1935 – setembro a dezembro
“O AUC”, ano VI (nova série), n 18-19,
setembro-outubro de 1935, pp. 14-15
A ação social dos católicos
Plinio Corrêa de Oliveira
(Lente da História da Civilização do
Colégio Universitário)
No fetichismo de nossa época se enquadra perfeitamente a crença supersticiosa na onipotência do Estado.
A atenção do mundo atual está voltada exclusivamente para a ação política do Estado, posta em relevo com exuberância pelos poderosos meios de publicidade modernos. E enquanto se faz sobressair a parte que toca ao Estado, na solução dos problemas contemporâneos, um pseudo-silêncio envolve, em geral, a atuação da Igreja, firmando-se, assim, no espírito público, a persuasão de que só o Estado poderá resolver a crise contemporânea que tortura a humanidade.
A Igreja não nega valor ao concurso do Estado para a solução da crise hodierna. Pelo contrário, ela sempre mostrou o dever que este tem de intervir francamente na vida social, completando harmoniosamente, pela ação política, a ação superior de que ela foi investida.
A ação da Igreja e [a] do Estado não se excluem, mas antes se completam. Tanto assim é que a Encíclica Immortale Dei1 aconselha aos católicos a intervenção em matéria política, para a boa orientação do Estado.
Todavia, só, o Estado não poderá levar ao sucesso a regeneração social.
Uma ação social una exige um pensamento uno
Para solucionar a crise contemporânea, faz-se necessário uma atuação fundamentalmente moral e acima das nações – supernacional – que atinja diretamente o indivíduo e a sociedade. Sem esta ação, toda a ordem nacional será instável.
Há, pois, uma obra supernacional (que distinguimos das relações internacionais, que mais se estendem entre nações, do que propriamente acima delas) a ser feita, e que só a Igreja Católica poderá levar a termo. É isto, precisamente, que passaremos a demonstrar.
O único meio de se resolverem os problemas supernacionais é a realização de uma ação social una, que se estenda sobre o mundo inteiro, procurando trabalhar, ao mesmo tempo, o indivíduo e a sociedade, com real eficiência construtora.
Ora, uma ação mundial una exige um pensamento uno no mundo inteiro, pois a unidade de ação pressupõe necessariamente a unidade de pensamento. E aqui esbarramos com o obstáculo insuperável para qualquer força que não a Igreja.
O Estado moderno nada pode contra certas forças que corrompem as idéias e a moral
Comecemos pelo Estado.
A estreita ligação que a vida moderna estabelece entre todos os Estados dá aos problemas que neles se agitam extensão mundial. O livro, o jornal, o cinema e o rádio espalham pelo mundo a influência intelectual de qualquer pensador de nossos dias. Os meios fáceis de comunicação e o entrelaçamento dos interesses comerciais, assim como o prestígio artístico e cultural de certos povos, possibilitam em qualquer país a influência de ideologias políticas, religiosas ou sociais exóticas.
Se quisermos um exemplo frisante de como essa influência se realiza, basta examinarmos a vida de família no Brasil, atualmente e a de cinqüenta anos atrás.
Uma transformação cabal se operou, proveniente da sede imoderada de liberdade, nascida na Europa e nos Estados Unidos, que enfraqueceu todas as autoridades, a começar pelas domésticas.
Examinando o ambiente brasileiro, vemos que nada poderia ser apontado que explicasse a germinação dessa indisciplina doméstica. § Ela veio, porém, com os maus livros da Europa e, mais modernamente, com o cinema americano, que nos revela com exagero a dissolução dos costumes daquele país.
E dessa nefasta influência resultou o enfraquecimento sensível na família brasileira. Este fato demonstra que, através das fronteiras de qualquer país, se infiltram influências malsãs que destroem o Estado, pela corrupção moral e intelectual de seus próprios cidadãos. O Estado se vê a braços com inimigos que o hostilizam longe de suas fronteiras e que, embora minando a sua base, escapam à sua ação.
Não nos deteremos nas possibilidades de reação que a censura policial ofereceria contra este mal, pois a experiência de todos os povos revela quanto é limitado o seu efeito.
Contra tais forças intelectuais que superam os canhões, o Estado moderno nada pode.
O exemplo da Santa Aliança: remédio político para um mal moral
Mesmo uma coligação de Estados, se agir sem a Igreja, nada poderá.
A este respeito, a História nos apresenta um exemplo interessante. É a Santa Aliança, nascida de uma coligação de príncipes cristãos contra o espírito de revolução que ameaçava o mundo inteiro. § Salvo em relação à Espanha, cuja ordem política foi restaurada, esta coligação formidável fracassou.
É que se procurou combater com armas políticas um mal principalmente moral, cuja solução dependia muito da ação da Igreja sobre o indivíduo e a sociedade. Mas a Igreja era tiranizada, por isto a coligação de Estados onipotentes falhou.
Portanto, um Estado ou uma coligação de Estados é impotente para resolver, por meio de uma ação supernacional, a crise contemporânea.
Retorno ao Catolicismo, única expressão autêntica do Cristianismo
Analisemos agora o indivíduo e a sociedade, sobre os quais se deve exercer a ação supernacional de que já falamos.
O que logo nos impressiona é que a sociedade de hoje vive habitualmente em luta. Esta reveste as formas mais variadas, segundo se dá entre raças, entre nações, entre classes ou no seio da família. Contudo, se quisermos remontar à causa de tantas lutas, podemos dizer que os homens lutam porque não se amam; e não se amam porque nada, na mentalidade do homem moderno, existe que o leve ao amor ao próximo.
Assim, uma conclusão se impõe: enquanto a reforma não atingir o homem, será vã qualquer tentativa de restauração da ordem social.
Atingido o âmago da ferida social, ter-se-á andado para a sua cura.
O século XIX arrancou da humanidade o Cristianismo, a maior fonte de amor ao próximo. E o vago aroma religioso que ainda permanecia foi dissipado pelo tufão do modernismo.
Hoje, cansada dos sofismas da moral leiga, que é causa do egoísmo moderno, a sociedade volta os olhos para Deus, procurando nEle a base sobre a qual deve ser alicerçada a sociedade.
Todavia, que o espírito do século não iluda aqueles que fundamentam sua doutrina reformadora sobre a idéia de Deus. § Não é apenas afirmando Deus que se construirá uma civilização cristã. Basta citar o nome de Voltaire2 para demonstrar cabalmente que “afirmar Deus” não é suficiente para pôr uma civilização a salvo da ruína.
Muitos já compreenderam, porém, a necessidade de afirmar Cristo-Rei como pedra-de-ângulo de toda a organização política; mas ainda aqui devemos distinguir o Catolicismo, única expressão autêntica do Cristianismo, das várias ciências heterodoxas ou de um pancristianismo conciliatório.
Qualquer civilização que pretenda ser cristã ou pancristã, em lugar de exclusivamente católica, perecerá
A moral de Lutero3 é incapaz de reerguer os espíritos.
Embebido inteiramente de liberalismo, o protestantismo se desagrega cada vez mais. O livre-exame, isto é, a interpretação individual da Bíblia, torna cada um o juiz supremo de sua consciência, fracionando a moral protestante e introduzindo a anarquia religiosa. E esta não pode servir de base para uma ordem social estável. Quanto aos cismáticos, andam a largos passos para o protestantismo; também a ausência de um chefe único priva a Igreja Ortodoxa de um agir coordenado contra os males da época.
Aliás, sua submissão doutrinária ao poder temporal dividiu-a em pequenas igrejas nacionais, que vivem sob o guante da autoridade pública.
Há quem pense em basear a sociedade sobre um pancristianismo vago, que compreenderia um conjunto de princípios religiosos aceitos por todas as igrejas cristãs.
Seria impossível estabelecer quais são estes princípios comuns. Aproximando-se cada vez mais do ateísmo, o protestantismo racionalista tem numerosos fiéis, entre os quais pastores, que já não acreditam em Jesus Cristo. Por outro lado, greco-cismáticos que se dizem cristãos, mas que aderiram, com os respectivos bispos, ao comunismo! Só a disciplina intelectual da Igreja pode manter o Cristianismo longe de tais aberrações.
Qualquer civilização que pretenda ser simplesmente cristã ou pancristã, em lugar de ser exclusivamente católica, será perecível.
Com a disciplina intelectual da Igreja, uma só Fé e uma só Moral se estendem pelo mundo todo
Uma das grandes obras da Igreja, que será sempre o terreno em que fracassarão os que procurarem imitá-la para combatê-la, é a reforma moral do homem.
A ordem na sociedade é realizada por um processo ascendente, que consiste em instaurar a ordem no indivíduo, para projetá-la daí sobre a família e sobre a sociedade.
Em virtude de sua infalibilidade, a Igreja retira ao fiel o direito do livre-exame, impondo-lhe uma rigorosa disciplina intelectual.
Esta disciplina não é um sacrifício contrário à razão, mas uma conclusão da própria razão que, reconhecendo na Igreja o caráter divino, deve dobrar-se à sua autoridade.
A Igreja prova que Cristo é Deus, e que Ele instituiu infalível a sua Igreja. Daí se segue que a adesão inteligente do fiel, se faz sacrificando ele apenas a sua arrogância e não a sua independência intelectual, como disse Forster, protestante ilustre, ex-reitor da Universidade de Berlim.
Desta disciplina decorre uma unidade de espírito admirável; uma só moral e uma só crença se estendem pelo mundo todo, onde quer que existam católicos, e uma grande sociedade supernacional, a Igreja, governa as almas, dirigindo-as para a eternidade, influindo beneficamente nos destinos temporais dos povos. Pela sua perfeita unidade de pensamento e de ação, a Igreja se apresenta como única capaz de uma ação supernacional.
Para reformar o homem, a Igreja ensina o amor ao próximo pelas suas regras de Fé e de Moral, e se incumbe de fazê-las praticar livremente pelos seus filhos. Para isto ela apresenta ao espírito humano os mais fortes argumentos que o possam impelir à prática do bem e afastar da prática do mal. Ela move ao bem a liberdade humana; e uma sociedade orientada pelos princípios católicos estará a salvo das lutas entre os seus membros.
Nenhuma ação supera em importância a esta ação social da Igreja
Portanto, concluindo, parece-nos que de todas as ações desenvolvidas no mundo moderno, nenhuma supera em importância e oportunidade a ação social da Igreja.
Daí se infere que todos os católicos devem prestar a esta obra a máxima colaboração sem, contudo, negligenciar a respeito da vida política do Estado.
Agir de tal forma é defender a causa da Igreja que, em última análise, é também a da Pátria, encarada nos seus mais profundos interesses.
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“O Legionário”, nº 179, 1/9/1935, p. 1
Mau caminho
Somos dos que pensam que os periódicos católicos, bem como tudo ou todos que, na Ação Católica, têm responsabilidades definidas, devem abster-se cuidadosamente de qualquer atitude que possa ser suspeita de facciosismo político-partidário.
Por esta razão, nunca estaria em nossas intenções comentar os fatos que ocupam atualmente os cartazes da grande imprensa, de sorte a envolver a causa católica, que é essencialmente espiritual, em lutas de natureza meramente temporal.
Preocupante indiferença doutrinária na escolha do novo Presidente
No entanto, não podemos deixar sem um comentário a indiferença doutrinária que vem presidindo aos conciliábulos preliminares travados em torno da sucessão presidencial.
É muito provável que a Igreja, orientada por sua superior sabedoria, não venha a intervir direta ou indiretamente, na questão. É mesmo quase certo que tal se dará. Isto não significa, no entanto, e de modo nenhum, que aos católicos seja lícito pôr de parte qualquer preocupação religiosa, na escolha de seu candidato à suprema magistratura do país. Qualquer católico de consciência mediocremente bem formada, ao cogitar da escolha de um candidato para cargo de tamanha responsabilidade, deve colocar na primeira plana de suas preocupações a questão religiosa. Satisfeita esta preliminar, deve cogitar dos interesses temporais legítimos do País. E, determinada a sua escolha sob este duplo critério, nenhum lugar sobrará para as preferências oriundas de simpatias pessoais, ou da perspectiva de alguma propina governamental.
No entanto, o que vemos diante de nós está longe de se conformar com tais princípios. Ao que consta, o Sr. Flores da Cunha quer candidatar-se à presidência da República. Para queimar um possível rival, lançou a candidatura do Sr. Antônio Carlos, que prontamente exigiu a retirada de seu nome do cartaz. Por outro lado, consta que a minoria quer lançar o nome do Sr. Cincinato Braga, para forçar São Paulo a optar entre um paulista e um gaúcho. E corre, ao mesmo tempo, que amigos e admiradores dos Srs. Salles Oliveira e Macedo Soares acham que o atual Governador de São Paulo e o atual Chanceler estão perfeitamente à altura das duras responsabilidades decorrentes da ascensão à Presidência da República…
Os interesses religiosos e nacionais postos na sombra dos regionalismos
Ao debater estas diversas candidaturas, das quais algumas serão, sem dúvida nenhuma, meros balões de ensaio, o que preocupa a imprensa diária? Os programas de tais cidadãos? Suas idéias religiosas, políticas, sociais? Não. Em problema de tal magnitude, persistem quase sempre em ver as coisas pelo ângulo estreitíssimo do regionalismo. E, aos seus olhos, o que há no tabuleiro político é um gaúcho contra um mineiro ou contra dois paulistas!
Assim, os interesses religiosos e nacionais são postos na sombra, e se compromete a unidade da Pátria, por um manobrismo com que o Brasil só tem a perder!
Senhor, por este mau caminho, aonde vai o Brasil?
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“O Legionário”, nº 179, 1/9/1935, p. 1
A “Campanha dos 50%”
Em fins do ano passado, a Frente Única de Luta de todos os estudantes, pela democratização de ensino e pela democracia escolar promoveu nesta Capital uma greve dos rapazes das escolas, lançando ao mesmo tempo um curioso manifesto que foi comentado pelo “O Legionário”4.
Greves que alimentam a máquina comunista
Tivemos oportunidade de mostrar então que a origem do movimento, o motor oculto da greve, estava nos centros de propaganda marxista, que infiltrando os meios estudantis, procuravam arrastar a nossa juventude para o caminho da luta social, a pretexto de conseguir facilidades materiais para os estudantes. Terminada a greve, e ela foi uma das muitas promovidas naquela ocasião como prelúdio à formação da ANL, cessou aparentemente a atividade extremista nos meios escolares. Era preciso agitar outras classes, sem deixar entretanto de prosseguir em todas elas o trabalho lento de sapa, próprio da tática comunista.
Chegou novamente a vez dos estudantes, levados à praça pública pelos chefes que não aparecem e não se expõem. E o motivo levantado agora, já constava do manifesto de dezembro de 1934. É a chamada “Campanha dos 50%”, a qual, diz-nos “A Platéia”, jornal aliancista desta capital, “foi lançada através d’‘A Platéia’ faz pouco mais de uma semana”. Sua finalidade, é ainda o mesmo jornal quem o diz, é obter “a mais humana de todas as coisas: mais tranqüilidade de espírito para estudar e estudo mais barato”. E o modo prático para conseguir essa maior “tranqüilidade de espírito para estudar e estudo mais barato” é obter, um “abatimento nos preços dos transportes, dos divertimentos e dos livros, porque a vida está ficando pela hora da morte e os estudos não podem, por isso, ser interrompidos”.
Tranqüilidade à maneira marxista
Preste-se bem atenção ao que acabamos de transcrever, que é da pena do diretor da “A Platéia”. A “Campanha dos 50%” foi lançada através d’“A Platéia”; isso quer dizer que o foi em São Paulo, pelo principal órgão comunista existente nesta Capital, como no Rio de Janeiro, foi lançada pela “A Manhã” e pela “A Pátria”, como no resto do Brasil foi ou será lançada pelos jornais de Moscou. Essa é a palavra de ordem do momento: “Campanha dos 50%”. E assim agita-se a classe estudantina, agora, nos começos do segundo semestre, para obter “mais tranqüilidade de espírito para estudar e estudo mais barato”. Mais “tranqüilidade”, com passeatas; mais “tranqüilidade” com reuniões noturnas, esquecidos os estudantes dos trabalhos que deviam fazer; mais “tranqüilidade”, com discussões e comentários, com o espírito cheio dos “50%”!… É bem uma “tranqüilidade” à maneira marxista! E por sua vez, será “o estudo mais barato” com a reprovação nos exames finais, graças ao período de “tranqüilidade”, desencadeado pela terrível campanha!… Finalmente, quanto aos meios para obter essa “tranqüilidade” e esse “estudo mais barato”, pedem os interessados 50% de abatimento nos transportes, abatimentos esses que se não nos enganamos já existem para todos os estudantes, com exceção dos acadêmicos das escolas superiores; pedem 50% de abatimento nos divertimentos, que é realmente um belo meio para obter “tranqüilidade” e “estudo mais barato”; quer dizer, o estudante que ia ao cinema uma vez por semana, irá d’ora em diante duas vezes, aproveitando, portanto, plenissimamente mais uma noite de seus estudos; além disso, como o que é barato sempre atrai, irá mais duas vezes, exatamente por ser o cinema barato!… E assim teremos para o bem do espírito e para barateza do estudo, mais três noites lindamente aproveitadas!… E mais os teatros, os esportes, as excursões! Só a reivindicação relativa ao barateamento dos livros se justifica em toda a maravilhosa (!) “campanha dos 50%”; afirmamos, porém, sem receio de contradita, que ela está ali apenas como um recurso para mascarar os verdadeiros fins dos agitadores da classe estudantina.
