1936 – julho a novembro
“O Legionário”, nº 201, 5/7/1936, p. 2
Em torno de um discurso
A oração do Sr. Paulo Nogueira Filho, que tão elogiosas e justas referências mereceu de toda a imprensa, também deve ser glosada por um comentário nosso.
Política e não politicagem
Resumindo em duas palavras o seu discurso, poderíamos dizer que sua senhoria começou por salientar o caráter social e moral da atual crise brasileira, e apontar o terreno das realizações sociais como a arena em que se deve ferir a luta entre os defensores e os inimigos da civilização. De passagem, lembra o que nesse terreno já tem feito a Igreja. Finalmente recorda que não seria justo, sob pretexto de enfrentarmos o problema brasileiro no terreno social, nos esquecêssemos do terreno político. Também aí, há uma tarefa a realizar. E esta tarefa, segundo o orador, consiste em rejuvenescer a democracia pela formação de grandes partidos políticos, simultaneamente órgãos de educação física, cívica e moral, e de direção eleitoral.
Estamos de acordo com quase todas as teses do ilustre deputado paulista. A dizer a verdade, tais teses não são novas. Em todos os tratados de sociologia elas são demonstradas com grande abundância de argumentos.
O mérito do discurso do Sr. Paulo Nogueira Filho não está, pois, na novidade intrínseca dos conceitos que emitiu, mas da sua novidade no ambiente político brasileiro. Digamos a verdade: no Brasil, não se cuida senão muito raramente de política. Em geral, o que nossos homens de Estado fazem é politicagem. Ora, o discurso do Sr. Paulo Nogueira Filho teve o mérito de abrir exceção à regra e de cuidar de Política, no sentido nobre que esta palavra tem. Outra circunstância que merece nota e aplauso, é que o deputado paulista não falou em nome individual, mas em nome do Partido a que pertence. Ora, para todos os brasileiros deve ser motivo de júbilo ver que o Partido Constitucionalista está adotando diretrizes tão oportunas e tão novas, no cenário político brasileiro.
Não cabem aos partidos políticos os papéis da Igreja e da família
Fazemos essas afirmações com a mais rigorosa imparcialidade. Não queremos com isto manifestar a menor preferência política por quem quer que seja, mas manda a justiça que se tributem louvores a quem os merece.
Uma grande restrição, porém, devemos fazer ao discurso do Sr. Paulo Nogueira: é no que relaciona com os partidos políticos.
Não acreditamos, de modo nenhum, nas virtudes que o Sr. Paulo Nogueira Filho vê nos partidos políticos organizados à moderna, com campos de educação física e departamento de formação intelectual e moral. Todos os países europeus que têm organizado por essa forma os seus partidos sofreram, por isto, diversas crises.
Em primeiro lugar, a educação moral não incumbe a qualquer partido, mas à Igreja e ao Estado. Manipulando violentamente a mentalidade das massas, os partidos políticos hipertrofiam nelas a noção da importância da política. Aparece uma espécie de misticismo político, que coloca as preocupações partidárias acima do patriotismo, acima do sentimento de respeito à autoridade constituída e principalmente acima do sentimento religioso.
Educar física e moralmente é função da Família, do Estado e da Igreja – esta moralmente, apenas –, e cada vez que um indivíduo encontre sua educação física e moral, não no lar, nem na escola, nem na Igreja, mas no partido, ele começa a considerar o partido como alguma coisa infinitamente superior à Família, ao Estado e à Igreja.
Por toda parte pululam salvadores idolatrados
Daí, em primeira plana, a ideia de que a Ação Católica é coisa de importância secundária e que só a ação política merece apoio e dedicação, porque só ela é fecunda em resultados imediatos e vigorosos.
Em segunda plana, vem a idolatria dos leaders. Todos os entraineurs1 de massas sabem muito bem que, se uma multidão é capaz de um entusiasmo igual a “X” por um determinado ideal, ela é capaz de um entusiasmo igual a “X” mais mil, se esse ideal se concretiza em um homem apontado por uma propaganda sagaz, como o salvador do País.
É curioso como a nossa época, que repudiou o Salvador, procura salvadores. Por toda parte eles pululam. Aos poucos, o prestígio do programa partidário vai desaparecendo, para só ficar o prestígio do mentor do Partido. É um homem que se apodera da opinião pública e que, com a onipotência nas mãos, governa o País prescindindo do apoio de quaisquer forças organizadas, quer de ordem espiritual como a Igreja, quer de ordem econômica como as corporações, quer de ordem intelectual como as instituições culturais, as sociedades científicas, as associações técnicas, etc.
Prejuízos para a Ação Católica
Chegados a essa altura, verificamos que, por um processo certíssimo, a vida partidária hipertrofiada que o ilustre deputado Paulista preconiza, asfixiará e sufocará necessariamente a democracia. Teremos, portanto, como certo que o remédio produzirá efeito oposto ao que desejava quem o receitou.
Essa apoplexia das modernas democracias, provocada pelo excesso de vitalidade de seus órgãos, que são os partidos, será um bem ou será um mal?
Não nos pronunciamos a este respeito. Não somos liberais, nem democratas, nem integralistas. Somos só católicos, deixando a cada um de nossos leitores a liberdade de aliar às suas convicções religiosas qualquer preferência política legítima.
No entanto, uma pergunta aqui fica. Admitamos que o desideratum do Sr. Paulo Nogueira se realize. Diante da hipertrofia dos sentimentos partidários, nada terá a perder a Ação Católica ainda incipiente e, portanto, ainda desaparelhada para formar devidamente seus elementos?
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“O Legionário”, nº 201, 5/7/1936, p. 1
D. Epaminondas Nunes de Ávila
Dia 29 próximo passado comemorou-se o primeiro aniversário da morte de Dom Epaminondas, o grande e saudoso bispo da Diocese de Taubaté.
Sua Ex.cia, que com todo o ardor de sua fé e o poder de sua vontade trabalhou por longos anos na referida diocese, era uma alma enriquecida de todos os predicados que elevam e dignificam o homem.
Espírito que unia à prática das virtudes em grau elevadíssimo, grande energia e extraordinário talento, o grande bispo conquistou logo a simpatia, a amizade e a veneração de todos os seus diocesanos, sendo por isso a sua morte profundamente sentida, não somente nos meios eclesiásticos, como também em todo o bispado de Taubaté e, repercutida que foi a notícia pelo Brasil, todos os brasileiros sentiram o passamento do grande príncipe da Igreja Católica.
Grande formador de consciências, encaminhou para o sacerdócio bom número de almas que o veneram como a um santo e ainda o choram como a um pai.
Ao passar o primeiro aniversário do falecimento de Dom Epaminondas, “O Legionário” não podia deixar de, novamente, exteriorizar os seus sentimentos e as suas condolências pela considerável perda que o clero e o bispado de Taubaté sofreram com a morte de Dom Epaminondas, que hoje está, sem dúvida, na glória infinita do Céu, pedindo a Deus que se compadeça dos homens, que abençoe a diocese de que foi pastor e que santifique o clero do Brasil.
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“O Legionário”, nº 201, 5/7/1936, p. 1
O primeiro aniversário de sagração do Bispo de Santos
Passa no dia 14 o primeiro aniversário da sagração episcopal de S. Ex.cia Rev.ma o Sr. D. Paulo de Tarso Campos, Bispo de Santos. Até aquele dia, assistente eclesiástico de “O Legionário”, é com prazer que relembramos esta data, e com ela a já magnífica obra realizada por S. Ex.cia Rev.ma na extensa Diocese litorânea. Aproximando-se de todos os seus diocesanos, em visitas pastorais que se estenderam até os últimos confins do Estado, nas divisas do Paraná e nas do Rio de Janeiro, desenvolvendo em todos os lugares a vida espiritual que tem sido particularmente notável em Santos, S. Ex.cia Rev.ma tem, entretanto, dispensado um carinho especial à juventude masculina. E neste terreno, depois de multiplicar as Congregações e de fundar a Federação Mariana de Santos, S. Ex.cia Rev.ma promoveu uma Semana Mariana em São Vicente, à qual se seguirá em setembro uma outra em Santos. Procurando sempre o bem espiritual de seus diocesanos, S. Ex.cia Rev.ma criou ainda as “Horas Católicas” em uma estação de rádio local e não deixa de fazer obra intensa de apostolado, pelas colunas da imprensa santista. Por todos esses motivos e pela amizade que nos liga a S. Ex.cia Rev.ma, “O Legionário” saúda respeitosamente o ilustre Bispo de Santos, e implora de Deus Nosso Senhor as melhores bênçãos para S. Ex.cia Rev.ma, para sua Diocese e para seus trabalhos apostólicos.
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“O Legionário”, nº 201, 5/7/1936, pp. 1 e 3
À margem dos fatos
Uma vela a Deus e outra ao diabo
A minoria da Câmara dos Deputados acende uma vela a Deus e outra ao diabo… Quer que se conceda a licença de processo para 2 dos 4 deputados que estão presos por serem comunistas, libertando-se os outros dois. Esquece-se ela que os esquerdistas que agora, sós, a podem aplaudir, seriam os primeiros a destruí-la caso vencessem, e que então lhe poderiam exprobrar a condenação dos dois companheiros?…
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Na Assembleia Legislativa Fluminense, ao votar-se uma moção de apoio ao Presidente da República, o deputado Oscar Prawodowski (que não se perca pelo nome) entendeu que não lhe devia dar o seu voto “porque não posso admitir, declarou, dentro da República, a prisão de membros do corpo legislativo federal. Não encontro na Constituição Federal, motivos que justifiquem a suspensão das imunidades parlamentares”. Provavelmente o Sr. Prawodowski, confiado no próprio nome, dormia a sono solto quando o canhão troava na manhã de 25 de novembro, enquanto brasileiros caíam, imolados aos sequazes de Stalin!…
Contra filmes perniciosos e notícias apelativas
A exemplo do que se fez nos Estados Unidos, onde a Igreja Católica congregou todos os elementos bons do país para uma campanha pela moralidade dos filmes, parece-nos que não seria inoportuna uma campanha semelhante em nosso País. Os católicos deveriam fazer o boicote não só dos cinemas que exibem filmes perniciosos, [mas] ↓2 também o dos jornais que fazem do crime ou das desventuras alheias uma fonte de renda. Tais, por exemplo, o “Diário Policial”, suplemento do “Diário da Noite”, e o “Dia”.
A verdadeira paz só virá da palavra de Deus
Os mestres da política internacional não esquecem em momento algum a palavra paz. Apenas eles a pronunciam tendo sempre em mente os armamentos que possuem e aqueles que podem vir a possuir. Assim, a paz vê-se sempre rodeada por uma atmosfera ardente, rica em bocas de fogo, em gases, em outros objetos que dificilmente lhe permitirão longa existência. É que os espíritos não estão voltados para a verdadeira paz, que é aquela que vem da palavra de Deus, da aceitação do verdadeiro fim do homem, feito para uma pátria sobrenatural. E a palavra de Deus, a verdadeira paz, só é encontrada na colina do Vaticano, aos pés do Príncipe dos Apóstolos.
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Somos sumamente gratos a todos os nossos colegas pelas referências gentilmente feitas noticiando o nosso aniversário. Publicamente lhes expressamos aqui o nosso agradecimento.
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“O Legionário”, nº 202, 19/7/1936, p. 2
Na fase dos sorrisos e das ciladas
Reaberta a Câmara Legislativa do Estado e empossada a Câmara Municipal, a vida política vai entrar, agora, em uma das suas fases mais delicadas: a preparação das candidaturas.
Eleições de 1934: um salto no escuro
Em 1934, a situação política do Brasil era um caos. Nenhum estadista havia, por mais experimentado e arguto que fosse, capaz de traçar com precisão o mapa da distribuição das forças políticas nos Estados. Há quatro anos que vivíamos em regime ditatorial. Ninguém conhecia exatamente a força que conservavam as antigas organizações eleitorais, e a que tinham adquirido as correntes novas. E assim, para todos os partidos políticos dos Estados, as eleições de 1934 foram um perfeito salto no escuro.
Iniciam-se as combinações políticas
Vieram, porém, as eleições. E com elas pôde ser feita uma primeira fixação de nosso mapa político.
Mas faltava ainda uma importante batalha a ser desferida: a das eleições municipais. Para quem conhece o Interior e a gravidade que assumem lá as questões municipais, não é difícil adivinhar o alcance político da luta travada em torno das Prefeituras e das cadeiras de vereador. Por isto, os pleitos foram renhidos.
Feita finalmente a apuração dessas últimas eleições, a situação política se esclarece inteiramente. Em São Paulo, por exemplo, sabe-se exatamente de quantos votos dispõe o PRP, de quantos dispõe o PC, com quantos contam o integralismo e o Socialismo. E o mesmo se dá em Minas, no Rio Grande, na Bahia, etc.
Por alguns anos, não teremos mais eleições. E, portanto, nada de substancial dentro da órbita constitucional pode ocorrer na distribuição das forças políticas dos Estados e dos Municípios.
Dentro da órbita constitucional também a vida política da União e dos Estados está perfeitamente normalizada. Cada um sabe quantos partidários tem e com quantos aliados pode contar.
Começam, agora, as combinações entre os diversos grupos representados nas assembleias legislativas.
Para quê?
A opinião pública soi-disant3 soberana, o ignora. Mas para os iniciados não é segredo o motivo das atuais sondagens políticas entre as diversas correntes. Desde já, nos bastidores está sendo agitada a questão da sucessão à Presidência da República. Governadores há que se consideram em condições de pleitear a honrosa investidura, ↓4 de Chefe da Nação Brasileira. Para isto, porém, precisam de amigos… e em política não é barato ter amigos.
Dos sorrisos às conspirações
Assim, pois, as sondagens começam. A primeira coisa com que se acena é o cargo de governador de Estado, eventualmente vago com a eleição para o Catete de seu atual ocupante. Evidentemente, o cargo de Governador de Estado é isca excelente, mesmo em algumas unidades de menor importância, como as há no Norte. Nada há de melhor para obter a adesão dos figurões do Partido oficial, eventualmente frios em relação à ascensão política do seu chefe.
E por isso soe ser oferecido, simultaneamente, a diversos leaders, evidentemente sob o maior sigilo para que a pluralidade dos convites não chegue ao conhecimento dos convidados.
Ao mesmo tempo, é preciso interessar certos chefes, de ambições menos altas. Entram então nas combinações, as futuras pastas ministeriais. São oferecidas muitas vezes a políticos que não se sentem com força de exigir o Governo do Estado para si. Ou são reservadas como ficha de consolação para os candidatos ao cargo de governador, descontentes com a sua preterição por outro mais do agrado do governo.
A promoção de tanta gente aos mais altos cargos políticos ocasionará, evidentemente, um certo número de vagas atualmente ocupadas por políticos ad majora vocati5.
Também essas vagas, portanto, são oferecidas, disputadas, recusadas ou prometidas em diversas negociações sucessivas.
E assim, de alto a baixo, todos os cargos de nossa imensa hierarquia política são objeto de inúmeras transações, cuja complexidade deixaria assombrados os não-iniciados no difícil métier6 de fazer política… gem.
Por enquanto, nada transpira pelos jornais. É que qualquer publicidade é prematura. Nossos trabalhos políticos, em geral, passam por três fases. A primeira é a do ajuste de interesses, feito entre sorrisos e ciladas. É nela que nos encontramos atualmente. Cada qual procura para si os melhores aliados e oculta suas manobras com uma pletora de sorrisos aos futuros adversários. Na segunda fase, as sondagens recíprocas já se verificaram. Os interesses estão ajustados em grupos importantes, solidamente constituídos. A tais grupos só resta a luta aberta. Dos sorrisos, passa-se à difamação. Dos bastidores, passa-se à imprensa. É a segunda fase da luta, o período de propaganda pública que precede as eleições. Finalmente, travadas as eleições, entra-se em uma terceira fase que, felizmente, parece estar saindo de uso na política paulista: a da conspiração. Os situacionistas procuram desagregar a minoria, jogando com as poderosas cartas de seu baralho: cartórios, contratos de obras públicas, transações de bolsa, etc. Por outro lado, a minoria tenta derrubar a maioria… conspirando nos quartéis.
Atravessará mais uma vez o Brasil, por ocasião da sucessão do Sr. Getúlio Vargas, estas três quadras, que são o doloroso tríptico de todas as eleições presidenciais que a História da República nos conta?
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“O Legionário”, nº 202, 19/7/1936, pp. 1 e 3
À margem dos fatos
Operários ingleses recusam Marx
O Congresso Anual dos Ferroviários, na Inglaterra, rejeitou uma indicação feita por alguns de seus membros, no sentido de se filiarem os ferroviários ingleses ao Partido Comunista.
O comunismo é um movimento feito em nome dos interesses operários, contra oligarquias burguesas.
Os operários ingleses, grandes interessados no assunto, recusam porém, como contraproducente, a mezinha de Marx.
Enquanto isto, ingênuos intelectualóides brasileiros há que, sem conhecer as agruras da vida operária, ainda supõem que o comunismo é o único corretivo dos males sociais contemporâneos!
A lógica dos socialistas e a dos burgueses
Enquanto os socialistas espanhóis choravam o destino de Prestes, afiavam clandestinamente as baionetas com que golpearam Calvo Sotelo7.
É sempre essa, a lógica dos socialistas. Cheios de sentimentos de humanidade para com os seus companheiros quando os fere a burguesia, são implacáveis contra os seus adversários.
É exatamente outra, a lógica de certos burgueses; cheios de compaixão para as Genny Gleiser8 e quejandos9, são indiferentes à sorte dos soldados que morrem em defesa da lei.
Maré alta e pouco peixe
Publicamos, em outro local, as palavras repassadas de Fé, com que o Sr. Ministro do Trabalho comentou a obra de nossos confrades de “O Clamor”.
