1931 – agosto a dezembro
“O Legionário”, nº 84, 2/8/1931, p. 1
Esteve reunida a Ação Universitária Católica
Reuniram-se dia 29 de junho, às 20 horas, no Palacete do Carmo à Rua Wenceslau Brás, 22, todos os membros da Ação Universitária Católica compreendendo estudantes católicos de todas as escolas superiores.
Presidida pelo Sr. Plinio Corrêa de Oliveira, secretariado pelo acadêmico Milton de Souza Meirelles, foi aberta a sessão, com uma exposição feita pelo presidente da gênese da Ação Universitária Católica e dos fins a que se propõe esta entidade de ação católica.
Passa a seguir a expor a sua organização e as suas relações com os partidos, salientando que a AUC não hostiliza nenhum dos partidos universitários que possam existir nas escolas superiores, desde que não sejam contrários aos princípios cristãos. Mantém a mesma distância perante todos, apenas reservando-se o direito de optar por este ou aquele candidato que ofereça maiores vantagens, na vida universitária, para o desenvolvimento do apostolado.
A AUC está fora dos partidos e acima deles. Atua diretamente na consciência e tem tudo o mais como meio para a afirmação, difusão, atuação e defesa dos princípios católicos nos meios universitários. Termina justificando a sua presença naquela reunião, apesar de já ter colado grau na Faculdade de Direito. É que, tendo-se inscrito no curso de doutorado, sente-se à vontade para prosseguir nas fileiras da AUC
Dada a palavra aos presentes, o Sr. Henrique de Brito Vianna fez algumas observações oportunas, lembrando o caráter universitário da AUC no seio da qual é imprescindível que os estudantes se dediquem às questões que dizem respeito à vida universitária, relativamente às reformas que se projetam ao ensino, aos livros. Neste passo, lembra o presidente que a AUC vai promover em sua sede, uma série de preleções sobre Direito Natural, pelo ilustrado jesuíta, Pe. Serdah, do Colégio São Luís.
Promoverá também aulas de apologética às quais poderão assistir todos os estudantes, indistintamente. Termina dizendo que o Rev.mo Pe. Coulet deverá visitar a Faculdade de Direito, a convite do Centro XI de Agosto, devendo o seu presidente levar pessoalmente o convite ao ilustre sacerdote.
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“O Legionário”, nº 85, 23/8/1931, p. 4
Departamento de Estudos1
Seção de apologética
Começadas as aulas de Apologética no dia 18 de junho, realizaram-se no mês de julho três aulas.
Tem sido feito com todo o rigor o serviço da chamada. O total de comparecimentos atinge 156. A média de freqüência, por aula, é, portanto, de 39 congregados.
Academia Jackson de Figueiredo
Realizou, em julho, sua reunião ordinária. Falou o Congregado Laerte Simões de Arruda. O seu tema foi Lacordaire.
Secção de leituras
Infelizmente, o gosto pelos estudos decresce dia a dia entre nossa mocidade. O ambiente das Congregações não poderia deixar de se ressentir deste mal. Por esta razão, tem sido pequeno o movimento da biblioteca.
O total de livros consultados em julho foi de dezenove. Destes, dezesseis foram em português, um em alemão e dois em francês.
O destino da Biblioteca está ligado ao da Academia. Animados os debates naquela, evidentemente aumentará o movimento desta.
Foi feita uma depuração nos livros da Biblioteca, medida que se tornava necessária, visto ser grande a heterogeneidade dos livros que a compunham. O total das multas recebidas foi de 1$800. As despesas foram de 1$000. O saldo foi de $800.
Os ofícios expedidos foram três.
A seção de aula de Religião
Funcionou regularmente. Houve, em julho, quatro aulas. O total da freqüência bastante animador.
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“O Legionário”, nº 86, 13/9/1931, p. 2
Os livros que devem ser lidos
Dom du Bourg , Du Champ de Bataille à la Trappe, Perrin & Co. Edit., Paris, 1925.
Entre os muitos preconceitos errôneos que dominam a mentalidade das massas populares hodiernas, figura em lugar de destaque a convicção muito generalizada de que é impossível a coexistência, no espírito de um homem, de uma virilidade real com uma religiosidade sincera.
Dá-se com este preconceito o mesmo que se deu com o imundo casario que entulhava, no Egito, os lugares em que, em séculos passados, se erguiam os templos magníficos que os faraós elevavam à glória de seus deuses.
A ação lenta de forças naturais soterrara gradualmente muitos dos monumentos da lendária civilização egípcia. E quando este soterramento ficou mais ou menos completo, sobre os últimos vestígios dos monumentos dos faraós veio lançar-se uma rede inextricável de barracas e cortiços destinados a abrigar a vasa da população egípcia.
Quando alguns denodados egiptólogos empreenderam o estudo da história da pátria de Cleópatra2, não tiveram outro recurso senão arrasar completamente quarteirões inteiros de cortiços, para fazer emergir do seio da terra, onde jaziam sepultados, os magníficos monumentos da arte egípcia, em toda a beleza de suas linhas, na beleza estupenda de sua concepção artística genial.
Imitando os egiptólogos, é necessário que nos esforcemos por arrasar os preconceitos mesquinhos com que a mentalidade hodierna cerca e deforma a idéia de homem.
E, uma vez executada esta obra de desobstrução, poderemos então ressurgir, no espírito público, a majestosa e máscula concepção cristã de virilidade.
Conceito de virilidade
A simples análise racional da expressão viril indica claramente a inanidade dos preconceitos modernos (veiculados especialmente pelo cinema e pelo excesso do sport) a este respeito.
Ser másculo significa ter todas as qualidades próprias ao homem, para que este desempenhe integralmente os deveres ditados por sua alta finalidade religiosa, moral e social.
É evidente que o esforço que se desenvolva para produzir no homem qualidades estranhas à sua finalidade será, ou inútil, ou nocivo.
Por outro lado, é bem evidente que as qualidades serão tanto mais preciosas para o homem – e, portanto, tanto mais másculas – quanto mais altas forem as finalidades humanas que elas visem conseguir.
Os diversos fins de um homem não têm todos importância igual. Pelo contrário, a razão demonstra que eles se subordinam uns aos outros, numa hierarquia completa.
Para cada finalidade do homem existem virtudes adequadas. E tanto mais necessárias ao homem – e portanto mais máscula será a virtude – quanto mais elevada for a finalidade que lhe corresponder.
Se existe um Deus, o primeiro dever do crente será de lhe prestar reverência e homenagem. E a violação deste dever primordial será, para o homem, uma infração máxima à virtude da virilidade.
Aos olhos dos próprios descrentes, portanto, deve ser tido o crente que não cumpre seus deveres como indivíduo inviril.
E, como uma conseqüência lógica, tanto mais viril será o crente quanto mais cabalmente der desempenho a seus deveres religiosos.
Vêm em seguida os outros grandes deveres do homem, que marcam como que outros tantos degraus na escada da virilidade: os deveres em relação à família, em relação à pátria, em relação à humanidade, em relação a si próprio.
O cumprimento destes deveres é árduo. Ora exige os grandes esforços que caracterizam os heróis, ora reclama trabalhos obscuros e perseverantes, sem poesia, sem grandeza, todos feitos de abnegação ignorada e de banalidade absoluta.
Para o desempenho destas grandes missões, que fazem da vida de cada homem, quando bem compreendida, um poema de beleza incomparável, são necessárias certas disposições que são o pedestal de toda a virtude ou virilidade sólida.
A força de vontade
Vem, em primeiro lugar, a força de vontade, que é o alicerce de todas as demais virtudes. Em seguida vem todo o longo cortejo de virtudes viris, que em última análise são um simples corolário da força de vontade: sobriedade, perseverança, domínio de si mesmo, prudência, coragem, audácia, generosidade, etc.
Todos estes atributos não constituem virtudes diferentes; são apenas as cintilações multicolores de um mesmo brilhante: o vigor da vontade auxiliada pela graça.
A par destas jóias puríssimas, que podem fazer do caráter de um homem um verdadeiro escrínio, há imitações mais ou menos grosseiras, que são meras deformações do senso moral, pérolas tekla, que tentam hoje em dia substituir completamente as antigas virtudes, imitando-as servilmente no aspecto exterior, mas diferenciando-se profundamente delas na sua essência.
Assim, quando o temperamento é exaltado, quando uma pessoa não sabe refrear os excessos de um sistema nervoso doentio, as explosões de sua vontade desgovernada passam por força de vontade. Como se se pudesse confundir um rio que sai de seu leito para tudo inundar e tudo destruir, com a água fertilizante que corre em leitos certos, fecundando toda uma região.
Quando o estouvamento da inteligência não vê o perigo, é fácil para uma pessoa afrontar os maiores riscos. E então confunde-se o desatino vulgar de uma inteligência defeituosa com a coragem do herói.
Quando o abrasamento das paixões leva o homem a se entregar sem reservas à faina de amontoar fortunas com que as satisfazer, este sibarita camouflé pode facilmente passar por homem trabalhador.
E, em geral, os heróis que o cinema nos aponta, ou que os romances incensam, não passam de caráteres cheios de vícios com aspecto de virtude. Como certas vitrines de joalherias populares, podem tais homens, com o exibicionismo desenfreado de suas quinquilharias morais, deslumbrar o populacho. Mas só logram despertar o riso e a compaixão dos verdadeiros psicólogos, que não se iludem com o brilho falso destas falsas pedrarias, nem com o esplendor ilusório de uns pobres pedaços de vidro polido.
Há coragem e coragem…
A coragem do herói que conhece o perigo, mas que o afronta por amor a um sublime ideal, não pode ser comparada à imprudência de um ladrão, que não se importa de correr os maiores riscos para dar largas à sua desonestidade.
A coragem do soldado, que afronta a morte por amor à pátria, ou do mártir, que desafia os tormentos para confessar a Fé, não é a mesma coragem do adúltero que, com risco de sua própria vida, penetra clandestinamente na casa de seu amigo para consumar, na escuridão da noite, a ruína de um lar!
Não! A Igreja nunca sancionará o torpe conceito que erige em coragem o despudor, e que entroniza como herói o homem amoral, que ousa afrontar todos os perigos e sujeitar-se a todas as baixezas para satisfazer a solicitação de seus instintos.
A triste coragem que faz do homem um monstro, e da canalhice uma virtude, é bem a coragem do mundo pagão em que vivemos.
Mas, que rufem os tambores; que a pátria chame para o campo de sacrifício todos os seus filhos, e veremos que não é o herói pagão que melhor sabe imolar seu egoísmo, e que com mais espontaneidade sabe oferecer-se como holocausto à grandeza do país!
O livro que deve ser lido
É o que nos mostra, eloqüentemente, o livro de Dom Du Bourg.
Gabriel Mossier, oficial de cavalaria francesa, cingia a rutilante couraça do Corpo de Dragões a que pertencia, em vésperas de uma das maiores batalhas da guerra franco-alemã.
No meio dos preparativos febris das vésperas de batalha, o brilhante oficial lembra-se dos princípios religiosos de sua infância. Antes de morrer, quer reconciliar-se com Deus. E, dada a permissão dos superiores, vai, com um companheiro, fazer um retiro de um dia em uma Trapa vizinha.
Mudança de ambiente. Já não se ouve mais o barulho incessante de um grande exército que se apresta para a luta. Já não se vêem mais as fardas marciais dos filhos da França, que se dispõem para morrer.
No meio de um silêncio que nada quebra, e de uma paz inalterável, um grupo de monges, vestidos de branco, trava em silêncio os grandes combates de Deus.
Emudecido o mundo exterior, Gabriel sente que dentro dele também um grande tumulto se ergue. E, dividido contra si mesmo, passava a ser um campo de batalha. Era o conflito entre a educação religiosa de sua infância, que surgia despertada bruscamente, à beira da morte, neste oásis de piedade, e o peso acabrunhador dos longos anos de caserna, passados no olvido das práticas religiosas.
A batalha foi dolorosa. E quando, no dia imediato, voltava ao Exército, alguma coisa em Gabriel Mossier morrera em face da morte: era o homem irreligioso da caserna, que fora estrangulado pelas recordações de seu tempo de menino.
Fora árdua a batalha. O heroísmo de Mossier, durante o combate, valeu-lhe uma brilhante promoção.
Mas, feita logo depois a paz, outros eram seus planos. Do combate entre o oficial dos Dragões e as recordações da infância, surgira uma terceira personalidade, o trapista.
A infância de Mossier já era uma recordação. Mas o apelo do passado dá a Mossier uma concepção real de seus erros. E o fervor de sua contrição restituiu à sua alma a brancura que desaparecera com a infância.