“Intenções puras”, desejos destruidores
Para quem conhece a psicologia do estudante, nada mais próprio para agradar, do que o segundo item, aquele que se refere ao abatimento nas diversões; por meio deste, foram e são apanhados 95% dos que aderiram à campanha; e fracassada esta – e isso mesmo querem os que a promovem –, seus leaders continuarão a ser, no espírito da juventude escolar, os chefes autorizados de todo o movimento estudantil. Neles os estudantes terão os olhos fitos, a eles obedecerão e eles os plasmarão à sua vontade e segundo suas idéias; eis aberto o caminho para a propaganda extremista mais intensa, e para que novas adesões venham reforçar a élite marxista de nossos intelectuais. E não é sem um fim preconcebido que na Faculdade de Direito se funda agora uma Ação Universitária Libertadora, cujo primeiro ato consiste em enviar sua adesão e seu apoio à “Campanha dos 50%”.
Terminamos assim esta nota que é, antes de tudo, uma advertência aos estudantes e aos pais que nos lêem. Que todo o bom brasileiro preste muita atenção às sutilezas dos inimigos de nossa Pátria e de nossa sociedade; suas armas são discretas, suas intenções parecem puras, mas seus desejos são destruidores. E se os deixarmos, sentiremos os efeitos de seu jugo e, então, será tarde demais.
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“O Legionário”, nº 180, 15/9/1935, p. 1
O veto
A Constituição de 16 de Julho determina que o casamento religioso tem a validade jurídica igual à do casamento civil, desde que: 1º) a religião segundo a qual o casamento se celebrar não contrarie a ordem pública e os bons costumes; 2º) que a habilitação do casamento se verifique perante a autoridade civil isto é, que os papéis preparatórios do casamento sejam regularizados perante a autoridade civil; 3º) que o processo da oposição seja feito conforme a lei civil. Se todos esses requisitos forem observados, os nubentes poderão casar-se religiosamente, dispensando a cerimônia ridícula do casamento civil. Bastará para isso que o casamento seja registrado civilmente, depois de celebrado.
Acertada intervenção do Presidente da República
Evidentemente, estamos longe de ter atingido o ideal em matéria de legislação sobre o casamento. No entanto é, inegável que a situação decorrente da Constituição de 1891 era muito pior.
Na regulamentação do dispositivo constitucional, bastaria que a lei se preocupasse em assegurar o cumprimento efetivo das exigências da lei básica, sem criar embaraços de qualquer monta ao uso do importante direito que a constituição outorgou aos brasileiros de todos os credos.
Não entenderam assim os senhores deputados, que se julgaram no direito de aprovar uma lei cheia de embaraços e que chega por fim, a legislar sobre a cerimônia religiosa, o que é coisa privativa dos diversos cultos. Sancionada a lei pelo Presidente da República, entraria ela em vigor, constituindo gravíssimo precedente a servir de pretexto a todas as incursões que o poder temporal quisesse fazer em assuntos privativos do poder espiritual.
Muito bem andou pois o Sr. Presidente da República, vetando um projeto de lei prenhe de tão temíveis conseqüências.
Ao encerrar esta nota que põe os nossos leitores ao par do que realmente se passa quanto a este importante assunto, não nos podemos furtar de perguntar aos eleitores católicos de meias-tintas, que sacrificaram as suas preocupações religiosas aos seus pendores politiqueiros, o que fazem seus representantes na Câmara Federal. Esta é mais uma lição que levam. Queira Deus que lhes seja útil para o futuro.
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“O Legionário”, nº 180, 15/9/1935, p. 1
Imprensa Católica
Apareceu há poucos dias no Rio de Janeiro, mais um jornal de orientação aliancista: “A Nota”. Continua assim a Aliança Nacional Libertadora, embora fechada, a ter os seus órgãos de propaganda com circulação livre. E mais, esses jornais se multiplicam. E esse fato se dá, não só no Rio e em São Paulo, como em todos os outros Estados e em todas as cidades importantes do país. Temos desse modo uma situação digna de nota para a ANL; ela está proibida de possuir sedes, de fazer comícios, de promover reuniões ou conferências. Mas pela persistência de seus órgãos de publicidade, que as autoridades não suspenderam ou fecharam, está autorizada a fazer a propaganda escrita, mais lenta, mas mais sólida e duradoura.
Multiplicam-se os jornais comunistas e as folhas católicas continuam pequenas
Tal é a primeira observação que fazemos, sobre o aparecimento de mais um jornal esquerdista. Mas, se essa é dirigida às autoridades que não velam convenientemente pela qualidade do alimento espiritual que é fornecido aos brasileiros, a segunda é dirigida especialmente aos católicos. Multiplicam-se os jornais de propaganda comunista, inimigos do Brasil. Com facilidade espantosa os aderentes de Moscou adquirem ou financiam folhas que levam, disfarçada ou claramente as suas doutrinas dissolventes a todos os meios e a todas as inteligências; formam assim as massas para a luta e as élites para a direção. Diante deles, quem se levanta para os combater com as mesmas armas? Não são os jornais liberais ou os órgãos de partido, presos muitas vezes a injunções tais que os tornam aliados daqueles. Há, portanto, apenas os pequenos jornais católicos, todos de circulação limitada, todos representando o esforço de um pequeno grupo de homens de boa vontade.
Falta-nos o grande órgão, que possa competir em condições, de igualdade com todos os grandes jornais nacionais, e ainda, que os supere a todos pela pureza de doutrina e pela elevação moral. Não é, porém, apenas com palavras e com bons desejos que se conseguirá esse jornal. Ação e trabalho contínuo, e um pouco de espírito de sacrifício da parte de católicos que disponham de recursos para que o órgão católico exista, e mais que tudo, imponha sua orientação e informe o povo segundo os princípios da doutrina católica. E o exemplo nos vem dos nossos inimigos; para eles não há sacrifício algum a que não estejam dispostos, desde que se trate da propaganda de suas idéias.
Não terão por acaso os católicos de São Paulo, que tantas provas de devotamento dão diariamente, a coragem suficiente para arcarem com a organização do diário católico?
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“O Legionário”, nº 181, 29/9/1935, p. 1
Ofensiva?
É realmente árdua a tarefa de jornalista católico.
Procurando tornar cada vez mais atual “O Legionário”, e relacionando os assuntos de que ele trata com as questões do momento, não nos tem sido possível fazê-lo, sem formular freqüentes críticas, quer a políticos, quer a escritores, quer à imprensa. Assim, um órgão destinado ao apostolado, isto é, à aproximação ao Cristo, dos incréus e dos pecadores, pode parecer a alguns carregado de fel e de censuras, a procurar atrair de carranca fechada aquelas ovelhas tresmalhadas às quais o Salvador prodigalizaria certamente os seus carinhosos afagos. E de si para si perguntarão se porventura “O Legionário” supõe que é desferindo uma ofensiva categórica contra os adversários da Igreja, que ele conseguirá atraí-los ao seu aprisco; ou que se esqueceu ele daquela judiciosa frase de S. Francisco de Salles, que afirmava que com uma colherada de mel se atraem muito mais moscas do que um tonel de vinagre?
Nossa principal finalidade é orientar a opinião dos que já são católicos
Entendamo-nos. Não é exato, preliminarmente, que “O Legionário” tenha em vista, de modo principal, a conversão de hereges ou de pecadores. Folha essencial e ostensivamente católica, dedicando-se à critica de assuntos exclusivamente religiosos, será muito difícil que sobre suas colunas venham pousar os olhos de um incréu ou de um indiferente. Se algum dia tal se der ou se tenha dado, e se “O Legionário” puder ter contribuído para aproximar uma alma – uma alma apenas – da Igreja, daríamos por pagos, e por muito bem pagos, os trabalhos que, até agora, a luta na imprensa católica nos tem custado.
No entanto, é necessário que não percamos de vista que a principal finalidade d’“O Legionário” é de orientar a opinião dos que já são católicos. E estamos certos de que, realizando esta obra, ele preencherá uma verdadeira lacuna. Realmente, a falta de instrução religiosa em nosso povo é imensa. E como conseqüência, muita gente há que, recebendo as informações sobre o que se passa no mundo inteiro através dos jornais diários, adquire uma noção inteiramente viciada, de todos os grandes problemas contemporâneos. Assim, a maioria dos católicos, ingere, sem antídotos, todos os venenos que lhe são ministrados pela imprensa quotidiana.
Há católicos liberais, católicos socialistas, católicos semipaganizados. O que revela a existência de tantas tonalidades de catolicismo entre nós, quando o Catolicismo só tem uma tonalidade autêntica que é a de Roma?
A falta que faz um órgão que oriente realmente o pensamento católico, mostrando que o católico não pode ser senão, acima de tudo, mais do que tudo, antes de tudo, católico.
Nossa função é, pois, de preservar contra as infiltrações do erro os filhos da luz.
Severidade sem atingir quem erra ou quem peca
Ora, se é certo que é com mel que se caçam moscas, é com cercas de arame farpado que se devem cercar os campos onde não se quer que penetre o lobo devorador.
Não quer isto dizer que devamos infringir os gravíssimos deveres que nos são impostos pela caridade. Há uma certa forma de se ser caridoso e severo, que nos faz alvejar o erro ou o vício sem atingir quem erra ou quem peca, ou melhor, levando ao pecador o mais ardente de nosso afeto fraternal, o mais delicado de nosso carinho em Cristo.
Em segundo lugar, não estamos desencadeando uma ofensiva, mas tomando uma atitude de mera defesa. Trama-se contra a Igreja na vida política como na vida social. E sempre que os interesses da Igreja são ofendidos, aí está “O Legionário”, disposto a defendê-los, criticando – dentro da caridade cristã a mais inalterável – todos os ataques feitos à doutrina católica.
Caridade para obter unidade
Ainda agora, por exemplo, vimos que a Câmara se prepara para rejeitar o excelente veto do Sr. Presidente da República à regulamentação do casamento religioso. Com a rejeição do veto, o Catolicismo é prejudicado. E, se “O Legionário” critica aqueles que se esforçam em contrariar a boa doutrina, ele não o faz para alvejar qualquer pessoa, ou qualquer interesse partidário. Respeitamos e amamos o nosso próximo, e nunca passaria por nossa mente o desejo de o ferir. Desejamos, tão somente, defender os interesses da Igreja, mostrando aos católicos quem está com ela e quem contra ela.
Se é certo, portanto, que “O Legionário” tem procurado ser um órgão de combate, é certo também que ele só tem procurado combater o bom combate da Igreja, que é sempre defensivo, nunca ofensivo.
E se, para este combate, nos fosse permitido escolher um lema, nós os redigiríamos assim:
Para com os católicos, caridade e unidade; para com os não-católicos, caridade para obter a unidade.
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“O Legionário”, nº 181, 29/9/1935, p. 1
Salário mínimo e justo salário
Exige a justiça que o salário seja suficiente para assegurar a subsistência do trabalhador e de sua família. É o salário familiar ou mínimo, o qual pode ser absoluto, quando a paga é calculada em função de determinada família, tomada como tipo; ou relativo, quando varia com a composição das famílias dos diversos trabalhadores. Nesse respeito às necessidades familiares do empregado devem assentar-se todas as previsões orçamentárias de qualquer empresa particular ou pública, que quiser agir com a devida justiça e honestidade. Dada assim ao empregado a remuneração que baste para o sustento seu e de sua família, afastar-se-á do campo social aquela iniqüidade a que se refere Pio XI e que é “abusar da idade infantil ou da fraqueza feminina”, em trabalhos que não lhes competem por suas condições ou finalidade: ao mesmo tempo, apagar-se-á a revolta que germina no espírito dos chefes de família, incapacitados de prover às necessidades dos seus.
Nunca deve desaparecer a harmonia entre
patrões e empregados
Torna-se necessário, porém, atender nessa questão a dois pontos importantes, e para eles Pio XI, chama especialmente a atenção de todos.
Um, se refere à situação das empresas, pois seria injustiça da parte dos empregados exigir salários tais, que “elas não os pudessem pagar sem se arruinarem e arruinarem consigo os operários”. Trata-se então de procurar as causas, as quais, se dependem de “negligência, inércia ou descuido” da empresa, não são justas para exigir sacrifícios dos operários; se dependem de contribuições pesadas ou de imposições governamentais, exigem dos governos a sua remoção. É o segundo, o egoísmo de certas empresas, que elevam extraordinariamente os salários, para prejudicarem as concorrentes, o que, acentua Pio XI, tem sido “a causa de muitos operários se verem sem trabalho”; e “é contra a justiça social diminuir ou aumentar demasiadamente os salários, em vista só das próprias conveniências e sem ter em conta o bem comum”. Nunca, porém, deverá desaparecer a harmonia entre patrões e empregados, tão necessária para o bem de uns e de outros. É o que diz Pio XI na Quadragesimo anno, que vimos referindo. “Trabalhem por conseguinte de comum acordo operários e patrões para vencer as dificuldades e obstáculos, e sejam em obra tão salutar ajudados prudente e providamente pela autoridade pública. Mas se apesar de tudo os negócios correrem mal, será então o caso de ver se a empresa poderá continuar, ou se será melhor prover aos operários de outro modo. Nessas gravíssimas conjunturas é, mais que nunca, necessário, que reine e se sinta entre operários e patrões a união e concórdia cristã.”
É preciso um salário que forneça recursos para a realização de economias
O salário mínimo ou familiar é suficiente teoricamente, mas é insuficiente para atender às surpresas ou exigências da vida: acidentes, doenças, desemprego, viuvez, velhice, etc. Necessário é, pois, o justo salário, isto é, aquele que além de prover às necessidades familiares do empregado, lhe forneça recursos para a realização de economias. Como nem sempre será possível chegar a ele, há o recurso dos seguros sociais obrigatórios e as gratificações familiares. Estes dois sistemas dividem pela sociedade toda, por meio dos seguros, a procura de recursos com que os menos favorecidos da fortuna possam fazer face às eventualidades referidas, e por meio das gratificações mensais a cada filho existente em famílias de determinadas condições, às dificuldades de criação e educação das crianças pobres. E assim, partindo do salário familiar, do estritamente necessário, chega-se ao justo salário, sem agitações estéreis, sem transformações sociais violentas, mas de uma maneira pacífica e como é próprio de homens civilizados cristamente.
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“Folha da Noite”, 1/10/1935
A “Ação Social dos Católicos”
será estudada hoje pelo
Dr. Plinio Corrêa de Oliveira
Sobre a tese que defenderá na “Semana de Estudos sobre a Doutrina Política da Igreja” fala-nos o seu autor
Na sessão de hoje da “Semana de estudos sobre a doutrina Política da Igreja” promovida na cúria Metropolitana pelo Centro D. Vital, o Sr. Plinio Corrêa de Oliveira defenderá a tese que lhe cometeram, sobre a “Ação Social dos Católicos”. A respeito do seu trabalho, S. S.a concedeu à “Folha da Noite” ligeira entrevista:
O estado de luta tornou-se habitual para os homens e nações hodiernas
“O século XX vota um culto supersticioso ao Estado, de quem espera a solução para a crise contemporânea. Por esta razão, não costuma ser atribuída à ação social dos católicos a importância e o alcance que, na realidade, tem.
“Sem querer diminuir a importância do papel do Estado, que tem na hora presente gravíssimas responsabilidades, cumpre notar que o Estado, por si só, não está em condições de solucionar a crise contemporânea. Efetivamente, é suficiente um exame sucinto da situação moral, social e política do mundo moderno, para nos persuadir disto.