No Senado Federal, registrou-se em ata o discurso que o Sr. Medeiros Netto pronunciou no “Dia do Papa”.
Na Câmara dos Deputados, o Sr. Ministro da Justiça fez calorosas referências às tradições cristãs de nosso direito.
Enfim, maré alta…
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Mas apesar de tudo isto, a Constituição Federal completou, no dia 16, dois anos de idade, sem que até agora esteja regulamentada senão uma das conquistas católicas.
Maré alta… e pouco peixe.
Verba, non res.
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A comissão promotora das homenagens ao Sr. Bispo de Campinas, pelo seu jubileu, incluiu na lista das comemorações uma que não podemos deixar de mencionar: um chá para os pobres.
Oxalá seja seguido esse exemplo, em todas as nossas celebrações católicas.
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No manifesto de 9 de julho, assinaram cerca de 150 sindicatos ou associações profissionais. § Vemos, pois, que está em grande ascensão o movimento associativo profissional na Capital.
Dessas associações, quantas serão católicas? § Será católico ao menos o sindicato de comerciantes em artigos religiosos?
Duvidamos.
E no entanto, quanta necessidade há de orientar tais movimentos.
Enviai, Senhor, operários à vossa Messe10.
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“Legionário”, nº 203, 2/8/1936, p. 211
Um passeio nos bastidores
Depois de nossa última edição12, em que informamos nossos leitores sobre o andamento que vêm tendo as negociações em torno da futura sucessão do Sr. Getúlio Vargas, poucas modificações sofreu o panorama político do País.
A sucessão presidencial e a pacificação política
Ocorreu, é certo, um grave acontecimento. Mas esse acontecimento era há tanto tempo previsto pelos observadores políticos, que não veio alterar sensivelmente a situação.
Realmente, a ruptura das conversações entabuladas pela oposição, para a pacificação política do País, de há muito era esperada. Conquanto já tenha perdido alguma coisa de sua atualidade o histórico dessas negociações, convém que nossos leitores o conheçam, para se poderem orientar com segurança na apreciação da luta que se vai travar.
No fundo da questão da pacificação está a questão da sucessão presidencial. No antigo regime, a sucessão presidencial era feita a critério dos três grandes Estados da Federação, isto é, São Paulo, Minas e Rio Grande do Sul. De quando em vez, eram ouvidos Pernambuco e a Bahia. E os outros Estados, eram convidados a bater palmas, quando o prato estava pronto.
Tal praxe, ao contrário do que se poderia supor à primeira vista, tinha seu lado de razoável e até de vantajoso. Um Presidente da República, feito sem o apoio de um dos grandes Estados, nunca poderia governar convenientemente. Não há no Brasil quem seja capaz de empunhar o bastão de mando do Governo Federal, com a oposição unânime de um dos grandes Estados. Se alguém o fizesse, ficaria logo na dura contingência de empregar o mesmo bastão como látego contra o Estado oposicionista. Ora, governar o Brasil contra Minas, contra o Rio Grande ou contra São Paulo, é governar o Brasil contra o Brasil, de que esses Estados são partes vitais. Assim, pois, os laboriosos entendimentos travados entre os dirigentes dos grandes Estados, para a vitória de uma candidatura apoiada sobre as três colunas mestras de nossa vida política, redundavam quase sempre em um resultado favorável à unidade nacional, tão profundamente comprometida pelo regime federativo: evitava-se que as lutas entre os três centros de gravidade do Brasil assumissem o caráter agudo que tomou, por exemplo, na luta de 1932.
Diante das rivalidades internas nos partidos, sorriso do Sr. Presidente
Agora, porém, quando começaram a tratar da primeira sucessão presidencial regular da chamada República Nova, os políticos de um e do outro lado das barricadas verificaram que um fator inteiramente novo, oriundo das eleições de 1934 e 1936, viria dar ao problema um aspecto quase inédito antes de 1930: nos três Estados mais importantes da República, como aliás em quase todos os outros, fortíssimas oposições faziam face aos respectivos governadores. Tais oposições preferiram votar em Belzebu para Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil, a votar no Chefe do respectivo situacionismo estadual. E, assim, diversas categorias de interesses inteiramente diversos iriam se entrechocar no complicado tabuleiro da política federal. Em primeiro lugar, os interesses econômicos regionais com os da lavoura ou da indústria paulistas; da pecuária ou das empresas extratoras de minérios das Alterosas; do gado e do mate do Rio Grande. Em segundo lugar, os interesses partidários do PRP, do Partido Republicano Mineiro, da Frente Única do Rio Grande do Sul, das oposições baiana, pernambucana, etc., na mais viva oposição contra o PC, o Partido Progressista de Minas, o Partido Liberal do Rio Grande, etc., etc. Ainda sob outro aspecto, as rivalidades pessoais entre os Srs. Armando Sales, Benedito Valadares e Flores da Cunha. E, finalmente, as rivalidades entre os Srs. Souza Costa e Flores da Cunha; Benedito Valadares e Antônio Carlos; Armando Sales e alguns ex-pro-homens do PC13, etc.
Diante de uma situação tão tremendamente emaranhada, o Sr. Getúlio Vargas sorriu. É nos labirintos que S. Ex.cia tem o seu habitual predileto. Não sorriram assim, porém, os demais interessados na questão. E principalmente a fisionomia do Sr. Flores da Cunha tomou um aspecto carregado.
À vista da necessidade de esclarecer o ambiente, o fogoso governador sulino concebeu o plano de unificar o Rio Grande do Sul, repartindo com seus adversários o governo de sua terra. Abrir-se-ia assim a possibilidade de figurar toda a votação do Rio Grande, unânime, como trunfo principal de sua candidatura. Depois de trabalhosas conversações, o plano foi levado a efeito.
Então, ocorreu ao Sr. Flores da Cunha um pensamento genial. Para enfraquecer os Srs. Armando Sales e Benedito Valadares, obteria para o PRP e o PRM14 a participação no governo dos respectivos Estados, por meio de uma pacificação imposta pelo Sr. Getúlio Vargas. Em São Paulo e em Minas, a pacificação não significaria, na realidade, senão uma trégua política efêmera. Associadas ao poder, as atuais oposições cresceriam enormemente de importância, sem por isto renunciar ao intento de decapitar politicamente os respectivos governadores. Com isto, os Srs. Armando Sales e Valadares desceriam ao segundo plano da política nacional. E assim, o Sr. Flores da Cunha apareceria no cenário, in tempore oportuno15, como o único candidato possível à almejada sucessão do Sr. Getúlio Vargas.
Nisto tudo, o que faria o Sr. Getúlio Vargas? Ficaria anulado. Dada a fraqueza dos concorrentes do Sr. Flores da Cunha, este conquistaria a Presidência da República com o Sr. Getúlio Vargas, sem ele e até, talvez, contra ele. E quando o Sr. Flores anulasse todos os seus concorrentes e encerrasse assim as suas atividades políticas, poderia ter a famosa exclamação do Cid: “La bataille cessa par faute de combatants”16.
O Sr. Getúlio Vargas, portanto, não se poderia prestar à pacificação… a menos que o Sr. Flores da Cunha lhe tivesse garantido a sucessão ao cargo de governador do Rio Grande. Parece, porém, que tal não foi feito. E suavemente, mansamente, o incomparável malabarista político que é o Presidente da República, rompeu as negociações.
Devem os católicos conhecer os políticos em que votam
É esta história do famoso acordo e do seu malogro, contada em seus traços gerais.
Mas, perguntará talvez alguém, o que tem de ver com isto o “Legionário”?
É necessário que os católicos conheçam nossos homens e nossos hábitos políticos. Se querem ser reformadores, se querem ser regeneradores, se querem ser construtores, devem conhecer o que merece reforma, regeneração, reconstrução.
Não é com outro intuito que lhes proporcionamos esta pequena excursão, excessivamente prosaica talvez, pelos nossos bastidores políticos.
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“Legionário”, nº 203, 2/8/1936, pp. 1 e 3
À margem dos fatos
Na Espanha, atrocidades comunistas contra religiosos
A “United Press” informa que, na Espanha, o Governo fuzilou 116 oficiais e 200 civis, implicados na tentativa de revolução em Madrid.
Outro telegrama transmite notícia corrente, em Marselha, de que foram decapitados por forças governistas três jesuítas, cujas cabeças foram conduzidas pelas ruas em uma salva de prata. O mesmo telegrama também comunica constar, na mesma cidade, que as religiosas de um convento foram despojadas de seus trajes e atiradas assim à rua.
Estas e outras proezas são levadas a efeito pelos membros de um partido que, na pessoa de seu chefe, Largo Caballero17, se encheu de ternura pelo destino do camarada Prestes.
E ainda há ingênuos que se deixam impressionar pelo sentimentalismo farisaico dos assalariados da IIIª Internacional!
Um princípio e duas medidas?
Um jornal madrileno pede ao governo que “confisque os bens dos políticos que fomentaram a revolta, visto [que] ↓18 seria absurdo respeitar o dinheiro daqueles que, pela sua ação, causam os maiores danos à economia nacional”.
Assim, para aquele órgão bolchevizante, é indiscutível o princípio de que o uso de uma fortuna, contra os interesses da ordem pública, justifica seu confisco por parte do Estado.
Aceitamos o princípio, porque é rigorosamente verdadeiro. E aplicando el cuento ao Brasil, achamos que a fortuna de certos comunistas milhardários como o jovem Mangabeira19, deveriam ser confiscadas em proveito de estabelecimentos de caridade.
Concordaria com isto o órgão madrileno?
Tecido de infâmias de um legalista espanhol
As agências influenciadas pelo governo da Espanha comunicaram, com uma linguagem repassada de admiração, o seguinte feito realizado por um legalista de sua terra.
Encontrando-se entre os rebeldes, aceitou a incumbência de ir a Albacete auxiliar os revolucionários naquela cidade. Para isto, manifestou convicções antigovernistas que não tinha. Logo, cometeu uma traição.
Em voo, percebeu que poderia descer em território ocupado pelas forças governistas. Viajava, porém, com ele, um oficial que, convicto da sinceridade das crenças revolucionárias do aviador, havia confiado a vida à sua lealdade. O aviador governista atirou-o ao mar. Logo, cometeu mais uma traição e um assassinato.
A notícia acrescenta que o mencionado aviador levava consigo uma arma para suicidar-se, caso não fosse bem sucedido na sua traição. Logo outro crime, este apenas planejado.
E este tecido de infâmias, o pseudo-espanhol achou tão belo que resolveu comunicá-lo ao mundo inteiro.
Ingenuidades e falta de clareza
O Sr. Romanones, antigo ministro do Rei Alfonso XIII, cedeu seu palácio para ser utilizado pelo Governo para os serviços auxiliares das tropas contrarrevolucionárias. A Câmara de Comércio de Madrid ofereceu 100.000 pesetas e um banco particular ofereceu 50.000 pesetas, “para os hospitais de sangue”. É a eterna imprevidência da burguesia. Quem será capaz de garantir que tais somas não são destinadas à compra de armamentos? Só um ingênuo. Em tempo de guerra, auxílios para hospitais, se os doadores não querem ser ludibriados, devem ser fornecidos em gêneros. Ignoram isto os cândidos comerciantes da Câmara de Madrid?
* * *
É notável a habilidade com que certas agências telegráficas, muito nossas conhecidas, publicam entre muitas outras notícias da Espanha, pequenos telegramas como este: § “Registraram-se vários incêndios em conventos ou igrejas de onde partiam tiros contra as forças do governo.”
Ou este outro: § “Foram detidos, na fronteira, religiosos que levavam à França importantes somas de dinheiro.”
O leitor cuja atenção é atraída principalmente para a marcha das operações militares não atenta bem para tais notícias, de que lhe fica, no entanto, uma impressão desagradável quanto ao catolicismo.
Por que não são mais claros os telegramas? Por que não explicam que o dinheiro com que os religiosos fugiam era por eles posto a salvo de um confisco quase certo? Por que não explicam que as igrejas de onde partiram tiros estavam abandonadas, [e] que a autoria de tais tiros não podia, pois, ser atribuída aos sacerdotes?
Sempre o ecletismo
Também com prazer registramos a eleição dos Deputados Cory Amorim, Leopoldo e Silva, César Salgado, e Padre de Abreu, para a comissão de educação da Câmara, que tanto interessa aos católicos.
Lamentamos, porém, que o PRP e o PC, que indicaram elementos tão bem orientados, tenham eleito também os conhecidos adversários do ensino religioso que são os Srs. Americano e Pinto Serva.
Sempre o ecletismo. Pôncio Pilatos parece que ainda não morreu.
* * *
Folgamos em registrar que o famoso “Suplemento Policial” do “Diário da Noite” já não circula. Devemos os parabéns à censura ou aos Srs. Chateaubriand?
Infelizmente, porém, a publicação de notícias escandalosas ou imorais não cessa em nossa imprensa.
A prova disto está em uma notícia publicada pela “Folha da Noite”, sobre o malthusianismo na Índia em que, sob pretexto de informar os leitores, é feita uma apologia disfarçada do birth-controll20.
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“Legionário”, nº 203, 2/8/1936, p. 1
Deixou esta Capital o
Rev.mo Pe. Paul Dabin, SI
«Au jeune et éminent Directeur et inspirateur du vaillant journal O Legionario, dont le brillant passé est garant du brillant avenir, à tous les dévoués collaborateurs, mes plus chaleureuses félicitations et mes vœux cordiaux de fécond apostolat intellectuel. ‘Sociaux parce que catholiques’ comme le voulait Henri Bazire, ils contribueront pour une très grand part à enrayer le fléau de l’apostasie des masses, que Sa Sainteté Pie XI, dans une audience célèbre accordée au Chanoine Cardjin, fondateur de la JOC, déclarait être ‘le plus grand scandale de l’Eglise au XIXe siècle’. – Paul Dabin, SI – Sao Paulo 27-7-36»
*
“Ao jovem e eminente Diretor e inspirador do valoroso jornal ‘O Legionário’, cujo brilhante passado é garantia de brilhante porvir, a todos os seus devotados colaboradores, minhas mais calorosas felicitações e meus votos cordiais de fecundo apostolado intelectual. ‘Sociais porque católicos’ como o queria Henri Bazire, eles contribuirão em muito grande parte a diferir o castigo da apostasia das massas, que Sua Santidade Pio XI, em uma audiência célebre dada ao Cônego Cardjin, fundador da JOC, declarava ser ‘o maior escândalo da Igreja no XIXº século’. – Paul Dabin, SI – São Paulo – 27/7/1936”21
* * *
Na última segunda-feira embarcou para a Argentina o Rev.mo Pe. Paul Dabin, SI, que durante vários meses esteve nesta Capital, dando cursos de Ação Católica.
Das simpatias que sua Rev.ma conquistou entre nós, diz bem o número de representantes do nosso clero e de nossa melhor sociedade que foram levar à Estação despedidas ao ilustre sacerdote.
Sua Rev.ma, por especial deferência para com nossa folha, momentos antes de embarcar, escreveu para o “Legionário” o autógrafo que acima publicamos em fac-símile.
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“Legionário”, nº 204, 9/8/1936, p. 2
As subcorrentes
Em nossa vida política, há um fator cuja influência ainda não foi suficientemente estudada: as subcorrentes partidárias.
Para que se possa fazer uma ideia nítida do que elas sejam, é necessário falar bem claro, muito mais claro certamente, do que fala nossa imprensa diária.
Influência dos programas partidários na vida política europeia
Todos os partidos políticos europeus têm em seu seio diversos grupos rivais. Nem mesmo o fascismo ou o nazismo, a despeito da férrea disciplina de suas hostes, conseguem evitar a formação dessas fendas internas, que separam os diversos matizes da opinião dentro de uma mesma corrente.
A razão desse fenômeno é óbvia. Nos países de vida política organizada, os partidos ou as correntes políticas têm suas tendências e seus programas nitidamente definidos. Evidentemente, há diversas formas de se ser favorável a tais tendências ou programas. Há alguns que aderem ao partido com toda a veemência, aceitam seus princípios na sua expressão mais radical e preconizam os mais enérgicos meios de ação para conquistar ou conservar o poder. Há outros que são mais moderados no seu entusiasmo doutrinário e nos meios de ação que escolhem. Finalmente, há aqueles que aderem ao partido porque gostam de seu programa… “mas não muito”. Estão sempre dispostos a uma combinação com os adversários. São inimigos decididos de todos os meios violentos. Preferem sempre interpretar o programa partidário em um sentido muito largo.
A razão dessa diferença de atitudes vem precisamente do fato de ter o programa partidário grande influência na vida política. Frequentemente, tais dissidências nada têm a ver com homens. Ninguém se queixa da direção do partido ou dos mandatários que este enviou ao parlamento. Se há divergências, é principalmente a diferença de interesses doutrinários ou econômicos que as provoca.
No cenário político brasileiro, a influência é do chefe partidário
No Brasil, porém, nós todos sabemos que o programa não tem, para a generalidade dos membros de um partido, a menor influência. Se alguém perguntasse, por exemplo, aos chefes de nossos principais partidos políticos quais os programas das correntes que eles hostilizam, penso que sentiriam dificuldade em responder.
E, no entanto, a política brasileira não escapa à formação das subcorrentes, até mesmo dentro dos partidos situacionistas.
Qual a origem dessas subcorrentes entre nós? O interesse do País? Raramente. A própria terminologia política usada nos nossos parlamentos o prova claramente. Não existe, por exemplo, no situacionismo ou na oposição de qualquer Estado do Brasil, uma corrente liberal e outra antiliberal, uma católica e outra anticatólica, uma protecionista e outra livre-cambista. As correntes não recebem nomes derivados de programas. São designadas pelos nomes de seus chefes. E isto porque é o chefe, e não o programa, que constitui a razão de ser da corrente.