O seu tempo de caserna também já era uma mera recordação. Mas, despindo a farda, uma coisa lhe ficara do oficial: a coragem.
Do menino, ficara a Fé. Do oficial, o heroísmo. Herói e crente, Mossier se transformou quase insensivelmente em…
Trapista
Uma longa série de anos, todos passados na maior mortificação, eis o resumo de sua sublime vida sacerdotal que, rica em admiráveis detalhes, denota a ascensão constante de uma alma a Deus.
Desta narrativa edificante, e tornada atraente pelo talento literário de Dom Du Bourg, que uma lição nos fique: religiosidade e coragem, Fé e virilidade são coisas inseparáveis. E se os preconceitos vulgares das pessoas incultas nos acoimarem de pusilânimes, acolhamo-nos à sombra do exemplo de um Gabriel Mossier. E, fortificados com seu exemplo, digamos: “Perdoai-lhes, Senhor, porque não sabem o que dizem.”3
Plinio Corrêa de Oliveira
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“O Legionário”, nº 87, 27/9/1931, pp. 1 e 2
Catolicismo e civilização
Plinio Corrêa de Oliveira
É com grande prazer que vi inaugurar-se no “Legionário” a seção bibliográfica, que representa uma hábil iniciativa do congregado Henrique de Brito Vianna, no sentido de se dar aos livros que compõem nossa biblioteca uma maior circulação entre os congregados.
[A ação da Igreja é eminentemente civilizadora]
Por toda a parte onde ela se faz sentir, a ação da Igreja é eminentemente civilizadora, em suas diversas manifestações. Ao mesmo tempo que o Cristianismo invadia a Alemanha com São Bonifácio, também entrava com ele, nos matagais selvagens da Teutônia, a civilização greco-romana. E o mesmo sopro de Cristianismo que varreu da Germânia agreste os fantasmas inconsistentes de sua antiga mitologia, varreu também para longe a selvageria e a crueldade que caracterizavam as implacáveis hordas de bárbaros que assolavam constantemente as divisas do Império Romano.
O que São Bonifácio fez na Alemanha, fizeram-no em todas as nações ocidentais inúmeros missionários humildes que, como pregoeiros da verdade, percorriam em toda a sua extensão a Europa bárbara e selvagem dos primeiros séculos medievais. Destes missionários, alguns foram elevados à honra dos altares. Outros jazem sepultados no esquecimento. Sua obra, porém, lhes sobreviveu. E quando o homem supercivilizado de nossos dias, orgulhoso da velocidade de suas estradas de ferro, percorre rapidamente a Espanha meridional, ou o Portugal que banha suas costas no Atlântico, em uma atmosfera límpida, cheia de vida e de luz, ou a Suécia gélida, eternamente mergulhada no seu sonolento e melancólico nevoeiro, em vez de se envaidecer com os inventos de seu século, deveria antes lembrar-se de que não há traçado de estrada de ferro, não há percurso de estrada de rodagem, não há campo de aviação e não há porto de mar algum, fora dos limites do antigo Império Romano, em que, há muitos e muitos séculos atrás, não tivesse nossa civilização penetrado pela primeira vez com o bordão de um missionário anônimo e abnegado.
E esta verdade não é apenas européia, desdobra-se por todo o universo. Nenhum transatlântico altivo pode singrar em demanda do Oriente, ou da América, sem que a sombra dos antigos missionários católicos lhe relembre que, antes da ganância do mercador, o ardor do apóstolo percorrera os mesmos caminhos, enfrentando as mesmas dificuldades, removendo os mesmos obstáculos e vencendo pela doçura e pela pregação as mesmas gentes que os mercadores iriam vencer pelas armas e pelo sangue.
Nossa Rua XV de Novembro, em que vibra toda a civilização americana, na vida agitada dos bancos ou na futilidade das vaidades femininas, é com razão o orgulho dos paulistas. §
Quem, no entanto, se lembra de que essa artéria trepidante nada mais é senão o fruto abençoado do suor de um missionário humilde e fraco que, há quatrocentos anos atrás, percorria o mesmo lugar – então ermo e perigoso – catequizando os índios e recristianizando, com o risco da própria vida, os gananciosos e cruéis exploradores portugueses? Quem se recordará de que toda esta vida, toda esta grandiosidade que se ostenta na paulicéia hodierna, nada mais é do que o fruto de uma árvore pujante que Anchieta plantou com a semente do sacrifício, e regou com o sangue das macerações e as lágrimas da penitência? Ninguém.
É preciso, porém, que, a todo o custo, esta injustiça cesse. Nossa época deve ser sobretudo uma época de reparações, em que procuremos ligar novamente as coisas às suas raízes verdadeiras. E a maior das reparações, a mais urgente – a única, em última análise – é a reparação para com a Igreja.
[Ao contrário do que sucedia no começo do século, o homem de hoje se desiludiu de todo o progresso]
Muito se fala de nosso progresso. O século XX, que foi na sua primeira década uma comédia, transformou-se bruscamente em tragédia longa e sangrenta, que está longe de ter chegado a seu fim.
Ainda uma longa série de lances dolorosos nos separa do desenlace fatal da luta de tantos elementos que se chocam hoje em dia. E, como em todo o ambiente verdadeiramente propício às tragédias, podemos distinguir em nossa época grandes vícios.
Nossa civilização material é soberba. O homem conquistou os ares, e pôde perscrutar os segredos do fundo do mar. Suprimiu as distâncias. Voou… Nossas fábricas têm aparelhos que podem fazer vergar como alfinetes as mais possantes barras metálicas.
No entanto, nossa mentalidade padece precisamente do mal contrário. Em vez de vergar as barras de metal, como se fossem alfinetes, sente-se a alma do homem hodierno fraca em relação aos alfinetes dos menores sacrifícios morais, como se fossem barras de metal.
Nossas aspirações são desencontradas. Como crianças que brincassem em uma sala de visitas, os homens quebram hoje, inconsciente e estupidamente, os últimos bibelots e jóias que nos restam da nossa verdadeira civilização.
A mecânica é utilizada para a destruição e para a guerra. A química não interessa somente aos hospitais, mas às fábricas de gases asfixiantes. Os tóxicos não têm apenas uso de laboratório; alimentam também os vícios de uma geração inepta para a vida, que procura evadir-se da realidade nas regiões sempre novas do sonho e da fantasia. A máquina, depois de ter devorado as tradições do passado, devora atualmente as esperanças do futuro. A produção já não condiz com o consumo. Tudo se desajusta, tudo se desagrega. E o homem de nossos dias começa apenas a perceber que, ao lado dos frutos amenos de uma civilização material rica em confortos requintados, também brotam os frutos amargos de um sibaritismo levado ao auge pelas próprias armas que a civilização forjou.
Desiludido de tudo, o homem de hoje (ao contrário do que sucedia em princípio do século XX) já não pinta mais o progresso, em seus quadros alegóricos, como uma mulher envolta em uma túnica grega com um facho luminoso nas mãos, a quebrar os grilhões do passado, dirigindo-se, com o olhar radioso de esperanças, para o futuro cheio de promessas.
Só nas folhinhas e nas estampas de nosso princípio de século tal ingenuidade conseguiu encontrar lugar. Hoje, estas alegorias aparatosas foram relegadas ao olvido. E se alguém quisesse representar exatamente nossa época, deveria antes pintá-la como uma criança a chorar espavorida ante os pedaços de um vaso de porcelana que quebrou, e que não sabe mais consertar.
[O alicerce de toda civilização é a moralidade]
Chegou o momento de indagarmos [a respeito] das verdadeiras causas de tal desastre. É chegada a ocasião de esquadrinharmos novamente a História, não como um pasto para fantasias e utopias liberais, mas como laboratório em cujos fatos e acidentes, como em retortas e alambiques, se elaborou o presente. E chegou o momento em que nós, católicos, devemos proclamar e demonstrar a grande verdade da qual nos provém, como de fonte única, a salvação: o progresso, na sua acepção moral mais elevada, e nas suas manifestações materiais legítimas, provém diretamente da Igreja. O cortejo de vícios, de erros, de torpezas que ele arrastou atrás de si, proveio de um verdadeiro retrocesso à barbárie, que se processou na Renascença. E isto porque a Renascença foi bárbara, como é bárbara a condição primitiva de vida dos hotentotes. Efetivamente, é uma tendência essencial à civilização tornar cada vez mais perfeita a vida das coletividades humanas.
Bárbaro, portanto, e incivilizado, é o homem que não governa seus instintos e que se torna, assim, inapto para a vida social. Que esse desgoverno de instintos se cubra com as rendas e sedas dos sibaritas, ou que ostente somente a tanga dos polinésios ou dos havaianos, há nisto apenas uma questão de cenário. Mais civilizada seria uma nação sem rendas nem sedas, sem bondes nem telégrafos, mas na qual a moralidade reinasse, do que uma Sodoma eletrizada em todas as suas manifestações vitais, mas apodrecida em todo o vigamento de sua estrutura moral.
O alicerce de toda civilização é a moralidade. E quando uma civilização se edifica sobre os alicerces de uma moralidade frágil, quanto mais ela cresce, tanto mais se aproxima da ruína. É como uma torre que, assentando-se sobre alicerces insuficientes, ruirá desde que chegue a certa altura. Quanto mais se sobrepõem uns andares a outros, tanto mais está próxima sua ruína. E quando os escombros que entulharem a terra tiverem demonstrado a fraqueza do edifício, certamente os arquitetos de torres de Babel invejarão a casa de largos alicerces e de número limitado de sobrados, que desafia as intempéries e zomba do tempo.
O trabalho que a humanidade tem efetuado desde o século XIV consistiu em enfraquecer os alicerces e aumentar o número de andares.
A Igreja, que pôde atuar livremente até o século XIV, trabalhou em sentido contrário: alargar os alicerces para, mais tarde, edificar sobre eles, não o monumento vão de um orgulho temerário, mas o fruto possante e admirável da prudência e da sabedoria.
Os alicerces que ainda hoje suportam o peso imenso de um mundo que desmorona são obra da Igreja. Nada é realmente útil sem ser estável. E o que ainda hoje nos resta de estável e de útil – de civilização em suma – edificou-o a Igreja. Pelo contrário, os germens que ameaçam nossa existência nasceram precisamente da inobservância das leis da Igreja. Este é o diagnóstico irrefutável da sociologia católica, que devemos denodadamente defender.
[A Igreja propõe uma solução equilibrada entre um cientificismo abusivo e a incapacidade intelectual]
Um dos fatores característicos de nossa desordem ambiente (e, portanto, de nosso anticatolicismo, pois que o Catolicismo e a ordem se identificam) é a existência de males opostos e antagônicos que, infelizmente, em vez de se destruírem reciprocamente, mutuamente se agravam.
Assim, por um lado, o excesso de preocupações científicas gerou em nossos dias um cientificismo abusivo. Por outro lado, a incapacidade intelectual cada vez mais acentuada do homem hodierno produziu uma decadência da espiritualidade geral, verdadeiramente funesta em todas as suas conseqüências.
E entre estes dois extremos, nascidos do paganismo, o Catolicismo quer introduzir a solução equilibrada, e portanto católica, de uma cultura racional sem ser racionalista, e suficientemente generalizada para impedir a bestialização progressiva das massas.
Para a Igreja, a ciência não é um fim em si. Como tal, perde [esta] a soberania que lhe quis atribuir o racionalismo, para se dobrar às suas finalidades naturais e lógicas, isto é, ao conhecimento, por via da razão, de todo aquele conjunto de problemas que interessam à vida do homem.
É a restrição que a Igreja impõe ao cientificismo desabrido. Desaparece, assim, o direito que o liberalismo confere aos pseudo-cientistas, de se emboscarem atrás de falsos princípios científicos para fazerem do saber um privilégio de desordeiros, e da intelectualidade uma alavanca de destruições e anarquia.
Mas, por outro lado, uma certa dose de cultura e instrução, que atualmente anarquiza o mundo, é requerida como condição essencial para a conveniente formação espiritual e moral do homem.
E nesta tarefa nos cabe, a nós, católicos, o dever de pugnar nas Congregações pela elevação do nível moral e intelectual da mocidade, exposta hoje a tantos perigos.
Contra o cientificismo, que pretende separar a razão da Fé, lançamos a ciência, que faz da razão a base e o pedestal da Fé.
Contra o ignorantismo, que faz do corpo e dos sentidos a preocupação principal dos sportmen à outrance4 de todos os níveis sociais, que pululam em nossos dias, a Igreja lança a cultura associada à moral (sem se despreocupar da cultura física, que não é suprimida pela Igreja, mas reconduzida à sua situação de mero meio para o preenchimento das finalidades morais e intelectuais. Isto não significa que a cultura física não tem valor, mas significa que seu valor consiste só em permitir e auxiliar a cultura moral e a intelectual), que oriente para as coisas do espírito e da alma uma atenção aplicada muitas vezes a voltar-se exclusivamente para os problemas dos músculos, nervos e ossos.