“O estado de luta parece ter-se tornado habitual para os homens e as Nações hodiernas. Na família, a luta se estabelece entre os cônjuges, esquecidos de seus deveres recíprocos, e desejosos de direitos sempre maiores. Entre pais e filhos também não reina harmonia, pois que a autoridade paterna parece, para a mocidade de hoje, um jugo cada vez mais pesado. Lutam entre si as classes que formulam, umas contras as outras, reivindicações sempre maiores, procurando ao mesmo tempo subtrair-se ao cumprimento dos respectivos deveres. Enfim lutam nações contra nações, estimuladas pelo orgulho nacional e pelo desejo de maior expansão econômica.
O Estado é impotente para sanar uma crise derivada do egoísmo humano
“A razão deste estado de coisas deve ser procurada muito menos nas leis modernas, do que na mentalidade do homem contemporâneo. Um desejo imoderado de prazeres e o horror ao cumprimento do dever são suas duas grandes características. E ambas as características derivam do egoísmo que domina hoje toda a humanidade. Enquanto o homem continuar aferrado a este individualismo sem limites, não será possível estabelecer qualquer reforma durável na sociedade contemporânea.
“Ora, a ação do Estado é totalmente impotente para operar a reforma dos caracteres. É certo que o Estado pode defender a moralidade pública. Não é menos certo, porém, que ele não pode edificar a moralidade pública ou privada.
A Igreja é a grande moralizadora dos povos
“Ora, enquanto o Estado é impotente para esta tarefa indispensável, a Igreja é um fator inigualável de moralização dos povos. Realmente, ela os submete a uma disciplina intelectual e moral perfeita, que, ao contrário do protestantismo, submete os atos de cada homem não ao julgamento, sempre suspeito, de suas próprias consciências, mas a um tribunal superior cheio de austeridade e ao mesmo tempo rico em benignidade. Por outro lado, pelos motivos que a Religião Católica dá ao homem, de amar a Deus e de desejar a felicidade eterna, bem como pelo temor da condenação, ela proporciona ao espírito humano os estímulos mais eficientes que se possam conceber para induzi-lo à prática do bem. Assim, a Igreja é a grande moralizadora dos povos. E ela o provou em inúmeros episódios históricos como, por exemplo, quando encaminhou ao martírio na Antigüidade legiões de virgens, ao passo que o culto da Vesta pagã perecia, porque o paganismo não podia mais suscitar em Roma o número de virgens necessário ao culto do fogo sagrado.
“Por outro lado, o Estado tem uma atuação meramente nacional. E a reedificação da ordem social não pode depender da ação de um país, mas de uma atuação supernacional, afetando simultaneamente o mundo inteiro e agindo com uma inteira unidade de pensamento e de direção.”
Depois de mostrar até que ponto o protestantismo descamba atualmente para o racionalismo, chegando a repudiar em muitas de suas seitas a divindade de Cristo, o conferencista demonstra que não é da Reforma que se deve esperar tal ação supernacional. Também dos cismáticos nada se pode esperar. Alguns procuram estabelecer um modus vivendi doutrinário com o comunismo e outros tendem ao catolicismo. Por outro lado, negando a supremacia do Bispo de Roma, as igrejas cismáticas renunciaram implicitamente à possibilidade de desenvolverem qualquer ação mundial, porque não reconhece a nenhum de seus bispos qualquer autoridade espiritual que lhe seja superior.
O conferencista conclui afirmando que, se aqueles que desejam restaurar a civilização cristã querem alcançar a vitória, não devem limitar-se a aceitar um vago pancristianismo, mas devem abraçar resoluta e exclusivamente o Catolicismo, única expressão autêntica e completa da doutrina de Cristo.
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“O Legionário”, nº 182, 13/10/1935, p. 1
Self-control
Permitir-me-á meu colega da “Crônica Internacional” que invada um pouco o terreno que ele cultiva com tanto êxito, para fazer algumas considerações em torno do conflito ítalo-abissínio. A invasão se justifica, ao menos em parte, porque vou encarar a questão do ponto de vista da política brasileira, que é o campo sáfaro de que eu tenho procurado retirar, para nossos leitores, com esforço penoso, alguns magros frutos de exemplos edificantes, juntamente com uma larga colheita de joio, que são as ações errôneas ou… menos nobres.
Cumpre evitar um falso sentimento de solidariedade racial
Evidentemente, os católicos são livres de presentear com suas simpatias a pátria de Michel Ângelo, ou a de Menelick5. Enquanto a Igreja não se pronunciar sobre esta questão – e o Tratado de Latrão juntamente com sua sábia prudência parece que lhe indicam a abstenção de qualquer interferência nesta questão – ou enquanto não estiver em jogo o interesse da Religião, todos são absolutamente livres de opinar como preferirem.
No entanto, é preciso que usemos de toda a circunspeção quanto ao modo de externar nosso pensamento, e ao ardor de nossas opiniões.
Primeiramente, é preciso que os católicos separem nitidamente a questão ítalo-etíope da questão de raças, que alguns pretenderiam agitar nesta oportunidade. O Brasil é um país de população heterogênea, em que a raça negra ombreia com os descendentes de italianos, de alemães, de tcheques, de espanhóis, lado a lado com o elemento mais numeroso, que descende de portugueses. Portanto, qualquer agitação que tivesse como conseqüência despertar um falso sentimento de solidariedade racial seria perigoso para nossa tranqüilidade. Além disto, seria contrário à caridade cristã. A ninguém é lícito desejar o aniquilamento da Abissínia pelo simples fato de pertencerem seus habitantes à raça negra, bem como não pode qualquer pessoa desejar a derrota de um país com as gloriosas tradições da Itália, simplesmente por alguma incompatibilidade de temperamento com o povo italiano. A caridade cristã se opõe a que odiemos negros por serem negros, italianos por serem italianos, ou ingleses porque a Inglaterra é uma nação conquistadora.
Não devemos nos esquecer de nossos deveres de caridade
Por outro lado, é necessário acentuar que quaisquer ressentimentos devem ser muito controlados quando externados em solo brasileiro.
Quanto a nós, brasileiros, devemos desenvolver um sério esforço de self-control, para impedir que nossas simpatias por um dos lados nos façam esquecer nossos deveres da caridade, agravados pelos da hospitalidade. Sempre devemos ter em mente que os estrangeiros domiciliados aqui, ou os filhos de estrangeiros que, por uma legítima simpatia, se interessam pelos destinos da Pátria de seus pais, têm todo o direito à nossa consideração.
Por outro lado, devemos exigir também que nossos hóspedes procedam como tais, respeitando escrupulosamente o direito que temos, de sermos senhores em nossa própria casa. Assim, portanto, qualquer atitude que possa fazer estalar no Brasil rancores que só se explicam na Europa ou na África deve ser energicamente reprimida.
Nossa missão histórica: manter um oásis de paz dentro do Brasil
Se formos inflexíveis conosco e com o próximo na manutenção desta atitude, além de termos cumprido nosso dever, auferiremos com este procedimento duas preciosas vantagens.
A primeira é que a opinião pública acompanhará sempre serenamente o desenrolar dos acontecimentos e não arrastará o Brasil a uma eventual participação em um conflito em que nada tem que ver. Nossa missão histórica consiste em manter neste mundo que se defronta com uma conflagração universal, um oásis de paz dentro de nossas fronteiras. Assim, contribuiremos para evitar o alastramento do tremendo mal que é a guerra. Por outro lado, nossas forças espirituais, sociais e econômicas se conservarão intactas, para uma eventualidade extrema, em que a civilização precise delas.
Por outro lado, impediremos que sentimentos nacionalistas exagerados venham despertar entre nós um excessivo sentimento de solidariedade para com as Pátrias distantes (excessivos, dizemos, porque um sentimento moderado é lícito e até indispensável), que dificulte a tarefa assimiladora dos elementos estrangeiros, que deve levar a cabo o povo brasileiro.
Não sabemos que procedimento terá, nesta emergência, o Governo brasileiro. Mas uma nota do “Diário Carioca”, cujo diretor é irmão do Sr. Ministro das Relações Exteriores, nos informa que o Brasil se absteve de participar de qualquer interferência no atual conflito ítalo-etíope, embora solicitado neste sentido pela Liga das Nações. Nossos aplausos francos a atitude tão criteriosa.
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“O Legionário”, nº 182, 13/10/1935, p. 1
As Missões e a influência estrangeira
Um artigo subscrito pelo Sr. Francisco Isoldi e publicado no “Estado de São Paulo”, a 4 do corrente, dava, à atividade dos missionários nos países da África, Ásia e Oceania, a interpretação de constituir um elemento de penetração, dos países a que pertencem os referidos sacerdotes. Sendo essa interpretação puramente arbitrária, e sendo ela por outro lado um dos argumentos prediletos da propaganda comunista nos países de Missões, torna-se necessário esclarecer o verdadeiro sentido das Missões, que em caso algum representam uma influência nacional qualquer que ela seja, mas apenas um trabalho ativo, contínuo e dificílimo de cristianização do mundo.
A Obra da Propagação da Fé
Proposta em 1568 por S. Francisco de Borja, a criação de uma Comissão Cardinalícia exclusivamente dedicada à obra missionária, Gregório XV a estabeleceu a 22 de junho de 1622, sob o título de Congregatio de Propaganda Fide. Iniciada a evangelização de determinado território, pode ser criada para ele uma prefeitura apostólica, primeiro grau da hierarquia religiosa missionária; com o progresso da Missão pode a prefeitura ser transformada em vicariato apostólico, título que corresponde ao de um verdadeiro bispado. Finalmente, quando o vicariato se mostra capaz de vida autônoma, passa à categoria de bispado e perde a sua dependência da Propagação da Fé. Recentemente a Obra da Propagação da Fé, governava cem arcebispados e bispados, outras tantas prefeituras e duzentos e cinqüenta vicariatos.
O fim único de estender a todos os homens os benefícios da Religião cristã
As missões, que representam a atividade da referida Obra, são juridicamente propriedade da Santa Sé, e este princípio de direito foi reconhecido na Conferência de Paz, de 1919, quando os Aliados, após as negociações de Mons.6 Ceretti, remodelaram o art. 448 do Tratado de Versailles, permitindo que a substituição dos missionários alemães nas antigas colônias do Reich, se efetuasse no respeito dos direitos tradicionais da Santa Sé e com o seu consentimento. Aliás, ao Vaticano não importa qual a nacionalidade estrangeira dos missionários, pois todo o seu esforço consiste no desenvolvimento do clero indígena. Desenvolve assim, dizem-no Geo London e Ch. Pichon, o sentido da “responsabilidade do clero indígena obrigando-o a fazer sua aprendizagem” e ao mesmo tempo “evita à Igreja d’ora em diante constituída nos países de missões em cristandades puramente indígenas, as perseguições dos nacionalismos bolchevizantes e xenófobos, que de ordinário flagelam tais países”. §
E com essa orientação, o Papa sagrou na Basílica de São Pedro seis bispos chineses e logo a seguir um japonês; alguns anos mais tarde, em 1933, mais seis bispos asiáticos (anamitas, hindus e chineses) foram sagrados em Roma. E a essas autoridades religiosas juntem-se as centenas de sacerdotes regulares ou seculares, e os milhares de irmãos leigos e de religiosas, de todas as línguas, cores e nações, e ver-se-á que não há na atividade missionária, o fim oculto de conquistar benefícios para esta ou aquela nação, e sim, aquele meridianamente evidente de estender a todos os homens os benefícios da Religião e da Civilização cristãs.
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“O Legionário”, nº 182, 13/10/1935, p. 3
Encíclica Immortale Dei
Como decorreu a Semana do Centro D. Vital,
de São Paulo, em comemoração
do cinqüentenário de sua publicação
Realizou-se, de 29 de setembro a 4 do corrente, a anunciada Semana promovida pelo Centro D. Vital, em comemoração do Cinqüentenário da Encíclica Immortale Dei, de SS. Leão XIII.
De como se desenvolveu a Semana do Centro D. Vital, que constituiu um verdadeiro acontecimento cultural, damos a seguir ligeiro resumo, feito pela nossa reportagem.
Dia 29, domingo, às 9 horas houve na capela do Ginásio de São Bento a abertura solene do congresso com uma Missa celebrada pelo Rev.mo Pe. Castro Nery. À noite, no Salão Nobre da Cúria Metropolitana teve lugar a primeira sessão da semana; presidiu-a o Rev.mo Pe. José Danti, SI, reitor do Colégio São Luiz que, em suas linhas gerais, descreveu o caráter de Leão XIII e o momento histórico em que se exerceu seu pontificado. Usou em seguida da palavra o Professor Alexandre Correia, apresentando sua conferência subordinada ao tema “Igreja e Estado”, da qual damos um apanhado no fim desta.
No dia 30, à mesma hora e local, realizou-se a segunda conferência da semana: “O Estado como fonte de todos os direitos”. O Dr. José Pedro Galvão de Souza, encarregado de desenvolvê-la, demonstrou que todas as concepções políticas não-católicas levam fatalmente ao erro de considerar o Estado como fonte de todos os direitos. Na verdade, o Estado é fonte da lei positiva apenas. Mas a lei positiva supõe a lei natural que é anterior ao Estado. O Estado não é, pois, fonte de todos os direitos, porque o direito natural lhe é anterior.
Os católicos devem se empenhar na reforma dos indivíduos
Dia 1º de outubro, terça-feira, sob a presidência de honra de D. Domingos de Sillos, Abade de São Bento, realizou-se a terceira sessão do congresso. O Dr. Plinio Corrêa de Oliveira, encarregado de relatar a tese “Ação social dos católicos” defendeu o seguinte ponto de vista: “Os católicos para alcançarem seu ideal da cristianização da sociedade, devem se empenhar na reforma dos indivíduos. Catolicizados estes, teremos a catolizicação da sociedade e do Estado. O Estado não tem meios para realizar uma reforma de tal vulto.”
Sobre a origem do poder e as diversas formas de governo
Dia 2, com a presença de S. Ex.cia Rev.ma D. José Gaspar de Affonseca e Silva, continuaram os trabalhos do congresso. A tese do dia – “A origem do poder. Teocratismo e democratismo” – esteve a cargo do acadêmico André Franco Montoro. O conferencista disse, em resumo, o seguinte: o poder considerado abstratamente vem de Deus, e considerado concretamente (forma de governo e governante) depende de fatores humanos, isto é, o poder depende de Deus na sua essência, e dos homens na sua geração. Isso não significa monarquia de direito divino (teocratismo): todo poder abstrata e concretamente vem de Deus; nem democratismo: todo poder abstrata e concretamente depende do povo.
Dia 3, estando também presente o Ex.mo Rev.mo D. José Gaspar de Affonseca e Silva, o Sr. Sebastião Pagano apresentou sua tese sobre “As formas de governo. Fim da sociedade civil e do Estado”: “A finalidade do Estado é o bem comum. Qualquer autoridade que realizar essa finalidade é útil e justa. Daí decorre que a Igreja não condena por si qualquer forma de governo. Todas essas formas são boas desde que satisfaçam o bem comum e estejam de acordo com os princípios de direito natural.”
Crítica ao dogma rousseauneano da bondade natural do homem
Dia 4, penúltima sessão, o Sr. Arlindo Veiga dos Santos, relatou o tema que lhe fora confiado: “As liberdades públicas”. Começou o conferencista distinguindo as várias espécies de liberdades. Mostrou em seguida o absurdo da liberdade pregada por aqueles que só a entendem como uma absoluta independência. Em matéria política a liberdade dos católicos é bastante grande. Eles podem preferir esta ou aquela forma, tendo como limite apenas a justiça e o bem comum.
A última sessão do congresso contou com a presença de D. José Gaspar Affonseca e Silva e de D. Policarpo Amstalden, OSB, reitor da Faculdade de Filosofia de São Bento, além do Rev.mo Pe. José Danti, SI, reitor do Colégio São Luiz, que ocupou a presidência efetiva durante todo o congresso, e do Rev.mo Pe. Castro Nery, assistente eclesiástico do Centro D. Vital. A tese do dia – “A política de Rousseau” esteve a cargo do Dr. Ataliba Nogueira. O conferencista criticou o dogma rousseauneano da bondade natural do homem. Mostrou a ficção em que se baseia toda essa doutrina e salientou a necessidade em se distinguir entre o direito natural a priori, tal como o conceberam os racionalistas, e o direito natural aristotélico-tomista. O orador referiu-se ainda à influência exercida pela doutrina de Rousseau no constitucionalismo moderno. Desde a declaração dos direitos do homem até a nossa atual constituição, que ainda conserva alguns de seus princípios.