Nossas subcorrentes
Nosso PRP, por exemplo, está dividido em diversas correntes. Há uma corrente que obedece aos elementos que herdaram a influência política do Sr. Ataliba Leonel. São adversários acérrimos do Sr. Getúlio Vargas, do Sr. Armando Salles de Oliveira e de todos aqueles que “transigiram, perdoaram ou esqueceram”, segundo uma frase que ficou famosa. Há outra corrente que descende da antiga coligação. Esta, de bom grado, entraria em entendimentos com o governo. Mas, de um lado, a corrente Ataliba Leonel lho impede. E, por outro lado, o Governo do Estado não se mostra muito desejoso de repartir com esses filhos pródigos do PRP, os manjares da mesa governamental. E assim por diante, as nuances22 se vão multiplicando à medida que os observadores tenham a paciência de entrar em exames mais minuciosos.
O Partido Constitucionalista também tem suas correntes. Em primeiro lugar, há os elementos que vieram do PRP, e que são o grupo ni froid ni chaud23 da Assembleia. Em perpétua ameaça de cisão, deixam-se ficar, porém, muito comodamente em suas atuais posições. Em segundo lugar, há o elemento egresso da Federação dos Voluntários. Está mais ou menos em idênticas condições. Finalmente, vem o bloco nitidamente situacionista que, segundo os entendidos, não é muito homogêneo, pois que se compõe, por sua vez, de outras duas subcorrentes, a chamada “gente do Estado”, e a “gente do Partido Democrático” que poderão ser muito chegadas uma à outra, muito parecidas, muito parentes até… mas que, em todo o caso, não são irmãs siamesas. E disto muito se queixa a gente do PD. O próprio presidente do PC, Sr. Laerte de Assumpção, não é elemento entrosado em nenhum desses grupos. Simpatizado por todos, conciliando a todos em benefício da unidade do Partido, ele tem no entanto seu grupo próprio que terá, talvez, uma fraca representação na vida parlamentar, mas que se compõe de elementos do maior realce na vida de São Paulo.
Temos uma caricatura de regime democrático
Um dos trabalhos mais delicados que atualmente se estão fazendo, consiste nos subacordos entre as subcorrentes. Esses subacordos se firmam paralelamente aos acordos, ou aos desacordos, entre os grandes partidos. Muito secretamente, as alas moderadas de ambas as correntes costumam entrar em combinação, para orientar a seu modo a política. No entanto, as alas extremas são sempre as mais influentes. E daí provêm uma série de atritos intestinos na vida política de que, muito frequentemente, o público ignora quase tudo.
O Estado de São Paulo não terá mais de um milhão de habitantes acostumados à leitura quotidiana dos jornais e à observação atenta de nossa vida política. Os outros seis milhões não acompanham os fatos e são conduzidos, como um rebanho, para destinos por eles ignorados.
Do problemático milhão de leitores de jornais, podemos afirmar que talvez uma décima parte, isto é, cem mil – e reputamos a estimativa excessivamente otimista –, conhece a configuração geral de nossas subcorrentes e os mexericos da vida interna de cada partido.
Esses cem mil leitores de jornais só leem em geral o que a imprensa lhes mostra. O resto, lhes é inteiramente desconhecido. Desses cem mil leitores, será talvez exagerado afirmar que mil conhecem a verdade inteira.
E é a isto que está reduzida, no Brasil, a influência da opinião pública. Em uma população de 7 milhões, apenas um milhão lê o que se passa; apenas cem mil conseguem interpretar o que leem, através das entrelinhas e das deduções bem feitas; e, desses cem mil, quando muito mil têm o conhecimento exato da realidade observada diretamente e não através da opaca peneira dos jornais.
Portanto, o que vigora entre nós não é um regime político democrático, mas uma ordem de coisas que é uma caricatura desse regime.
Sejam os católicos amigos ou inimigos da democracia, pouco nos importa. Mas terão eles o direito de optarem por uma caricatura?
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“Legionário”, nº 204, 9/8/1936, pp. 1 e 3
Rev.mo Pe. Irineu Cursino de Moura
Seu aniversário natalício
No próximo dia 13, celebra seu aniversário natalício, o Rev.mo
Pe. Cursino de Moura, SI, Diretor da Federação Mariana de São Paulo. Falar do Pe. Cursino de Moura, é falar do grande movimento mariano do Estado de São Paulo, todo ele realizado sob o impulso enérgico e apostólico do ilustre sacerdote que recebeu do Pe. Visconti a Federação recém-formada. É acompanhar o crescimento numérico dos Congregados, disseminados por todas as localidades do Estado; é acompanhar seu progresso espiritual no aumento dos retirantes, nos dias de recolhimento, nas novas vocações sacerdotais; é assistir às reuniões da juventude nas concentrações regionais e na grande concentração de 16 de julho do ano passado, proclamando sua irrestrita fidelidade à Igreja de N. S. Jesus Cristo. Todo o impulso espiritual que sacode a mocidade de São Paulo e se expande por todo o Brasil, levado nas circulares-boletins, nos cartazes e especialmente nos anuários da Federação Mariana é obra do Rev.mo Pe. Cursino de Moura, apostólico Diretor da Federação Mariana de São Paulo.
E ainda em outro sector da vida católica, o Rev.mo Pe. Cursino de Moura desenvolve o máximo de seus esforços: é como Diretor do Apostolado da Oração, promovendo também com seus associados, concentrações e movimentos coletivos de afirmação religiosa. Alegram-se, portanto, os católicos de São Paulo, pela data de 13 de agosto; e em particular os moços, os Congregados Marianos de São Paulo, que tanto devem ao Rev.mo
Pe. Cursino de Moura, vão nesse dia elevar a Deus as suas orações, para que o Diretor da Federação Mariana receba as maiores graças e maiores bens distribua à juventude. Tais são os votos que o “Legionário” faz, saudando respeitosamente o apostólico e querido Pe. Cursino de Moura.
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“Legionário”, nº 204, 9/8/1936, pp. 1 e 3
7 dias em revista24
O caso da religiosa contra o Arcebispo Primaz do Brasil
Os jornais noticiaram que um juiz baiano deu ganho de causa à Recolhida do Convento dos Perdões, na Bahia, no processo que move contra o seu Arcebispo. Não sabemos até que ponto é exata a notícia. No entanto, lembramos a nossos leitores que não se trata aí de um processo criminal.
O juiz baiano não examinou as queixas de ferimento, feitas pela Madre Maria de Sena, pois que tais queixas, de tão inconsistentes nem sequer foram levadas ao conhecimento dos tribunais. O que a sentença do juiz significou é que, de acordo com as leis brasileiras – ao sabor da interpretação daquela autoridade –,
o Arcebispo Primaz não teria direito de confiar o Convento a outra comunidade religiosa.
Separada a Igreja do Estado, os nossos tribunais só reconhecem a lei civil. O Arcebispo Primaz, porém, agiu conforme o Direito Canônico que a Madre Maria de Sena tinha a mais estrita obrigação moral de respeitar, em virtude do voto religioso que assumiu.
Aliás, a sentença do juiz baiano poderá ser reformada pela Corte de Apelação de São Salvador.
Em jogo, a liberdade de imprensa
A Câmara Estadual, tem sido teatro de debates em que o PRP, partido de oposição, reclama uma liberdade de imprensa que o PC, partido da situação, evita de ampliar.
Na maior parte dos casos – há exceções e timbramos em declará-lo – é só o oportunismo que dita tais atitudes.
Uma prova disto está em que a maioria municipal de Ribeirão Preto, que é perrepista, defende a censura, enquanto a oposição local, que é peceísta, lhe levanta obstáculos.
É sempre a mesma história.
Outra vez, a praga do ecletismo
Com grande abundância de argumentos, o Sr. Medeiros Netto defendeu no Senado Federal o Governador Juracy Magalhães, contra a acusação de ter dispensado proteção ao seu irmão Eliezer, acusado de atividades subversivas.
Noticiam agora os jornais que o Sr. Japy Montenegro Magalhães, outro irmão do Sr. Governador da Bahia, foi nomeado tesoureiro da Recebedoria de Rendas de São Salvador. O novo tesoureiro ocupou o alto posto político de vice-presidente da Aliança Libertadora, no Ceará.
O que dirá a isto o Senador Medeiros Netto?
* * *
O ecletismo é praga que se insinuou em todos os nossos arraiais políticos.
Há pouco, o Brasil viu com assombro um vereador integralista bater-se pelo Sr. Pedro Ernesto, na Câmara Municipal do Rio.
Outra nota dissonante é constituída hoje pela atitude de um dos mais ilustres leaders integralistas do Pará, o Sr. Paulo Eleutherio, que se declarou abertamente favorável aos festejos relativos a Maurício de Nassau25.
O integralismo se afirma centralista e antijudaico. A obra de Nassau, se bem sucedida, teria sido um golpe de morte na unidade política e religiosa do Brasil. E um livro semitófilo, recentemente aparecido, nos informa que Nassau não teve, no Brasil, auxiliares mais entusiastas do que os judeus brasileiros.
E a despeito de tudo isto, o Sr. Paulo Eleutherio é nassauísta.
Infiltração anticristã na imprensa brasileira
O Sr. Senador Waldemar Falcão propôs no Senado que uma comissão de três senadores comparecesse oficialmente à chegada da imagem de N. Sra. de Luján ao Rio de Janeiro.
Noticiando o fato, o “Estado de São Paulo” lhe deu o seguinte título: “O Sr. Waldemar Falcão, referindo-se no Senado à fundação de um grêmio de estudantes destinado à repressão ao comunismo, concita os bons brasileiros a cerrarem fileiras contra esse perigo nacional.”
Realmente, havia um tópico do discurso do representante cearense alusivo ao grêmio anticomunista de estudantes fluminenses. Mas sua parte principal foi a que se referia a N. Sra. de Luján.
Não podendo truncar o discurso, o funcionário daquela folha que titulou a notícia resolveu, porém, silenciar sobre o caráter religioso do discurso do Sr. Waldemar Falcão.
É este mais um pequeno indício, entre os muitos que há, de que a infiltração anticristã na nossa imprensa é um fato de uma gravidade e intensidade apenas comparável à infiltração comunista no Exército.
O crime da ingenuidade
No Chile apareceu uma Frente Popular que é uma sósia perfeita das Frentes Populares espanhola e francesa e de nossa felizmente defunta Aliança Libertadora.
Por toda a parte, a tática comunista se repete. Em lugar de combater às claras, o comunismo se acoberta com o manto de organizações antifascistas e democráticas. E por toda a parte não faltam ingênuos que deem crédito ao caráter aparentemente inócuo de tais organizações.
Nos dias que correm, ser ingênuo é um crime. Infelizmente, de criminosos como estes está cheio o Brasil.
Funerais da Igreja Brasileira
A famosa Igreja Brasileira que se fundou entre nós e que queria instaurar uma religião em tudo semelhante à Católica, exceto na submissão a Roma, recebeu agora a última pá de terra. A Paróquia de Itapira, tendo por advogado o Dr. João da Gama Cerqueira, reivindicou a propriedade do templo em que a Igreja dissidente funcionava, e que era a antiga Matriz do lugar.
Os Tribunais acabam de dar ganho de causa à Paróquia e a Igreja Brasileira, que conseguira alguns adeptos até no Paraná, mas que ultimamente estava reduzida aos fiéis de Itapira, vai agora fechar sua sede.
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“Legionário”, nº 205, 16/8/1936, p. 2
O tribunal de exceção
Em nosso último artigo26, procuramos demonstrar que é o “egoísmo” – termo elegante que Tristão de Athayde forjou –, a mola secreta que anima a nossa política de bastidores e provoca o entrechoque surdo das subcorrentes políticas.
A lógica do erro
As ideias, como dissemos, influenciam muito menos nossa vida política do que os interesses pessoais. No entanto, no Brasil se vão constituindo diversas correntes ideológicas novas das quais as mais conhecidas são o integralismo, o monarquismo e o comunismo. Ao par dessas correntes meramente políticas, vem crescendo o número dos católicos militantes de 24 quilates. Qual a atitude dos nossos figurões perante tais correntes?
É muito lógica: o erro também tem sua lógica. Em geral, nossos politicões são conservadores ferrenhos, que querem a restauração pura e simples da Constituição de 1891, a qual ainda é, no segredo do coração de cada um deles, o modelo perfeito da organização política de um povo moderno. Em matéria religiosa são, pois, laicistas. Consideram as reivindicações católicas como inovações deploráveis. Amaldiçoam o integralismo, o monarquismo e outros ismos com uma veemência quase igual àquela com que odeiam o comunismo. Muito secretamente ainda, tendem para o socialismo. Mas julgam imprudente tocar neste ponto atualmente.
Mas, como dissemos, em geral – nunca será demais dizermos que há exceções, talvez mais numerosas do que muita gente imagina –, em geral não são idealistas. E por isto mesmo estão dispostos a todas as concessões para os católicos, como para qualquer outra corrente influente. Mas conservadores que são, suas concessões, sempre as menores possíveis, são feitas de tal modo que possam ser a qualquer momento canceladas.
Boicote às reivindicações religiosas
É o que demonstra a história das câmaras legislativas eleitas em 1934, da Constituinte da IIª República. Em relação às correntes novas, o seu lema tem sido este: ceder sempre, mas ceder o menos possível.
O que se tem dado com o catolicismo é típico. Que nos conste, nenhuma das Câmaras eleitas em 1934 regulamentou qualquer das emendas religiosas vitoriosas na Constituinte Federal. Cortesias à Igreja não têm sido, nunca, recusadas. Morre um Bispo, as Câmaras aprovam um voto de pesar. É sagrado outro Bispo, as Câmaras o felicitam. Há um jubileu, elas se fazem representar. Há um aniversário, elas exprimem seus votos de prosperidade. Neste terreno das formalidades, não há uma única gentileza que seja omitida. No entanto, ao mesmo tempo em que nos prodigalizam seus sorrisos, os políticos de corpo mole boicotam as reivindicações religiosas. Dá-se-nos de boa vontade o acidental, contanto que não tenhamos o essencial. Não que nossas reivindicações sejam rejeitadas. Mas, ou não são apresentadas, ou, quando o são, vão prontamente para o arquivo.
Ainda há pouco foi isto que se deu com o casamento religioso, na Câmara Federal. Não foi rejeitado, mas sumiu. E ninguém é capaz de dizer onde foi parar o projeto tão truculentamente comentado pelo Sr. Waldemar Ferreira.
Auge de astúcia de uma política ambígua
É nas atuais manobras da Câmara Federal que essa política atinge o auge da astúcia. Um deputado propôs que uma comissão representasse a Câmara no Congresso Eucarístico. Sem a menor dificuldade, o requerimento foi aprovado e uma comissão de 22 deputados irá a Belo Horizonte homenagear o Rei Eucarístico em nome do Congresso Brasileiro. Nada de mais belo. Mas é esta mesma Câmara que discute, que adia, que protela, que dificulta a ação do Executivo Federal na repressão ao comunismo. Com a mesma moleza com que os acatólicos aderem a uma manifestação religiosa, recuam ao ter de golpear a fundo a hidra comunista.
Vem a propósito examinar aqui a questão dos tribunais de exceção. O público não ignora do que se trata. As leis vigentes estabelecem um processo excessivamente longo e aberto à maior publicidade, para a apuração das responsabilidades políticas da Intentona Comunista. As delongas irão, certamente, beneficiar os comunistas que se aproveitarão de todas as chicanas forenses, para afastar o dia em que devam ser condenados. Quando, enfim, este dia vier, a opinião pública, que é essencialmente versátil, já terá esquecido a gravidade do crime praticado pelos comunistas. E, por isto, será mais sensível a qualquer campanha sentimentalista, tendente a amenizar a pena dos mazorqueiros27 de 1934.
Evidentemente, é razoável o desejo do governo de que se organizem tribunais novos para, por meio de um processo rápido e eficaz, aplicar quanto antes aos comunistas a punição que o sangue de suas vítimas reclama.
Até quando dormirão os católicos?
Mas o Sr. João Neves – cujas hostes se farão certamente representar no Congresso Eucarístico – não está de acordo com isto. É preciso enfraquecer o Governo, porque com isto lucram seus interesses políticos pessoais. Portanto, é indispensável que se dê a todos os seus adversários a maior liberdade de ação possível. E isto ainda que tais adversários sejam, não simplesmente inimigos da situação dominante, mas inimigos da própria civilização. Seu eleitorado aumentará certamente com mais alguns votos da Aliança Libertadora, em virtude de sua atual atitude. E para contentar Deus e o diabo, far-se-á representar no Congresso Eucarístico de Belo Horizonte. Isto lhe valerá algumas simpatias católicas.
E, no entanto, o Sr. João Neves não é um monstro na nossa fauna política. É apenas um oportunista como outros muitos. Ao seu lado cerram fileiras atualmente muitos elementos que eram defensores decididos da ordem e adversários acérrimos do comunismo em 1930. E, nas hostes governamentais, figura muito politicão que procurou [a] aliança dos comunistas, para derrubar o governo do Sr. Washington Luiz.
O mais triste de tudo isto, porém, é que muitos católicos parecem não perceber nada. Anestesiados pelas gentilezas oficiais, têm os olhos fechados para o seu verdadeiro alcance. Até quando continuarão a dormir?
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“Legionário”, nº 205, 16/8/1936, pp. 1 e 2
7 dias em revista
Mais atrocidades dos comunistas espanhóis
A seção de rotogravura de “A Noite” publicou fotografias tremendas sobre os morticínios praticados pelos comunistas espanhóis. Entre outras, destaca-se a de um grupo de 20 ou 30 cadáveres embalsamados de religiosas espanholas, postadas à entrada de uma igreja em atitudes ridículas. Tais cadáveres haviam sido tirados de sepulturas violadas.
Os telegramas nos trazem notícias constantes de fuzilamentos, assassinatos, saques e confiscos de bens, praticados pelos comunistas.
Enquanto isto, Luiz Carlos Prestes engorda em nossas prisões, onde já teve um aumento de peso de 10 quilos. É o que informa em recente artigo o Sr. Assis Chateaubriand.