Lutar, portanto, pela difusão de nossos livros é lutar pela difusão do próprio Catolicismo.
Pedimos a Deus e a Maria Santíssima sua bênção para tão nobre tarefa.
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“O Legionário”, nº 88, 11/10/1931, p. 4
Departamento de Estudos
Relatório do Congr. Plinio Corrêa de Oliveira
“Ilmo. Sr. Presidente da Congregação Mariana de Santa Cecília.
As aulas de Religião foram 4, tendo deixado de se realizar uma graças à conferência do Ex.mo Rev.mo D. Abade de S. Bento. A média de freqüência a estas aulas foi de 20 alunos, sobre 36 inscritos.
O relatório da Biblioteca acusa um grande aumento de consultas, tendo atingido a 40 o número de volumes pedidos e retirados da Biblioteca. O número de consulentes foi de 35, quando no mês passado foi apenas de 26. Houve, portanto, notável aumento.
Foram encadernados 5 volumes. Recebemos por doação 3 volumes.
O movimento da caixa acusa um saldo de 31$900 em nosso favor.
Através do “Legionário” foi iniciada uma campanha, por proposta do Congr. Henrique Brito Vianna, em prol de nossa Biblioteca, e destinada a aumentar o número de consulentes e leitores. Por outro lado, está em vias de execução o projeto de reforma de trabalhos da Academia, que deverá também incrementar o hábito das leituras ente nós.
Estou elaborando outro plano, que espero submeter à apreciação do Conselho no próximo mês, e em virtude do qual espero que aumente também sensivelmente a procura de livros.
A reforma do plano de trabalhos da Academia deverá aumentar também, com o auxílio de Deus, o número de pessoas que assistem a seus trabalhos, e que, infelizmente, tem sido muito pequeno.
Deus guarde V. S.
(a) Plinio Corrêa de Oliveira.”
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Livro de atas nº II, do Centro Dom Vital de São Paulo,
ata de 23/10/1931
Ata da 7ª Sessão do Congresso de Educação promovido pelo Centro Dom Vital
Às 20 horas do dia 23 de Outubro de 1931, no salão nobre da Cúria Metropolitana, inaugurou-se a 7ª Sessão do Congresso, com a presença dos membros da mesa, e de grande auditório que entoou o Credo.
Lida a ata, foi esta posta em debate e aprovada sem discussão. O secretário lê um telegrama de congratulações do Diretor do Ginásio Ituhy [?].5
[Benefício da educação dos sexos em separado]
O Sr. Presidente dá a palavra ao Revmo. Dom Xavier de Mattos, relator da 7ª tese.
Acolhido com aplausos, D. Xavier de Mattos relata a origem da co-educação ditada por necessidades econômicas nos Estados Unidos, de onde se alastrou rapidamente para os países anglo-saxônicos, devendo-se salientar que nos de raça latina a co-educação encontrou ambiente menos favorável.
Enuncia diversos argumentos que militam pró e contra a co-educação. E conclui em benefício da educação dos sexos em separado, o que contraria as tendências do naturalismo pedagógico, e concorda com as disposições da Encíclica Divini Illius Magistri6, especialmente no que diz respeito à co-educação nos cursos secundários.
Desta consideração e de outras decorre a necessidade de se orientar a atividade da mulher em um ambiente próprio, mas que permita a plena expansão de suas qualidades. Donde o imperioso dever de se atender de modo mais cabal possível às necessidades da ação católica feminina no Brasil, dentro de normas que lhe proporcionem a máxima eficiência.
Demonstrados, assim, os principais pontos da tese, passa o autor às conclusões.
Quanto à primeira, demonstra o absurdo que se nota em supor que as tendências naturais ao homem, graças ao pecado original, desapareçam no ambiente escolar. Por outro lado, é indispensável atender às vantagens econômicas oriundas da co-educação, prejudicando os alunos com um sistema que, máxime nos cursos secundários, produz efeitos nocivos à moralidade.
Quanto à segunda conclusão, mostra que as condições físico-psicológicas dos alunos de curso secundário tornam-nos especialmente sujeitos à influência nefasta da co-educação. Donde a necessidade de se evitar de modo absoluto toda a organização secundária que tolere a co-educação.
Tais desvantagens já não se fazem sentir tão vivamente nos cursos elementares e superiores, onde, portanto, a co-educação pode ser tolerada, quando imposta inelutavelmente pelas circunstâncias. Esta tolerância não prejudica, porém, o princípio de que o espírito católico se inclina pronunciadamente pela separação dos sexos, considerando-a indiscutivelmente superior.
[Aumentar o alcance da ação católica feminina]
O relator chama a atenção do auditório sobre os efeitos da revolução industrial na vida da mulher, arrancando-a do lar para lançá-la na luta diária de trabalho das usinas, oficinas etc. Este fato forçou a mulher a demonstrar talentos e desenvolver energias que o relator reputa muito utilizáveis para o progresso coletivo. Decorre de tais considerações que se recomendam as medidas preconizadas pela terceira conclusão.
Também a quarta conclusão se fundamenta nas considerações acima. No tocante às vocações femininas, especialmente para ordens ativas, o autor vê nelas o elemento mais precioso da organização da ação católica feminina brasileira. A letra “B” tem em vista aumentar o alcance da ação católica feminina, adestrando seus elementos nas ciências pedagógicas, onde mais fácil e proveitosamente empregarão suas energias.
Vivamente aplaudido, o relator deixa a tribuna.
Postas a tese e suas conclusões em debate, pede a palavra o Dr. Leonardo Van Acher que salienta mais um inconveniente da co-educação nos cursos superiores: a dificuldade que se observou na Bélgica, de fazer com que, sem prejuízo de sua saúde, as alunas acompanhassem os estudos intensos dos seus colegas.
Pede a palavra Dr. Paulo Sawaya, que fundamenta e apresenta uma moção no sentido de se pedir ao Episcopado a fundação da ação católica masculina e feminina, segundo os votos e diretrizes do Santo Padre.
O Dr. Vicente Melillo diverge de palavras do relator, das quais deduz que este desconhece a intensidade dos esforços das católicas brasileiras pela Igreja. Tece considerações das mais elogiosas com relação à atividade e zelo de nossas católicas.
Pede a palavra o Revmo. Irmão Marista, Deodato, que propõe que o Congresso peça ao Centro Dom Vital que estude a vida de Dona Zelia, e que um de seus membros, auxiliado por um dos Filhos de Dona Zelia, faça uma biografia desta. Intensificar-se-ia assim a influência da católica em benefício das vocações, o que seria de molde a facilitar a aplicação prática das conclusões de D. Xavier de Mattos.
[Debates e deliberações finais]
O Revmo. Pe. Moutinho, SI, propõe, em complemento das conclusões do Revmo. relator, a adoção de retiros fechados para mulheres, onde se utilizassem os Exercícios Espirituais de Santo Inácio, segundo o desejo da Santa Sé.
O Revmo. Dom Norberto Antunes Vieira, O.S.B. propõe uma modificação na redação da 1ª conclusão, no sentido de a dotar de mais rigor teológico.
O Dr. Aguinaldo Ribeiro propõe que também se franqueie aos homens o curso da conclusão 4.
O Dr. Leonardo Van Acher propõe que a redação das conclusões, em vez de se referir às dificuldades da instituição dos cursos superiores para sexos diferentes, diga “dificuldades insuperáveis”, porque lhe parece isto mais conforme à realidade.
O Dr. Dutra da Silva pede ao Congresso que recomende ao Clero e aos elementos católicos uma atenção especial às mães e crianças de raça negra. Afirma que em algumas sociedades religiosas nem se aceitam as pessoas de cor negra. O Dr. Marcondes de Rezende e o Dr. Veiga dos Santos apóiam tais afirmações. O Exmo. Monsenhor Gastão Pinto diverge delas.
O Revmo. Pe. Leopoldo Byres pede que o Congresso recomende particularmente às católicas a leitura da vida e obra de Mme. Elisabeth Leseur.
Pede a palavra o Dr. Ataliba Nogueira, que incita as católicas brasileiras a não dormir sobre seus louros. Chama sua atenção para o estudo dos reformatórios, cujas deficiências, como Promotor Público, conhece. E pede que se facilite o desenvolvimento do ensino profissional. A este propósito lembra aos congressistas os nomes dos Revmos. Pes. Francisco João de Azevedo, inventor da máquina de escrever, e Phelippe Collaco, seu dedicado amigo.
Dada a palavra ao Revmo. Dom Xavier de Mattos, para se manifestar sobre os debates provocados por sua tese, e as emendas. O Revmo. relator se manifesta favorável a todas elas, salvo a do Dr. Dutra da Silva.
Toma a palavra o Revmo. Sr. Presidente, que tecendo considerações em torno da proposta do Dr. Dutra, e das objeções por ela suscitadas, evidencia a existência de uma questão de princípios, e outra de fato que ela envolve. E mostra que é só sobre a questão de princípios que o Congresso deve pronunciar-se.
Põe então em votação o seguinte princípio: o Congresso aprova o princípio de que a cor não deve constituir obstáculo ao ingresso nas associações religiosas.
Este princípio foi aprovado.
Encerrou-se então a sessão, cantando-se o Hino Nacional. Do que, para constar, eu, secretário, lavrei a presente ata, que assino.
***
“O Século”, 25/10/1931
Catolicismo e pedagogia
Plinio Corrêa de Oliveira – Especial para o “Século”
A crescente invasão da Doutrina Católica em todos os setores da ciência moderna já é hoje um fato notório, cuja constatação está acima das controvérsias filosóficas e das lutas doutrinárias.
Houve momentos em que se esperou que o saber humano, ao qual os progressos da ciência moderna haviam apontado novos rumos, se afastasse definitivamente do regaço da Igreja. Eram tantas as objeções que se erguiam contra o Credo católico; eram tais as contradições que surgiam entre os novos dados da ciência e os velhos dogmas da Fé, que o dissídio entre a razão e a Religião ameaçava consumir o mundo num incêndio de impiedade. A toda a afirmação da Igreja procurava-se opor uma contradita em nome da ciência. Parecia que, como uma árvore em pleno crescimento, a humanidade queria fazer estalar sua casca milenar de Catolicismo.
Alvejada em todos os campos da ciência, dilacerada pela incredulidade, a Igreja parecia prestes a expirar.
[A Doutrina Católica continha em gérmen todas as novidades que a ciência pretendia ter descoberto]
Mas, como a terra, que é mais fecunda exatamente nos lugares onde foi ferida e rasgada pelo arado, a Igreja fez brotar exatamente dos princípios feridos pela impiedade uma abundante messe de verdades que, a cada novo ataque da descrença, defendia a Fé com a barreira de novos argumentos.
Uma plêiade de sábios profundamente crentes, adestrados nas mais modernas conquistas da ciência, dissipou completamente o fantasma da incompatibilidade entre a razão e o dogma.
Não cessou aí sua ação. Demonstrou-se também que a velhíssima Doutrina Católica continha em gérmen todas as novidades que a ciência pretendia ter descoberto. E que todos os verdadeiros progressos e aplicações legítimas do espírito moderno são permitidas e até protegidas e tuteladas pelo Catolicismo.
Esclarecer, portanto, a doutrina tão atacada da Igreja, resguardando-a das interpretações abusivas a que querem submetê-la seus adversários; aprofundar, por outro lado, as pesquisas científicas, protegendo-as contra os sofismas do sectarismo ou os erros dos incrédulos, foi a tarefa científica do Catolicismo, que luta por manter dentro dos limites que lhes assinala respectivamente a própria razão, os dois grandes ramos do conhecimento humano: a ciência e a Fé. Ajustam-se assim os dois grandes eixos em torno dos quais deve girar a humanidade. É atribuir à razão a plenitude de sua ação, transformando-a em farol potente, cujo raio tanto pode alçar-se às mais altas cogitações do espírito, nas esferas sublimes onde se sacia nossa ânsia de perfeição, felicidade e infinito, ↓7 [quanto] pode voltar-se para o mundo, apontando escolhos, indicando caminhos, desbaratando trevas.
Um esforço notável desenvolvido neste sentido pelo Catolicismo brasileiro é a semana da educação, promovida agora pelo Centro Dom Vital de São Paulo, na Cúria Metropolitana8.
[Perturbadores da ordem social entrincheirados atrás de doutrinas novas]
Na pedagogia, como nas demais ciências, é freqüente ver-se os perturbadores da ordem social entrincheirados atrás de doutrinas novas, para, em nome da ciência, espalhar por todos os lados a desordem e a anarquia.