Usou em seguida da palavra o Rev.mo Pe. Castro Nery, que, num feliz improviso, agradeceu a todos que colaboraram nos trabalhos da semana.
Encerrando o congresso, falou S. Ex.cia Rev.ma D. José Gaspar de Affonseca e Silva.
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“O Legionário”, nº 183, 27/10/1935, p. 1
Eleições municipais
Na brilhante conferência que pronunciou sobre “O Legionário” na Semana Social Mariana, o Prof. Leonardo Van Acker salientou que a nossa nota de fundo, que se ocupa em geral com questões de política interna brasileira, tinha esclarecido os leitores a respeito do verdadeiro ponto de vista católico sobre casamento religioso, mas que não tinha dado qualquer informação sobre o que se passa na Câmara Federal a este respeito ou, em outras palavras, sobre a atuação que os deputados eleitos com votos católicos vêm desenvolvendo, quer no recinto, quer nos bastidores do Palácio Tiradentes, a respeito de assunto de tão grande alcance.
Deputados sem compromissos com a LEC criam obstáculos à vitória dos interesses católicos
Circunstâncias particularíssimas nos impedem de dar ao ilustre Professor, de público, uma informação que em particular lhe daremos.
O certo, porém, no que diz respeito à bancada paulista, é o seguinte: alguns deputados federais foram eleitos em legendas que receberam inúmeros votos católicos. Mas tais deputados não responderam aos quesitos da Liga Eleitoral Católica e se recusaram assumir com esta qualquer compromisso.
Não obstante isto, a Liga Eleitoral Católica se sentiu na contingência de não se opor a que os católicos votassem em tais legendas. Com muita finura, porém, publicou ao lado de seu nihil obstat7 a relação dos candidatos que haviam assumido o compromisso de defender as reivindicações católicas. E, como a lista era pouco numerosa, qualquer eleitor de mediana inteligência poderia verificar que nem todos os candidatos peceistas e perrepistas estavam dispostos a apoiar as reivindicações católicas. De onde se segue que qualquer católico de consciência medianamente exigente verificaria que o nihil obstat da Liga fora dado para evitar males maiores, mas que ela não queria, não podia e não devia querer que os nomes de candidatos que não iam trabalhar pelo programa católico, fossem sufragados pelos católicos.
No entanto, um frenesi político apoderou-se de muitos católicos, que puseram suas preferências partidárias acima de suas preocupações religiosas, e que votaram, apesar de tudo isto, em adversários da Igreja.
A conseqüência não se fez esperar: os deputados federais paulistas não compromissados com a Liga Eleitoral Católica estão criando obstáculos à vitória do ponto de vista católico. § E os católicos que neles votaram estão fazendo orelhas moucas e vistas gordas a esta situação, fruto diretíssimo de sua incomparável incúria.
Como se comportarão os católicos nas eleições municipais?
Aproximam-se agora as eleições municipais. Vamos ver se a experiência aproveitou aos eleitores católicos…
As eleições municipais afetam muito diretamente os interesses católicos. Realmente é preciso notar que, em virtude da Constituição Estadual em vigor, todos os municípios deverão ter estabelecimentos de educação próprios, em que toda a direção será confiada à autoridade municipal. Como conseqüência, criar-se-á uma importantíssima rede de ensino municipal que será, talvez, mais extensa e mais possante do que a Estadual. Pergunta-se agora aos católicos: desejam eles que o ensino religioso em tais escolas seja também de uma magra meia-hora? É-lhes indiferente que as autoridades escolares sejam protestantes, espíritas, livre-pensadoras?
Existe em São Paulo uma Confederação de Colégios Católicos que tem mantido com a Diretoria de Ensino uma luta titânica, para defender o ensino particular católico das investidas de um certo grupo que faz das posições oficiais do Ensino Estadual um meio de perseguir os interesses religiosos. Quererão os católicos que esta luta se estenda por todos os municípios de São Paulo?
Se não quiserem, arregimentem-se. E a vitória será nossa…
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“O Legionário”, nº 183, 27/10/1935, p. 1
Uma idéia infeliz… [I]
É muito justo que os paulistas procurem homenagear os grandes vultos de sua terra.
No entanto, nada há que legitime o intento de realizar estas homenagens às expensas das tradições religiosas do povo brasileiro.
Lamentamos, portanto, que a Academia Paulista de Letras, a que pertencem tantos homens que se proclamam católicos, tenha sugerido a mudança dos nomes do Largo de São Bento e da Rua São João, para denominações alusivas às bandeiras paulistas.
E lamentamos também que o Sr. Deputado Alfredo Ellis fizesse aprovar esta idéia pela Câmara Paulista, sem que a voz de qualquer dos católicos que têm assento naquela Casa se erguesse, para protestar contra tal deliberação. Efetivamente, os jornais noticiaram que foi unanimemente aprovado o projeto…
Merecem os bandeirantes mais homenagem do que S. João?
Dir-nos-ão que a mudança do nome de uma rua é coisa totalmente sem importância, e que não valia a pena, por tão pouco, suscitar na Câmara uma questão de natureza religiosa.
A esta consideração, responderemos com uma pergunta: se não tem importância o nome de uma rua, por que razão aprovou a Câmara uma medida destinada a substituir o nome de S. João pelo de Bandeirantes na nossa grande avenida? Para homenagear os bandeirantes, dirão, e para incutir no povo a admiração por seus feitos. E S. João? Terão seus feitos sido, porventura, menores do que os dos bandeirantes? Merecerá menos homenagens? Será mais necessário que o povo admire os bandeirantes, do que cultue S. João? E, porque escolher exatamente o nome de S. João, para riscá-lo da avenida, em lugar de dar nome novo a tantas ruas que trazem nomes inteiramente inexpressivos em São Paulo, como a Avenida da Água Branca, a Rua Augusta, e principalmente a Rua Direita?
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“O Jornal”, 29/10/1935, Coluna do Centro, pp. 3 e 11
Repouso autêntico
(Copyright dos “Diários Associados”)
Nada é mais difícil, para o homem contemporâneo, do que repousar, e sobretudo repousar bem.
É impossível conciliar o repouso com a excitação
Há quem suponha que o cinema, o teatro, o esporte, sejam ótimos meios de repousar. No entanto, repouso significa, antes de tudo, distensão do espírito. E todas as diversões modernas tendem constantemente a provocar em nós uma excitação, que será tanto maior quanto mais reussie8 estiver a diversão. O homem moderno não sabe mais distrair-se sem excitar-se. Ora, não é possível conciliar o repouso com a excitação. E por isto as existências em nossos dias se consomem precocemente no contato eletrizante com nossa civilização irrequieta.
Por sua natureza, o esporte seria um excelente meio de repouso para a inteligência. Mas, a mania das competições atléticas transformou-o em passa-tempo excitante, em que a ânsia de vencer recordes inúteis agita febrilmente os atletas e os espectadores.
O mesmo se dá com o cinema. Tome-se como exemplo um filme qualquer. Para agradar, precisa excitar. Em primeiro lugar, deve exacerbar a sensualidade com cenas ditas livres. Em segundo lugar, a ação deve decorrer em um ambiente impressionante pelo deslumbramento de um luxo excessivo, ou pelo horror de uma miséria completa. Os ambientes pequeno-burgueses, em que a vida medíocre é a regra, são os piores para o êxito de um filme. Finalmente, o enredo precisa apresentar aos espectadores sensações novas, situações complicadas em que a curiosidade se esforça inutilmente por adivinhar o desfecho que deve saltar imprevisto, dos acontecimentos do drama, sob pena de deixar indiferente a assistência.
Ora, não é possível admitir-se como meio de repouso um gênero de divertimentos como estes que esgotam, em lugar de refazer; que excitam, em lugar de repousar; e que exaltam, em lugar de acalmar.
Flores Agrestes: páginas de um frescor reconfortante
Em um ambiente como o nosso, em que até os lares já foram invadidos pelo rádio, com suas músicas fatigantes e agitadas, a leitura de um livro ameno e repousante, dá-nos agradável impressão de alguém que saísse de um aposento saturado de perfumes penetrantes e fortes, para respirar, a plenos pulmões, o ar sadio dos campos.
Foi o que senti ao ler os contos e narrativas que sob o título de Flores Agrestes publicou Conceição Ferraz, escritora paulista. Seu livro não tem cenas de amor e nem doutrinas massudas sobre sociologia, o que, nos dias que correm já é grande mérito.
Escrito com singeleza, exala-se de suas páginas um frescor reconfortante, e da alegria matinal que se desprende de algumas cenas que descreve, se irradia sobre nós a alegria daqueles sorrisos tranqüilos, cujo segredo nossa época perdeu.
A autora soube unir o útil ao agradável
Destaquemos apenas uma de suas narrativas, a título de exemplo. Ela nos descreve com graça, o mundo nos seus primeiros dias. Tudo respira com viço e saúde em torno de nós. Plantas e animais saídos há pouco das mãos de Deus, começam apenas a sentir as primeiras palpitações da vida. “À semelhança de confetes que se atira para o alto, miríades de insetos, começam apenas a voar à luz do sol. Os primeiros animais ostentam cada um uma beleza própria. Um se destaca pela delicadeza, outro pela majestade, outro, em fim, pela agilidade. Acima de todos eles, Deus colocou o homem, senhor do mundo que ele percorre extasiado, a admirar a excelência de tudo quanto vê em torno de si. A beleza que o cerca empolga sua alma. Do alto de um outeiro, consegue contemplar, em um só golpe de vista, longa e apaixonadamente, todo um panorama de maravilhas. A emoção sobe-lhe, com o sangue, ao cérebro e ao coração. E sua admiração dita a seus lábios uma ação de graças que dirige, genuflexo, ao Criador.”
E o pano do palco desce por assim dizer, sobre este primeiro quadro, do homem que transforma sua primeira emoção artística na sua primeira ação de graças, como um aparelho que transforma energia em luz.
Se, em lugar de ter um fundo bíblico, esta narrativa tivesse origem chinesa ou hindu, embora isto não lhe alterasse sequer uma vírgula, que originalidade, que frescor, que beleza lhe achariam todos?
Neste simples quadro, que é um exemplo entre vários outros, do valor da obra, há muito mais do que uma mera preocupação literária. Conceição Ferraz soube reunir em suas narrativas o útil ao agradável. E, enquanto nos distrai, mal percebemos que ela nos faz pensar.
Irrepreensível correção de doutrina
Na narrativa que mencionamos, por exemplo, há uma verdade profunda que salta, sem esforço, aos olhos de quem lê: a verdadeira arte não afasta, mas conduz a Deus a alma; e a verdadeira piedade não fecha, mas abre a alma aos encantos da verdadeira arte (exclusão feita, portanto, da arte que não é verdadeira, e de que é expressão característica o shimmy9 tocado por um jazz-band).
E assim, em todos os contos e narrativas, há uma verdade útil, exposta com suavidade e proveito, e que o leitor assimila sem esforço, ao correr das frases fáceis e delicadas da autora.
Ademais, ele se caracteriza por uma irrepreensível correção de doutrina, autenticada pela aprovação eclesiástica, que tantos escritores omitem e por um belo “selo de fé” que é um testemunho eloqüente do grande senso católico da autora. Não apenas aos adultos, mas também às crianças de certo desenvolvimento, recomendamos as Flores Agrestes que substituirão, com proveito as lendas e narrativas paganizantes, cheias de bruxarias insípidas de Papai Noel de importação, ou de um certo vovô índio, que se lhe quer substituir em um acesso de jacobinismo paganizante censurável.
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“O Legionário”, nº 184, 10/11/1935, p. 1
Entre a espada e o violino
É com pesar que registramos nesta coluna as declarações do leader Henrique Bayma, relativas à liberdade de cátedra.
Tudo se permite ensinar na cátedra, desde que sem violência…
O Sr. João Carlos Fairbanks manifestou sua estranheza por ter a Câmara Estadual aprovado uma subvenção à Escola de Sociologia e Política, uma de cujas cátedras está confiada a um professor que faz em plena aula a mais clara campanha comunista. Em réplica, o leader Henrique Bayma afirmou – transcrevemos textualmente o “Estado de São Paulo” – que “a cátedra é livre. A chamada lei de segurança contém um artigo repetindo este princípio: que é livre, a quem quer que seja, pregar idéias sejam elas quais forem. Só o que não é possível é fazerem propaganda por meios violentos. De maneira que, em qualquer hipótese, seria uma intolerância restringirmos a liberdade de cátedra”.
Assim, pois, para o porta-voz do Partido Constitucionalista na Câmara dos Deputados, só a pregação da violência deve ser reprimida. Mas, se se pregar o amor-livre, a supressão da propriedade ou a destruição da Religião por meios pacíficos, a maioria parlamentar estará disposta a cruzar os braços.
Quem conterá as massas sem moral e sem Fé?
Proceder por esta forma é ignorar as condições sociais contemporâneas. Faça-se a pregação de qualquer doutrina, como quer o Dr. Henrique Bayma, persuada-se às massas de que a família é uma instituição burguesa destinada a perecer. E responda-nos S. Ex.cia o que será da moralidade pública, depois de arraigada esta convicção no espírito do povo.
Convença-se este de que a Religião é a cocaína com que a burguesia anestesia os padecimentos da massa, e conte-nos, depois, Sr. Henrique Bayma, em que estado de devastação ficarão os nossos bons costumes particulares e públicos, já tão débeis.
Persuada-se o povo de que a propriedade é ilegítima, e responsabilize-se o Sr. Henrique Bayma, se tiver coragem, pela ordem pública material, de cuja conservação S. Ex.cia faz a suprema finalidade do Estado. Quem conterá as massas sem moral e sem Fé, para evitar que elas se atirem contra a propriedade privada que durante tantos anos lhes foi apontada como iníqua? Porque esperarão elas pacientemente que se suprima a propriedade individual por via pacífica e legislativa? Merecem porventura as imposturas tamanha consideração? E quando as massas se atirarem sobre os lares e as Igrejas, de que forma se há de lhes levantar barreira? Não se conte com os soldados, que são filhos do povo, e estarão ao lado da massa. Com quem conta o Sr. Henrique Bayma para empunhar os fuzis que os soldados não quererão manejar? Com alguma coligação lírica de bacharéis liberais?
Como o violonista de Bizâncio
Narra-se que, quando Bizâncio foi invadida pelas tropas turcas, em um suntuoso edifício se encontrou um bizantino, cidadão prestante que em lugar de empunhar a espada na defesa da Pátria, tocava violino enquanto seus compatriotas morriam no cumprimento do dever. Com um golpe de espada foi morto sob o riso sarcástico dos adversários e entrou para a História como símbolo da imprevidência e da inércia.
Ao Partido Constitucionalista incumbem, no momento, gravíssimas responsabilidades. É nas suas mãos que está depositada a espada cortante e augusta da autoridade pública. Se, neste momento de perigo, ele a deixar de lado para vibrar as cordas líricas do liberalismo bacharelesco, não merecerá ele a celebridade que alcançou o violinista de Bizâncio?
Prepara-se a devastação de lares e de honras, que se chama carnaval
Parece, em todo o caso, que o violino exerce atrativo maior que a espada. É ao menos o que nos dá a entender a Prefeitura, que mais uma vez prepara o carnaval oficial.
Uma Comissão de Divertimentos Públicos nomeada pela Prefeitura, já está preparando todas as providências para que seja bem completa a devastação dos lares e de honras, que se chama carnaval.
Em um País em que o governo cruza os braços diante da demagogia e se cinge com a coroa suspeita de Rei Momo; em um país em que a oposição silencia diante deste espetáculo, julgando dignas de sua atenção apenas as cifras orçamentárias, o que há a fazer?
Católicos: estais com a palavra, respondei.
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“O Legionário”, nº 184, 10/11/1935, p. 1
Um pedido de orações feito pelo Papa
Como São Paulo atenderá ao pelo de S. Santidade – Dia de adoração na Igreja de Santa Efigênia
Em circular ao Rev.mo Clero e aos fiéis, S. Ex.cia Rev.ma o Sr. Bispo-Auxiliar, transmitiu o apelo do Santo Padre, pedindo aos fiéis orações especiais pelas suas augustas intenções, na hora difícil que atravessa a humanidade. E diz o Sr. Bispo-Auxiliar:
“Falida completamente uma civilização de onde se expulsaram os princípios da religião cristã, cabe à Igreja de Jesus Cristo reconduzir ao bom caminho a sociedade extraviada que chora já as terríveis lições de dolorosas conseqüências, com que a visitou a mão onipotente do Criador. É dever de todos os fiéis auxiliar, neste momento lancinante, a Sua Santidade na obra de reinstauração do Reino de Deus naqueles corações que só à custa das próprias lágrimas e agonias se poderão voltar para Nosso Senhor, fonte única de Justiça e de Verdade. Assim, desejoso de corresponder carinhosamente à voz do Vigário de Jesus Cristo, S. Ex.cia Rev.ma, o Sr. Arcebispo Metropolitano quer que os fiéis todos da Arquidiocese levantem para o céu um grande movimento de orações e de Santas Missas, para obter de Deus o que ardentemente anela o coração de nosso Pai comum.