Poesias e canduras diante do perigo comunista
O Sr. Flores da Cunha, enquanto isto, faz poesia. Longe de pensar que o Sr. Prestes e seus camaradas queriam lançar o Brasil no abismo em que está a Espanha, S. Ex.cia só se lembra das simpatias que pode adquirir, fazendo demagogia em torno do assunto.
Daí uma visita feita por S. Ex.cia ao camarada Pedro Ernesto Baptista, visita esta contestada por um desmentido muito pouco convincente.
Daí também a declaração de S. Ex.cia de que se oporá a que os comunistas sejam julgados por um tribunal de exceção, sem recurso a instância superior.
* * *
Alega S. Ex.cia, para justificar sua opinião, que a criação de um tribunal de exceção de última instância é contrário aos “princípios jurídicos e constitucionais”.
Quereríamos que S. Ex.cia nos dissesse se supõe que ditos princípios constituiriam grande embaraço para os comunistas fuzilarem, eventualmente, o Governador do Rio Grande do Sul.
A candura jurídica do Sr. Flores da Cunha parece ter sido decalcada do insuperável modelo que é o Sr. Léon Blum.
Ainda há pouco, os jornais noticiaram que o Chefe do Governo francês quer incluir a Rússia no rol das potências signatárias do pacto de não-intervenção na Espanha.
A Rússia é a sede do movimento comunista do mundo inteiro. O Governo espanhol é um mero representante da IIIª Internacional. A única forma de não-intervenção russa seria a imediata demissão do governo de Madrid.
Mas tudo isso passou desapercebido à candura do Sr. Blum.
Santa ufania
Para que não pudesse pairar dúvida sobre a veracidade do que noticiam os jornais acerca das crueldades praticadas na Rússia, o “Osservatore Romano” publicou um protesto contra os assassinatos e crimes praticados pelos soldados de Madrid.
Entre os novos mártires da Pátria de Santo Inácio merece especial menção o leader operário católico Madariaga.
Pelo furor com que os comunistas atacam a Igreja pode-se medir a importância dos obstáculos que ela lhes opõe.
Tais massacres são, para nós, motivo de uma santa ufania.
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O sentimental Sr. Largo Caballero o que fará no meio disto tudo?
Ter-se-á comovido seu coração com o fuzilamento dos generais Goded e Burriel28? Ou só terá ele entranhas para o camarada Prestes?
Plinio Salgado ou o Catecismo?
De uma ordem do Sr. Plinio Salgado, destacamos o seguinte tópico:
“2) – Os Chefes Municipais mandarão imprimir cartões com o emblema integralista, encimando estes dizeres: ‘Opera a ressurreição de teu Patrício!’ E mais em baixo: ‘O companheiro ……………. cumpriu o seu dever, inscrevendo um novo integralista, na campanha de agosto-setembro de 1936.’”
Logo, para o chefe do integralismo, o patrício não-integralista é um morto. Só tem vida na alma quem veste a camisa verde29.
Se S. S.a folheasse qualquer Catecismo, sentir-se-ia talvez chocado.
É que, segundo o Catecismo do curso primário, o que constitui a vida da alma não é o uso da camisa verde, mas a posse do estado de graça.
Qual dos dois terá razão? O Sr. Plinio Salgado ou o Catecismo?
Convento, e não mosteiro
Para terminar, vai uma pequena nota sobre uma gaffe de nossa imprensa.
Noticiando uma Missa, na Igreja de São Francisco, em ação de graças pelo aniversário da fundação dos cursos jurídicos, todos os jornais disseram que a cerimônia seria realizada no mosteiro de São Francisco.
Mosteiro é palavra que se aplica à residência de religiosos contemplativos.
Para os religiosos de São Francisco, que exercem também vida ativa, a palavra indicada seria convento.
Mas ninguém, em nossas redações de diários, deu por isto…
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“Legionário”, nº 206, 23/8/1936, p. 2
Na expectativa
Uma certa União Cívica Evangélica publicou, na “Seção Livre” do “Estado de São Paulo”, uma declaração ao público, da qual a parte mais interessante é a condenação que formula contra os extremismos, isto é, contra o comunismo e o integralismo.
Essa declaração nos dá oportunidade para abordar um dos mais delicados aspectos da doutrina integralista.
Integralismo interconfessional
A posição do integralismo perante o catolicismo nunca foi minuciosamente definida. Não têm faltado à Igreja, é certo, calorosas manifestações de simpatia de alguns dos chefes integralistas. Mas essas manifestações são contrabalançadas por declarações equívocas, feitas por outros chefes.
O Sr. Miguel Reale30, por exemplo, publicou, na “Offensiva”, um artigo em que, estudando a causa da guerra que a maçonaria move ao integralismo, afirma que nenhum motivo religioso pode ser invocado como explicação. E isto simplesmente porque não há diferença entre [o] Deus que figura no lema integralista e o Deus que certas lojas maçônicas afetam cultuar! E note-se que Miguel Reale escreveu este artigo com a menção expressa de que era o Chefe do Departamento de Doutrina da Ação Integralista Brasileira!
Li uma vez um artigo publicado pela “Offensiva”, escrito por um espírita, que desenvolvia uma longa argumentação para provar que seus correligionários de espiritismo nenhum motivo deveriam ter, para combater os camisas verdes, uma vez que nada existe na doutrina integralista, que colida com a doutrina espírita. Li, também, um longo artigo escrito por um anglicano, desenvolvendo igual tese em relação a seus irmãos de crenças. Vi mais de uma vez, na “Ofensiva”, a notícia de cerimônias religiosas celebradas em templos protestantes, por ocasião do aniversário do Sr. Plinio Salgado, ao mesmo tempo em que os integralistas católicos assistiam Missa por S. S.a em igrejas de nossa religião.
Essas e muitas outras provas demonstram à saciedade que, se é verdade que o integralismo não é ateu, é certo também que é interconfessional e que procura observar uma estrita norma de neutralidade, nas suas relações com as diversas correntes religiosas existentes no País.
Incompreensível posição religiosa
O integralismo, pois, não é católico nem anticatólico. Teísta que é, considera por um prisma de pretensa neutralidade todas as religiões.
Penso que nenhum espírito sensato pode exigir do Sr. Plinio Salgado que só inscreva em suas fileiras cidadãos que sejam católicos praticantes. Essa exigência, que seria impolítica e inoportuna, teria, entre outros inconvenientes, um que seria imenso: viria criar uma confusão enorme entre a Ação Católica e a Ação Integralista. Esta é uma corrente política. Como tal, inscreve em seu programa diversas reivindicações de natureza meramente temporal. E a Igreja nunca poderia fazer oficialmente suas, tais reivindicações que escapam à sua esfera de ação.
Mas seria de se esperar que o integralismo, tradicionalista como é, assegurasse a primazia da Igreja Católica sobre as demais correntes religiosas, às quais seria apenas facultada a liberdade de cultos devidamente regulamentada. Não é a Igreja a depositária fidelíssima das mais autênticas tradições de brasilidade, de que o integralismo se manifesta tão zeloso?
Por isso, nunca compreendi a posição religiosa dos legionários do sigma31.
Expondo esse modo de ver a muitos amigos integralistas, eles me têm respondido que tal atitude alienaria, necessariamente, dos integralistas, o apoio dos protestantes, dos espíritas, etc. E que uma corrente que dá seus primeiros passos não pode prescindir de apoio algum, seja ele qual for, desde que não venha de comunistas.
O argumento me impressionou fracamente. Ninguém ignora que todos os espíritas, protestantes, muçulmanos, etc., que possam aderir ao integralismo, confiados em sua neutralidade confessional, nunca perfariam um total tão imponente quanto o dos católicos que se inscreveriam na Ação Integralista, se sua posição religiosa fosse mais integral.
Cumpre ao integralismo corrigir sua má tendência doutrinária
Vem agora a condenação da União Cívica Evangélica. Ela lança o anátema contra o integralismo. Por aí se vê que é muito fraco o prestígio da disciplina do integralista junto a protestantes, embebidos até à última fibra da alma com os princípios anárquicos de sua confissão religiosa. Pela declaração da União Evangélica, ficará sabendo o Sr. Plinio Salgado – se é que já não sabe – que poucos serão os protestantes que se inscreverão sob suas bandeiras.
Perdeu alguma coisa o integralismo, com a pedrada que lhe atirou um grupo de protestantes? Não. Pelo contrário, lucrou.
Há muita gente que professa ingenuamente a opinião de que duas quantidades inimigas de uma terceira são amigas entre si. Disparadas contra o integralismo certas baterias protestantes, ficará provado e arquiprovado para muita gente simples, que o integralismo e o catolicismo são irmãos siameses, e que um católico não-integralista é apenas um meio-católico. E com isto, engrossarão as hostes verdes.
E o integralismo? Que atitude tomará? Manter-se-á na mesma posição, ou aceitará alguma transformação? Neste último caso, pensamos que procederá com habilidade. Mas, verificada a primeira hipótese, só uma conclusão nos resta: não são apenas motivos táticos, que conservam ao integralismo seu caráter interconfessional. Há, na medula de seu pensamento, uma tendência doutrinária má que, se não for corrigida a tempo, prejudicará a fundo a AIB, e, quiçá, o Brasil.
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“Legionário”, nº 206, 23/8/1936, pp. 1 e 3
7 dias em revista
Incongruência da Câmara Federal
A Câmara Federal teve a gentileza de aumentar de 22 para 30 o número dos deputados que comporão a comissão incumbida de a representar no Congresso Eucarístico.
Mas ainda não teve a gentileza muito mais vantajosa e expressiva para os católicos, de dar qualquer andamento à regulamentação ↓32 [das] conquistas religiosas de 1934, ou à lei instituindo um Tribunal Especial para julgar os comunistas.
Confere.
Socorro às classes pobres, a menor das preocupações do comunismo
Os jornais nos informam que foram vultosas as despesas feitas pelo Governo na repressão à intentona de Luiz Carlos Prestes. Só a Polícia especial gastou mais de 500 contos. E trata-se de despesa real, pois que o Tribunal de Contas, examinada a documentação comprobatória, autorizou seu registro.
Com esta quantia, somada às muitas outras que foram despendidas por outros departamentos públicos na última bernarda, muito benefício se poderia fazer às classes trabalhadoras, como, por exemplo, a construção de pequenos postos sanitários populares e gratuitos, instalados nas zonas mais pobres e menos saudáveis de nossas grandes metrópoles, Rio e São Paulo.
Mas o Sr. Luiz Carlos Prestes queria ser ditador…
* * *
Aliás, o socorro às classes pobres é a menor das preocupações dos comunistas.
Notícias procedentes da Argentina nos informam que mãos criminosas colocaram uma bomba em um estabelecimento de salesianos, destinado a amparar as classes proletárias.
Que os inimigos da Igreja atentassem contra algum jornal católico, contra alguma Universidade católica, contra algum Dignitário da Igreja, seria criminoso, mas seria compreensível.
Mas o que se não pode sequer conceber é que sua sanha se volte contra as obras do suave Dom Bosco, destinadas exclusivamente ao alívio das misérias que o comunismo pretende suprimir.
* * *
Quereríamos também que algum comunista nos explicasse a vantagem que o proselitismo rubro auferiu com a destruição, por um incêndio provocado por marxistas, do edifício da municipalidade de Chanar, no Chile.
Ainda aí, teríamos o mesmo comentário a fazer. Embora fosse censurável, seria compreensível que se atentasse contra um quartel onde estão os defensores da lei, contra um tribunal onde estão os inimigos do crime, contra um banco, contra um lugar de diversão de burgueses gastadores.
Mas qual o proveito que pode haver em destruir um inócuo edifício de municipalidade, que amanhã será reconstruído?
Joguetes de Moscou
O valente diário católico de Minas Gerais publica uma notícia altamente interessante, que nossa imprensa não registrou. Informa ele que a polícia carioca, apreendendo uma célula comunista de que faziam parte os dirigentes do movimento vermelho que estão substituindo os chefes presos, encontrou nos arquivos alguns documentos relativos à necessidade de fazer oposição ao projeto ora discutido pela Câmara, de se criarem tribunais especiais para o julgamento dos revolucionários prestistas.
Fica patente, assim, que os elementos da Câmara que estão fazendo oposição ao Tribunal Especial, são joguetes conscientes ou semiconscientes de Moscou.
Isto projeta uma luz singularmente forte sobre o que escrevemos no artigo de fundo da nossa última edição33.
Horas Santas em prol da Espanha
Outra atividade dos comunistas brasileiros que ficou demonstrada pelos documentos acima mencionados, consiste na angariação de fundos para auxiliar o governo espanhol.
Enquanto os aliados brasileiros do Sr. Azaña34 e do camarada Stalin não descansam, também não dormem no Brasil os filhos da luz. Há uma verdadeira campanha de Horas Santas em prol da gloriosa e infeliz Espanha.
Não há dúvida de que o melhor apoio que possamos dar a nossos irmãos espanhóis está na oração. Mas bastará isso?
O que está fazendo o Itamaraty? Como respondeu ele à nota do Governo de Burgos, comunicando ao Brasil a sua constituição? Por que não foi publicada a resposta?
Como considerar uma intervenção internacional na Espanha
O Itamaraty publicou uma nota relativa à proposta uruguaia de uma intervenção diplomática nos negócios internos da Espanha.
Parece-nos que a intenção que inspirou a nota brasileira foi excelente. Quis ela dissociar nosso Governo de qualquer démarche internacional que venha a paralisar a marcha triunfal das forças anticomunistas.
No entanto, um dos argumentos sobre [o qual] ↓35 ela se estriba é perigoso. Referimo-nos a isto porque o erro é, de per si, tão funesto que não pode ser tolerado, nem mesmo quando uma argumentação especiosa procure pô-lo ao serviço do bem e da verdade.
* * *
O primeiro argumento invocado por nosso Governo é que o Brasil não deseja imiscuir-se em conflitos internos de outros países.
Ninguém pode afirmar que a repercussão e as consequências da guerra civil não ultrapassarão as fronteiras da Espanha.
A vitória do comunismo na Ibéria terá uma repercussão mundial. Nos combates da Serra de Guadarrama, não é apenas o destino da Espanha que está sendo jogado. Está em jogo o destino da civilização.
E, em tese, é permitido a uma nação intervir a favor da civilização contra a barbárie? A doutrina católica afirma que sim. A nota brasileira parece insinuar que não.
* * *
Não quer isto dizer que queremos botar a Cruz de cruzados sobre o peito do Chanceler Macedo Soares e muito menos do Presidente Getúlio Vargas. Compreendemos que, no terreno militar, a única atitude sensata para o Brasil é a abstenção. Mas seria conveniente que ficasse bem claro que, se não praticamos a intervenção, não é porque a julguemos ilegítima, mas porque a consideramos inviável no momento.
Só quem não tiver o menor senso jurídico poderá ver nessa ressalva um mero bizantinismo.
O conflito entre a civilização cristã e os filhos das trevas
Um parágrafo final da nota brasileira afirma que nosso governo “não faria contudo, por amor à solidariedade americana, exceção à unanimidade se todos os governos americanos aceitarem a sugestão do Uruguai”.
Nossos oradores políticos, atualmente, não se fartam em falar sobre a “civilização cristã”.
Mas no momento de dispensar a essa civilização um apoio eficiente, eles, que são tão valentes em doutrina, vacilam.
A situação, de fato, a que ninguém pode fechar os olhos, é esta: na Espanha se defrontam a civilização cristã e os filhos das trevas. E, à vista disto, é preciso perguntar se, sim ou não, somos pela primeira contra os segundos. A nota portuguesa enfrentou a questão com magnífica coragem. § A nota brasileira fecha os olhos a esse problema fundamental. Repugna-lhe uma mediação que salvaria os assassinos e os incendiários da Espanha. No entanto, aceitaria tal mediação “por solidariedade americana”.
E a solidariedade humana que devemos aos salvadores da Espanha? Não fica ela abaixo da problematissíssima “solidariedade americana”?
E a civilização cristã de que estão tão cheios os discursos oficiais? Mandam-na às urtigas?
Oportunismo do século XX
No fundo de tudo isto há o ecletismo, o indiferentismo, a timidez doutrinária, o oportunismo do século XX.
Nenhum agrupamento político brasileiro, ao que parece, está isento desse pecado.
“A Bandeira”, ainda tão nova, já prestou tributo ao espírito do século. Alguns de seus dirigentes se dizem católicos e falam em tradições brasileiras, etc., com um entusiasmo incessante. Para tornar mais autêntico o cunho religioso e tradicionalista de seu movimento, colocam na sua fachada nomes como o de Affonso Taunay. Mas, em surdina, vão angariando o apoio de oves et boves36.
Em Ribeirão Preto, o fundador da “Bandeira” é o Reverendo Guaracy da Silveira…
Shocking37, diria um inglês.
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“Legionário”, nº 207, 30/8/1936, p. 2
Enfeites e pingos
Como já tivemos ocasião de declarar38, nos bastidores políticos já vai acesa a luta em torno da sucessão do Sr. Getúlio Vargas.
Os ingênuos dirão, talvez, que a questão está sendo suscitada muito prematuramente, e que o Sr. Getúlio Vargas e os Governadores dos Estados deveriam tratar dos grandes interesses nacionais em lugar de se absorverem em uma luta política inteiramente estéril para a Nação.
Diligências prévias às candidaturas para a sucessão presidencial
Estamos de acordo com essa observação. Realmente, os grandes interesses nacionais nada têm a lucrar com essa pressa que os políticos manifestam de escolher o sucessor do Sr. Getúlio Vargas. Do ponto de vista do patriotismo, a questão pode e deve ser adiada.
Isto do ponto de vista do patriotismo. Mas do ponto de vista das preocupações pessoais, a coisa é outra: não apenas é oportuna como até já é um pouco tardia a realização das atuais démarches políticas.