São incontestáveis os progressos feitos pela pedagogia moderna.
Justificarão eles o total banimento da Fé, do coração das crianças? Aconselharão eles que se feche desde a infância, ao homem, toda a perspectiva de imortalidade, todo o horizonte de Fé, encarcerando-o no materialismo o mais trágico? Desmunindo-o de qualquer consolo nas tempestades tremendas que a vida lhe reserva? Não, exclama a Igreja.
[A Igreja sabe separar o joio do trigo]
E os cientistas católicos, examinando um por um todos os métodos da escola ativa, separando o joio do trigo, a afirmação do cientista do embuste do inimigo da ordem social, aponta aos professores, aos pais, aos mestres, o verdadeiro uso a que se prestam as descobertas novas da ciência pedagógica, das quais algumas em nada chocam os princípios da Igreja.
Está demonstrado que todas as novidades realmente científicas da Escola Nova já eram conhecidas e preconizadas por São Tomás de Aquino, no século XIII, e não implicam na negação de doutrina alguma da Igreja.
Desta vez, ainda, a Igreja nem nega nem despreza a ciência. Protege-a, pelo contrário, contra a exploração do sectário e o perigo do erro.
Em assunto de tal relevância, só um sectarismo intolerável poderia não atribuir grande importância à voz da Igreja, autora espiritual da civilização do Ocidente.
E, de modo particular, no Brasil, terra que foi descoberta, civilizada e instruída sob os auspícios da Igreja, a voz do Catolicismo tem o direito e o dever de se erguer e de se fazer ouvir em matéria de pedagogia.
[Aos católicos e aos não católicos impõe-se o dever de estudar a Doutrina Católica]
O desenvolvimento das teses de que se ocupa atualmente a Semana de Educação está a cargo de pessoas do mais alto valor, que exporão com a maior proficiência a Doutrina Católica.
Aos católicos, assiste o dever de estudarem a doutrina que professam, para que a defendam com eficiência.
Aos não católicos, impõe-se a obrigação de estudar o Catolicismo, para que o julguem com conhecimento de causa.
A todos, portanto, interessa o presente Congresso da Educação.
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“Folha da Manhã”, 25/10/1931, p. 12
O Congresso Católico de Educação será encerrado com a sessão de hoje9
O Sr. Júli o Penna discorreu, ontem, sobre a difusão do ensino católico
O “Congresso de Educação” realizou, ontem, a sua penúltima reunião plenária, a qual foi assistida por um auditório que locupletou o salão nobre do Palácio da Cúria Metropolitana. A sessão decorreu animada, sendo feitas propostas de normas que, consideradas as suas finalidades, tiveram a sua imediata aprovação por parte dos congressistas.
A penúltima reunião
Sob a presidência de Honra de Mons. Dr. Gastão Liberal Pinto, a presidência efetiva do Pe. José Danti, S I, iniciaram-se os trabalhos com a leitura, pelo secretário, Dr. Plinio Corrêa de Oliveira, da ata da reunião precedente. Esta, apenas, teve um adendo, referente à proposta feita, anteontem, por D. Lourenço Lumini, OSB, relativa à “intensificação do espírito católico, nas paróquias, entre os fiéis”. Sem mais alterações, foi este documento aprovado.
Em seguida, concedeu-se a palavra ao Prof. Júlio Penna, que dissertou sobre um dos problemas que grande atenção despertou no numeroso auditório. A sua tese, concebida nos seguintes termos: “É dever dos católicos brasileiros desenvolver uma ação estritamente organizada, no intuito de conseguir a educação católica para toda a mocidade católica, em ótimas escolas católicas, de todos os graus. Esse movimento deve procurar conseguir a superioridade do ensino católico sobre o não católico”, foi digna de prolongados aplausos de todos os presentes. (…)
As conclusões do Dr. Júlio Penna
Na sua totalidade, as propostas do orador da noite foram aprovadas, sendo as seguintes:
Considerando que, não somente, o trabalho bom que já tem sido feito no Brasil para a formação católica da mocidade, [mas também que] há ainda falta sensibilíssima de boas escolas, de todos os graus, para toda a mocidade católica;
que essa falha é, em grande parte, conseqüência da falta de atividade geral orientada nesse sentido, e da inexistência de centros coordenadores do esforço comum e valorizadores do trabalho da escola católica;
o Congresso da Educação resolve:
1º – Recomendar à consideração dos pais – assim como de todas as irmandades e associações católicas – a necessidade de estabelecerem – como ponto de partida para a “Ação Católica”, que S. S. Pio XI tanto encarece – a manutenção da escola católica de todos os graus, para toda a mocidade católica, convenientemente instalada e perfeitamente aparelhada para bem exercer a sua missão.
2º – Apoiar qualquer iniciativa que vise a fundação de faculdades de educação, escolas normais, cursos de aperfeiçoamento pedagógico, escolas experimentais, bibliotecas especializadas de educação, revistas de pedagogia, afinal, qualquer cometimento que tenha por objetivo a formação de um professorado católico capaz, pois aí está a condição de êxito de qualquer organização escolar.
3º – Aplaudir a criação de um organismo centralizador do movimento católico pelo ensino, para o efeito de articular o trabalho geral, reunir idéias e encaminhar a ação comum sem desperdício de energias, reconhecendo que, só assim, será possível a difusão, no Brasil da ótima escola católica de todos os graus.
Além dessas, apresentadas pelos oradores que adiante nomeamos, o Congresso deliberou aprovar as propostas que se seguem. (…)
[A proposta do Dr. Plinio Corrêa de Oliveira]
Pelo Dr. Plinio Corrêa de Oliveira, foi lembrada a aprovação, pelo congresso, da sua proposta:
“Considerando que a família é um fator de primordial importância na tarefa da educação; §
considerando que de nada valerá a cristianização das escolas, se forem descristianizadas as famílias, pela supressão da monogamia, §
o Congresso recomenda: §
a) se oficie às autoridades federais protestando contra qualquer tentativa de implantação do divórcio a vínculo, entre nós; §
b) se oficie às autoridades competentes pedindo providências contra anulações dos casamentos, na forma por que algumas se têm processado entre nós, comprometendo a indissolubilidade do vínculo conjugal, recorrendo, por vezes, à influência de leis estrangeiras, flagrantemente contrárias a nosso jus constitutum10; §
c) que se recomende aos católicos toda a reserva exigida pelos mandamentos do Arcebispado nas suas relações com famílias ilegalmente constituídas.”
Esta aprovação, além das deliberações tomadas para a sua realização, teve os acréscimos adiante: sejam as mesmas conclusões publicadas em toda a imprensa e em papéis separados que serão colocados nas portas de templos católicos, a fim de que as famílias tenham conhecimento deste ponto de primordial relevância para sua vida puramente católica. (…)
Na sessão de hoje falará o Dr. Alexandre Corrêa.
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“O Legionário”, nº 89, 1/11/1931, p. 2
Kyrie eleison
“Senhor, tende piedade de nós”: Kyrie eleison, exclama a Igreja, em suas ladainhas, em suas orações, em seus ofícios.
Kyrie eleison, deve exclamar hoje, mais do que nunca, a Nação brasileira, que se defronta agora com um futuro sombrio e cheio de apreensões.
Sem querer intervir na esfera dos interesses políticos exclusivamente temporais, não podemos deixar de lançar um olhar aflito sobre o cenário da política brasileira, para apontar escolhos, examinar nuvens e prever tempestades.
[Enigmática incoerência de nossa vida política]
A enigmática incoerência de nossa vida política desconcerta a quantos a observam.
Ora o Governo federal baixa um decreto instituindo o ensino religioso em nossas escolas públicas, ora baixa outro decreto, proibindo que se ensine filosofia católica no Colégio Pedro II, onde, de agora em diante, o estudo da Filosofia será obrigatória e exclusivamente positivista.
Ora os azares da política guindam ao poder um católico destemido, ora empossam, em Interventorias ou Ministérios, comunistas quase declarados ou ateus confessos.
Um sintoma característico deste nosso estado de coisas se encontra na atitude da Legião Mineira, em relação à Legião Revolucionária Paulista.
Quando esta realizou seu congresso, e elaborou seu programa diametralmente oposto à Doutrina Católica, assistiu às suas sessões, até o final, um representante da Legião Mineira, oficialmente delegado para este fim pelo Dr. Francisco Campos, autor do decreto sobre o ensino religioso!
Outros sintomas também característicos estão na atitude do Sr. Ministro da Guerra, que baixou uma resolução no sentido de se sujeitarem os seminaristas ao serviço militar obrigatório, e na deliberação do Sr. Interventor do Pará, que ameaçou demitir-se caso não se realizasse uma procissão em Belém, contra a vontade do Bispo.
Dias depois o Ministro revoga sua decisão, e o Interventor, apesar de não realizada a procissão, renuncia à demissão anunciada.
[Reformas socialistas e reformas cristãs são antagônicas]
Nossos governantes falam freqüentemente em reformas sociais. Chegam às vezes a ter expressões quase irritadas para com o individualismo econômico (no que concordamos), cujos péssimos efeitos prometem corrigir. Mas, por outro lado, nunca nos informam sobre um ponto capital: se as reformas sociais serão reformas socialistas ou reformas cristãs, que são coisas essencialmente antagônicas.
E nem por acaso nos informam qual o ponto até onde pretendem ir com tais reformas. A indefinição e a indistinção são a característica invariável das resoluções oficiais.
Aliás, a desordem e a confusão são a nota dominante de nossa atual situação política. Não há correntes ideológicas nitidamente formadas. E não há, por isto, uma única corrente com tendências definidas.
Constitui, neste conjunto, uma flagrante e triste exceção a Legião Revolucionária de São Paulo, que já firmou seu estandarte no campo socialista, muito próximo ao pendão rubro de Marx e de Lenine. Mas, exceção feita dessa agremiação, tudo o mais é incoerente e heterogêneo.
Ora o pêndulo de nossa política se aproxima do Vaticano, ora se desloca bruscamente para o Kremlin. Qual destas orientações prevalecerá?
Que significado devemos atribuir às confusões intencionais, aos silêncios inoportunos, sobre as tendências de nossa legislação?
Revelam eles, a meu ver, que o Governo federal não tem mais força para desagradar os elementos esquerdistas. Trata-se, portanto, de fatos altamente significativos.
É inegável que dispomos de numerosos estadistas católicos, sinceramente anticomunistas, entre os quais ocupa lugar de particular destaque o benemérito Interventor federal, Dr. Laudo de Camargo, cuja atuação tem sido bem diferente da do Governo federal.
Vencerão esses elementos? Conseguirão eles que se ponha um paradeiro à fermentação que vai pelo País? Desunidas, freqüentemente incompatibilizadas umas com as outras, saberão as classes conservadoras ligar-se no combate ao inimigo comum?
[O católico que permanece indiferente reedita o gesto de Pilatos]
Nós o desejamos, mas não o esperamos. A vitória será certamente nossa. Mas tememos que ela só nos venha depois de longas lutas, terríveis provações.
E, nessas conjunturas, constitui para nós um dever indeclinável incitar vivamente aos católicos que se unam em torno dos últimos elementos de estabilidade social e de ordem que ainda há entre nós, para que possamos defender dignamente os princípios que professamos.
O católico que, nas circunstâncias presentes, se entrega ao indiferentismo habitual dos brasileiros, reedita o gesto de Pilatos, lavando as mãos em relação à sorte de Jesus.
Ação, pois, ação constante e denodada. Nas conversações, nas ruas, nas famílias, nos colégios, nos clubs, o católico deve ser o porta-voz dos princípios de Deus.
E além desse dever, outro se nos impõe como supremo recurso: é de clamar com perseverança ao Céu:
kyrie eleison, kyrie eleison.
Plinio Corrêa de Oliveira
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“O Legionário”, nº 89, 1/11/1931, p. 2
As mulheres não têm alma?
É freqüente encontrar-se entre historiadores superficiais ou sectários a afirmação de que, na Idade Média, um Concílio teria discutido se as mulheres têm ou não têm alma.
Tal fato é apontado, em geral, como índice da absoluta harmonia reinante entre a Igreja e o espírito bárbaro, que se atribui ainda, em alguns círculos, à Idade Média.
Sempre julgamos absurda qualquer acusação baseada no fato acima referido.
[Desde os primeiros séculos, a Igreja venerou sobre os altares numerosas santas]
Efetivamente, para qualquer pessoa imparcial, é evidente que a Igreja, que desde os primeiros séculos do Cristianismo colocou até sobre os altares a mulher, na pessoa da Virgem Santíssima, esta mesma Igreja de modo algum poderia negar a existência da alma na mulher.