Um dia de adoração ao Santíssimo, nas intenções do Papa
“Determina, pois, o Ex.mo Sr. Arcebispo Metropolitano, que na sua Catedral se celebre, no dia 15 de novembro, um dia inteiro de exposição ao Santíssimo Sacramento. Esta exposição se iniciará às 8 horas, com a missa celebrada pelo Ex.mo Sr. Bispo-Auxiliar, por intenção de Sua Santidade. Todas as associações e colégios católicos farão sua hora santa, segundo determinação que breve será publicada. A adoração encerrar-se-á com a bênção dada pelo Sr. Arcebispo, às 20 horas.”
Além desse dia público de orações pelo Papa, o Pe. Cursino de Moura, diretor arquidiocesano do Apostolado da Oração de São Paulo, mandou fazer Tesouros Espirituais especiais os quais são distribuídos na Igreja de São Gonçalo, para que os fiéis ofereçam suas orações, seus atos de piedade, seus sacrifícios, pelas intenções de Pio XI. E assim, pelo Natal, receberá S. Santidade a oferta de milhões de atos piedosos dos católicos de São Paulo.
É empolgante este movimento de orações, feitas em atenção ao pedido de Pio XI. Em todo o mundo, desde as grandes cidades, até os recantos perdidos nos sertões longínquos, a todos chegou a voz do Papa, e em todos ela encontrou eco no coração de seus filhos dedicados e fiéis. E na verdade não se poderia esperar do Papa da Paz, do Pontífice que só vê remédio para o mundo na volta à paz de Cristo no reino de Cristo, outra atitude que a assumida agora: um pedido universal de orações, para que Deus se amerceie do mundo e o cubra de sua misericórdia. E também nada mais emocionante que esta universalidade em torno do Chefe da Cristandade, em torno do homem que, não tendo exércitos ou armadas, ordena e é obedecido com amor e dedicação.
A realeza paternal mais antiga do mundo
É porque, como dizia Veuillot: “Ele leva um nome incomunicável: ele é o Papa, o Pai. Toda língua, mesmo rebelde, o chama assim e não chama assim a nenhum outro. Sua realeza paternal, a mais antiga que exista no mundo, é ao mesmo tempo a mais contestada do tempo [e] a mais segura do futuro. O ódio de seus inimigos iguala-se ao amor de seus filhos. Seus filhos cobrem a terra, mas disseminados, desfalecidos, reduzidos como força ativa, a um punhado; seus inimigos, ao contrário, são poderosos, ardentes, unidos, munidos de armas soberanas. Eles desejam e profetizam a queda do Papado. Como então, eles desesperam? Com é isto, que o Papado, rodeado de ciladas, oprimido por soldados, ferido por pancadas e pelo ridículo, não veja nenhuma terra inimiga que não espere conquistar? É o milagre, é o problema: é o triunfo permanente e sempre incompreensível do Homem de dor.”
E é em torno do Papa, desse homem que leva um nome único no mundo, que toda a Cristandade, constante na Fé, se reúne orando pelas suas intenções, que abrangem o universo todo, a humanidade inteira, os bons e os maus. É realmente o prodígio, que só na Igreja se encontra, e do qual os católicos de São Paulo vão dar mais uma demonstração no dia 15 do corrente, na Igreja de Santa Efigênia, adorando ali o Santíssimo Sacramento, exposto, e orando pelas intenções do Papa.
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“O Legionário”, nº 184, 10/11/1935, pp. 1 e 4
Uma idéia infeliz… [II]
Afirmam os médicos que os sintomas das grandes moléstias são, às vezes, de insignificantes proporções. Pelo contrário, certas moléstias sem gravidade há que se manifestam em sintomas de aparência alarmante.
O mesmo se dá com alguns fenômenos sociais que, insignificantes na aparência, denotam tendências dignas do mais cauteloso exame.
Manifestação de desamor à Igreja
A esta ordem de fatos pertence a indicação feita pela Câmara dos Deputados ao Sr. Prefeito Municipal, no sentido de ser substituído o nome da Avenida São João pelo de Avenida das Bandeiras.
Um congresso que muda os nomes religiosos das ruas, para substituí-los por nomes profanos embora respeitáveis, erra duplamente.
Em primeiro lugar, esta atitude de aparência insignificante, revela um incontestável desamor à Igreja.
Realmente, alguém que substituísse na sua sala de visitas o retrato de um amigo antigo pelo de um amigo novo, não revelaria porventura desamor ao primeiro? Não procedeu assim a Câmara com a Igreja?
Um gesto com nefastas conseqüências para as gerações vindouras
Em segundo lugar, os nomes de ruas e praças, bem como os monumentos públicos, têm uma profunda ação educadora sobre as massas. E a descristianização de nossos nomes de ruas ou de cidades, tendo embora conseqüências imediatas mínimas, terá importante e nefasto efeito na formação das gerações vindouras.
Foi por esta razão, que publicamos em nosso último número algumas considerações a este respeito.
Com grande satisfação, recebemos a este propósito uma carta do Sr. Deputado Sebastião de Medeiros, que desmente a informação vinculada pela imprensa quotidiana, de que fora unânime a aprovação da indicação do Sr. Deputado Alfredo Ellis.
O Dr. Sebastião de Medeiros é um velho amigo d’“O Legionário” para quem sempre temos abertas nossas colunas e nossa simpatia.
Esclarecimentos do Deputado Sebastião de Medeiros
Reproduzimos, a seguir, a sua carta:
“São Paulo, 27 de outubro de 1935.
“Prezado Dr. Plinio Corrêa de Oliveira.
“Salve Maria! – Lendo, com o grande interesse de costume e não menor proveito, o ‘Legionário’ de hoje, tive a minha atenção voltada para o comentário – ‘Uma idéia infeliz…’, – a respeito de recente deliberação da Assembléia Legislativa do Estado, no sentido de mudar-se a denominação da ‘Avenida São João’ para ‘Avenida dos Bandeirantes’.
“Como um dos católicos, com assento naquela Assembléia, envolvidos no comentário, cabe-me o dever de prestar os seguintes esclarecimentos.
“1 – Não é exato que a proposição em apreço tenha sido admitida por unanimidade da Assembléia. Antes, a votação acusou a diferença de apenas dois ou três votos de maioria. Alguns deputados houve que fizeram expressa declaração de voto contrária à aprovação, conforme se pode verificar no ‘Diário da Assembléia’.
“2 – Não se trata rigorosamente de um projeto-de-lei que estivesse sujeito a maiores exigências regimentais, mas apenas de uma simples indicação. Ora, proposições dessa natureza sempre são apresentadas no princípio dos trabalhos da sessão, à hora do expediente e imediatamente discutidas e votadas com qualquer número, nem mesmo se exigindo a presença da maioria da Assembléia. A que nos preocupa foi logo votada, sem discussão, apenas a sessão foi declarada aberta.
“3 – Relativamente a mim, quando entrei no recinto, retardado por outros deveres, a aprovação era já fato consumado. Si presente estivera, teria lembrado apenas estas duas razões: a) preliminarmente, a impertinência da questão, que é de peculiar interesse do Município e não entra no quadro das atribuições privativas da Assembléia; b) quanto ao mérito, invocaria o argumento da tradição e o respeito que se deve aos sentimentos religiosos do povo.
“4 – Cumpre, finalmente, não exagerar as conseqüências do ato da Assembléia. Quanto ao fundo: versa [sobre] questão muito secundária – simples mudança de nomes de rua – o que não envolve absolutamente nenhum dos princípios de ordem religiosa ou moral pelo qual nos batemos. Quanto à forma: o voto da Assembléia, tomado por maioria meramente ocasional, representa simples sugestão, sem nenhum caráter obrigatório, dirigida ao Prefeito da Capital. Este é inteiramente livre de dar à indicação o acolhimento que lhe aprouver, havendo razões para acreditar que não será aceita.
“5 – Finalmente, fará o prezado amigo a justiça de acreditar que os católicos que temos assento na Assembléia, mantemos, sem discrepância, permanente atitude de vigilância, atentos a todas as questões que possam interessar aos direitos da consciência católica.
“Assim foi, mercê de Deus, na Constituição, onde, sem ruído, nem grandes debates, mas num porfiado esforço de catequese e presunção silenciosa, conseguimos ver atendidas as emendas que formulamos. Assim tem sido e continuará a ser na legislatura ordinária. Apenas, preciso é que para tanto nos acudam sempre os católicos com a segurança da sua simpatia e o apoio das suas orações e nos traga especialmente o amigo as inspirações da sua experiência e do formoso talento com que Deus o dotou.
“Do irmão em Maria e servo em Cristo.
“(a) Sebastião Medeiros”
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“O Legionário”, nº 184, 10/11/1935, p. 3
Comentando…
Pingos nos iis
Repetidamente, as agências telegráficas enviam notícias relativas a determinadas atitudes do Sumo Pontífice, do Vaticano, ou de altas personalidades eclesiásticas, notícias essas que se encontram em desacordo com a tradicional e sábia discrição da Igreja, no que diz respeito a determinadas questões de momento. Como há católicos que se nos têm mostrado impressionados com tais notícias, achamos necessário assinalar de uma vez para sempre que esses telegramas devem ser recebidos com a máxima reserva.
A ocasião atual é propícia para os que procuram sempre incompatibilizar a Igreja, e os seus inimigos não dormem; precisamos ter muita cautela ante as notícias que lhe atribuem tal ou qual atitude, que a colocaria em uma situação difícil.
O Papa, como dissemos hoje em outro lugar, é o Pai comum de toda a humanidade e considera igualmente a todo os homens. Ter constância na fé em nosso Pastor supremo, eis a grande virtude que se exige dos católicos neste momento de confusão.
Vêm estas palavras a propósito de um telegrama, de certa agência informadora, que serve à imprensa da Capital, e por esta veiculado, segundo o qual a “Civiltá Católica”, importante revista que se publica em Roma, estamparia, em seu último número, um artigo cujas provas haviam sido cuidadosamente revistas pelo próprio Sumo Pontífice, e no qual era transmitida a opinião de Pio XI sobre o atual conflito ítalo-etiópico. Adiantava ainda a notícia que S. Santidade seria de parecer que à Itália deveria ser concedido mandato sobre a Abissínia, a fim de ser evitada nova conflagração européia e quiçá mundial.
Várias circunstâncias, que podem ser depreendidas desse resumo do telegrama em questão, nos devem deixar de sobraviso contra a sua possível e provável falsidade.
Em primeiro lugar, não é esse o modo usual do Papa revelar seus pensamentos ou fazer suas admoestações.
Em segundo, as minúcias – sobre a correção das provas e outras… –, teríamos muita vontade de saber como o abelhudo correspondente da Agência aludida conseguiu esses detalhes tão íntimos…
Em terceiro, não deixa de ser bastante significativo que o suposto artigo, (ou o artigo supostamente inspirado e corrigido pelo Romano Pontífice) não tenha sido ainda publicado, em corpo 12, negrito, na primeira página, e na íntegra, encabeçado de títulos e subtítulos garrafais, por toda a imprensa do mundo… (como, aliás, é feito com coisas muito menos importantes e sensacionais).
Em quarto, e para que se saibam as restrições que se fazem às verdadeiras atitudes do Vaticano, veja-se o pedido de orações feito pelo Papa a toda a Cristandade. Este pedido, revelador do espírito de Paz e da angústia que amarga o coração de Pio XI, não foi transmitido pelas agências telegráficas em seus serviços do exterior para os nossos jornais. Temos conhecimento dele apenas pelos telegramas particulares, e em seguida pelas publicações feitas entre nós pelas autoridades eclesiásticas.
Mas, é que este pedido de orações constitui a prova da atitude perene da Igreja e de sua obra de pacificação…
É que os homens não querem a Paz… e muito menos a Verdade!
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“O Legionário”, nº 185, 24/11/1935, p. 1
Cambodge ou Honolulu?
Elogiamos francamente a atitude da bancada constitucionalista federal, ao recusar sua aprovação ao absurdo requerimento que recentemente se formulou na Câmara dos Deputados relativo à aplicação da lei de segurança aos integralistas.
E, para fazer tal elogio, sentimo-nos perfeitamente à vontade, uma vez que, tanto a respeito da atuação de certos elementos da bancada peceista, quanto no que se refere a algumas bravatas anticlericais de alguns expoentes integralistas, temos tido palavras da mais rigorosa e imparcial condenação.
Fundamental diferença entre a Aliança Libertadora e a Ação Integralista
Mais de uma vez, temos sido forçados, em nossas colunas, a censurar as quixotadas anticlericais de certos expoentes integralistas, os despistamentos parlamentares de certos representantes peceistas maçonizantes. Ninguém, portanto, nos acusará de parcialidade, quando souber que aprovamos francamente a atitude dos deputados federais peceistas, que negaram seu assentimento ao requerimento formulado pelo bloco parlamentar “pró liberdades públicas”.
Nesse requerimento, pretendiam os deputados simpatizantes com a Aliança Libertadora impor ao Governo um dilema: 1) ou aplicar contra o Integralismo a lei de segurança; 2) ou, por eqüidade, deixar de aplicá-la à Aliança Nacional Libertadora. E o luminoso argumento que apoiava tamanha enormidade era o seguinte: que o governo não tinha o direito de punir apenas uma forma de extremismo, isto é a Aliança. Punindo a esta, deveria punir também o Integralismo, ou, para fazer ampla justiça, não deveria punir nem a um nem a outro.
Como já temos dito mil vezes, a equiparação peca pela base. Concedido que o Integralismo pretenda, à mão armada, derrubar as instituições, não se poderia fazer paralelo entre a Aliança Libertadora e a Ação Integralista. Esta é uma corrente política composta de gente limpa, que ostenta no seu lema ideais elevados.
A Aliança Libertadora pelo contrário, é uma sociedade de malfeitores públicos. E nenhuma igualdade legal pode ser estabelecida, entre cidadãos dignos, e indivíduos que, negando serem comunistas, se põem a soldo de Moscou, para alastrar em todo o Brasil os incêndios, os saques, as pilhagens, que são o séqüito necessário de toda a revolução social.
Acusações sem provas
Mas, firmado este princípio perguntamos: está provado que a Ação Integralista procura destruir pela força as instituições vigentes? Para prová-lo, seria necessário um rigoroso inquérito, seriam necessários longos interrogatórios, demoradas providências judiciárias, depois das quais poderia surgir, finalmente, uma verdade segura a este respeito.
No entanto, nada disto se levou a efeito. Os leaders do grupo parlamentar “pró liberdades” não aduziram uma única prova, não procuraram citar um só documento, uma única testemunha. Seu requerimento tinha, pois, como base, um fato que não provaram. E, ainda que tal fato se provasse, a conclusão a que eles chegaram seria absurda.
Falta de patriotismo aliada a uma vergonhosa falta de cultura
Realmente, admitamos que a Ação Integralista estivesse conspirando à mão armada contra as instituições. Evidentemente, as autoridades estariam no dever de aplicar contra ela as leis vigentes no país. Mas a inexecução das leis quanto ao Integralismo seria suficiente para justificar o pedido de que se restituísse a liberdade de ação ao Comunismo? Quem seria capaz de requerer ao Governo que, porque as autoridades não puniram um crime qualquer, o furto por exemplo, praticado por um cidadão amigo do Governo, se fossem, por eqüidade, esvaziar todas as cadeias do país, dando a todos os vagabundos, a todos os ladrões, a todos os assassinos, a liberdade de roubar e de matar, simplesmente porque a autoridade está cochilando na repressão de uma infração qualquer ao Código Penal?
Requerimentos como este, só servem para degradar o Brasil, provando que seus filhos não têm sempre o patriotismo que deles se deve exigir e que a falta de patriotismo se alia a uma falta de verniz cultural e parlamentar que faria vexar qualquer parlamento de Cambodge ou de Honolulu.
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“O Legionário”, nº 185, 24/11/1935, p. 1
As atividades comunistas no Brasil
Fechadas as sedes da Aliança Nacional Libertadora,
ela ri-se da Lei de Segurança e continua a agir
Com o fechamento da Aliança Nacional Libertadora, muitos espíritos, pouco atirados ao conhecimento da vida social brasileira, acreditaram ter soado a hora final da vida comunista em nossa terra.