Realmente, a Constituição Federal, no art. 52 § 6º, combinado com o art. 112 nº 1, determina que os Governadores dos Estados que queiram candidatar-se à Presidência da República devem resignar às suas funções um ano antes das eleições presidenciais.
Evidentemente, a Constituição é dura. Ninguém pode candidatar-se sem renunciar a seu cargo com larga antecedência. E nem mesmo o mais inocente dos brasileiros ignora quanto a palavra renúncia soa mal aos ouvidos da maior parte dos nossos políticos, seja qual for o sentido em que a palavra se aplique.
Sendo renúncia uma coisa tão penosa, ninguém se exporá a deixar definitivamente o cargo de governador, sem estar bem certo de que sua candidatura à Presidência da República é fortemente viável.
Por sua vez, ninguém pode ter esta certeza, sem fazer a respeito longas e prolixas conferências com os principais chefes políticos do Brasil inteiro. Essas conferências e démarches, levando no mínimo um ano, elas devem ter início 365 dias antes da renúncia, isto é, dois anos antes das eleições. Ora, estamos a menos de dois anos de distância da eleição do sucessor ao
Sr. Getúlio Vargas, que se não nos enganamos, será em fevereiro de 1938. Chegamos, pois, ao prazo mínimo dentro do qual o problema deve ser tratado.
Mas, dirá alguém, o que tem de ver o Brasil com tudo isto? A repressão ao comunismo exige um ambiente de paz que possa tornar possível a cooperação de todas as correntes políticas, conservadoras ou reacionárias, contra o inimigo comum. À vista de uma situação tão grave, não seria de se esperar que os Srs. candidatos [se] pacientassem um pouco?
Estamos de acordo. Mas… nossa política é assim.
E os pretensos candidatos se enfeitam…
Como está sendo colocada a questão, nos bastidores da nossa política? Como já dissemos em artigo anterior, São Paulo, Minas e Rio Grande do Sul estão deliberando sobre o assunto. Consta até que mais de um Governador desses Estados – para bom entendedor meia palavra basta – está se enfeitando para a Presidência da República.
No que consiste esse enfeite? É fácil responder. Cada um dos futuros candidatos começa a mostrar qualidades morais ou intelectuais ao público. Alguns, como o pavão de La Fontaine, mostram a beleza de sua penas. Outros, como as gralhas, mostram a beleza de penas que não são suas. Uns e outros, em todo o caso, se exibem aos olhos do público, não diretamente, mas através de uma propaganda habilmente arquitetada.
Nosso público, porém, é um público desconfiado e blasé39. A propaganda partidária o impressiona pouco. E, por isto, os políticos mais hábeis no fazer a opinião do povo já estão lançando mão de um recurso novo. Consiste ele na propaganda indireta. Revistas admiravelmente bem feitas, mas sem um fim oficialmente afirmado; correntes ideológico-sociais, sem um caráter partidário explícito; banquetes e homenagens, sem uma intenção política patente; tudo isto que por aí prolifera não é outra coisa senão o árduo trabalho de preparar um candidato.
Basta abrir um pouco os olhos em torno de nós para que percebamos que também em Piratininga a arte dos enfeites artísticos e complicados não tem sido desdenhada. Muito pelo contrário, neste terreno como nos outros, São Paulo está na vanguarda. Não sei de mais perfeitas oficinas de enfeites eleitorais do que as que atualmente aqui [se] estão montando…
Nas alterosas40, o Sr. Benedito Valadares também se enfeita. A raposa aristocrática e astuta que se chama Antônio Carlos Ribeiro de Andrada está renovando seu arsenal de atrativos eleitorais. E o Sr. Flores da Cunha já está limpando as esporas barulhentas e escovando o ponch aparatoso com que pretende impressionar as massas e arrastá-las atrás de si. Há até quem diga que S. Ex.cia está pensando em utilizar novamente os seus bravos pingos41, muito conhecidos do obelisco da Capital Federal. O Sr. Oswaldo Aranha também não dorme. Dizem informantes seguros que mais de um emissário tem ido e vindo entre Washington e o Rio.
O que sairá dessa confusão? Querem os leitores nossa impressão? Na hora H, o Sr. Getúlio Vargas tirará da algibeira um papelzinho com o nome de sua preferência. E esse vencerá. Será católico ou não? Pouco importa. Os católicos terão de aceitá-lo de qualquer jeito…
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“Legionário”, nº 207, 30/8/1936, pp. 1 e 3
7 dias em revista
Massacre de religiosos na Espanha
Evidentemente, alguns leitores dos diários de nossa Capital têm posto em dúvida as notícias procedentes de Burgos, relativas ao massacre de religiosos, e outras atrocidades praticadas pelo governo espanhol. Emanadas de Burgos ou de estações radiofônicas revolucionárias, tais notícias partem de uma fonte que poderia facilmente parecer suspeita a espíritos pouco propensos a reconhecer o barbarismo da mentalidade marxista.
Se, por absurdo, entre tais espíritos houvesse algum católico, chamaríamos sua atenção sobre as notícias provenientes do Vaticano, que confirmam grande número dos crimes marxistas noticiados por Burgos. Com o visto do Vaticano, nenhum católico poderá suspeitar a honestidade de tais informações.
* * *
Entre os religiosos massacrados, o “Osservatore Romano” menciona 33 membros da Congregação dos Irmãos das Escolas Cristãs. Trata-se de um Instituto fundado por S. João Batista de La Salle, com o fito de divulgar entre as crianças do povo a instrução, principalmente a primária.
Que mal fazem esses irmãos aos filhos do povo, para que mereçam o ódio dos comunistas? Deverão expiar com sua vida o pecado de difundir a instrução?
Pena de morte lá, sentimentalismo cá
As notícias vindas da Rússia nos informam minuciosamente a respeito da execução de alguns terroristas que tiveram a ousadia de investir contra a ditadura de Stalin.
Descoberta a conspiração, a repressão foi fulminante: pena de morte.
Se os comunistas acham legítimo que o regime soviético se defenda com tais armas, como justificam os acessos de sentimentalismo de que se sentem acometidos logo que alguém se lembra de aplicar uma justa penalidade aos camaradas Prestes, Berger42, etc.?
* * *
Os Srs. Flores da Cunha, João Neves e outros pertencem ao grupo de poetas dramáticos que, logo que se fala em repressão ao comunismo, são atacados de uma crise aguda de sentimentalismo, que os leva a hostilizar as mais elementares medidas de bom senso. Atualmente, seu maior espantalho é a criação de um Tribunal Especial.
Seria excelente que os eminentes políticos refletissem sobre as notícias que nos vêm de Moscou (e não de Burgos…), sobre o modo por que foram processados os terroristas da ala de Trotsky.
Em primeiro lugar, a lei russa autoriza a prisão sem prévio julgamento, não apenas das pessoas acusadas de alta traição, mas também das respectivas famílias. Em segundo lugar, nem sequer se cogita de uma providência rudimentar em todos os processos judiciários das nações civilizadas: a identificação dos acusados.
Perto disto, não é um sonho cor-de-rosa, nosso inofensivo Tribunal Especial?
Invectiva do Papa contra as Frentes Populares
O Santo Padre, em recente discurso, estigmatizou as diversas Frentes Populares que, por toda a parte, andam preparando o advento do comunismo, com a cumplicidade de burgueses incautos e ambiciosos.
Não obstante isto, elas continuam a proliferar. Agora, é da Inglaterra que nos chegam notícias sobre a formação de uma Frente Popular, que já está dirigindo censuras às autoridades, por não irem em auxílio do governo espanhol.
Assim, o fogo das múltiplas fogueiras que a política inglesa tem atiçado está começando a grassar também no Reino Unido.
Enquanto ardem a Inglaterra e o Mundo, o Rei Eduardo continua a fazer tranquilas pescarias no Mediterrâneo…
Emenda propõe meio mais positivo de cooperar com a Igreja
Felicitamos calorosamente o Deputado João Carlos Fairbanks, pela emenda que apresentou a um projeto de lei debatido pela Câmara. Segundo essa emenda, o Governo se veria na obrigação de prejudicar, por meio de irradiações especiais, a propaganda comunista que as estações de Moscou emitem em língua portuguesa.
É este um modo muito mais positivo de cooperar com a Igreja, do que os eternos e estéreis sorrisos com que a brindam certos campeões do despistamento.
* * *
O crédito que o Governo do Estado pediu à Câmara, para subvir às despesas efetuadas com a repressão ao comunismo, orça em quatro mil contos de réis.
Seria de inteira justiça não exigir que essa quantia saísse do Tesouro do Estado – em outros termos, do bolso dos contribuintes. A fortuna particular dos comunistas milhardários deveria ser responsável por tais despesas. É um princípio fundamental do Direito que cada qual é responsável pelo dano que causa.
Nem tanto…
Temos, mais de uma vez, acentuado que as homenagens com que se procura cercar a Igreja não têm o significado que alguns espíritos menos cautos lhes procuram emprestar.
Uma eloquente prova disto está no discurso em que o Vereador Marrey Jr. propõe à Câmara Municipal um voto de pesar pelo falecimento do saudoso Bispo Dom José Lara43. Esperaria jamais S. Ex.cia Rev.ma merecer um necrológio do próprio ex-grão-mestre da maçonaria?
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“Legionário”, nº 208, 6/9/1936, p. 2
Brasil e Espanha
As recentes homenagens prestadas à memória do Duque de Caxias chamaram a atenção de todos os brasileiros para o problema que, entre nós, constituem as classes armadas. E aproveitando a ocasião, é oportuno comparar nossa situação militar com a da Espanha.
Duas Espanhas
O leader católico espanhol Gil Robles, quando em visita ao governo de Burgos, foi interpelado pela imprensa a respeito de sua posição perante a luta armada de que sua pátria é teatro. E sua resposta é esta: estou com o governo de Burgos, porque com ele está a Espanha tradicional e católica.
Realmente, há hoje duas Espanhas. Uma, a Espanha autêntica, aquela que descende do Cid, de Isabel a Católica, de Colombo, de Filipe II; a Espanha de S. Teresa, S. Inácio e S. Domingos; a Espanha dos soberbos castelos, das suntuosas catedrais, das grandes universidades. A outra, uma Espanha que mereceria propriamente o nome de anti-Espanha: um grupo de espanhóis que querem desfigurar sua pátria, arrancando-lhe do patrimônio moral todas as tradições, mutilando-lhe a gloriosa e tradicional fisionomia. A Espanha era católica, e querem-na ateia. Era cavalheiresca, aristocrática, saturada de hidalguia até nos seus últimos recantos, e querem-na plebeia, vulgar, suja e feia como a camisa suarenta e furada de um estivador. A Espanha era intelectualmente raffinée, com uma cultura fortemente impregnada de caráter nacional pela formação das famosas universidades criadas pelos séculos que nos precederam; e eles querem a destruição dessas universidades, para substituí-las por estabelecimentos de ensino anódinos, internacionais e sovietizados, tão banais ↓44 e tão sem fisionomia quanto um guichê da Agência Kook de turistas.
Sem a reação do seu exército, a Espanha seria uma província comunista de Moscou
Acontece que antes das últimas eleições, um trabalho insidioso se fez em toda a população. Por meio de um proselitismo astuto e capcioso, os comunistas conseguiram formar, por toda a parte, pequenos grupos de agitadores desejosos de subverter inteiramente as instituições espanholas. Somados, os comunistas não constituiriam nem sequer a décima parte da população. Mas a sua audácia, segundo esperavam os chefes, venceria finalmente a inércia dos burgueses e lhes imporia o jugo vermelho do marxismo. E foi o que aconteceu.
Qual foi, contra essa agressão insólita de um grupo de malfeitores, o nervo da reação? Foi o exército espanhol. Sem ele, a Espanha seria hoje uma província comunista, governada por Moscou. Mas o exército espanhol foi invencível. Nem o suborno, nem as ameaças, nem os sofismas conseguiram debilitar sua fidelidade à Espanha e às suas tradições. Resistiram. E amanhã estarão vitoriosos.
Aqui, a corrente brasileira e a antibrasileira
No Brasil, infelizmente, também há duas grandes correntes: a corrente brasileira e a antibrasileira. Na corrente brasileira estão os que querem a conservação e o aperfeiçoamento do Brasil tradicional, católico, latino, tropical. E na corrente antibrasileira está a horda que conspira contra as tradições, contra o catolicismo, contra a latinidade – que deve ser substituída pelo eslavismo –, e contra as características locais de nossa civilização tropical, que devem ser substituídas pelas características (?) internacionais que o judeu Karl Marx quis imprimir a todos os povos da terra.
Novembro de 1935 mostrou que a camorra dos mal-intencionados é grande. E as subsequentes conspirações, tão numerosas quanto os dias que temos vivido de lá para cá, mostram que os agentes do comunismo não estão desarmados.
Que será do Brasil sem o apoio de suas Forças Armadas?
E agora perguntamos: qual será o nervo da reação? O que fará o Exército? Ele conta, certamente, com distintíssimos oficiais, com soldados profundamente amantes das tradições do Brasil católico. Mas estará esse elemento sadio precavido e coordenado para resistir a um assalto de uma minoria gangrenada?
O que será do Brasil se, na hora H, ele não tiver ao seu lado o Exército e a Marinha, as milícias estaduais, etc.? Não é preciso ser muito inteligente para responder: o destino do Brasil seria o da Espanha, se esta não tivesse contado com o apoio de suas Forças Armadas.
Mas é pouco falar. Cumpre agir. Os católicos, em 1934, conquistaram o direito de pregar o nome de Deus nos quartéis. Por que não se utilizam dele? Será possível que o privilégio de falar às Forças Armadas caiba exclusivamente aos partidários de Lênin?
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“Legionário”, nº 208, 6/9/1936, p. 1
7 dias em revista
Nossas primeiras palavras sejam de louvor ao Sr. Ministro da Guerra, pela energia vibrante da recente proclamação que S. Ex.cia dirigiu às Forças Armadas. O Brasil tomou nota das promessas que lhes fez. E tudo indica que, na hora do perigo, a coragem do General João Gomes não lhe faltará.
Oposição ao ensino religioso
A Câmara baiana discute, agora, a regulamentação do ensino religioso naquele Estado. E os telegramas nos informam que os partidários situacionistas e oposicionistas se subdividiram, cada qual em dois grupos, um favorável e outro contrário ao ensino religioso.
A se examinarem as coisas com rigor, constituiu uma exorbitância a oposição de um grupo de deputados ao ensino religioso. A Câmara da Bahia, como qualquer outra Câmara estadual, não tem poderes para rejeitar o ensino religioso que foi concedido a todos os brasileiros pela Constituição Federal. O que incumbe aos legislativos estaduais é apenas a regulamentação do assunto nos estabelecimentos de ensino estadual. E essa regulamentação, a Câmara não pode recusá-la.
Mas os anticlericais, sempre tão ciosos das leis quando elas lhes são favoráveis, mostram-se sempre agitadores irredutíveis, quando se trata de leis inspiradas em princípios religiosos.
Pouco interesse pelas ideias
Mas há outro aspecto desse fato que é muito mais interessante. Por que razão bifurcaram-se ambos os partidos que têm representantes na Câmara baiana? Porque os partidos não são formados em torno de ideias, mas em torno de pessoas. E quando – por acaso – se discutem ideias, vemos imediatamente que os partidos não têm a menor homogeneidade, querendo cada um de seus membros imprimir ao rumo dos acontecimentos diretrizes inteiramente diversas.
Mas sejamos francos. As ideias pouco interessam. Rota por instantes a unidade partidária, ela se recomporá logo que a questão do ensino religioso esteja resolvida. Enquanto não estiver em jogo política com “p” pequeno, a agitação nunca será grande.
Obrigações políticas
A Câmara estadual de São Paulo foi teatro de idêntica cena. O espírita Sr. Campos Vergal leu o manifesto da União Cívica Evangélica, e aderiu aos seus princípios. Até aí, nada de mais. Espíritas, protestantes, maçons, maometanos, ateus, etc., todos eles se ligam facilmente, quando se trata de atacar a Igreja.
A nota curiosa, porém, está em que, imediatamente, levantou-se um deputado na bancada governista, e outro na oposicionista, para exprimir sua adesão ao programa da União Cívica Evangélica.
Tanto o programa do PRP quanto o do PC têm a garantia expressa de que as reivindicações católicas de 1934 receberão sempre o apoio de seus representantes.
O programa da União Evangélica é contrário a tais reivindicações. Logo, o perrepista e o peceísta que aderiram ao manifesto protestante são contrários aos programas dos respectivos partidos.
Estão, pois, na obrigação moral de se desligar das correntes a que pertenciam e de renunciar às respectivas cadeiras. E o PRP e o PC estão na obrigação de, se tal renúncia não se der, expulsar os dois deputados faltosos.
O que acontecerá? Nem uma coisa, nem outra. O comodismo está na ordem do dia.
Nunca será demais denunciar o ecletismo
O mais curioso é que, enquanto as “Notas e Informações” de “O Estado de São Paulo” ressoam constantemente com palavras simpáticas à Igreja, de tempos a esta parte, o redator da seção parlamentar do “Estado”, naquela linguagem pomposa e circunspeta que lhe conhecemos, encheu-se de simpatias pelo documento da União Evangélica.
É sempre o ecletismo. Dirão que exageramos na insistência com que denunciamos este mal. Tal não se dá. O ecletismo está tão generalizado, que nunca será suficiente denunciá-lo aos católicos. Clama, ne cesses45, diz a Escritura.
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“Legionário”, nº 209, 13/9/1936, p. 2
Integralismo e comunismo
Na Câmara Federal, propõe-se o fechamento da Ação Integralista Brasileira, sob a alegação de que essa agremiação conspira contra as instituições vigentes, aliciando homens e reunindo armas, para conquistar o poder.