Segundo a tradicional e antiqüíssima Doutrina Católica, a imortalidade é atributo apenas dos seres racionais, dotados de alma.
Para que se explicasse, pois, a imortalidade das numerosas Santas que, desde seus primeiros séculos, a Igreja venerou sobre os altares, seria, portanto, necessário reconhecer-lhes uma alma imortal.
Já por aí se verifica, portanto, que é absolutamente improvável que tal discussão tenha sequer sido levantada em um Concílio.
Admitamos, porém, para argumentar, que tal se tenha dado. A infalibilidade dos Concílios não reside, evidentemente, nas opiniões expendidas por seus membros, no discutir e elucidar teses. Não são infalíveis os membros do Concílio, individualmente falando, e sim o Concílio coletivamente considerado. Só são portanto infalíveis as deliberações finais do Concílio.
Conclui-se daí que, ainda que tal tese tivesse sido discutida, uma vez que não tenha sido aceita (o que nenhum historiador nega), o Concílio não errou.
Vemos, pois, que um exame superficial do assunto já nos conduz à verificação de sua absoluta inocuidade em relação à Doutrina Católica.
Vamos, porém, diretamente aos fatos, que falarão mais eloqüentemente do que qualquer argumento que ainda invoquemos em benefício de nossa tese.
[Leitura rápida, má compreensão, comentário péssimo]
A referida discussão foi encontrada pelos historiadores sectários na obra de São Gregório de Tours (Livro VIII, cap. 20). Autorizará o trecho citado a afirmação dos historiadores anticatólicos?
Diz São Gregório, no texto mencionado: “Houve neste Concílio um bispo que dizia que a mulher não poderia ser chamada homem; mas ele se rendeu às razões dos outros bispos. O livro sagrado do Antigo Testamento, lhe disseram eles, ensina que quando Deus criou o homem, Ele os criou macho e fêmea e lhes deu o nome de Adão, isto é, homem da terra; e, sob este nome, entendia o homem e a mulher, aplicando a denominação de homem a um como a outro sexo. Do mesmo modo Nosso Senhor Jesus Cristo é chamado o Filho do Homem, para indicar que Ele nasceu de uma Virgem, isto é, de uma mulher à qual foi dito, quando Ele mudou a água em vinho: ‘Mulher, o que há de comum entre tu e eu?’ Estes testemunhos, e ainda diversos outros, o convenceram e lhe fecharam a boca.”
Vemos aí o mal que produz a meia-cultura. Algum historiador superficial leu rapidamente o texto de São Gregório, compreendeu-o mal, e comentou-o pessimamente.
São Gregório não afirma que se tenha discutido a natureza humana da mulher. Diz apenas que o bispo de que ele fala lançou dúvidas quanto à propriedade da palavra “homem”, para designar juntamente o homem e a mulher.
É este um dos muitos pontos em que mais uma vez se demonstra que o pior inimigo da Igreja Católica é a meia-cultura. Esta aliás – é necessário encerrar o artigo com esta consideração –, é poderosamente secundada pelo sectarismo e pela superficialidade dos espíritos modernos, que julgam antes de ouvir as partes interessadas, e condenam sem conhecimento profundo do fato.
E ainda é em nome da razão que se procura atacar a Igreja!!!
Plinio Corrêa de Oliveira
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“O Legionário”, nº 90, 22/11/1931, p. 1
A Babel protestante
Não nos podemos furtar ao desejo de transcrever textualmente uma notícia do “Figaro” de 9 de outubro de 193111:
“Um pastor alemão ‘comunista cristão’: Berlim, 8/10: o Pastor Eckert, de Mannheim, presidente da Associação dos socialistas-cristãos, anunciou sua adesão ao partido comunista. Declarou desejar, assim, conciliar as idéias comunistas com os ideais cristãos. O Pastor Eckert fará brevemente uma viagem à Rússia, para estudar as possibilidades de seu empreendimento.”
[Relações íntimas entre todas as heresias]
Dante, na sua Divina Comédia, imagina o inferno como um imenso cone, com a base no alto e o vértice em baixo. Este cone é formado por diversos círculos superpostos que, à medida que se tornam mais profundos, se vão também tornando mais estreitos. No vértice do cone, está Satanás.
Não podia o genial poeta florentino descrever de modo mais eloqüente as relações íntimas que ligam entre si todas as heresias.
Aparentemente muito diversas umas das outras, têm elas todas, no entanto, caracteres que lhes são comuns, e que são como que o eixo central em torno do qual todas giram. E além disto tendem todas para o mesmo abismo, tendo no fundo o próprio Satanás.
A parte de verdade que muitas doutrinas heréticas ainda admitem são sempre elementos estranhos a seus princípios gerais, que destes se vão desligando gradualmente até desaparecerem por completo.
[Do protestantismo ao comunismo, passando pela Revolução Francesa]
Nessa rápida observação está contido o histórico de toda a evolução protestante. Cristão a princípio, teve, no entanto, o livre exame protestante uma conseqüência imediata: fez nascer, ao lado das confissões reformistas, uma forte corrente racionalista que, através do deísmo de Voltaire, atingiu o ateísmo total de Rousseau.
Este, estendendo as aplicações práticas de seus princípios ao campo da organização política e social, determinou a sangrenta explosão de 1789. E com esta Revolução triunfaram as idéias igualitárias, destruindo totalmente a hierarquia na organização política e solapando-a seriamente na organização social.
Daí por diante, um movimento subconsciente e lento, constantemente favorecido pelas manobras da judeu-maçonaria, foi estendendo a aplicação dos princípios igualitários às questões econômicas: surgiu o comunismo.
Eis, em rápidos traços, a genealogia que estabelece um parentesco muito estreito entre o protestantismo e o comunismo, que, rios nascidos em uma mesma fonte, convergem para os mesmos fins, desembocando ambos, segundo demonstrarei, no abismo do materialismo absoluto.
[A trajetória do protestantismo rumo ao abismo foi a da folha morta que cai em caprichosos ziguezagues]
As heresias são tanto mais duradouras quanto menos se afastam do ensinamento da Igreja.
Efetivamente, só esta pode proporcionar ao homem a plena satisfação de suas aspirações morais e intelectuais. E, à medida que as heresias vão negando as verdades fundamentais que a Igreja proclama, vão também se divorciando das verdadeiras necessidades do homem. Daí o fato, que se pode historicamente comprovar, de que as heresias são tanto mais duradouras quanto mais próximas da verdade.
Se o protestantismo tivesse destruído, com seu racionalismo, não somente a crença na infalibilidade da Igreja, mas o Cristianismo em todas as suas manifestações e tendências, sua trajetória teria sido rápida e fatal: depois de um surto mais ou menos violento, teria mergulhado forçosamente no pântano do materialismo total. E, dado o fato de não ser o homem, por natureza, compatível com o materialismo, teria [sido] este, dentro em pouco, rejeitado nas próprias regiões onde surgisse, e pelos próprios descendentes dos mesmos homens que o haviam professado.
Vivendo à sombra dos princípios cristãos, a trajetória do protestantismo não foi, porém, a da pedra que se precipita no abismo, mas a da folha morta que cai lentamente em ziguezagues caprichosos e intermináveis, prolongados pelo vento.
Um por um, os postulados cristãos foram caindo do protestantismo. As capitulações se foram seguindo a novas capitulações. E, finalmente, o protestantismo se transformou em um espiritualismo vago, cheio de tolerância enganosa, e disposto a capitular perante quaisquer inimigos que o agredissem12.
Julgava-se que este espiritualismo fosse a última parte da triste trajetória dos reformistas.
Vemos, no entanto, que vão além. Querem, agora, conciliar o comunismo com o protestantismo. Querem reunir, num enlace absurdo, o espiritualismo espúrio da Reforma, com o materialismo radical de Lenine. Reúnem-se, assim, em matrimônio, os dois descendentes de Lutero.
E é aí que vemos demonstrada a nossa afirmação. O protestantismo espiritualista e cristão cai no materialismo. E verifica-se que este está direta ou indiretamente na base de todas as heresias.
Plinio Corrêa de Oliveira
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“O Legionário”, nº 90, 22/11/1931, p. 2
Primícias de uma geração
Plinio Corrêa de Oliveira
Tenho em mãos os primeiros frutos de uma geração que, comigo, viveu a agitada vida estudantina, sentando-se nos mesmos bancos acadêmicos e abeberando-se dos ensinamentos dos mesmos mestres que eu.
Trata-se do Discurso pronunciado pelo orador da turma na solenidade de colação de grau aos bacharelandos de 1931, na Faculdade de Direito, de autoria de Carlos Alberto de Carvalho Pinto, e da Coragem de vencer, de Augusto de Souza Queiroz13.
Turma acadêmica saída da Faculdade meses apenas após a minha, interessa-me sobremodo a análise de sua psicologia. E, ao traçar alguns rápidos comentários em torno das duas primeiras obras que ela produziu, sinto que vibram ainda em mim os últimos ecos de minhas ruidosas discussões de estudante, travadas calorosamente sob as tradicionais arcadas do antigo claustro de São Francisco.
[Quantas vezes procurei acender na alma de Carvalho Pinto a chama de uma Fé ardente!]
Poucas vezes tenho visto fotografado um estado de espírito com tanta nitidez, quanto no brilhantíssimo discurso de Carlos Alberto. E o interesse dessa fotografia aumenta, se se tomar em consideração que não se trata de um estado de espírito peculiar ao autor, mas generalizado na maioria dos elementos da elite intelectual de nossa Faculdade.
A insatisfação profunda que o século XX, com suas deficiências e suas falhas, não pode deixar de produzir em todo espírito realmente superior, aí se lê nitidamente, em palavras às vezes amargas, mas sempre justas, e nas quais a veemência da queixa não empana a lucidez notável da observação, nem diminui o alcance nacional da evolução psicológica de nossa mocidade, que o discurso revela.
É, em primeiro lugar, o individualismo, dissociador de toda a organização humana, que o autor estigmatiza em suas lacunas. Mostra o vácuo da democracia e da ideologia vã que encerra.
Lamenta, numa observação justa e profunda, todas as deficiências, talvez insanáveis, de nosso curso jurídico, verdadeiramente caótico, quando considerado sob seu ponto de vista científico. E, remontando do efeito à causa, mostra que o gerador de tais males é a desordem intelectual reinante em nossa época racionalista e cética.
Vai mais longe. Aprofundando suas considerações, atinge o mal no seu âmago: denuncia o materialismo. E em palavras vibrantes, preconiza a ressurreição do espírito, para comprimir e governar as exigências desmedidas da matéria, que estão levando à ruína nossa civilização.
A linguagem, que é muito clara e de uma elegância e correção impecável, acompanha em elevação e beleza a profundeza extraordinária dos conceitos. O leitor, seguindo enlevado o crescendo harmonioso e vibrante do autor, surpreende-se, no entanto, quando vê tão aguerrido lutador estacar subitamente, como que sem fôlego, na luminosa carreira de considerações que vinha trilhando.
Depois de apontar males, estigmatizar erros, conclui num gemido que é de toda a nossa geração, dizendo que “enquanto o egoísmo dominar o sentimento coletivo e a matéria esmagar o espírito, a civilização continuará – na dolorosa ilusão de suas suntuosidades materiais – a angustiar o indivíduo com o peso de todas as injustiças e a tortura de todos os males”. Mas, num gesto de desânimo, quando se trata de indicar o remédio, exclama: “Somos uma geração a quem a necessidade de vida imprimiu a ânsia do combate, mas a ruína das ilusões arrancou o idealismo construtivo. Falta-nos a bandeira, embora não nos falte a força.”
Quantas vezes, no decurso da vida acadêmica, procurei apontar a Carlos Alberto a única bandeira digna de suas mãos! Quantas vezes procurei acender em seu espírito brilhante e promissor a chama ardente de uma Fé que, quando faz verdadeiros crentes, faz apóstolos! Quantas vezes tentei – o futuro dirá se em vão – conquistá-lo para a única causa digna de defensores como ele! Ficou em suspenso meu espírito, no trecho citado, que é a parte culminante do discurso. Mas uma grande satisfação me empolgou: uma geração que procura sinceramente uma bandeira, encontrá-la-á forçosamente, mais cedo ou mais tarde, aos pés do altar.
[A ridicularizadíssima, a caluniadíssima, mas sublime castidade masculina]
Esta bandeira que Carlos Alberto procura, empunhou-a no entanto, e vigorosamente, seu colega Augusto de Souza Queiroz.