Contudo, àqueles que vêem de perto a realidade nacional e que se não contentam em julgar pelos movimentos de superfície, não iludiu essa meia-medida governamental.
Apesar dela, ou talvez por causa dela – pois concedeu aos comunistas a oportunidade de se atribuírem diante da massa ignorante o rótulo de mártires da Pátria contra a perseguição liberal –, o imperialismo de Moscou vive e trabalha entre nós, procurando manchar o céu brasileiro com o despontar rubro da alvorada marxista.
Disseminados pelo povo brasileiro trabalham os porta-vozes da Rússia, procurando inculcar na nossa gente, especialmente na classe operária, a crença nos princípios amorais da sua demolidora ideologia.
A ação bolchevizante pela imprensa
A atividade comunista que nestes últimos meses se desenvolve em nossa Pátria, obedece indiscutivelmente a um plano inteligentemente delineado e posto em execução com todos os recursos materiais, e com uma vontade inflexível de vencer. É uma idéia desse plano, naquilo que ele já possui de sensível, que vamos dar nesta nota, para que todos tenham presente o que é a infiltração marxista em nosso meio, e assim com um pouco mais de energia ela seja combatida e repelida.
Devendo preparar os elementos para a luta – as massas, militarizadas ou não, que conquistem o poder –, os primeiros cuidados dos representantes de Moscou foram dirigidos para elas. E além da formação das primeiras células, além da propaganda oral e dos panfletos distribuídos à porta das fábricas ou entre os colonos do interior, trataram imediatamente os chefes da arma moderna por excelência que é a imprensa. E fizeram o quinzenário, o semanário ou o diário, especialmente destinados à propaganda entre os homens simples das usinas e das fazendas, entre os pequenos comerciantes, entre os pequenos funcionários, entre os empregados das organizações comerciais, entre os militares. É o jornal que com suas manchettes berrantes, chama a atenção; com seu noticiário exagerado e detalhado, comove; com seus ataques, exalta a revolta; com suas promessas, seduz e prende. É a conquista do homem do povo, que aceita como bom e necessário aquilo que o jornal ensina e propaga. Tal a função dos diários que exploram o sensacionalismo, como a “A Manhã” e “A Nota” do Rio de Janeiro, e “A Platéia” de São Paulo, para só citar, alguns dos mais conhecidos.
Agitação permanente, greves e complots
Ao mesmo tempo, é preciso adestrar os combatentes; não basta doutriná-los, dizer-lhes que a sociedade deve ser deste ou daquele modo. Prepararam-se então as greves, os complots, os pequenos movimentos: verdadeiras manobras que vêm mostrar aos chefes os pontos fracos da organização que dirigem e também dos adversários que se lhes opõem. E assim temos tido no Brasil greves e movimentos de norte a sul, de leste a oeste; desde o recente complot de Manaus, até às greves de Porto Alegre, desde as agitações dos salineiros do Rio Grande do Norte até ao movimento militar de Campo Grande.
A tática de dividir para dominar
E note-se que, gradativamente, os surtos extremistas se afastam dos grandes centros, do Rio, de São Paulo, da Bahia, de Recife, de Porto Alegre, para surgirem nos pontos longínquos do país. É a boa tática comunista que assim prevê o afastamento das forças de defesa para o interior dos Estados, diminuindo sua eficiência nas capitais e fragmentando-as no interior, o que as torna presas fáceis dos seus elementos. E, entre estes, há um de destacada importância: é a Juventude Comunista, brigada de choque formada por moços, aos quais se tirou todo o sentido moral da existência e se deu, em sua plenitude, o sentido puramente material ou físico da vida; veja-se sua ação no assalto recentíssimo da Rua Paula Souza, nesta Capital, quando elementos seus cooperaram na tentativa de roubo, efetuada por um chefe comunista, para assim encher os cofres da mesma organização.
Infiltração nos meios estudantinos
Não basta, porém, preparar as massas; elas exigem dirigentes dotados de uma certa instrução que possam declamar Lênin, Sorel e Marx, nos meetings de rua e nas reuniões a portas fechadas. E é então a infiltração dos meios estudantinos; é o “Comité pró-democratização do ensino” e sua greve, de dezembro de 1934; é a “Campanha dos 50%”, deste ano: são professores de Ginásios, de Escolas Normais e de Escolas Superiores, pregando o marxismo. E são os estudantes já comunistas dirigindo os movimentos grevistas, lutando pela posse das diretorias dos grêmios escolares, fundando revistas e jornais de propaganda: “Ritmo” e “Oposição” na Escola de Direito, “Novo Rumo”, no Instituto de Educação, “Movimento”, na Escola Paulista de Medicina, são exemplos de hoje. E não é só isso.
Na alta burguesia e nas rodas intelectuais
A burguesia precisa receber um alimento comunista, sob a forma elegante de uma essência caríssima, ou sob a forma austera, de um conhecimento científico. É “Vanitas”, a revista social de Nair Mesquita, passando à direção de Flávio de Carvalho; é a “Revista Contemporânea”, do Rio de Janeiro, pregando o anarquismo pela pena de Campio Carpio, e exaltando a ciência contra a intolerância da Igreja!… são as traduções de livros científicos russos, livros medíocres senão nulos, quanto ao valor, mas avidamente aceitos, porque… made in URSS!…
Assim infiltra-se o comunismo em todos os meios; a uns, exalta para a luta acenando-lhes com as risonhas promessas de um paraíso terrenal; a outros, enlanguesce a vontade e embota a inteligência sob a ação dos venenos finíssimos e das doutrinas dissolventes; a todos, porém, ele esmagará no dia de amanhã, se a Revolução, lenta mas solidamente preparada, conseguir levantar-se.
Inércia governamental
E é triste que os nossos homens de governo tenham renunciado à luta, preferindo ocupar-se com nulas discussões pessoais, enquanto o inimigo cresce e domina. E é incompreensível que, mesmo diretamente atingidos, não tenham tido um gesto de reação, como quando em Marília os comunistas cortaram a luz, no momento em que se realizava o banquete, ao Sr. Governador do Estado10. É incompreensível, porque o governo sabe que sua ação nesse sentido, mereceria o apoio imediato de toda a população do país. Mas, além do fechamento da ANL – medida incompleta, pois seus órgãos de publicidade não foram suspensos, nem seus chefes detidos –, nada mais foi feito.
O Brasil deverá esperar o momento em que eles tentem realizar o que, em todos os muros da cidade, as inscrições a carvão anunciam para breve: “Todo poder à ANL”?
Cumplicidade da oposição
É o que parece, pois se o Governo não toma medidas que de fato impeçam a ANL – ou que outro nome tenha hoje – de continuar sua nefasta obra, a oposição – em sua maioria composta de representantes de partidos conservadores – se acumplicia com o extremismo comunista, fazendo pura demagogia, unindo-se aos comunistas declarados ou não, desde que veja nisso os seus pequeninos interesses de oposição que quer ser governo.
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“O Legionário”, nº 185, 24/11/1935, p. 3
Uma grande esperança
Plinio Corrêa de Oliveira
Será difícil avaliar toda a oportunidade de um livro que, sob o título de Heroes, o Seminarista Pio Ottoni Jr. acaba de publicar em São Paulo.
A maior parte dos romances pecam por uma inexorável monotonia
Em uma época em que pululam os maus romances e em que todos os enredos giram necessariamente em torno de contos de amor, o livro de Pio Ottoni Jr. vem constituir uma feliz exceção, apresentando-nos uma série de contos, cujos enredos, sempre muito interessantes e às vezes até empolgantes, se afastam invariavelmente do lugar comum em que se debate quase toda a literatura contemporânea.
Poucas pessoas terão, talvez, sentido tão profundamente quanto eu, a inexorável monotonia da maior parte dos romances que nossas livrarias despejam diariamente às centenas, sobre o público. Como todo o mundo, ou quase todo o mundo, tive uma época em que o romance gozou para mim de muito prestígio: foi no período áureo dos meus já distantes quinze anos, em que devorara horas a fio as tortuosas aventuras de Ponson du Terrail11. Depois disto, porém, uma saciedade crônica me invadiu, de que, felizmente, até hoje não me curei. Lembro-me que, certa vez, procurei ler um romance, aliás de excelente autor. Não consegui fazê-lo. A banalidade dos personagens e do enredo, parecidos com todos os personagens e todos os enredos sobre que já me havia debruçado, me enchia de tédio, e, quando menos esperava, meu pensamento estava distante, a cogitar de assuntos inteiramente alheios ao pobre livro que tinha nas mãos.
O ótimo enredo do conto “Celito”
Pois a despeito disto, li com interesse todos os contos de Heroes, e nenhuma vez minha imaginação sentiu a tentação de vagabundear em assuntos que me salvassem do tédio…
É que o autor de Heroes possui um raro talento, para compor enredos. E este talento se manifestou principalmente na perícia com que soube extrair temas realmente atraentes, e de ambientes até agora quase inexplorados.
Mas além de ótimo arquiteto de enredos, o Clérigo Pio Ottoni é psicólogo de grande valor. E foi esta qualidade que fez, ao meu ver, do “Celito” o melhor dos seus contos.
“Celito” é um menino educado em casa com carinhos e hábitos quase femininos, na moleza de uma família rica e excessivamente afetuosa, e que cai, de repente, em toda a realidade brutal e dolorosa da vida de colégio.
Só para os inconscientes, a vida de colégio pode ser considerada como uma sucessão ininterrupta de prazeres inofensivos e inocentes folguedos. Um colégio é um mundo em miniatura, e todas as paixões e perfídias humanas, bem como toda a nobreza de que um coração formado é capaz, apontoam lá com uma sinceridade desabrida, que a vida se encarregará de polir futuramente.
Naquele turbilhão de vida, o gênio de Celito se manifesta de modo doloroso. Gaté12 em casa, revolta-se contra as injunções dos regulamentos colegiais, contra os colegas, contra os mestres. Um temperamento excessivamente vivo o leva para atitudes de revolta que, freqüentemente, deplora sem saber conter. E, no albor de sua vida, Celito já é um pária da sociedade, colocado no colégio fora da lei, e tratado com dureza pelos Mestres, que não compreendem o molejo secreto que causa na sua pequena alma de criança tantas desgraças.
Um professor mais psicólogo, vindo de fora, descobre a situação real em que Celito está prestes a naufragar. E, à custa de muita bondade, vence suas desconfianças e se transforma em seu confidente. E, em uma dessas confidências, ouve do pequeno esta dolorosa afirmação: “Padre, eu não dou para nada!”
A mania sentimental de considerar a alma de uma criança conduz a funestos resultados
Santo Agostinho, nas suas Confissões, tratando do período de sua infância, chama a atenção dos leitores para o erro muito comum, de se consideram como insignificantes os acontecimentos que pontilham a existência das crianças. Elas nos fazem sorrir, a nós adultos. Mas para uma criança, têm a importância de acontecimentos sensacionais.
Essa mania sentimental de se considerar a alma de uma criança como um mar tranqüilo, conduz freqüentemente aos mais funestos resultados. Realmente, a superfície do mar parece, às vezes, tranqüila. Mas sabe Deus os maremotos que se agitam no fundo, as correntes que o atravessam nas suas camadas mais profundas, os abismos que a superfície tranqüila encobre! Quantas vezes é assim a alma de uma criança!
Operário que muito aproveitará à Messe do Senhor
Com todas estas qualidades, o Seminarista Pio Ottoni aparece, logo de início, como uma grande esperança.
Na Messe do Senhor, será o pastor das ovelhas incompreendidas, será o ceifador, que não se limitará em colher espigas, mas em apanhar no chão o grão esquecido, que outros deixaram cair sem perceber e que alguns pisam pelo caminho.
Desses operários, precisa-os muitos a Messe do Senhor.
Que Nossa Senhora ajude o Pastor que o Senhor prepara para trabalhar na sua Messe, auxiliando-o a arcar com as terríveis responsabilidades de tantos talentos que lhe são dados para que os faça render cem por um!
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“O Legionário”, nº 185, 24/11/1935, p. 3
Comentando…
Manobras anticatólicas
Durante as grandes calamidades, ou em face dos intricados problemas de interesse mundial, é conhecida a ansiedade com que os cristãos ou os adversários da Igreja esperam o pronunciamento do Papa.
Mas, se é geral o interesse por que o Papa se manifeste a respeito desta ou daquela grande questão que põe em sobressalto a humanidade toda, ele não é o mesmo para todos os indivíduos.
Infelizmente, ainda é muito grande o número daqueles que pretendem seja a voz do Romano Pontífice pronunciada no interesse desta ou daquela facção, ao em vez de se inspirar, como acontece sempre, nos únicos e imortais interesses da justiça e da Paz Cristãs.
Haja visto o que se passa hoje como conflito ítalo-etíope. A imprensa extremista pede novas declarações (quando não as forja falsas) ao Romano Pontífice, esquecida de que o Papa já se pronunciou há tempo, no sentido de uma tão ponderada justiça, que nenhum dos contendores pôde rebatê-la.
O Papa falou, concitando a humanidade à paz e recomendando aos católicos de todo o mundo que orassem por ela.
A paz é, com efeito, um conceito puramente cristão. É a lei da justiça. Há paz quando imperam a razão e o Direito.
Porém, é, mais ainda, lei de amor e de caridade. Assim, a paz é a lei essencial do cristianismo. O Evangelho não estabelece uma lei de caridade individual, diferente da lei de caridade das cidades e das nações.
Contra essa paz positiva levantaram-se os pacifismos negativos do marxismo materialista e o nacionalismo exaltado que desprezam a justiça, e destroem a caridade dos povos.
A verdadeira paz, a paz cristã, só se encontra no reino de Cristo, porque sua realeza não é soberania material, mas “império espiritual sobre a inteligência e a vontade dos homens”. É, como diz Pio XI, a garantia da “justa liberdade, tranqüila disciplina e pacífica concórdia do consórcio humano”.
Em nosso último número13 fazíamos nesta mesma coluna observações sobre esse assunto. Em abono do que afirmávamos sobre as reservas com que devem ser recebidas certas notícias, verdadeiras manobras anticatólicas que alguns periódicos tratam de fomentar, vamos citar um trecho de uma nota com que o “Osservatore Romano”, de 22 de outubro último, sai ao passo desses manejos.
“Hoje se quer erigir o Papado – diz o ‘Osservatore Romano’ – nada menos que em tribunal; porém, com fim de que já se procurou durante a Grande Guerra. O Papa devia julgar sem ser solicitado pelas partes; devia julgar sem que ninguém se empenhasse em dar força à sua sentença; devia julgar para manifestar-se inimigo de alguém, para comprometer, fatalmente, de uma parte ou de outra, o prestígio da Religião, para buscar nisso o dano da Igreja. A manobra é hoje ainda mais grotesca, porque hoje, antes que o conflito estalasse, antes que alguém pedisse, o Papa falou, e o mundo sabe bem como o fez.”
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“O Legionário”, nº 186, 8/12/1935, p. 1
O Crime de Sancho Pança
Escrevendo a história de Dom Quixote, Cervantes lhe associou um personagem secundário, que nunca abandonou o herói da Mancha. Este homem se chamava Sancho Pança.
A imprevidência de alguns pode destruir a obra de santos e heróis
Que surpresa sentiria Cervantes, se um telescópio profético lhe pudesse desvendar os acontecimentos futuros e lhe mostrasse que, enquanto o valente Dom Quixote entraria definitivamente para a galeria dos dementes inofensivos, com sua lança, sua couraça e seu esquelético Rossinante, Sancho Pança, o tímido Sancho Pança, o medíocre Sancho Pança, o desprezível Sancho Pança, haveria de acometer dentro de alguns séculos uma grande nação, e atirá-la, ele sozinho, às beiras do mais negro precipício?
Foi, no entanto, o que se deu com o Brasil. Se nosso País não estivesse sob uma proteção especial da Virgem Aparecida, não duvidaríamos muito que, dentro de algum tempo, se lhe pudesse cavar sepultura em sua terra fecunda. E, como justo epitáfio, poder-se-iam escrever no túmulo estes tristes dizeres: Aqui jaz uma Nação fundada por heróis, civilizada por Santos, e destruída pelo comodismo imprevidente de alguns de seus filhos.
Sancho Pança revive na incúria comodista de muitos cidadãos brasileiros
Sancho Pança? – Perguntarão alguns leitores. – Mas Sancho Pança não morreu? Que tem ele a ver, pois, com a crise brasileira?