Cumpre publicarem as provas contra o integralismo
Daremos nossa mais entusiástica adesão ao decreto de fechamento da Ação Integralista, se forem verdadeiras as acusações de que é ela alvo. Na quadra que atravessamos, é um crime conspirar contra as autoridades constituídas. Católicos que somos, não podemos, em princípio, pactuar com revoluções. São raríssimos os casos como o da Espanha, em que elas se tornam legítimas. No Brasil, a divisão entre os integralistas e os burgueses dos partidos liberais abriria uma deplorável brecha na frente anticomunista. E, portanto, seria gravemente antipatriótico qualquer investida integralista contra o atual governo.
Mas é necessário, é até indispensável, que o governo baiano e os deputados, que pleiteiam o fechamento da Ação Integralista, provem que, realmente, os camisas verdes estão conspirando. E para isto, é preciso que exibam pela imprensa, para que todos os brasileiros a vejam, a documentação de que dispõem.
Nenhum motivo exime as autoridades de dar esta satisfação à opinião pública.
Não é exato que a dignidade do Poder Público seja obstáculo a que os governantes se dirijam francamente ao povo, para lhes dar contas de seus atos. Se é em uma democracia que vivemos, pratiquemo-la lealmente. E não tenhamos receio de, pelas colunas dos jornais ou pela tribuna parlamentar, dizer sempre ao povo as verdades necessárias para manter intacta a credibilidade da palavra oficial.
Estamos certos de que, se o integralismo é um perigo para as instituições, ele ficará destruído pela simples publicação das provas de sua atividade subversiva. Acreditamos que até nas próprias fileiras integralistas haverá uma deserção em massa, desde que se prove que uma organização que se proclama o único anteparo da Nação contra o comunismo, está fazendo jogo de Moscou e semeando a desordem exatamente no momento em que o Tribunal Especial vai julgar os delinquentes de novembro passado.
Quem estará fazendo o jogo de Moscou?
Mas admitamos que as provas relativas às conspirações integralistas não sejam produzidas pelas autoridades. O que acontecerá?
Não é preciso ser profeta, para prevê-lo. O povo não confia no Sr. Juracy Magalhães. S. Ex.cia, que, em 1933, foi tão correto para com os Prelados que visitaram São Salvador, em 1936 deixou transparecer uma simpatia imprudente para com seus irmãos comunistas. A opinião [pública], já de sobreaviso com quase todos os militares egressos do tenentismo, colocou no índex o jovem governador da Bahia. E parece que não está de todo enganada.
Portanto, o espírito público se vê diante da seguinte dúvida: será realmente o integralismo que está conspirando? Ou é o governador baiano que está desarmando o integralismo, para facilitar o jogo de Moscou?
É possível que esta última conjetura seja injusta. Mas como não reconhecer que ela não é absurda e que, nos dias em que vivemos, é preciso usar de cautela, não apenas com a propaganda comunista das ruas, mas com seus próceres palacianos?
Está, pois, o Sr. Juracy Magalhães na grave obrigação de documentar suas acusações. E o Sr. Amaral Peixoto também.
Se não o fizerem, se deixarem pairar no ar uma dúvida muitíssimo séria a respeito dos móveis da caçada anti-integralista que empreenderam, seremos nós os primeiros a endossar a suspeita que eles não tentaram dissipar. É a lógica popular que o diz: quem cala consente.
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“Legionário”, nº 209, 13/9/1936, pp. 1 e 3
7 dias em revista
Ingenuidade favorece o comunismo na Espanha
O ingênuo Sr. Léon Blum, que, movido de sentimentos humanitários, quer fazer cessar a guerra civil na Espanha, não tem poupado esforços para estabelecer um cordão de isolamento entre os beligerantes. Esse cordão é o famoso pacto de não-intervenção projetado pelo eminente governador judeu da França.
No entanto, S. Ex.cia esqueceu-se de incluir, entre as potências signatárias do pacto de não-intervenção, as nações ibero-americanas.
Consequência: os jornais nos informam que, em declaração prestada à Câmara mexicana, o presidente Cardenas afirmou que “o governo do México colocara à disposição dos dirigentes de Madrid, em Vera Cruz, 20.000 fuzis de 7 milímetros e 20 milhões de cartuchos. Fora igualmente autorizada a venda de 5 mil fuzis da fábrica nacional da Colômbia.”
Assim, enquanto o pacto de não-intervenção paralisa os esforços ítalo-germânicos em prol dos rebeldes, a Rússia fica com as mãos livres para exportar para Madrid, via América Latina, todo o armamento de que dispõe.
Até quando os filhos da luz obedecerão aos filhos das trevas?
Enquanto as nações soviético-latinas auxiliam com todas as suas forças os seus amigos de Madrid, o que fazem as nações católico-latinas por seus irmãos de Burgos? § Discutem filosofia do Direito, para provar que não são obrigadas a intervir.
O Brasil, a Argentina, o Chile, assim procedem. E, no entanto, são países católicos. Será possível que os católicos se desinteressem dos destinos da civilização? Não. É que, tanto no Brasil, quanto na Argentina ou no Chile eles “não pesam na balança”.
Até quando durará isto? Nós, os filhos da luz, resignar-nos-emos a obedecer cegamente aos filhos das trevas e da dubiedade?
Política da mão estendida: imoral e errônea
“O Estado de São Paulo” publicou uma correspondência de Paris, em que se afirma que o governo do Sr. Léon Blum está praticando em relação aos católicos, a política da mão estendida. Quer isto dizer que o governo bolchevizante do Sr. Blum quer obter as simpatias dos católicos.
É preciso, nessa hora grave de confusão e de perigo, que fique bem esclarecido o verdadeiro sentido da mencionada correspondência.
Entre os católicos europeus, e especialmente os da França, não têm faltado espíritos transviados, que têm julgado possível uma cooperação com as forças da extrema-esquerda. Mas o Santo Padre, em muitos e enérgicos documentos, já estigmatizou como imoral e errônea essa política, toda feita de ingenuidade e de flexibilidade doutrinária.
Não têm faltado, ultimamente, declarações solenes e peremptórias de todas as autoridades eclesiásticas do mundo inteiro.
Fica, pois, bem claro que, da parte dos católicos não há a menor simpatia ou conivência com os assalariados de Moscou. Não é possível qualquer acordo, quando estão frente a frente, Cristo e Barrabás.
Por uma pastoral do Episcopado polonês, verifica-se que também na Polônia os comunistas lançaram mão de seu conhecido manejo, consistente em formar frentes populares sovietizantes, que preparem o caminho ao comunismo. É a mesma manobra da França, Espanha, Chile, Inglaterra, etc.
E ainda há gente que, no Brasil, não quer reconhecer quais foram os verdadeiros móveis da Aliança Libertadora.
Congresso Eucarístico de Belo Horizonte
Entre as grandiosas manifestações religiosas provocadas pelo Congresso Eucarístico de Belo Horizonte, destacamos com especial interesse e carinho a mensagem de 6 mil operários paulistas, entregue pelo Ex.mo Rev.mo Sr. Dom José Gaspar de Affonseca e Silva, ao virtuoso Arcebispo da capital mineira.
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Consta-nos que está sendo organizada em todo o País uma Liga de Defesa Nacional, que tem fundado centros de brasilidade em diversas cidades.
Qualquer atividade desenvolvida a favor de um nacionalismo prudente, mas positivo, merece toda a nossa simpatia.
Não estamos muito bem informados sobre a verdadeira índole desse movimento e de sua posição perante o catolicismo. Mas o fato de entre os aderentes do movimento se encontrar o eminente Professor Everardo Backheuser é auspicioso indício de sua boa orientação.
Monarquia sem monarca, catolicismo sem sacerdotes…
Um telegrama da Espanha informa que os três delegados do governo de Madrid junto à Sociedade das Nações, representam as três mais importantes facções da opinião espanhola (da opinião governista, bem entendido). Essas facções seriam o socialismo extremista – melhor seria dizer de uma vez comunismo – o socialismo moderado e um enigmático partido católico e monarquista de que nunca ouvimos falar, e que pleiteia a instauração de uma “monarquia sem monarca” (sic).
Não sabemos como se poderia realizar essa famosa “monarquia sem monarca”. O que é certo é que, além da monarquia sem monarca, o tal partido católico também deverá pleitear um catolicismo sem sacerdotes, pois que o governo de Madrid mata quantos clérigos lhe caem nas garras.
Parece-nos que esse partido de monarquistas antimonarquistas e católicos antieclesiásticos não existe a não ser… na imaginação das agências telegráficas confusionistas.
Suspeito recuo da ofensiva antirreligiosa do Führer
Há quem se fie em uma amenização das diretrizes anticatólicas do nazismo. Realmente, a linha de conduta de Hitler foi abrandada em virtude de uma intervenção das chancelarias de Viena e Roma, que impuseram, como condição de sua solidariedade internacional ao Reich, um recuo da ofensiva antirreligiosa do Führer.
No entanto, sob as cinzas crepitam brasas ameaçadoras. O Sr. Rosenberg, um dos dirigentes da Educação, no IIIº Reich, fez há dias um discurso declarando que “as recompensas celestes” não movem mais os homens de forma eficaz, à prática do bem.
Se a própria perspectiva de uma felicidade eterna não move mais os homens a observar os preceitos da moral, que recurso resta à humanidade? Estimular os homens por meio da perspectiva de recompensas terrenas? Na seção criminal da imprensa quotidiana, vemos sempre notícias de crimes praticados pelo desejo imoderado de fruir da felicidade terrena. Mas atos de virtude praticados em virtude desse desejo, não se encontram.
Será possível que, sob o IIIº Reich, a ganância não produza mais ladrões, mas homens honestos? Que o nudismo não produza a corrupção, mas a castidade?
Creia nisso se puder.
A última da Câmara Federal
Terminamos nossas notas de hoje com esse [capolavoro] ↓46 das oposições coligadas na Câmara Federal.
Estavam reunidos representantes das oposições estaduais, para estudar a última das mil e uma propostas do Sr. Maurício Cardoso, para um congraçamento com a maioria.
Em linguagem austera e grave, os diários anunciaram que, entre os deputados da minoria, havia acordo unânime quanto à “elaboração de um programa de governo a ser executado pelo futuro presidente, mas era condição preliminar para a elaboração desse programa, a escolha prévia do candidato à futura presidência”.
Em outros termos, desde que se encontrasse um homem que satisfizesse todas as correntes, estaria tudo bem. O programa seria questão de detalhe. A tal ponto que, conforme os jornais noticiaram, o candidato escolhido seria convidado a colaborar na confecção do programa.
Mas se os interesses nacionais estivessem em primeira plana, como seria possível escolher um candidato, sem se conhecer previamente seu programa? Como afirmar que “A” ou “B” governará bem, se não se sabe sequer como “A” ou “B” pensam em dirigir os negócios públicos?
Compaixão de ladys e lords pelos comunistas
Telegrama da Espanha transmite as efusões sentimentais do Visconde de Hastings, chefe de um serviço de saúde inglês posto à disposição das forças marxistas.
À vista do derramamento de sangue, o impressionável Lord telegrafou a todos os países do mundo, denunciando o padecimento de mulheres e crianças que ele tem presenciado.
Não é normal a complacência com que esse visconde serve os marxistas, em lugar de servir os rebeldes, o que estaria mais de acordo com seu título nobiliárquico.
Nenhuma estranheza pode, porém, provocar tal fato. Lord Hastings é marido da famosa Lady Hastings que, com Lady Cameron, veio ao Brasil socorrer Luiz Carlos Prestes.
São singularidades de inglês rico: em lugar de se compadecer das famílias cujos chefes os prestistas assassinaram, Lady Hastings se condói do autor dos morticínios de novembro.
E seu marido cuida dos marxistas, em lugar de se condoer com o destino dos que tombam em defesa da civilização.
Mas, quando os Prestes e Azañas acabarem com todos os milhardários e todos os viscondes, o que pensarão Lord e Lady Hastings?
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“Legionário”, nº 210, 20/9/1936, p. 2
O candidato predileto
Foi uma pequena obra-prima de literatura política, a nota discretíssima que as oposições coligadas enviaram à Frente Única do Rio Grande do Sul, sobre as divergências surgidas em torno da sucessão presidencial.
O bom político é, por natureza, discretíssimo. E, por isto, aplaudimos a habilidade com que os próceres da Frente Única souberam manifestar o seu pensamento de sorte a torná-lo claro para os iniciados e conservá-lo, ao mesmo tempo, obscuro para os profanos.
Mas o jornalista eficiente é, por profissão, indiscretíssimo. É o que procuraremos ser, desvendando alguns aspectos do problema da sucessão presidencial que até agora estão na sombra.
O Sr. Getúlio deseja ser o sucessor de si mesmo na Presidência
Reza a nota das oposições coligadas que elas estão dispostas a cooperar em qualquer plano político tendente a escolher, em harmonia com as demais correntes do País, o candidato que deverá, “sucedendo ao atual Presidente, substituí-lo na chefia da nação”.
À primeira vista, tem-se a impressão de que as palavras finais, “substituí-lo na chefia da nação”, constituem uma redundância supérflua e deselegante. Claro parece que, se algum candidato deverá suceder ao Sr. Getúlio Vargas, implicitamente deverá substituí-lo. Mas isto é apenas a aparência. Na realidade, pode haver um candidato que, sucedendo ao Sr. Getúlio Vargas, não o substitua. Em outros termos: o Sr. Getúlio Vargas pode ser o sucessor de si mesmo. Daí a redundância que se observa na nota das oposições que querem afastar a candidatura do atual Chefe do Governo.
O que, de todas as complicadas negociações gaúchas, ressaltou com clareza, é que o Rio Grande oposicionista estava trabalhando por uma candidatura que seria muito cara ao Presidente da República; e que as oposições coligadas, querendo embora a pacificação nacional, recusavam o candidato que estava escondido atrás das cláusulas fastidiosas e ocas dos octólogos, heptálogos, pentálogos, etc., dos políticos farroupilhas.
Quem seria este candidato, tão do agrado do Sr. Getúlio Vargas?
Quem este amigo, em cujo benefício S. Ex.cia estava disposto a promover uma larga série de manobras políticas? O Sr. Getúlio Vargas já demonstrou ser um implacável devorador de seus mais íntimos amigos. De toda a troupe revolucionária de 1930, o que resta? Onde está o Sr. Juarez? Onde está o Sr. José Américo? Onde o Sr. Góes Monteiro? Onde o Sr. Pedro Ernesto? Onde o Sr. João Alberto, o Sr. Waldomiro, o Sr. Rabello? Um deles na prisão – felizmente, aliás – e os demais no ostracismo, trucidados politicamente por obra ou com o consentimento de seu amigo Getúlio Vargas.
Mas há um amigo a quem o Sr. Getúlio tem sido fidelíssimo, pelo qual ele vem lutando há oito anos e ao qual tem sacrificado tudo: amizades, tranquilidade, repouso, etc. Este amigo do Sr. Getúlio é o próprio Sr. Getúlio.
Impenetrável cortina de fumaça tolda o cenário político
Por isto é que as oposições não se limitam, nas suas cogitações, a examinar o problema da sucessão presidencial. Só as interessa a substituição presidencial, isto é, a sucessão com a concomitante remoção do atual ocupante e a investidura de um novo Presidente.
O que fazem, em todo este complicado jogo de xadrez, as principais correntes políticas? Diz-se que o PRP e o PC vão caminhar, doravante, de mãos dadas na política nacional. Que São Paulo unido vai combater qualquer candidatura gaúcha, mas que o Sr. Flores da Cunha, a despeito disto, insiste em ser candidato.
A realidade é mais ou menos esta. Mas se examinarmos bem a fundo as coisas, veremos que elas não são tão simples. Poderá o PC fiar-se na solidariedade do PRP? Poderão ambos fiar-se no aparente dissídio entre os Srs. Flores e Getúlio? Não haverá em tudo isto uma manobra do Rio Grande? E Minas? Que rumo tomará o nebuloso Sr. Benedito Valadares? E o Sr. Oswaldo Aranha? O que fará a estas horas nosso embaixador em Washington, que é o único homem que o Sr. Getúlio gostaria de ter como substituto, verificada a absoluta inviabilidade de sua candidatura?
Há muitas nuvens e não há olhar, por mais perspicaz que seja, capaz de desvendar atrás dessa cortina de fumaça o que realmente está ocorrendo. Nem mesmo os políticos de alto coturno poderiam fazê-lo. Só há uma exceção: o próprio Sr. Getúlio.
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“Legionário”, nº 210, 20/9/1936, pp. 1 e 2
7 dias em revista
No Chile, ataque à civilização católica
Na sua alocução de Castel Gandolfo, o Santo Padre aludiu à intensa preparação que precede, em diversos países sul-americanos, a ação comunista.
Nem assim, as ingênuas (o crime às vezes toma ares de ingenuidade) autoridades do Chile proibiram a realização de um comício da Frente Popular, em que 5.000 mil pessoas desfilaram dando morras ao nazismo.
O nazismo, em si, pouco nos interessa. Mas quem é que pode ignorar que, por detrás do nazismo, está visada diretamente a civilização católica?
A Pasionaria no centro do Congresso Mundial da Paz
A ópera bufa que foi o Congresso Mundial da Paz, de Bruxelas, teve diversos aspectos curiosos. Entre outros, este: uma das figuras mais salientes do Congresso foi a deputada Dolores Ibarruri, a famosa Pasionaria.
Quem é esta Pasionaria? Uma mulher transviada de seu sexo, que arrastou pelos campos de batalha da Espanha o seu ódio anticlerical, encorajando com sua presença os soldados do marxismo que atiravam contra os defensores da civilização.
E é esta incendiária, de apelido tristemente expressivo, que foi posta em destaque pelos pacifistas do Congresso!