Sua esplêndida Palestra com um grupo de rapazes, concebida em estilo elegante e simples, que visa conquistar, em vez de deslumbrar, e convencer, em vez de brilhar, é um modelo de sobriedade e clareza, canalizando idéias e conceitos nos quais reconheço a fonte única da qual possa vir a salvação do Brasil: a castidade masculina, a ridicularizadíssima, a caluniadíssima, mas a sublime castidade das gerações masculinas, que entendem que só quando sabem ser puras sabem ser fortes.
É o estandarte arvorado por uma minoria coesa da elite acadêmica. É o pensamento católico que começa a brilhar com todo o fulgor de sua integridade, sustentado por uma corrente disciplinada e vigorosa, que até aos adversários impõe, pelo desassombro e dignidade, o respeito de convicções religiosas tidas, até há pouco, como profundamente ridículas em um moço.
Não tenho palavras suficientemente calorosas para significar ao autor o apreço em que tenho sua iniciativa, procurando resolver o problema religioso, ferindo de frente o problema moral.
É certo que o aspecto intelectual da Fé é de magna importância. E o próprio Doutor Angélico, quando a define, a qualifica de rationabile obsequium14. Mas o problema intelectual existe para um limitadíssimo número de intelectuais, que lutam por se desvencilhar dos sofismas da época, num conflito doloroso entre sua natureza humana, que voa para Deus, e os preconceitos do século, que os acorrentam à matéria. Vimos ainda há pouco o brado doloroso e magnífico do orador dos bacharelandos de 1931. É a luta intelectual.
Mas quantas vezes a luta da carne existe como obstáculo único entre o homem e a Fé? Afirmo categoricamente que, se os homens fossem dispensados pela Igreja do cumprimento do dever sexual, 90% de nossos ateus estariam comungando freqüentemente.
É um aspecto doloroso da chaga do século, que Carlos Alberto apontou e Augusto procurou remover, com o auxílio da ciência e da Fé. Conseguiu-o plenamente. Sua vitória foi cabal.
[Enquanto muitos clamam à procura do ideal, uma elite aguerrida apresenta o estandarte da Cruz]
Quero, agora, apenas submeter às reflexões dos leitores do “Legionário”, dos quais muitos talvez ainda pensem que a Faculdade é um foco de ateísmo, o seguinte fato: os dois primeiros trabalhos publicados pelos bacharelandos de 1931 foram, um de um ardoroso católico como Augusto de Souza Queiroz, e outro de um semicatólico, que tem mais Fé potencial do que atual, que é mais um futuro católico do que propriamente um católico.
Este último trabalho, insuspeito, dada a orientação religiosa do autor, é um veredictum magistral e severamente justo contra o materialismo. E, acudindo aos brados deste, o outro trabalho, de Augusto, ergue o estandarte do espírito, onde mais ↓15 tem triunfado a matéria.
Verifica-se aí um processo evolutivo que se observa com toda a nitidez: os tremendos preconceitos da época, removidos pela insatisfação e pelo vácuo terrível que provocaram. E, enquanto uma grande parte da geração clama à procura do ideal, já uma elite aguerrida lhe apresenta, à guisa de estandarte, a Cruz, como penhor da salvação da humanidade decaída.
Como não se ter um raio de esperança a filtrar entre as tristezas do momento, diante de um fato tão significativo e confortante?
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“O Século”, 27/12/1931
A Nota da Semana
[A autoridade pública não tem o direito de exigir dos seminaristas a prestação do serviço militar]
Propusemo-nos, na última nota16, a tarefa de examinar a situação do seminarista que se recusa a prestar serviço militar.
Perante a atual legislação brasileira, nenhuma dúvida pode haver. Desertor, segundo nossas leis, é todo aquele que, sendo sorteado, se recusa a atender ao chamado da Pátria.
Para aqueles que, porém, não professam a idolatria do Estado, a questão não se resolve mediante esta simples constatação. Efetivamente, é certo que aquele que não obedece à autoridade pública, quando esta exige os esforços e as vidas de seus súditos, em defesa da Pátria, é desertor.
É evidente que é só o exercício da autoridade pública que autoriza os detentores do poder a se dirigir aos cidadãos, pedindo-lhes as energias, o tempo e o próprio sangue.
[A tutela dos direitos do indivíduo e da família constitui a própria razão de ser do Estado]
Mas a autoridade do Estado tem seus limites traçados por sua própria finalidade. Anteriores ao Estado, a família e o indivíduo têm direitos cuja tutela constitui a própria razão de ser do Estado.
Quando, portanto, este nega tais direitos, volta-se contra si próprio e contra sua própria razão de ser, um ato que se assemelha ao suicídio.
É evidente que, tendo a autoridade do Estado sua razão de ser na proteção dos direitos naturais, sempre que ele procure violar tais direitos, agirá sem autoridade legítima, e os detentores do poder público que cometerem tais violações deixarão de agir, em tais casos, como depositários do poder público, para serem meros indivíduos inteiramente destituídos da menor parcela de autoridade real.
[O chamado para o estado sacerdotal constitui um direito sagrado]
Para os católicos, o mais sagrado dos direitos consiste em dedicar toda a vida a Deus, respondendo a seu chamado para o estado sacerdotal.
E como corolário da legitimidade deste direito, decorre que todas as disposições legislativas que dificultem o seu exercício serão contrárias ao Direito Natural, e portanto nulas.
E se temos entre nós liberdade de consciência, é necessário que a consciência católica se sinta livre para satisfazer suas mais elevadas aspirações.
Ora, quem poderá negar os perigos que as vocações sacerdotais correm, na vida agitada das casernas? Quem poderá negar que, com a vida de caserna, a formação sacerdotal se torne grandemente incompleta?
Logo, vemos que faltam a nossos poderes públicos direitos para chamar ao serviço do Exército, em condições perigosas para suas vocações, nossos jovens seminaristas.
Se estes, portanto, se insurgirem contra o ato das autoridades, e deixarem de atender ao chamado militar, não serão desertores, porque não foram legalmente chamados ao Exército, uma vez que foram convocados por uma autoridade que não tem poder para isto.
***
“Programa de Ação da Federação das Congregações Marianas de
S. Paulo”, São Paulo, Typ. Siqueira, 1931, pp. 7-16
Desenvolvimento da
Ação Mariana em São Paulo
Da autoria do Congregado
Dr. Plinio Corrêa de Oliveira
“O fato primordial da atual vida intelectual brasileira, diz o Sr. Gilberto Amado, da Academia de Letras, é um radioso renascimento do Catolicismo no Brasil” (Diário de S. Paulo, 8/1/1931). Dará provas de atraso intelectual quem considerar ainda, em nossos dias, a Igreja como mero centro de vida piedosa. A mocidade, cansada de ilusões passageiras e de falsas doutrinas, volve-se para a Igreja, na qual encontra a doutrina salvadora, que purifica o caráter, orienta a inteligência e dignifica a vida.
Prova significativa do que acabamos de afirmar é a intensidade do movimento Mariano atual, em todo o Brasil.
Quando, há 4 anos, se iniciou o movimento Mariano, havia em S. Paulo apenas 3 ou 4 Congregações, com poucos membros. Rapidamente estenderam-se as Congregações por quase todas as Paróquias desta Capital, e o total de Congregados, pertencentes a todas as profissões e a todas as categorias sociais, é atualmente o seguinte: 1700, dos quais, 250 estudantes, 300 empregados no comércio, e 1050 de outras diversas profissões, médicos, advogados, engenheiros, etc. Só no ano passado fundaram-se 10 novas Congregações. Para coordenar os esforços das Congregações fundou-se a Federação das Congregações Marianas, confiada aos zelosos e diligentes esforços do Rev.mo Pe. Ireneu Cursino de Moura, da benemérita Companhia de Jesus. Essa Federação foi fundada pelo Rev.mo Pe. José Visconti, SI com a aprovação do Ex.mo Sr. Arcebispo de S. Paulo, como fruto do Congresso da Mocidade, realizado na Capital Paulista, em 1928.
Por ato recente o Rev.mo Mons. Vigário Geral17 ordenou que em todas as Paróquias de S. Paulo, onde não houvesse ainda Congregações Marianas, fossem elas fundadas. Aliás, também o Eminentíssimo Cardeal Dom Sebastião Leme já ordenara que todas as associações de moços do Rio fossem transformadas em Congregações Marianas.
Realizações
A despeito da deficiência de recursos pecuniários, já têm sido grandes as nossas realizações.
Para prestar auxílio aos militares que se encontravam nesta Capital depois da Revolução, preservando-os ao mesmo tempo da aleivosa propaganda protestante da Associação Cristã de Moços, fundou a Federação Mariana uma Assistência ao Soldado, que funcionou no espaçoso salão da Rua Libero Badaró, 25, e onde foram atendidos 11.949 militares.
Foi o nosso salão honrado com a visita dos Il.mos. Srs. Generais Isidoro Dias Lopes e Ex.ma Senhora, Miguel Costa, Coronel Joviniano Brandão e Senhora, e Estado-Maior do Coronel Góes Monteiro, dos quais merecemos os mais honrosos elogios.
Também a Congregação das Perdizes abriu uma Assistência aos Soldados, para atender às necessidades dos militares acantonados naquela Paróquia.
Na distribuição de víveres aos desocupados, secundaram as Congregações eficazmente a Cruz Vermelha, tendo numerosos Congregados, que se apresentavam, feito distribuição de víveres em todos os postos desta Capital.
Na benemérita obra de catequese no Instituto Disciplinar e em outros estabelecimentos, têm se esforçado muito os Congregados. Empenham-se assim nossos moços para conduzir a Deus e tornar cidadãos moralizados a indivíduos que, de outro modo, talvez tivesse o crime escravizado.
Vantagens das Congregações Marianas
1º – Para as famílias:
É dever grave de toda Mãe católica preservar o mais possível seus filhos da corrupção de nossos dias. E nesta tarefa tão difícil as Congregações lhe prestarão o mais valioso concurso.
2º – Para a alma:
Os freqüentes exercícios de uma sólida piedade aproximam os rapazes de Deus, e quebram os grilhões do respeito humano.
O grande cuidado que se emprega na formação do caráter, as incessantes exortações, as boas leituras que se fazem nas bibliotecas largamente abertas à consulta de todos os Congregados, os edificantes exemplos, as boas amizades, o sadio ambiente das sedes, dotadas de todo o conforto e de numerosos jogos e passatempos, tudo isso retempera a alma numa atmosfera de franca jovialidade e austera compreensão dos deveres.
3º – Para a inteligência:
Contam as Congregações com amplas bibliotecas, em que se encontram as melhores obras dos mais afamados escritores, obras estas de todos os gêneros, desde os romances lícitos e interessantes, até os mais recomendáveis trabalhos científicos. As bibliotecas são postas gratuitamente à disposição de todos os Congregados e noviços.
4º – Para o corpo:
É muito cuidada no seio da Federação a educação física dos jovens, contando ela com uma bem organizada seção esportiva. Possui a Congregação de Santa Cecília, filiada à Federação, amplo salão de ginástica, dotado de ótimo aparelhamento, onde, por preço ínfimo, podem os Congregados receber uma completa educação física ministrada por competente professor. São muitas as partidas de foot-ball, tênis, etc., disputadas nas ótimas quadras do Colégio São Luiz, pelos Congregados Marianos, em renhidos campeonatos.
Há também outros jogos, como ping-pong (também com seus campeonatos), xadrez, damas, bilhar, etc., etc.
As sedes das Congregações se abrem para todos, todas as noites. As Congregações dividem-se em dois grupos: a dos Menores, que aceitam meninos de 10 aos 15 anos, e a dos Maiores, que aceitam rapazes de 15 anos em diante.
Nas Congregações dos Menores, às quais pretendemos dar um grande incremento, há bibliotecas infantis, e todo os recursos de que dispõem as dos Maiores, adaptadas, é claro, às exigências próprias de uma associação infantil. Os meninos, subtraídos ao nefasto ambiente dos cinemas e outros maus divertimentos, poderão passar deliciosas horas em inocentes folguedos, sem que, de modo algum, causem preocupações às suas famílias. Pedimos encarecidamente às Ex.mas Mães que enviem seus filhinhos às nossas Congregações dos Menores.
Há primeiramente um estágio, mínimo de 2 meses como noviço, em que o rapaz não assume compromisso definitivo, e em que se prepara a ser recebido como Congregado. Compreende-se perfeitamente que um rapaz ao entrar como simples aspirante, ainda não se sinta capaz de cumprir todos os deveres de Congregado. Por isto mesmo é que deve ficar como aspirante ou noviço. Prepara-se, porém, para ser Congregado exemplar. E com boa vontade e graça, tudo se consegue. Mas, o que não se compreende é que um Congregado, violando os compromissos assumidos perante o altar, dê más provas de si, transgredindo os deveres cuja síntese exporemos adiante. Como em toda escola de caráter, exige-se nas Congregações força de vontade e madura reflexão antes da aceitação de qualquer compromisso.