Não, Sancho Pança não morreu. Sancho Pança revive em espírito e inspirando milhares de mentalidades, dita as atitudes de seus filhos espirituais nos Parlamentos, nas Cátedras, nos Bancos, na alta administração.
Sancho Pança revive no comodismo dos imprevidentes que fecham os olhos às nuvens de hoje, que serão tempestades amanhã. Ele fecha os olhos, não por que confie na Providência, não porque tenha qualquer motivo sério para negar o perigo, mas simplesmente para gozar em paz o momento que passa. Não morando no Rio, em Pernambuco ou no Rio Grande do Norte, julga que o perigo não existe simplesmente porque não lhe atacou o pelo.
Sancho Pança revive no snobismo míope dos jovens plutocratas inscritos na ANL que atiçam o incêndio que ameaça sua classe, esquecidos de que o destino de Judas ou de Philippe Égalité14 será o fruto de sua vaidosa mania de originalidade.
Sancho Pança revive no imediatismo mesquinho e cupido de certos políticos de oposição, ou de certos literatos vaidosos que não se incomodam de proteger com um liberalismo de mau gosto, os petroleiros que atacam as bases da Nação. Na imprevidência de sua ambição só pensam em gozar de momentânea popularidade e… quem sabe, assenhorear-se, por alguns minutos, de poder. Por alguns minutos, dizemos, porque a onda imprudentemente levantada seguirá seu rumo. E ela tragará num futuro bem próximo àqueles mesmos que lhe abriram caminho.
Sancho Pança revive na incúria comodista de muitos cidadãos a quem o Brasil havia confiado a missão sagrada de defender a Religião, a Família, a Propriedade, e que não se pejavam em designar para cargos de máxima responsabilidade os mais encarniçados inimigos dos princípios cuja custódia lhes incumbia como dever sagrado.
Sancho Pança revive no terror dos poltrões que, assustados pelas primeiras chamas do incêndio já dominado, exageram as proporções do perigo, alarmando a população laboriosa e espalhando em torno de si um terror que, longe de conduzir à reação, conduz ao abatimento e à inércia, paralisando todas as iniciativas boas e inutilizando todas as resistências.
Sancho Pança: “tu brincas hoje, tu chorarás amanhã”
Ah! Sancho Pança! Tu que, vestindo farda, beca, toga, ou casaca, brincas com o fogo ou foges diante do adversário; tu que simbolizas a imprevidência, a incúria, o comodismo, a cupidez imediatista, o medo, tu infeccionaste profundamente o Brasil. As chagas que se abriram no Rio Grande do Norte, em Pernambuco, no Rio de Janeiro, foi teu sangue morno e impuro que as rasgou. Tu brincas hoje, tu chorarás amanhã. Mas ouve: aqueles mesmos revolucionários cujo caminho preparas porque és imediatista ou porque és poltrão, eles mesmos te dirão agora, pela boca de um grande anarquista, o futuro que te aguarda se te não emendares. Tu não nos queres ouvir, dizes que cheiramos sacristia, e que não entendemos de política. Quando apontamos o perigo, tu te ris, dizendo que somos medrosos. E quando o perigo ruge tu foges, e taxas de quimérico nosso esforço para organizar a reação. Mas se não te impressiona a voz dos que lutam por Deus, ouve a voz de alguém que lutou pelo Mal, ouve Proudhon15:
“Quando a primeira colheita tiver sido pilhada, a primeira casa forçada, a primeira Igreja profanada, a primeira tocha incendiada, a primeira mulher violada;
“Quando o primeiro sangue tiver sido derramado;
“Quando a primeira cabeça tiver caído;
“Quando a abominação da desolação reinar em toda a França;
“Oh! Então sabereis o que é uma revolução social: uma multidão desencadeada, armada, ébria de vingança e de furor; espetos, machados, espadas nuas, martelos; a polícia no seio dos lares, as opiniões suspeitas, as palavras delatadas, as lágrimas observadas, os suspiros contados, o silêncio espionado, as denúncias, as requisições inexoráveis, os empréstimos forçados e progressivos, o papel moeda depreciado, a guerra civil e o estrangeiro nas fronteiras, os proconsulados implacáveis, um comitê de salut public16, um comitê com o coração de aço.
“Eis aí os frutos da revolução dita democrática e social.”
Maria esmagará a cabeça de Sancho como esmagou a
da serpente
Eis aí, Sancho Pança, o futuro que nos preparas. Mas tu não vencerás o Brasil. Não é possível que uma coorte de míopes destroce uma grande nação.
Não, Sancho Pança, não! Teus dias estão contados. Não vês essas falanges de moços que por toda a parte se levantam, trazendo uma cruz na lapela e nos lábios o nome de Maria? Eles são a alma do Brasil que luta, que crê, que espera. Eles são a bênção de Maria, na Terra de Santa Cruz. Por intermédio deles, Maria te esmagará como esmagou a cabeça da serpente!
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“O Legionário”, nº 186, 8/12/1935, pp. 1 e 4
Os acontecimentos do Norte e
da Capital Federal
Tivemos em Natal, em Recife e no Rio de Janeiro movimentos revolucionários. Seria supérfluo repisar o que é do conhecimento de todos; assassínio de oficiais, de praças e de civis, saque de bancos e de casas comerciais, depredações: fatos esses que denunciam a origem e a finalidade comunista dos referidos motins. Ainda mais, vejam-se quem são os chefes e quais as ordens por eles recebidas do chefe supremo, e ter-se-á bem caracterizado o perigo imenso que ameaçou a nossa Pátria, e que a energia inegável do governo da Nação soube esmagar no nascedouro.
Desorganização ou premeditado limite imposto ao ideal revolucionário?
Paradoxal, porém, é o fato de esse movimento desencadeado em lugares diversos do país, não ter tido uma repercussão mais geral. Certamente, não é o comunismo o credo da população brasileira; mas nós sabemos quantos sindicatos e quantas organizações de feição marxista, existem por toda a parte; nós não esquecemos as múltiplas greves que se sucederam de um ano a esta parte, ora aqui, ora acolá, como focos de supuração de um imenso abscesso; nós não ignoramos o trabalho contínuo de propaganda, realizado em todos os meios, e ao qual se fez referência em nosso último número17. Que concluir então? Teria o Capitão Prestes tentado, mediante um ousado golpe militar, apoderar-se do governo da nação, sem apelar para as massas, que seriam chamadas a agir posteriormente? Ou teria havido desorganização no plano estabelecido, pela prisão de elementos suspeitos ou pelo recuo, incompetência ou covardia de muitos outros? Ou ainda constituirão os motins que estalaram, não pequenos focos de supuração mas já um verdadeiro canal fistular, destinado a verificar a perícia do cirurgião encarregado de o drenar e fazer cicatrizar? Neste caso, a falta de uma maior extensão do movimento significaria apenas um limite imposto ao mesmo, pelo chefe.
Faz-se mister uma cura enérgica para o foco da necrose social
Não cremos que o plano do movimento comunista no Brasil, se reduzisse a esses três dias passados e a esses três incêndios abafados. E não há pessimismo nesta afirmação; quando são recolhidos à prisão oficiais e civis, sobre os quais nunca recaíra a menor suspeita, e que agora se verifica serem chefes ou elementos de células comunistas, faz-se apenas uma verificação objetiva de um estado patológico muito adiantado em um corpo aparentemente são. E para esse extenso foco de necrose faz-se mister uma cura enérgica, com eliminação de todos os tecidos mortos, desinfecção completa para desaparecimento dos germens patogênicos e ao mesmo tempo um tratamento tônico dos tecidos normais para que eles, com vigor renovado, substituam os tecidos destruídos. E isso, bem entendido, com o olhar sempre posto nesse organismo social da Nação, muito mais complexo que o humano!
Imprescindível cooperação do povo na tarefa de saneamento
Mas, antes de mais nada, para que a cura seja completa, é imprescindível que o povo secunde a autoridade, na enorme tarefa que a sobrecarrega neste momento.
É preciso que ele se convença, se mais convencido precisa estar, de que a cooperação que deve dar ao Governo, para a extinção dos focos do mal, basta que de início cifre-se em se pôr em guarda contra os despistamentos dos comunistas e contra as explorações dos demagogos.
Contra os primeiros porque, se alguns bolchevistas estão momentaneamente impossibilitados de fazer-nos mal, há ainda por aí muitos e muitos, talvez mais perigosos, que procurarão por iniciativa própria ou por instruções recebidas, inculcar, no espírito do povo simples e crédulo, que os acontecimentos que enlutaram a Capital Federal e dois Estados do norte não tinham caráter bolchevista; que Luiz Carlos Prestes, de volta da Rússia, renunciou aos ideais de Moscou; que a Aliança Nacional Libertadora estava alheia aos fatos; que os movimentos não estavam articulados entre si; ou, pelo menos – pois que só isto já lhes basta para em breve recomeçar o serviço –, que todos ou alguns dos chefes mais em evidência estavam na ignorância do que ia suceder.
Prova da inconsciência do perigo a que o País estava exposto
E este perigo é real. Os melhores correm o risco de se deixarem levar pela lábia dos assassinos a saldo de Stalin. A 22 de novembro, dias antes de estalar a revolta em Natal, na “Pequena Nota”, o ultraconservador “Diário Popular” dizia pela pena de um dos seus colaboradores quotidianos: “O Sr. Getúlio enviou um emissário com o propósito de mostrar ao governador do Rio Grande o dossier do leitmotiv – a suposta revolução comunista…”
A 28 de novembro, depois dos levantes do Rio, o mesmo jornalista escrevia: “Só em Pernambuco elementos extremistas misturaram-se aos revoltosos. Fora desse Estado, todo o movimento foi exclusivamente militar. O caso ficou localizado.”
É a prova da triste inconsciência do perigo em que se estava.
“Do nosso patriotismo depende o futuro do Brasil”
É verdade que já dias depois a “Pequena Nota” reconhecia o caráter comunista da rebelião e pedia medidas enérgicas para preservar o Brasil da praga bolchevista. Isto serve para abono do que dissemos acima. Os descuidados, os incrédulos ainda estão aí com todo o seu descuido e toda sua incredulidade, abafados pelo susto, mas latentes. Os comunistas tentarão explorar a chance em seu favor.
Agora, contra os demagogos urge que nos defendamos com valentia, não permitindo que a cegueira, a leviandade, a ambição, o crime, dos que põem os seus próprios interesses, os interesses do seu partido ou grupo, acima da salvação da Pátria possam entravar a ação juguladora do comunismo. Pereça esta, embora, mas fique a sua loucura, o seu ódio. Contra esses criminosos, mais criminosos do que os assassinos de oficias que dormiam, é preciso toda energia na repulsa.
O momento é grave, o momento é de união. Do nosso patriotismo depende o futuro do Brasil.
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“O Legionário”, nº 186, 8/12/1935, pp. 1 e 4
À margem dos fatos
Não há muito tempo, que o General Rabello e o Sr. Tristão de Athayde se empenharam em uma polêmica das mais venenosas. É claro. A verdade e o erro, a lucidez e o nevrotismo, são coisas irreconciliáveis.
Mas, há dias atrás, pela primeira vez na vida, o grande leader católico e o virulento ex-capitão-mor de São Paulo [publicaram] ↓18 declarações absolutamente concordes.
Diante da gravidade do perigo, lembram ambos que não basta jugular os movimentos armados, para restituir ao País sua tranqüilidade. É preciso atacar a crise nas suas causas mais profundas. Não basta combater os sintomas: é preciso atingir o mal.
Ao que parece, a cegueira do General Rabello se dissipou à luz dos incêndios e das granadas. Previdência… quæ sera tamem19.
Terrível engano em que andam certos políticos oportunistas
Mas há cegueiras mais teimosas do que a do General Rabello. É que a vaidade e a ambição são mães de todas as obstinações irredutíveis. Assim é que não faltam políticos oposicionistas que, para brilhar na luz mentirosa de uma efêmera popularidade, procuram dificultar a ação repressora do Governo.
O que é o Sr. João Neves? O que é o Sr. Laerte Setúbal? O que são os demais próceres da oposição? Burgueses tão autênticos quanto os que mais o sejam.
Julgam eles, porventura, que, aboletados com o aplauso dos comunistas nos postos de mando que tanto ambicionam, poderão gozar por muito tempo das delícias do poder?
Não. Deus às vezes exerce Sua justiça já nesta vida. Eles serão tragados pela tempestade. O fogo que eles ateiam na barba do vizinho também consumirá um dia a sua.
O gesto elegante de parlamentares da oposição prova quanto é real o perigo comunista
No meio de tanta cegueira, não podemos senão admirar o gesto dos Srs. Arthur Bernardes, Costa Rego e outros que, vencendo as mais amargas queixas pessoais e políticas contra o Sr. Getúlio Vargas, foram levar a este seu apoio contra o comunismo.
É claro que este gesto elegante há de ter custado grande sacrifício aos políticos oposicionistas que o fizeram. § Portanto, eles não o terão levado a cabo sem pesar longamente a gravidade da situação. § Sua atitude demonstra sua grandeza de alma, mas prova também que o perigo é grande e real.
No entanto, há quem não se impressione com o depoimento insuspeito do Sr. Arthur Bernardes e do Sr. Costa Rego, e continue a afirmar que a revolução não foi comunista.
“Têm olhos e não vêem, tem ouvidos e não ouvem”20…
Os católicos reconhecem que o governo tem agido com energia modelar
Não falta quem diga que o Governo é culpado pela situação a que chegamos.
As tendências evidentemente esquerdistas do Sr. Pedro Ernesto, do Sr. Anísio Teixeira, do Secretário da Segurança Pública (!) do Estado de Pernambuco, de tantos outros altos funcionários nomeados pela situação dominante, servem de argumento para essa tese.
Ainda há pouco, o Sr. Chefe de Polícia do Rio confessou em entrevista publicada no “Estado”, que o Governo sabia da presença de Luiz Carlos Prestes no Brasil, mas “que não tinha motivos para prendê-lo”.
Realmente, o Governo foi exageradamente imprevidente e liberal. Mas esta crítica, que nós católicos lhe poderíamos fazer, não têm autoridade para fazê-la os demagogos da oposição.
Os católicos devem reconhecer que o Governo está agindo, agora, com uma energia modelar, nosso papel não deve ser, pois, de carpideiras incorrigíveis, férteis em estéreis recriminações.
Só temos, na atual emergência, uma atitude: a de defender as instituições.
Lamentável atitude do Sr. Afrânio Peixoto
É lamentável que o Sr. Professor Afrânio Peixoto tenha apoiado com sua grande autoridade o Sr. Anísio Teixeira, acompanhando-o ao ostracismo.
Quando o Governo procura sanear o ambiente, é esta a atitude que um de nossos mais ilustres intelectuais se sente no direito de tomar? § Dele esperaria o Brasil uma palavra de ânimo neste transe difícil, uma solidariedade corajosa contra os seus adversários. § No entanto, o que recebe deste filho de escol? A afronta de ver seus legítimos interesses postergados em benefício do comunista Anísio Teixeira.
* * *
O Sr. Anísio Teixeira, aliás, tem as suas prestidigitações políticas bem organizadas.
Apenas o Governo anunciou que iria demiti-lo, os órgãos da oposição e da situação se puseram a defendê-lo. E até o “Estado de São Paulo” publicou com complacência a sua lacrimosa carta de despedidas.
Qual é o segredo do Sr. Anísio? Como conseguiu ele a solidariedade de gregos e troianos? Responda por nós o Grande Oriente.
Aplausos para o gesto viril de cem universitários cariocas
No meio de tantas defecções, devemos pôr em evidência o gesto corajoso dos cem universitários cariocas que telegrafaram ao governo, pedindo medidas repressivas contra os mestres e colegas comunistas.
Este gesto viril, que rompeu com o preconceito de um coleguismo incondicional e absurdo, merece nosso caloroso aplauso.
* * *
Depois dos aplausos, mais um reparo. Os jornais noticiaram que o pseudo Príncipe comunista (!) Igor Dolguruki deveria ser posto ao lado de Luiz Carlos Prestes no Governo do País.
Não espanta que, a troco de alguns milhares de rublos para fazer a revolução, a ANL (a despeito de seu farisaico nacionalismo) tenha vendido a soberania nacional a um aventureiro russo: Jesus custou só 30 dinheiros, e houve um Judas que achasse o preço razoável!
Louvável demonstração de devotamento à Santa Sé
Queremos, porém, terminar com um elogio, e este será ao Sr. Ministro do Exterior.