Urge reforçar as colunas dos defensores da verdade
Em carta dirigida ao Diretor do “Osservatore Romano”, o Cardeal Pacelli, falando em nome do Santo Padre, teve estas palavras magistrais que é preciso gravar no coração de todos os católicos:
“É tanto mais necessário e urgente reforçar as colunas dos defensores da verdade, quanto mais hostis se tornam e cada vez mais encarniçados se mostram os inimigos que tentam destruir as bases da sociedade pelo massacre, devastação e ruína, tal como assistimos na atualidade.”
Ouro espanhol para ajudar amigos comunistas
Telegrama de Madrid: “A coluna governista de Bilbao foi derrotada. Continuam as remessas de ouro para o estrangeiro. Ainda ontem, foram expedidos duzentos e cinquenta quilos desse metal.”
Expedidos para onde? Por quê? Para quê?
Ou para enriquecer os amigos comunistas de além-Pirenéus, ou para comprar armas. Não há outra explicação.
E é a isto, que se pretende chamar governo. Durante quanto tempo o Brasil ainda manterá um representante junto a tal gente?
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“Legionário”, nº 211, 27/9/1936, pp. 1 e 2
O caso do Rádio Católico
As irradiações da “Excelsior” custaram aos católicos cem contos por mês
As três circulares da Cúria Metropolitana
Como é sabido, em princípios de agosto deste ano, rescindiu-se o contrato entre a Organização Record e a Cúria Metropolitana para que a Rádio Excelsior, filiada àquela organização, fosse uma difusora católica.
Noticiando oficialmente o fato, a Autoridade Arquidiocesana endereçou três circulares, respectivamente aos Senhores assinantes do Rádio Católico, aos Reverendíssimos Senhores Vigários, e ao povo em geral. Assinavam estas circulares o Reverendíssimo Senhor Cônego Manoel Corrêa de Macedo a primeira, e o Reverendíssimo Senhor Padre João Kullay, chanceler do Arcebispado, as duas outras.
A circular da Organização Record
Por sua parte, a Organização Record distribuiu aos assinantes do Rádio Católico, também ela, uma circular na qual, depois de – numa atitude semelhante à do fariseu do Evangelho47 – enumerar as benemerências de que é autora, graças à generosidade do povo paulista, termina pedindo não se lhe negue, para estas suas obras, o auxílio necessário.
É possível que esta circular não tenha produzido o efeito desejado. Por isso, volta a Organização sobre o assunto do Rádio Católico com outra circular, em que pretende esclarecer a verdade sobre o fato da rescisão do contrato entre ela e a Autoridade Arquidiocesana. Nesta publicação aparece, em clichê quase ilegível, o termo do contrato amistoso assinado pelos representantes da Cúria Metropolitana e da Organização Record. Com intuito de esclarecê-lo, cuidou a Organização de antepor-lhe umas observações elucidativas. São estas observações que pedem uns reparos.
A circular anônima
1. Logo na primeira frase, noticia a publicação que uma circular anônima espalhada na cidade dera uma versão falsa sobre o fato do rompimento da Organização com a Cúria Metropolitana. Até hoje, talvez somente os dignos diretores da Organização Record têm conhecimento desta circular anônima. Em todo caso, o que ninguém ignora e absolutamente não convinha fingir ignorar quem pretende esclarecer a verdade, é a existência das três publicações oficiais da Cúria, a que nos referimos acima. Todas elas muito corteses, limitavam-se, sem comentário algum, a noticiar a rescisão do contrato com a Organização Record, e as intenções da Autoridade Arquidiocesana de instituir novamente, sob bases mais sólidas e duradouras, o apostolado pelo Rádio. §
Convenhamos que age mal quem, para esclarecer a verdade, lança mão de dados de existência problemática e abandona outros que só contribuem para elucidá-la. Mas não é só.
2. Lamenta a circular não tenham querido os Ex.mos Srs. Bispos do Interior concorrer para a manutenção do Rádio Católico, quando, na opinião do Sr. Diretor da Organização Record, uma instituição destas, nos moldes em que a Rádio Excelsior pretendia realizar, deveria obter o apoio não só do Estado, como de todo o Brasil. Realmente, nas intenções do Sr. Dr. Paulo de Carvalho, a Rádio Excelsior deveria ser a única difusora católica de todo o Brasil. Sem entrarmos na análise dos motivos que determinavam este modo de pensar, é evidente que a Cúria Metropolitana não poderia obrigar fiéis de outros bispados a concorrer para o Rádio Católico, pois, segundo a constituição da Igreja, cada Bispo em seu território é autônomo. No entanto, silencia a circular o auxílio obtido em várias dioceses do Interior…
3. A circular falta à verdade quando diz que a carta endereçada em 2 de julho deste ano ao Ex.mo Sr. D. José ficou sem resposta, bem como não se tomaram as providências pedidas. A resposta veio do Araxá, aonde a Organização fora importunar a S. Ex.cia, em legítimo gozo de férias pelas muitas fadigas de seu primeiro ano de episcopado. A resposta veio e foi entregue em mãos à Organização Record, na pessoa do Sr. José Augusto de Siqueira, que foi por parte da Organização, quem sempre se entendeu com a Autoridade Arquidiocesana nas questões relativas ao Rádio Católico, e assim também o portador da carta do Sr. Dr. Paulo M. de Carvalho. §
Nessa carta, chamava S. Ex.cia o Sr. Bispo-Auxiliar a atenção do digno diretor da Organização Record, para várias inexatidões da sua, e terminava dando uma providência: o Sr. Dr. Paulo de Carvalho se entendesse pessoalmente com o Sr. Cônego Macedo sobre a redução das horas católicas. Infelizmente – por motivos que bem não percebemos – o Sr. Diretor da Organização Record jamais quis, sobre questões do Rádio Católico, entender-se pessoalmente com qualquer membro autorizado por parte da Cúria Metropolitana. Nem mesmo uma só vez se entrevistou com o Sr. Bispo-Auxiliar. Por isso também à providência, alvitrada aliás pelo mesmo Diretor da Organização Record, não se deu andamento.
A Record não cumpriu seus compromissos
4. Já não dizemos que a circular falta à verdade, senão que ludibria o leitor, quando afirma que “a organização Record tinha cumprido rigorosamente todos os seus compromissos”. Talvez o autor da circular calculou também com a ilegibilidade do clichê que estampa o termo do contrato. Quem o ler poderá verificar as muitas faltas ao compromisso por parte da Organização Record. Vamos relembrar algumas:
a) A Organização não inaugurou a estação em 24 de dezembro como reza o compromisso, mas sim em 31 de maio do ano seguinte: cinco meses depois.
b) A estação que montou durante todo o período das irradiações católicas, não deu o rendimento que se pode exigir de uma estação de 100.000 Ws.
c) Não deixou, como reza o contrato, o microfone à disposição da Cúria Metropolitana as vezes que fossem necessárias para irradiações de caráter religioso. Porquanto, sem o menor aviso à Autoridade Arquidiocesana, a Organização firmou dois contratos, um com o Jockey Club, outro com a Bolsa de Mercadorias, para irradiar as atividades destas duas instituições. O que impossibilitou à Cúria de utilizar-se do microfone da PRG 9 quando das solenidades de Corpus Christi. Nessa ocasião, é bom observar-se, a Organização até à última hora garantiu à Cúria Metropolitana que a irradiação das solenidades de Corpus Christi se faria pela Rádio Excelsior, de sorte que somente após a procissão Eucarística é que a Autoridade Arquidiocesana ficou ciente do logro com que a brindou a Organização Record.
d) Termina o contrato dizendo admitir uma ocorrência involuntária que retardasse o compromisso das cláusulas estipuladas. Nesse caso seria relevada qualquer falta nesse sentido.
Desta cláusula decorria a obrigação de uma solução amistosa, ouvidas as duas partes, em questões de irradiações católicas. Ora, a Organização Record não esteve por isso. Desde o primeiro dia de agosto último, sem aviso prévio, negou a ligação telefônica para o Studio B da Rádio Excelsior, impossibilitando arbitrariamente as irradiações das horas de Véspera e Completas. Fez mais. Acintosamente substituiu a hora católica de véspera pela dedicada ao cinema, e bem assim executou na PRG 9 um programa de canções blasfemas e sensuais, justamente na hora em que todo Brasil de joelhos aguardava a oração noturna. Não era possível continuar. A paciência se esgotara. Era questão de honra por parte da Cúria impedir irradiações católicas oficiais por essa estação.
Inteirado dessa resolução, o digno Presidente da Organização Record, em 7 de agosto mandava buscar os pertences da estação que se encontravam no Seminário Central do Ipiranga, onde se instalara o Studio B da Rádio Excelsior, e… mandava seus colaboradores continuarem a cobrança dos assinantes católicos da PRG 9.
5. Sobre as lamúrias, quanto à falta de meios pecuniários para a manutenção da Rádio Excelsior, a verdade é esta: por este ou por aquele meio, contribuíram os católicos de São Paulo com mais de duzentos contos (200,000$000). Em troca, receberam dois meses de irradiações mais ou menos regulares. Dizemos “mais ou menos”, porque eram frequentes as supressões e retardamentos das horas católicas.
É necessário prestar contas do movimento financeiro
Tudo o mais que se disser sobre este pacto não passa de mistificação. Competia à Organização Record, em vez de encobrir a verdade como pretende com sua circular, reconhecer este fato, e… prestar contas do movimento financeiro do Rádio Católico. Da Organização Record é esta prestação de contas que até hoje espera a Cúria Metropolitana.
Acima dissemos que o Sr. Presidente da Organização jamais se entrevistou com o Sr. Bispo-Auxiliar. Foi engano. Com ele se encontrou uma vez, não há muitos dias, e com intenções de resolver amigavelmente a questão do Rádio Católico. Antes, porém, cuidara de preparar e difundir a circular de que nos ocupamos! Quando consideramos estas coisas, ficamos pasmos ao ver como Nosso Senhor as permite!
Foi por isso, para que nestas ocasiões se não abalasse nossa fé, que Ele permitiu entre os seus discípulos um que o vendia por trinta dinheiros, e depois se assentava com Ele ao seu lado à mesa como o melhor dos amigos48.
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“Legionário”, nº 211, 27/9/1936, p. 2
A questão do Alcazar
Inspiraria hilaridade se não inspirasse vergonha, o que se passou na Câmara Federal, a propósito do voto de pesar pelo falecimento dos imortais heróis do Alcazar.
Um requerimento aprovado durante a siesta parlamentar…
Resumamos os fatos. O Deputado Adalberto Corrêa dirigiu à Mesa da Câmara um requerimento em que se pedia: a) que se inserisse na ata dos trabalhos do dia um voto de pesar pelo falecimento dos defensores do Alcazar de Toledo; b) que esse voto fosse comunicado à Junta Governativa de Burgos.
Tratando-se de um voto de pesar, numerosos Deputados subscreveram o requerimento sem tomar conhecimento, ainda que sumariamente, de seu conteúdo. Por esta razão, o Deputado Adalberto Corrêa obteve a assinatura de uma verdadeira coorte de parlamentares oposicionistas e situacionistas.
A Câmara, ainda embalada pela sonolência das horas mais quentes do dia, deferiu o requerimento sem saber o que aprovava. E assim, a proposta do deputado gaúcho ficou definitivamente aprovada.
Só então os deputados de tendências rubras perceberam o gato que acabava de passar pelos trâmites regimentais da Casa. Eles quiseram então cancelar o seu nome da lista dos signatários do requerimento e propor que, contra todos os dispositivos regimentais, a moção fosse novamente posta a votos.
Evidentemente, o Presidente Antônio Carlos, que é uma das figuras mais elegantes – política e fisicamente – do Brasil, negou-se a atender a esse desideratum subversivo, que não poderia ser tolerado nem sequer na Câmara das Ilhas Papuas. Foi pois, expedido um telegrama ao General Franco, em cumprimento do que fora aprovado sob a ação soporífera da siesta parlamentar, pela Câmara dos Deputados.
Deplorável displicência
É tristemente revelador de nossos hábitos parlamentares o que se passou. Porque obteve tantas assinaturas o requerimento do Sr. Adalberto Corrêa? Só pelo entusiasmo que suscitou? Não. Acreditamos que, para honra do Brasil, houvesse na Câmara um grande número de deputados favoráveis à moção Adalberto Corrêa. Mas entre os seus signatários havia muitos que, depois, se manifestaram contrários a ela. Por que a assinaram? Por descuido, por indiferença, por displicência, pelo desejo de atender ao pedido do colega que lhe solicitava a assinatura. E nada mais.
Posto a votos, o requerimento foi aprovado sem protestos. Por quê? Porque a maior parte dos deputados conversava no recinto, desatenta ao que se votava, ou bebericava mate gelado na sala do café. Outros não bebericavam e nem palestravam, mas faziam sua siesta. Poucos eram os que prestavam atenção. E, por isto, embora o Presidente Antônio Carlos lesse o requerimento antes de o submeter a votação, não se levantou qualquer protesto.
Depois disto, algum deputado antiextremista (daquela famosa categoria de antiextremismos que reserva todos os seus raios para fulminar a extrema-direita e todos os seus sorrisos para acariciar a extrema-esquerda) deu o alarme. E começaram a aparecer as declarações de voto.
E deploráveis justificativas
Destas, não hesitamos em dizê-lo, a mais deplorável foi a que apresentaram os deputados constitucionalistas por São Paulo, juntamente com os Srs. Raul Fernandes e Levi Cardoso e o famigerado Sr. Café Filho. Foi a mais deplorável, porque foi a menos coerente e a menos corajosa. E a tal ponto ela nos causou estranheza, que nutrimos a convicção de que ela foi assinada apenas por uma parte dos representantes situacionistas de São Paulo.
Diz a declaração de voto que os deputados paulistas votaram contra o requerimento do Sr. Adalberto Corrêa, porque, reconhecendo embora o heroísmo dos mortos do Alcazar, discordavam da comunicação que deveria ser enviada ao Governo de Burgos, o qual ainda não fora reconhecido pelo Governo brasileiro.
Encarando essa declaração apenas por um de seus aspectos – e haveria outros muitos a examinar –, perguntamos por que motivo os deputados constitucionalistas, tão experimentados parlamentares, não se lembraram de dirigir à mesa um requerimento pedindo que as duas partes do requerimento fossem votadas em separado. Na primeira parte – o voto de pesar – poderiam ter votado com o Sr. Adalberto Corrêa. Na segunda parte – comunicação ao Governo de Burgos – poderiam ter votado contra. Assim procedendo, não teriam chocado os sentimentos cristãos e anticomunistas do povo brasileiro. E, ao mesmo tempo, teriam respeitado todas as possíveis conveniências internacionais.
É crível que esse expediente parlamentar tão simples não tenha ocorrido a qualquer dos signatários da declaração de voto paulista?
Por que não foram eles mais corajosos? Por que não votaram abertamente contra a moção? Por que preferiram a abstenção? Quanto ao Sr. Café Filho, ele subscreveu a declaração paulista e endossou, portanto, todos os termos que ela continha. Ora, a declaração paulista afirma que os deputados que a assinaram se abstiveram intencionalmente de votar.
Mas, em outra declaração de voto, assinada juntamente com os Srs. Osório Borba e Adolpho Bello, o Sr. Café Filho disse o contrário. Afirmou que só não votou contra o requerimento, por não estar presente no recinto, por motivos alheios à sua vontade.
Quanto ao mais, a declaração dos Srs. Borba e Bello reproduz, na sua indigência de argumentos, a declaração paulista.
Mas, francamente, preferimo-la a esta. Ao menos, seus signatários declararam peremptoriamente que votariam contra o requerimento. Foram corajosos. Assumiram uma atitude e a proclamaram. Não procuraram velar com o tênue manto de vãos pretextos jurídicos, o seu ecletismo político e intelectual.
As demais declarações de voto foram insignificantes, exceto a do Sr. Mangabeira49, que concorda com o nosso ponto de vista.
Instabilidade das moções parlamentares
Finalmente, sobre este doloroso assunto, mais uma observação. Quando a Câmara aprovou um requerimento segundo o qual ela se deveria representar no Congresso de Belo Horizonte, os jornais nos informaram que a aprovação foi unânime.
Quer isto dizer que todos os deputados, sem exceção, aprovaram a homenagem que se ia prestar ao Rei Eucarístico. Semanas depois, surge uma oportunidade para que nossos legisladores manifestassem concretamente a seriedade da homenagem que prestaram à Eucaristia. Não se tratava mais de homenagear o Rei Eucarístico, mas os heróis que tombaram na defesa do Seu reinado social no mundo. E esses mesmos deputados se recusaram a deitar à beira da sepultura desses beneméritos da Igreja e da civilização, a braçada de flores das saudades comovidas do povo brasileiro.
E ainda há quem pense que pisamos em solo firme.
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“Legionário”, nº 211, 27/9/1936, pp. 1 e 3
7 dias em revista
À boca pequena
“A Reforma” órgão oficial dos integralistas de Juiz de Fora, filiado à cadeia jornalística sigma-jornais-reunidos, noticiou que “se reuniram no Rio trinta Bispos sob a presidência de Dom Leme, a fim de examinar a doutrina do sigma, concluindo-se dessa reunião ser o integralismo indispensável como reação ao comunismo e ao materialismo”.
Órgão católico aprovado pela Autoridade Eclesiástica e em constante contato com os elementos da maior responsabilidade na vida religiosa da Arquidiocese, não temos o menor conhecimento da notícia divulgada por “A Reforma”, à qual, aliás, só damos alguma importância pelo fato de circular, também à boca pequena, em certas rodas integralistas desta Capital.
* * *
O vapor “Belle Isle”, que provocou um tão desagradável incidente no Rio, tinha alguns passageiros de nome expressivo: Isaac Teper, Jacob Goldstein, Judel Szachnowicz, Ruth Haase, Salomon Drasmin, Juda Goldberg, Johanna Levy, Fritz Marx. Como se vê, são nomes israelitas.