Apelos aos Senhores Párocos
Conversando certa vez com íntimos, S. S. Pio X dizia que o que mais faltava à Igreja eram leigos capazes de levar a cabo a grande tarefa do laicato católico. Sua Santidade o Papa gloriosamente reinante tem recomendado com grande insistência a Ação Social Católica, estabelecendo para ela estatutos especiais.
No Brasil, não contamos, ainda, com uma Ação Social Católica organizada. Mas já se tenta edificar alguma coisa, e as primeiras e talvez mais preciosas pedras do edifício serão certamente os membros das Congregações.
Incitamos vivamente a todos os Rev.mos Srs. Párocos e Diretores de Associações, do Clero Secular e Regular, que constituam Congregações Marianas que poderão ser filiadas à nossa Federação e à Prima Primária Romana. Será com imenso prazer, que forneceremos a este respeito todas as necessárias informações, que poderão ser pedidas por escrito, ou pessoalmente, ao
Rev.mo Pe. Ireneu Cursino de Moura, SI
DD. Diretor da Federação Mariana de S. Paulo
Colégio São Luiz – Avenida Paulista, 119 – S. Paulo
Lista das Congregações filiadas à Federação
1 – Araraquara
2 – Barra Funda
3 – Bosque da Saúde
4 – Brás
5 – Casa Branca
6 – Casa Verde
7 – Colégio São Luís – Alunos
8 – Colégio São Luís – Moços
9 – Consolação
10 – Ex-alunos Salesianos
11 – Ginásio de São Bento
12 – Imaculada Conceição
13 – Itapecerica
14 – Itaquera
15 – Itu – Igreja do Carmo
16 – Itu – Igreja Bom Jesus
17 – Jaboticabal
18 – Jundiaí
19 – Matão
20 – Matriz de Bela Vista
21 – Matriz de N. Sra. de Pompéia
22 – Mogi das Cruzes
23 – Parnaíba
24 – Penha
25 – Perdizes
26 – Pindamonhangaba
27 – Pinheiros
28 – Pirapora
29 – Ribeirão Preto
30 – Santos
31 – Santo Agostinho
32 – Santo Amaro
33 – Santana
34 – Santo Antônio do Pari
35 – São Caetano
36 – Santa Cecília
37 – Santa Efigênia
38 – São Gonçalo
39 – São João Batista
40 – São José do Belém
41 – São Manuel
42 – Sorocaba
43 – Tambaú
44 – Taubaté
45 – Tietê
46 – Tremembé
47 – Vila Mariana
48 – Tucuruvi
49 – Ipiranga
Síntese dos deveres de Congregado18
Iª Parte – Práticas Exteriores
1 – Assistir à Missa da Congregação, todos os domingos, à hora marcada pelo Padre Diretor.
2 – Comungar nos dias de Comunhão Geral extraordinária da congregação.
3 – Comparecer às reuniões da Congregação.
4 – Comparecer às solenidades do Mês de Maria, da Novena da Imaculada, assistir à Bênção do S.S. Sacramento, bem como às festas religiosas da Congregação.
5 – Freqüentar as aulas de Apologética.
6 – Envidar todos os esforços para não faltar ao Retiro Anual Fechado.
IIª Parte – Vida Interior
1 – Ter uma devoção sincera e fervorosa, um particular afeto à Virgem Santíssima Rainha e Padroeira da Congregação, não perdendo oportunidade de lhe prestar toda homenagem filial.
2 – Na Congregação ou fora dela dar provas de caráter cristão, conformando suas ações, seu comportamento, suas palavras, etc., com os princípios da sã moral católica e com o espírito da Congregação.
3 – Devem estar decididos a defender a todo transe a pureza de alma e de corpo, não se permitindo a dança sensual moderna nem os divertimentos repugnantes à consciência cristã.
4 – Nunca tomar parte em conversações livres e imorais, persuadidos de que o moço católico contrai enorme responsabilidade diante de Deus, por uma impressão má que possa causar a uma alma.
5 – Cultivar a piedade, freqüentando os Sacramentos, recitando o Terço de N. Senhora, fazendo leitura espiritual e progredindo cada vez mais no amor e conhecimento da verdadeira religião.
6 – Ser disciplinado, obedecendo de boa mente, no tocante à vida da Congregação, às ordens do Pe. Diretor, do Presidente, e dos demais membros da Diretoria, fomentando a união de todos entre si e com os Diretores, evitando toda a classe de murmurações.
IIIª Parte – Ação Apostólica
1 – Contribuir com seus trabalhos ou com seu auxílio para o apostolado de ação católica segundo o espírito da Congregação Mariana.
2 – Procurar pelo exemplo e por um zelo criterioso atrair para a Congregação os jovens católicos que sinceramente queiram abraçar as regras Marianas.
Epílogo
Da Síntese dos deveres expostos deduz-se com clareza que “A Congregação Mariana não é para todos os jovens católicos indistintamente, e sim para aqueles que, com uma vontade enérgica e sincera, saibam querer distinguir-se por uma vida fundamentalmente cristã, com que possam de verdade consagrar-se ao culto, ao serviço e a imitação da SS.ma Virgem.”
Informações úteis
1 – A Sede da FCM acha-se instalada à Rua Wenceslau Brás, 22. Contudo a correspondência deve ser dirigida para o Colégio S. Luiz, Av. Paulista, 19;
2 – Toda a correspondência relativa à Seção Esportiva em geral deve ser dirigida ao presidente desta: Congregado Guilherme Lyra, R. Traipú, 76. – Tel. 5-4840.
3 – Toda correspondência relativa à Seção de Estudos da ação social deve ser dirigida ao encarregado desta: Congregado Dr. Plinio Corrêa de Oliveira, Alameda Barão de Limeira, 111. – Tel. 5-3603.
A 16 de cada mês haverá uma aula de sociologia pelo Rev. Pe. José Danti, SI, às 20 1\2 horas, no Colégio S. Luiz. A esta aula poderão assistir os membros da Federação. Os sócios, porém, da seção de estudos terão reuniões particulares, marcadas previamente pelo seu presidente.
4 – Toda correspondência relativa à Seção Musical deve ser dirigida ao encarregado esta, Maestro Camillo Berti, Rua Carmelitas, 13. Todas as 1as e 3as quartas-feiras de cada mês haverá reunião da Seção Musical, às 20 horas, à Rua Wenceslau Brás, 22.
5 – Toda correspondência relativa à Sub-Seção de Fooot-Ball deverá ser dirigida ao encarregado desta: Congregado Pedro de Castro, Rua Minas Gerais, 47. Tel. 2-0825.
6 – Toda correspondência relativa à Escola de Instrução Militar deve ser dirigida ao Sr. Sargento Lodonio de Castro, Av. Paulista, 19. Podem também procurá-lo no Colégio S. Luiz, às terças e sextas-feiras, às 17 horas.
7 – Toda correspondência relativa à Sub-Secção de Ginástica deve ser dirigida ao Sr. João Baptista Morello Filho, Rua Imaculada Conceição, 5.
8 – Os jornais especiais para as Congregações e que se recomendam a todos os seus membros são:
“A Estrela do Mar”, órgão oficial de todas as Congregações do Brasil. Endereço: Caixa Postal 310. Rio de Janeiro.
“O Legionário” da Congregação de Santa Cecília. Endereço: Caixa Postal, 3471. São Paulo.
“O Echo Mariano”, da Congregação de Santana. Endereço: Matriz de Santana. São Paulo.
“O Mensageiro da Paz” da Congregação Santa Efigênia. Endereço: Caixa Postal, 3893. São Paulo.
“O Paroquiano”, da Congregação de Pinheiros. Endereço: Caixa Postal, 1328. São Paulo
Fundação de uma Congregação
1 – Um sacerdote zeloso, que tem cura de almas, reúne um núcleo de cristãos fervorosos ou que o desejam ser (8 ou 9 pessoas, até menos).
2 – Expõe-lhes o fim da Congregação: grande devoção à Virgem SS.ma, fervor na vida espiritual e espírito apostólico para fazer bem aos outros.
3 – Dá a todos o “Manual das Congregações”, onde estão as Regras das mesmas. Manual: pedidos ao Sr. João La Farina, Rua Vergueiro, 471.
4 – Obtém uma aprovação por escrito do Ex.mo Sr. Bispo da Diocese para a ereção da Congregação, e para pedir a agregação à Prima Primária Romana.
5 – Envia esse documento ao Rev.mo Pe. Diretor da Federação, Av. Paulista, 19, S. Paulo; o qual obterá de Roma a agregação à Prima Primária.
6 – A Congregação pode ser de meninos ou jovens ou adultos. Pode ser para as diversas classes sociais: estudantes, operários, empregados no comércio, etc., etc. Não podendo haver separação de idades ou classes de pessoas, pode-se erigir uma Congregação Mista.
7 – A Congregação pode ser fundada numa Igreja, capela ou oratório; em qualquer paróquia, seminário, colégio, asilo, casa de educação, etc.
8 – Para o primeiro impulso de fervor numa Congregação nascente é bom pedir a algum Diretor de uma Congregação formada, um Congregado experimentado, que sirva de instrutor dos novos aspirantes.
9 – A medalha, o diploma e o distintivo de Congregado só serão dados depois do tempo de prova ou noviciado, que será no mínimo por espaço de dois meses, e por ocasião da recepção oficial.
***
Relatório do Departamento de Estudos da
Congregação Mariana de Santa Cecília – 1931
[Atividades realizadas ao longo de 1931]
Ilmo. Sr. Svend Kok
DD. Presidente da Congregação Mariana de Santa Cecília19
Na minha qualidade de Chefe (Presidente) do Departamento de Estudos, passo às suas mãos o relatório dos trabalhos realizados na seção a meu cargo, durante o ano de 1931.
A biblioteca
Funcionou normalmente, em 1931, sempre sob a vigilância do D.D. Bibliotecário, Dr. Itibran Marcondes Machado, que, salvo durante 2 meses em que pediu licença para tratamento de sua saúde, continuou a nos prestar sua operosa e inteligente colaboração.
Perfeitamente senhor de todo o movimento da Biblioteca, não se limitam as funções do Dr. Itibran Marcondes Machado em organizar os livros, fichá-los e catalogá-los, mas pelo contrário, com real proficiência e zelo mariano, distribuí-los aos diversos congregados, atendendo à sua idade, preparo, profissão, etc.
É bem de se ver que a distribuição dos livros deve, efetivamente, presidir um critério que atenda a todas as circunstâncias. Sua aplicação conveniente exige, porém, por parte da pessoa encarregada da Biblioteca, um longo tirocínio, e perfeito conhecimentos dos livros.
Por esta razão, afastando-se, em gozo de licença, o zeloso Bibliotecário que há 10 anos vinha exercendo seu cargo, e que conhecia perfeitamente todos os livros da Biblioteca, foi inteiramente substituído por seu dedicado auxiliar, Congr. Camillo Marquetti. Este, porém, não podia ter o mesmo conhecimento que o Dr. Itibran Marcondes Machado, pois que é relativamente há pouco tempo, que se vem ocupando com a Biblioteca.
Decorreu a evidência necessária de se apartarem alguns livros, que nem em todas as mãos deveriam estar. Esta medida, tomada de acordo com V.S.a, tinha por efeito facilitar a tarefa do Congregado Camillo Marquetti, que não se veria na contingência de negar livros a um ou outro consulente, limitando-se a informar que estavam postos de lado, graças a uma ordem expressa do Presidente da Congregação.
Quando ao que tenha sido o movimento da Biblioteca no ano de 1931, limito-me a transmitir a V.S.a o incluso relatório do Dr. Bibliotecário, que traz as mais amplas e interessantes informações.
Obtida da Biblioteca Municipal, pelos esforços do Dr. Bibliotecário, uma excelente verba para aquisição de livros, ficou deliberado que o Congr. Bibliotecário, V.S.a, o Rev.mo Pe. Diretor, e o Rev.mo Pe. 1º Assistente e eu, de comum acordo, procuraríamos empregar dita verba em comprar volumes que estivessem em harmonia com as necessidades da Congregação.
Foi, também, aprovada uma oportuna proposta do Congr. Bibliotecário, no sentido de ser substituída a atual mesa de leituras – insuficiente quando ao conforto e ao aspecto, francamente inferior ao das peças do mobiliário da sala – por uma mesa adequada, que seria paga pela verba acima referida, e executada conforme modelo apresentado pelo Dr. Bibliotecário.
Academia Jackson de Figueiredo20
Funcionou regularmente, desempenhando sua tarefa de propaganda intelectual entre os congregados.
