” e eu “penetrava nela”, por assim dizer… Então lhe pedia para contar alguma história.
O tom de voz e as longas frases de mamãe
Mamãe possuía o tom de voz mais afetuoso e mais meigo que conheci em minha vida. É quase impossível ter uma ideia de quanto ela transmitia sua mentalidade pela voz, para quem soubesse interpretá-la…
Não era uma voz de cantora. Tinha um bonito timbre, mas sem grande volume e não muito próprio a chamar a atenção. Em virtude da afinidade entre seu timbre de voz e a forma de encanto de sua alma, eu poderia dizer que o “instrumento musical” dela era a laringe! Não tinha nada de monótono. Ela sabia pôr em suas palavras um mundo de pequenas inflexões muito suaves, doces e expressivas, correspondentes aos movimentos do seu temperamento. Nenhuma sílaba deixava de ser “nuancée” [matizada], o que tornava sua conversa muito agradável. Por exemplo, ela utilizava às vezes tons muito profundos, fazendo sentir a seriedade e a gravidade do que estava dizendo.
Se a seda pudesse emitir som, este não seria diferente da voz de mamãe, com algo do murmúrio aveludado de um regato, apesar de ela não ter a menor intenção de causar essa impressão. Por outro lado, o olhar, a impostação da cabeça e o discreto movimento das mãos acompanhavam admiravelmente a voz.
Naquela época apreciava-se muito o estilo das longas frases, e as narrações de mamãe eram sempre feitas assim, à maneira de belos laços e guirlandas… Isso me influenciou enormemente, dando-me facilidade para esse modo de conversar e estimulando em mim a tendência de falar em público.
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