Quando S. Ex.cia condecorou o Presidente do México, com a ordem do Cruzeiro, protestamos contra essa manifestação de simpatia aos algozes da Igreja Mexicana.
Manda, porém, a justiça, que elogiemos francamente o espírito que presidiu à realização do acordo vaticano-brasileiro sobre malas diplomáticas e o filial devotamento que S. Ex.cia quis manifestar, em nome do Brasil, à Santa Sé.
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“O Legionário”, nº 186, 8/12/1935, p. 3
Comentando…
Profecia
Desejaríamos, para bem da Imprensa Católica, que todos lessem as palavras que, a propósito do artigo publicado em nosso último número21 sobre “As atividades comunistas no Brasil”, escreveu o Sr. Júlio Rodrigues, cronista religioso do “Estado de São Paulo”.
Sabemos perfeitamente que há muita bondade para conosco nas palavras do decano dos jornalistas católicos de São Paulo, mas, por mais modestos que quiséssemos ser, não poderíamos negar a realidade do fato que o Sr. Júlio Rodrigues põe em relevo. No mesmo dia em que estourava em Natal o movimento comunista nós, sem estarmos informados – o que era praticamente impossível – da sua deflagração, denunciávamos os preparativos da ANL para entregar o Brasil à Rússia.
Não temos o dom da profecia, como diz o Sr. J. R., lembrando que “ninguém é profeta em sua terra”22. No entanto, nossa previsão, ou nosso palpite, foi certo. Não possuímos nenhum aparelho como o idealizado por Monteiro Lobato para desvendar o futuro, mas, se é certo que a publicação do artigo que o Sr. Júlio Rodrigues comentou, na mesma data do estouro bolchevista, foi mera coincidência, não é menos certo que qualquer pessoa de mediano bom senso, que não tivesse a venda do partidarismo ou do preconceito nos olhos, observando os fatos como nós, cuidadosa e escrupulosamente, seria obrigada também a profetizar os acontecimentos.
Oxalá que as considerações oportunas do Sr. Júlio Rodrigues sobre os esforços dos jornalistas católicos calem e calem profundamente no espírito daqueles católicos que, se não nos desdenham, pelo menos olham-nos com o desinteresse com que, infelizmente, ainda se olha aqui no Brasil a Boa Imprensa.
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“O Legionário”, nº 187, 22/12/1935, p. 1
Ratos e ídolos
Francamente, ou o Governo começa por exercer energia contra os chefes comunistas apatacados, ou então ele deve desistir de qualquer obra saneadora. É preciso, em primeiro lugar, que a lei pese com todo rigor sobre os habitantes do serpentário que é atualmente o navio “Pedro I”, ou o Presídio do Paraíso. E só depois terão as autoridades direito de ferir os elementos mais obscuros, do Partido Comunista brasileiro.
Caridade evangélica e necessária punição dos chefes comunistas
Dir-se-á que a veemência de nossa linguagem destoa da caridade evangélica; que, em lugar de aplaudir entusiasticamente as medidas coercitivas e repressivas de Governo, ficariam melhor em nossos lábios preces caridosas, para conversão dos culpados.
Entre uma coisa e outra, não há incompatibilidade. Só Deus sabe o ardor com que desejamos sinceramente a conversão e salvação de qualquer dos presidiários do Paraíso ou do “Pedro I”. Enquanto a justiça divina não tiver chamado a contas as suas almas, estão abertas para eles, de par em par, as portas da misericórdia. E nunca haverá em nosso coração outro desejo, que não o de encaminhar por essas portas largas e luminosas, quantos se acham extraviados nas sendas do erro.
Plutocratas e altos burocratas, os mais culpados
Isto posto, tratemos da repressão.
Dentre os agitadores comunistas, os mais culpados e mais perigosos são os plutocratas e os altos burocratas.
O que dizer-se de um homem que, colocado pela Providência no pináculo da organização social, armado de prestígio, de influência, de cultura, para amparar as classes menos favorecidas, e proteger as instituições e a sociedade, investe contra a Igreja de que deveria ser ao mesmo tempo filho e defensor; contra a Pátria, de que deveria ser firmíssimo protetor; contra a civilização, a cuja guarda foi colocado pelo próprio Deus. Se vier de cima o exemplo da indisciplina, da revolta, do crime, o quer se dirá do pobre operariado?
Que juízo merece um professor público, munido pela Providência de inteligência e preparo, para ser um luzeiro das gerações novas, e que se serve das armas que Deus lhe deu para guiar para o crime, para a anarquia, para a depravação completa e inexorável, aquelas almas preciosas, pelas quais deveria zelar como por tesouros inestimáveis?
O que dizer-se de brasileiros que usam nomes ilustres e tradicionais, ufania de nossa História, e que arrastam pela lama dos presídios, lado-a-lado com malfeitores comuns, uma glória que lhes não pertence, mas à própria Nação?
Toda energia será pouca contra os operários do mal
Não! Enquanto houver um desses operários do mal a trabalhar contra a sociedade, a perturbar as famílias, a ameaçar a Igreja, nossa língua não calará. Pois que, se não é contra eles, contra quem, então, é que Nosso Senhor veio trazer a guerra e não a paz23?
Faz muito bem, portanto, o Governo, em prender e punir severamente os plutocratas que gostam de brincar de comunistas trajando camisa de seda, e as camaradas que gostam de preparar dinamite, com luvas de pelica. Contra estes, toda a energia será pouca.
Ai dos ídolos que refugiarem ratos, ai do povo que não souber quebrar seus ídolos!
Muitos, é certo, procurarão servir-se exatamente de seu nome, de sua fortuna, de sua posição, para escapar à pena.
Lembram-nos eles uma anedota chinesa. Conta-se que, certa vez, a China sofreu uma invasão de ratos vindos da Índia, e trazendo consigo os mais virulentos germens de peste.
Fez-se, em todo o Celeste Império, uma virulenta perseguição. Morreram todos os ratos, exceto uma meia dúzia deles que conseguiu penetrar pela boca de uns ídolos do templo imperial que, no seu interior, eram ocos. Não lhes era possível atingir os ratos com uma vara. E um dilema angustioso passou a assombrá-los: ou quebrariam os ídolos, ou deixariam incólumes os ratos.
Prevaleceu a segunda opinião que, sob pretexto de tradicionalismo, combatia a ruptura dos ídolos. Ficaram os ratos incólumes. E, dentro em pouco, uma peste tremenda assolava o Celeste Império.
O mesmo vai dar-se agora no Brasil. As ratazanas apanhadas pela polícia procurarão acolher-se à sombra de ídolos. Esses ídolos, serão, como dissemos, a fortuna da parentela influente, as relações de amizade com algum cientista ilustre, e assim por diante.
A nosso ver, porém, ai dos ídolos que refugiarem ratos! Deverão, sem tardança, ser destruídos com o respectivo conteúdo. Porque, do contrário, ai do Brasil, ai dos povos que não sabem quebrar seus ídolos!
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“O Legionário”, nº 187, 22/12/1935, p. 4
À margem dos fatos
O Congresso aprovou finalmente as reformas legais necessárias à defesa do regime. Em torno do assunto, há muita coisa triste e muita coisa louvável a dizer. O povo brasileiro precisa gravar fundo na memória os nomes dos que o ampararam e dos que o traíram nas lutas e dores da hora atual.
Deputados que merecem o reconhecimento da Pátria
Merecem o reconhecimento particular da Pátria os deputados Furtado de Menezes e Polycarpo Viotti, de Minas Gerais; Magalhães de Almeida e Henrique Couto, do Maranhão; e José Augusto Ferreira de Souza e Alberto Roselli, do Rio Grande do Norte. Eleitos quase todos pela Liga Eleitoral Católica, tinham no entanto, compromissos políticos com a minoria. Isto não impediu que, pondo a paixão política abaixo do patriotismo e da Fé, votaram com o governo, ou melhor votaram com o Brasil, contra Moscou.
* * *
Um católico ardoroso aceitou a incumbência de representar a Ação Integralista na missa rezada na Igreja Ortodoxa pelas vítimas da lei. Com as devidas ressalvas quanto às intenções desse gesto, não podemos deixar de estranhá-lo…
Milionários comunistas apelam agora para a generosidade dos sentimentos do povo contra o qual investiram
O Sr. Caio Prado Júnior é o maior herdeiro de São Paulo, plutocrata pelos quatro costados, ligado pelo nascimento e pelo casamento às mais ilustres famílias da aristo-plutocracia paulista.
Feito comunista, esse leader da jeunesse dorée nem por isso abandonou o luxo esplêndido de que sempre se cercou. E enquanto pregava a destruição da propriedade e da família dos outros, continuou a fruir todas as amenidades da sua fortuna e da sua vida doméstica.
Agora, em carta ao Deputado Ademar de Barros, o jovem milionário comunista apela para o liberalismo de nossas leis, para a generosidade de nossos sentimentos, para o apoio do burguezíssimo PRP, no sentido de obter mais moderação no trato que recebe.
E nós lhe perguntamos: é em nome da generosidade de sentimentos que ele e seus sequazes organizaram por toda a parte o crime e o extermínio? Que tratamento nos dispensariam eles, se fôssemos nós os vencidos e eles os vencedores?
* * *
A polícia varejou a casa de um outro milionário comunista. Em uma de suas gavetas, encontrou cartas subversivas e a planta de um novo arranha-céu que o argentário ia construir para aumentar suas posses, enquanto conspirava contra os dos outros.
No Brasil, o comunismo é uma doutrina aristocrática
Vai intensa no Rio a campanha contra as atividades comunistas do Sr. Pedro Ernesto. Iludem-se, porém, os que supõem que é só no Rio, que os assalariados de Moscou se aboletaram nos mais importantes e rendosos cargos da Diretoria do Ensino. Leia-se a este propósito o excelente artigo que o Sr. Prof. Van Acker publica em nosso número de hoje, sobre o valoroso sovietista Fernando Azevedo.
* * *
Aliás, parece que o comunismo é, no Brasil, uma doutrina aristocrática. Para prová-lo, bastariam os nomes dos Srs. Caio Prado Jr. e Mangabeira, e dos magnatas burocráticos Anísio Teixeira e Fernando de Azevedo.
Mas é muito mais longa, infelizmente, a lista dos comunistas ilustres. Vem em primeira plana o Sr. Danton Vampré, detido no Presídio do Paraíso. Ao lado desde, os Srs. Leonidas de Rezende e Castro Rabello, detidos no Pedro I; do Sr. Gilberto de Andrada e Silva, que levou ao presídio o nome venerando de José Bonifácio, de quem descende; e da filha do ilustre Sr. Justo de Moraes, homem acatadíssimo por seu saber e que traz o nome de Prudente de Moraes, um dos fundadores da República.
Entre os deputados que votaram contra as emendas anticomunistas, figuram os Srs. Souza Leão e Rego Barros, portadores de nomes pernambucanos históricos, e o jovem plutocrata rotariano Alde Sampaio, o afidalgado representante baiano Pedro Calmon, os riquíssimos Mangabeiras, o não menos rico e elegante Henrique Dodsworth, etc., etc..
* * *
A expressão particular de nosso pesar recai sobre os deputados paulistas Cincinato Braga, Castro Prado, Macedo Bittencourt, Dias Bueno, Alves Palma, Felix Ribas, e dos deputados Laerte Setúbal e Jorge Guedes, quase todos plutocratas, e três dentre eles particularmente favorecidos com votos católicos.
* * *
E o que diria Jackson de Figueiredo se, levantando-se da sepultura, visse o Sr. Arthur Bernardes votando pela liberdade aos comunistas?
Má conduta de um padre e comportamento exemplar de um governador
Cumpre assinalar que um sacerdote acusado de cumplicidade com os comunistas, o Padre Manoel de Oliveira, há muito tempo está inteiramente desligado de qualquer atividade religiosa, e privado de ordens. Assim, seu gesto não envolve, como aliás seria absolutamente evidente, qualquer responsabilidade da Santa Igreja, que já o onerou com as mais pesadas penas canônicas.
* * *
Parece-nos que os católicos não deveriam dar crédito às denúncias contra o governador Juracy Magalhães, acusado de atividades subversivas. S. Ex.cia se tem mostrado fervoroso católico, e teve, no Congresso Eucarístico Nacional, conduta exemplar.
Continuam as perseguições religiosas no México e na Alemanha
Há grande agitação entre os católicos norte-americanos, porque o governo do seu País continua a estimular as perseguições religiosas no México.
Quando se deu a Guerra do Chaco, toda a América interveio, para evitar o derramamento de sangue de nossos irmãos. Mas ninguém se incomoda com o sangue derramado no México. É sangue de católico, e para esse sangue parece não haver piedade…
* * *
Também na Alemanha, continuam as celebrações pagãs e as prisões de Bispos. Mas l’Église est une enclume qui à usé bien de marteaux24. Na França, o Presidente da República acaba de entregar o Chapéu cardinalício a Monsenhor Maglione, a quem ofereceu depois soleníssimo almoço. República Francesa de Combes, de Gambetta, de Franz, onde estás?
Um dia virá, em que, sobre os escombros do hitlerismo, do comunismo, do obregonismo mexicano, perguntaremos triunfantes: Calles, Hitler, Lênin, Stalin, Lunatcharshz, onde estais? E só nos responderá o silêncio dos túmulos.
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1) Leão XIII, 1º de novembro de 1885.
2) “Eu meditei esta noite. Estava absorto na contemplação da natureza… Eu dizia comigo mesmo: é necessário ser estúpido para não reconhecer o seu autor e não o adorar” (cf. Ségur, La Foi, p. 30).
3) “É fartíssimo o número de casos em que Lutero evidencia a pouca moralidade de sua vida e doutrina. A alguém que lhe perguntava o que fazer, quando a lembrança de seus crimes lhe assaltava a consciência, respondeu: ‘Que fazer? Brincar, beber, rir neste estado, e mesmo cometer algum pecado à guisa de desafio a Satanás. Oh! se eu pudesse encontrar um bom pecado para iludir o demônio’” (cf. Maritain, Trois reformateurs, p. 14).
4) (N. do E.) Cf. “O Legionário”, nº 161, de 23/12/1934.
5) (N. do E.) Soberano da Abissínia (atual Etiópia).
6) (N. do E.) O Arcebispo Bonaventura Ceretti, Núncio Apostólico na França. Foi elevado a cardeal em 14/12/1925.
7) (N. do E.) Nada obsta.
8) (N. do E.) Bem sucedida.
9) (N. do E.) Estilo de dança antigo, da América do Norte.
10) (N. do E.) Dr. Armando Sales de Oliveira.
11) (N. do E.) Visconde Pierre-Alexis Ponson do Terrail (1829-1871) – romancista francês, autor de célebres contos, entre os quais se destacam Exploits de Rocambole, La Jeunesse du roi Henri, Forgeron de la Cour-Dieu.
12) (N. do E.) Mimado.
13) (N. do E.) Cf. “Comentando”, no “O Legionário” nº 184, de 10/11/1935.
14) (N. do E.) Louis-Philippe-Joseph d’Orléans, vulgo Philippe-Egalité (1747-1793) – príncipe da casa real francesa, votou, na Convenção, a favor da morte do rei Luís XVI, seu primo. Sua traição, entretanto, não o livrou de ser, ele também, guilhotinado.
15) (N. do E.) Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865) – teórico socialista francês, considerado o fundador do anarquismo.
16) (N. do E.) Comissão de Segurança Pública – órgão instituído pela Convenção Nacional (contando entre seus membros com Danton, Robespierre e Marat) durante o período do Terror, na Revolução Francesa. Foi responsável por milhares de execuções. Sua atividade durou até ao Diretório.
17) (N. do E.) Cf. “O Legionário”, nº 185, de 24/11/1935.
18) (N. do E.) {publicam}.
19) (N. do E.) Ainda que tardia – trecho da primeira Écloga (poema em forma de diálogo entre pastores) de Virgílio: “Libertas, quæ sera tamen, respexit inertem.”
20) (N. do E.) Cf. Is 6, 9. Este versículo aparece citado em todos os Evangelhos e nos Atos: Mt 13, 14; Mc 4, 12; Lc 8, 10; Jo 12, 40 e At 28, 26.
21) (N. do E.) “O Legionário”, nº 185, de 24/11/1935.
22) (N. do E.) Cf. Jo 4, 44.
23) (N. do E.) Cf. Mt 10, 34-35.
24) (N. do E.) “A Igreja é uma bigorna que gastou muitos martelos” – frase atribuída a Théodore de Bèze (1519-1605), discípulo e sucessor de Calvino.
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