Realizou 10 reuniões, nas quais foram desenvolvidos os temas abaixo indicados:
1) Plinio Corrêa de Oliveira: “O Apostolado Intelectual”; crítico Ângelo Simões de Arruda.
2) José Pedro Galvão de Souza: “As reivindicações católicas, no momento político nacional”. Antônio de Paula Assis, crítico.
3) José Filinto da Silva Junior: “Atitude do Episcopado, prestando solidariedade aos governos, deposto um e instituído outro pela Revolução”. Crítico: Luís Lessa.
4) Henrique de Brito Vianna: “Psicanálise e Psicologia”. Crítico: Dr. Paulo Sawaya.
5) Milton de Souza Meirelles. Criticou um trabalho do Congr. Ângelo Simões de Arruda, sobre “A perseguição religiosa no México e o Padre Pro”. Pronunciado na Academia em 1930.
6) José Pedro Galvão de Souza: “Escola Ativa”. Crítico: João Dias de Arruda Filho.
7) Laerte Simões de Arruda: “Lacordaire”. Crítico: Plinio Corrêa de Oliveira.
8) Svend Kok: “Regina Martirum”. Crítico: Plinio Corrêa de Oliveira.
9) Antônio de Paula Assis: “Farias Brito”. Crítico: Não houve crítica.
10) João Dias de Arruda Filho: “Dom Vital”. Crítico: Plinio Corrêa de Oliveira.
Relativamente aos trabalhos da Academia, julgo oportuno fazer as seguintes sugestões:
A meu ver, a finalidade da Academia não consiste somente em despertar entre os Congregados o gosto pelo estudo, especialmente nas matérias que interessem nossa doutrina. Visa, além disto, formar neles uma mentalidade católica, isto é, que esteja orientada segundo os princípios católicos nas grandes questões que todos os dias se debatem nos livros, jornais, etc.
Ora, tanto uma como a outra finalidade ficam seriamente prejudicadas com o atual sistema, em que cada candidato se reserva o direito de escolher o assunto sobre o qual deve tratar.
Basta ver a série de questões abordadas em nossas reuniões, para se ver que nenhum laço existe entre elas, e que, portanto, as considerações que, durante as conferências se expenderam, podem ter fixado na inteligência dos Congregados uma ou outra linha geral de diversos quadros. Nunca lhe terão ministrado, porém, conhecimentos coordenados e sólidos, a respeito de um problema, ou um grupo de problemas.
Usando de atribuição que me confere o regulamento da Academia Jackson de Figueiredo, desejo modificar, data venia21, este sistema. O regulamento autoriza o candidato a fazer suas provas constarem de artigos no “Legionário” ou discursos na Academia. Até agora, só este gênero de provas [os discursos] tem sido aceito. Proponho que, de agora em diante, só se aceite aquele, salvo casos absolutamente excepcionais. §
Desta resolução decorreriam as seguintes vantagens: §
1) supriria certa falta de colaboração de que se queixam os dirigentes do “Legionário”; §
2) permitiria que, sem prejuízo na ordem de trabalhos da Academia, cada candidato pudesse continuar a escolher, para suas provas, o gênero de assunto que mais lhe interessasse; §
3) permitiria que a Academia pudesse apresentar um plano de estudos mais em harmonia com os assuntos que geralmente interessam aos Congregados, o que beneficiaria a estes, e, por outro lado, despertaria mais interesse em torno dos trabalhos da Academia.
Caso seja aceita a proposta que apresento, elaborarei um programa que submeteria a aprovação de V.S.a e do Rev.mo Pe. Diretor.
Curso de apologética
De acordo com o quadro de freqüência incluso, apresentado pelo Congr. José Neyde Cesar Lessa, a média geral de freqüência à aula de apologética, em 1931, foi de 40, 65%, isto é, sobre 68 alunos inscritos, comparecia em cada aula um número médio de 27.
Neste terreno, como em todos os outros, luta a Congregação com um de seus maiores embaraços: a heterogeneidade absoluta dos elementos que a compõem.
Segundo princípios pedagógicos que se impõem por sua evidência, está estabelecido que o ensino de apologética deve variar conforme o nível intelectual, o meio social, etc., dos alunos.
Evidentemente, o ideal seria que se pudessem dividir os alunos em dois grupos, e que cada qual tivesse o seu professor.
Esta medida me parece, no entanto, impraticável, no momento.
Para remediar de certo modo os inconvenientes que assinalamos, parece-nos que seria conveniente elaborarmos um pequeno programa de apologética, para 1932, que seria submetido ao professor.
Efetivamente, os professores, quase sempre estranhos à Congregação, não estão em condições (por maior que seja o seu preparo) de conhecer os problemas que mais interessam à maioria dos Congregados. Muitas questões, geralmente debatidas, prestam-se a críticas contra a Igreja, cuja puerilidade faz com que um professor de Apologética, suficientemente culto, nem se dê o trabalho de as dissipar.
No entanto, os Congregados, que se encontram, em uma posição inteiramente diversa, muito lucrariam em que se ventilassem estes problemas.
Um pequeno programa poderia atender a todos estes fatos, com grande proveito para a Congregação. De mais a mais, parece-nos que, uma vez tornados mais atuais e mais ao alcance de todos, as questões ventiladas, a freqüência subiria sensivelmente.
Prosseguiram também normalmente as aulas de Religião, com freqüência regular, sendo as porcentagens bastante variáveis.
São estas as informações que tenho a honra de prestar a V.S.a Esperando as bênçãos de Nossa Senhora sobre os trabalhos que deverei executar em 1932, no cargo a que me reconduziu sua escolha, apresento-lhe meus protestos de alta consideração e sincera cordialidade.
O irmão em Maria Santíssima
Plinio Corrêa de Oliveira
2º Assistente
1) (N. do E.) Relatório escrito pelo Autor, conforme indicado no artigo A nossa biblioteca – os livros que devem ser lidos, à p. 2 do mesmo número: “O relatório que publica hoje ‘O Legionário’, a respeito do movimento intelectual da nossa Congregação, elaborado pelo nosso congregado Plinio Corrêa de Oliveira revela que o desinteresse geral da mocidade pelas obras sérias de leitura parece ter-se feito refletir também no seio da mocidade mariana.”
2) (N. do E.) Cleópatra VII (69 a.C-c.30 a.C) – Rainha do Egito. Célebre por seu espírito e beleza, foi das personagens mais notáveis da dinastia lágida, tendo restaurado o poderio egípcio a ponto de inquietar Roma. Deposta por seu irmão Ptolomeu-Dionísio, recuperou o trono graças a Júlio César, que se deixou cativar por ela. Anexou ao Egito várias províncias romanas do Oriente. Na batalha de Ácio, o exército romano do Ocidente derrotou o exército egípcio. Cleópatra fugiu para o Egito e se suicidou, fazendo-se picar por uma áspide.
3) (N. do E.) Adaptação da célebre frase de Nosso Senhor: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem” (Lc 23, 34).
4) (N. do E.) Esportistas até o exagero.
5) (N. do E.) Ata redigida pelo autor, enquanto secretário do Congresso. O nome do ginásio, por ser de leitura duvidosa, está assinalado com [?].
6) (N. do E.) De Pio XI, acerca da educação cristã da juventude, publicada em 31/12/1929.
7) (N. do E.) {tanto}.
8) (N. do E.) O Congresso Católico de Educação realizou-se entre os dias 17 e 25 de Outubro de 1931, no Salão Nobre do Palácio da Cúria Metropolitana e foi amplamente divulgado pela imprensa.
9) (N. do E.) Na 8ª sessão do Congresso, o Dr. Plinio Corrêa de Oliveira submeteu à apreciação do plenário a moção transcrita nesta notícia. Vivamente aprovada pelo auditório, foi ela unanimemente aceita, tendo o Dr. Ataliba Nogueira feito a proposta mencionada na “Folha da Manhã” (cf. Congresso de Educação, Edição do Centro D. Vital de S. Paulo, 1933, p. 171-172).
10) (N. do E.) Direito constituído.
11) Note-se que o “Fígaro” é um dos maiores jornais parisienses, e que absolutamente não é jornal católico.
12) Sem lembrar a recente capitulação do protestantismo perante o neomaltusianismo, na Conferência de Lambeth, basta recordar o seguinte fato:§
“Em 1929, foi feito na América do Norte um inquérito entre quinhentos pastores protestantes e duzentos estudantes dos seminários protestantes. Foram dirigidas 56 perguntas, e apenas uma (sobre a existência de Deus) obteve resposta afirmativa [de todos]. Em tudo o mais, revelou o inquérito os imensos estragos causados pela anarquia religiosa. E a tendência desse individualismo destruidor, mais eloqüente se torna fazendo-se o confronto entre as respostas fornecidas pelos quinhentos pastores e pelos duzentos seminaristas. O modernismo das novas gerações vai levando o cristianismo protestante a uma crescente dissolução. Todas as teses fundamentais da Fé vão perdendo terreno, e o veneno cientificista [vai] destruindo tudo o que resta do tesouro imemorial da Revelação. Assim é que, enquanto 80% dos pastores ainda aceitam a Trindade (o que já é uma perda assombrosa de 20%, nessa verdade fundamental da mais pura Revelação evangélica), só 44% dos estudantes a aceitam. A maioria da nova geração protestante, na América do Norte, considerada em seus representantes mais autorizados, já não aceita a Santíssima Trindade, pela qual Lutero e Calvino se teriam feito matar…
“Ao passo que 60% dos pastores aceitam o milagre (o que também já representa uma perda incrível quanto ao mais puro ensinamento evangélico), só 24% (sic!) dos estudantes crêem na possibilidade do milagre!
“Ao passo que 60% dos pastores ainda crêem na existência real do demônio (que é uma das atestações mais iniludíveis das Escrituras), só 9% dos estudantes conservam esse ensinamento dos Textos Sagrados” (Tristão de Athayde, “A Razão”, 22/7/1931). §
Esses dados de Tristão de Athayde foram extraídos do livro de George J. Baetts: The Beliefs of 700 Ministers, The Abbington Press, 1929, livro de inquérito entre setecentos pastores, como indica o título.
13) (N. do E.) O Dr. Carlos Alberto de Carvalho Pinto (1910-1987) foi professor de Finanças na PUC-SP, secretário das Finanças, governador de São Paulo (1958) e ministro da Fazenda no governo João Goulart (1963). Do Dr. Augusto de Sousa Queiroz não dispomos dados biográficos.
14) (N. do E.) “Um ato de obséquio racional” (Cf. Rm 12, 1).
15) (N. do E.) {tarde}.
16) (N. do E.) Infelizmente não possuímos o artigo em questão.
17) (N. do E.) Mons. Gastão Liberal Pinto.
18) (N. do E.) Esta Síntese dos deveres do Congregado foi publicada no “Legionário”, nº 79, de 10/5/1931, p. 6.
19) (N. do E.) A propósito do trabalho desenvolvido pelo Autor, enquanto presidente do Departamento de Estudos, parece-nos oportuno transcrever parte do relatório que o presidente da Congregação Mariana de Santa Cecília, Congregado Svend Kok, escreveu em 1931 (transcrito no “Legionário” nº 92 de 3/1/1932, pp. 3 a 5):
“Ex.mo e Rev.mo Diretor da Congregação Mariana da Anunciação”:
“Departamento de Estudos
“A muito estreita amizade pessoal que me liga ao Congr. 2º Assistente Dr. Plinio Corrêa de Oliveira, presidente do Departamento de Estudos, impede-me de relatar com palavras brilhantes o que foi a sua portentosa atuação para elevar a inteligência e o coração dos congregados e para incutir-lhe sólidos conhecimentos doutrinários e históricos do cristianismo. Os simples fatos que abaixo exponho demonstram cabalmente a minha afirmação.
[Transcreve em seguida a matéria do presente relatório, começando no subtítulo “Academia Jackson de Figueiredo” e “Funcionou regularmente, desempenhando sua tarefa…”; até ao parágrafo que termina “…a respeito de um problema, ou um grupo de problemas.”]
“Para sanar este inconveniente sugere que as provas constem de artigos no “Legionário” que teria a vantagem de suprir a falta de colaboradores e de dar inteira liberdade ao candidato na escolha do assunto. Os temas das conferências passariam a seguir um plano de estudos determinados o que seria de maior utilidade tanto para os oradores quanto para os congregados. Faço minha esta proposta do Congr. PCO e submeto-a à aprovação de V. Rev.ma.”
20) (N. do E.) O Autor, era também, nesta época, Presidente da Academia Jackson de Figueiredo.
21) (N. do E.) Com a devida vênia. Expressão empregada ao se começar uma argumentação divergente da de outrem.
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