Estamos a cem léguas de distância do antissemitismo bárbaro do Sr. Hitler.
Mas nem por isto podemos esquecer as medidas de prudência recomendadas por S. Tomás a respeito do povo de Israel.
Injuriosa acusação ao “Osservatore Romano”
O cronista da Câmara Estadual, que trabalha no “Estado”, teve uma referência ao “Osservatore Romano” que, diz ele, sendo embora “órgão do Vaticano, não perdoa os seus adversários políticos ou religiosos, chegando mesmo a cobri-los de ridículo”.
Desafiamos o referido cronista a nos apontar um só texto do órgão pontifício que justifique essa acusação.
Disparates
Os chefes da rebelião comunista no Rio Grande do Norte foram condenados a penas insignificantes, como sejam 5 anos para um, 3 anos para outro, um ano e seis meses para mais outro e, finalmente, 6 meses para o que pareceu menos culpado.
Quem mata por motivos pessoais, pelo Código deve sofrer 30 anos de prisão. Mas quem mata o próximo com o fito de destruir a Pátria, a família, a propriedade, sofre uma pena de 5 anos!
Quem pode haver, no Brasil inteiro, que seja capaz de justificar tamanho disparate?
* * *
Infelizmente, porém, parece que esse fato, e outros análogos, não lograram impressionar a inteligência moça e vigorosa do Sr. Deputado César Salgado. S. Ex.cia, há dias pronunciou um discurso em que brandia o espantalho de uma nova revolução paulista, caso fossem postos em funcionamento os tribunais especiais destinados a julgar os comunistas de 35. De nossa parte, lamentamos que o Sr. César Salgado tenha tomado tal atitude. E, ainda mais, informamos a S. Ex.cia que, paulistas que somos, estamos dispostos às mais duras extremidades, dentro do que permitem os princípios católicos, para apoiar uma organização judiciária que justicie energicamente os comunistas.
Bolchevistas intervêm na vida interna de Cuba
Em Cuba, os partidários do Governo (?) de Madrid dinamitaram um jornal que combatia o marxismo ibérico e preparavam 500 quilos de dinamite para fazer voar pelos ares outro órgão da reação antimarxista.
Assim, os partidários do bolchevismo não hesitam em intervir na vida interna de Cuba, para praticar em benefício de seu credo os maiores atos de banditismo.
E na Câmara brasileira, ainda há gente que tem escrúpulos em aprovar um simples e inofensivo voto de pesar pela morte dos heróis de Toledo.
“Lamentamos, estranhamos, discordamos”
Os jornais referiram o modo bárbaro por que foi condenado o ex-ministro Salazar Alonso50, criminoso por contiguidade, se assim se pode dizer.
Realmente, a própria acusação reconheceu que o único fato que se podia articular contra ele era sua amizade com Sotelo e Gil Robles. Nem um ato de solidariedade ou incitamento à Revolução pôde ser demonstrado como tendo sido levado a efeito pelo acusado. Um simples indício justificou sua condenação.
E no Brasil há gente que tem contemplações para com comunistas manifestamente criminosos perante a Pátria e a Humanidade.
* * *
Lamentamos que a “Revista das Revistas” do “O Estado de São Paulo”, tenha dado tamanha atenção à “Revista de Metafísica” que apareceu recentemente.
Principalmente, lamentamos as palavras que, à guisa de elogio, encerraram o comentário de “P.J.”: “À porta da metafísica, ninguém precisa deixar as sandálias ou persignar-se.”
Repetindo a frase famosa, “lamentamos, estranhamos, discordamos”.
* * *
A Câmara aprovou que se considere feriado o dia 18 de outubro, em que se comemorará o centenário de Benjamin Constant.
Não consta que qualquer dos deputados católicos tenha oposto obstáculos a tais comemorações.
Entre as celebrações que serão feitas em virtude do decreto que a Câmara aprovou, figurarão dissertações em todos os colégios do País.
O que se poderá dizer, em um colégio católico, que elogie o mais faccioso dos leaders positivistas do Brasil?
A morte edificante de um jovem congregado
Queremos terminar com uma nota espiritual.
Faleceu, no Rio de Janeiro, o congregado José de Araújo, que tinha apenas 20 anos de idade.
Antes de expirar, pediu que lhe colocassem no peito a fita azul, e disse, ao sacerdote que o assistia, que sentia que Nossa Senhora o chamava, e que Lhe oferecia a vida por todos os congregados do Brasil. Entoou depois o Magnificat e, pronunciada a última estrofe, entrou serenamente na eternidade.
Enquanto o mundo paganizado só se ocupa com o prazer, e foge da morte com horror, os verdadeiros filhos da Igreja ainda não perderam a noção de como se deve viver e como se deve morrer. Sóbrios e temperantes no prazer, são corajosos perante a morte, que é para eles a aurora de um novo dia.
Lembra-nos isto a famosa máxima carmelita: “A dor de viver sem prazer vale bem o prazer de morrer sem dor.”
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“Legionário”, nº 212, 4/10/1936, pp. 1 e 4
Ainda o Rádio Católico
A propósito de nosso artigo de domingo último sobre o Rádio Católico51, ao lado de inúmeras felicitações por parte de pessoas que viram nele uma explicação já absolutamente necessária, houve uma advertência de alguém que se escandalizou por termos invocado, no caso, uma página triste dos SS. Evangelhos. Certamente esta censura procede de quem não acompanhou de perto, melhor de dentro, o desenvolvimento das relações entre a Cúria Metropolitana e a Organização Record, por motivo das irradiações de caráter nitidamente católico. Se fossemos narrar todos os aborrecimentos que à Autoridade Arquidiocesana trouxe esta aproximação dos digníssimos dirigentes daquela organização rádio-emissora, jamais terminaríamos, tantos são eles!
Ainda bem que, para dissipar qualquer impressão menos lisonjeira por nós causada domingo último, em algum espírito mais delicado, a própria Organização Record vem em nosso auxílio. De ↓52 [fato], a atitude desta Organização, quinta-feira passada, [publicada] pelo “Diário de São Paulo”, confirma integralmente o juízo que fomos obrigados a emitir a seu respeito. Relatemos o fato para dissipar a confusão visada pela publicação da Rádio Record.
O episódio do Seminário do Ipiranga – o humorista Nhô Totico
Como é sabido, um conhecido humorista empresta suas aptidões à Rádio Record, para divertir os ouvintes desta estação: é o Sr. Vitol Fernandes, mais conhecido por Nhô Totico. Congregado Mariano – como ele se diz – não admira que dele se lembrasse o prefeito de disciplina do Seminário do Ipiranga, pois que já o conhecia pessoalmente, para pedir-lhe o obséquio de uma sessão dedicada aos alunos daquele Instituto Eclesiástico. O Sr. Vitol Fernandes, prontificou-se, sentindo-se, como disse, lisonjeado com o convite. E no dia aprazado, em que o Seminário festejava o patrono de uma de suas recreações, apresentou-se acompanhado de dois amigos. Antes, porém, devido ao rompimento entre a Organização Record e a Cúria Metropolitana, e aos muitos esforços dessa Sociedade de Rádio para esconder ao público o fato daquele rompimento, com o fim de evitar qualquer equívoco que favorecesse uma interpretação destinada a gerar confusão entre os católicos acerca das intenções da Autoridade Arquidiocesana sobre a reorganização do apostolado do Rádio, assegurou o mencionado humorista aos dirigentes do Seminário, que a este estabelecimento absolutamente não viria como representante da Rádio Record, com a qual não tem ligações pessoais, empresta[ndo]-lhes apenas, em determinadas horas, o concurso de suas aptidões.
Aos diretores do Seminário, acostumados a dar à palavra humana o apreço que sempre deveria merecer, esta declaração tranquilizou completamente. Qual não foi, pois, o espanto destes Padres quando, explicando um clichê colocado em uma das páginas do “Diário de São Paulo” de 1º deste mês, leram o seguinte:
“No Seminário Central do Ipiranga realizou-se a festa anual dos alunos do estabelecimento. No programa das festividades, os novos seminaristas incluíram números a cargo de ‘Nhô Totico’…
“A ‘Nhô Totico’ e ao representante da Organização Record foi oferecida, depois, uma mesa de doces e refrescos, tendo um dos dirigentes do Seminário prometido um donativo para o Natal de 1936, das Crianças Asiladas da Rádio Record…”
Diga-nos agora, nosso censor, em que difere esta atitude daquela do duodécimo discípulo quando à mesa perguntava ao Salvador: “Acaso sou eu, Mestre?”53 Ou quando no jardim o entregava aos inimigos com o ósculo do amor54.
Fatos destes farão frutificar, pelo sofrimento, o Rádio Católico
No entanto, fatos como este se deram muitos para amargurarem – e com isto esperamos em Deus, fazerem frutificar – a primeira iniciativa, em São Paulo, de apostolado pelo Rádio. Se os não relatamos um por um, é por que nos pesa recordá-los. Entretanto, se as circunstâncias o pedirem, não poderemos fugir a este ingrato dever.
Por ora, estamos autorizados a declarar, para o bem da verdade, que o Seminário absolutamente não teve intenções de prestar homenagem alguma a nenhum representante da Organização Record, pois ignorava completamente que alguém, nessa qualidade, tivesse comparecido às suas festividades; como também não prometeu donativo nenhum para o Natal dos asilados da Rádio Record, pois conhece os órgãos autorizados por quem encaminhar as esmolas.
Assim, também temos autoridade para assegurar novamente que a Cúria Metropolitana não mantém mais, nem pretende manter para o futuro, qualquer entendimento com a Organização Record, para irradiação de horas católicas. Tudo que se fizer nas estações desta organização, neste sentido, é de iniciativa inteiramente particular sem nenhum caráter oficial. Tudo que se disser em contrário é destituído de fundamento.
E os nossos leitores têm às mãos os meios para fazerem dos componentes da Organização Record o juízo conveniente, e para darem às suas palavras o crédito que merecem.
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“Legionário”, nº 212, 4/10/1936, p. 2
Casamento, luxo burguês
Nunca nos fartaremos de insistir sobre a frivolidade das tentativas oficiais de recristianização a que se entregam alguns tímidos políticos, no Brasil.
Pensa-se que o Brasil é um céu aberto para a Igreja Católica
Nossas leis são muito pouco conhecidas entre nós, católicos ou não; todos os que se dedicam a estudos jurídicos e sociais sentem, em geral, um interesse muito maior pelo que se passa na França, na Alemanha, na Inglaterra ou na Itália, do que pelo que ocorre no Brasil. Por este motivo, a grande maioria das conferências ou dos trabalhos que no Brasil se fazem sobre a questão social, não passam de uma longa exposição de princípios. Dados estatísticos, informações concretas sobre nosso ambiente, conhecimento exato e científico do terreno em que pisamos, muito raros são os que realmente os possuem. Ninguém sabe se nossas leis são cristãs ou anticristãs, pelo simples fato de que muito pouca gente as conhece.
É por esta razão que muita gente pensa que o Brasil é um céu aberto em que a Igreja atingiu o cúmulo da prosperidade, simplesmente porque ninguém a persegue, e porque nossos dirigentes são atenciosos para com nossas Autoridades Eclesiásticas.
Lei que estimula a união sem casamento civil nem religioso
Certamente, a liberdade da Igreja é um bem precioso. Certamente, é também muito de se louvar que o Poder Temporal trate com a devida reverência o Poder Espiritual. Mas, chegados a essa situação, podemos descansar? Qual é a finalidade da Igreja? Não consiste ela em desenvolver extensiva e intensamente o Reinado social de Nosso Senhor Jesus Cristo? É certo que o Estado não opõe obstáculos a esse desenvolvimento?
Muita gente pensa que sim. E nós afirmamos que não. Para isto, basta conhecer um pouco de nossa legislação social. Um exemplo entre mil: há uma lei que estabelece determinadas vantagens para as famílias dos operários falecidos em serviço. Essa lei contém uma cláusula expressa, determinando que, para o efeito de perceber essas vantagens, a companheira e os filhos ilegítimos do operário sejam equiparados à esposa e aos filhos legítimos.
Ora, o efeito deste artigo consiste precisamente em estimular os operários a que não se casem. Realmente, é imenso o número de famílias que, na classe operária, se constituem à margem da lei civil e da lei religiosa. Gente de pouca instrução e de deficiente formação religiosa, nenhuma vantagem pode perceber na realização do casamento civil e até mesmo do casamento religioso.
E por esta razão, não se casa. As consequências disto são óbvias. As famílias operárias são, frequentemente, de uma instabilidade assustadora. Não passam, muitas vezes, de fruto de fugazes aventuras. Esposas sem maridos, homens bígamos, filhos sem pais, são coisa que se encontra com frequência muito maior do que se poderia supor.
Muito operário há, pois, para o qual a família regularmente constituída perante o Estado parece um luxo burguês. Compreende-se como a semeadura do comunismo é fácil e remuneradora num terreno assim predisposto.
Um empenho de abnegadas senhoras que deveria ser o das autoridades civis
Seria, pois, absolutamente natural que a lei, por todos os meios ao seu alcance, procurasse incitar as classes mais modestas a se casarem com regularidade.
A tal ponto é óbvia esta verdade que um grupo de abnegadas Senhoras paulistas, secundadas poderosamente pela Cúria Metropolitana, se dedicam noite e dia ao ingrato afazer de regularizar, a expensas próprias, as famílias proletárias constituídas de fato e não de jure55.
A necessidade que tais senhoras, que não são estadistas, perceberam, parece que não a perceberam nossas autoridades.
Daí a lei absurda que mencionamos, que equiparando, sob o ponto de vista das vantagens, as famílias legítimas às ilegítimas, estimula a indiferença das massas em relação ao casamento.
Se cada operário soubesse que só poderia obter tais facilidades para os seus mediante um casamento regular, seria certamente maior o seu empenho em casar-se. Mas, ao que parece, ninguém cogita disto.
Tudo periga, quando periga a família
Esta lei é um exemplo como muitos outros. Em um país assim, é possível considerar-se que a Igreja nada em um mar de rosas?
O país em que o casamento corre o risco de parecer um luxo para uso meramente burguês, do qual o operário pode prescindir, não é um país em que periga a instituição da Família?
E o que é que não periga, quando periga a Família?
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“Legionário”, nº 212, 4/10/1936, pp. 1 e 2
7 dias em revista
O “Correio de São Paulo” e a “Seção Livre” do “O Estado de São Paulo”, transcreveram tópicos de nossa última nota, referentes à rescisão do contrato da Cúria Metropolitana com a Rádio Excelsior. As referidas transcrições não foram promovidas pelo “Legionário” ou pela Cúria Metropolitana. Era nossa intenção esclarecer o público católico sem, contudo, promover campanhas ou polêmicas contra quem quer que seja. Mantemos, no entanto, integralmente, as afirmações contidas em nosso último artigo56, cuja inteira responsabilidade assumimos e ao qual não se fez, até o momento, a menor contestação razoável.
Pai desnaturado mata o seu filho de 3 anos
Pela primeira vez, desde que o mundo se governa pelos princípios da civilização de Jesus Cristo, um pai mata seu filho por motivos de saúde.
Trata-se do Sr. Sullivan, de Perth, na Austrália, que levou a passear seu filho de três anos a quem prostrou inesperadamente com um tiro. O próprio infanticida conduziu depois o pequeno cadáver à polícia e declarou que a razão do crime que praticara era que seu menino sofria de moléstia incurável.
Não era lícito a esse pai desnaturado matar o seu filho, qualquer que fosse o pretexto por ele invocado. Mas façamos abstração disto e consideremos a questão sob outro aspecto. O Sr. Sullivan é chauffeur57, portanto pessoa relativamente desprovida de recursos. Será tão seguro que autorize o infanticídio o diagnóstico do médico de 2ª classe, a quem provavelmente o Sr. Sullivan consultou? Será realmente incurável essa moléstia? Com os progressos que a medicina vem fazendo, não é bem possível que, daqui a alguns anos, o menino pudesse ser curado?
Em nada disto refletiu o Sr. Sullivan.
Triste sintoma de uma civilização descristianizada
O Sr. Sullivan, em si, não interessa. Sua atitude vale apenas como sintoma de uma civilização.
A tal ponto o mundo descristianizado está perdendo o senso da caridade, que diversos escritores europeus já sustentam a inutilidade e, mais do que isto, a nocividade dos estabelecimentos de assistência à infância doente.
Se a criança doente é um ser inferior, por que razão há de o Estado sobrecarregar-se com sua educação? Não seria melhor deixar morrer esses galhos quase secos, para que a seiva afluísse mais abundante para os galhos sãos?
Se algum dia esse pensamento conquistar o mundo, os casos como o do Sr. Sullivan serão numerosíssimos.
Nesse dia, a Igreja certamente já terá voltado para as catacumbas. E, no Brasil, as pessoas do povo matarão seus filhos, não mais a conselho médico, mas por indicação de espíritas e macumbeiros…
A leviandade moderna invade até os últimos redutos da ciência
Realmente, muitas coisas estão sendo mudadas. Não espanta, portanto, que venhamos a ver algum dia os macumbeiros como senhores da vida e da morte das crianças.
A tal ponto o mundo se está transformando que até os últimos redutos da ciência e da inteligência estão sendo conquistados pelo espírito moderno, mais amigo de coisas leves e picarescas, do que de demonstrações doutas e substanciosas.
A seção de “Vida Forense” do “O Estado de São Paulo”, geralmente redigida com tanto brilho, é um exemplo disto. § No último domingo, permitiu-se uma crônica que não poderia ingressar em qualquer casa de família.
Católico por fora, pagão por dentro
Enquanto a medula da sociedade se vai descristianizando, os rótulos, por uma contradição surpreendente, vão adquirindo aspecto cristão. É que a burguesia se serve do catolicismo como o toureiro se serve do pano vermelho para desviar o touro. Insígnias católicas por fora, para impressionar as massas. Por dentro, sentimentos pagãos.
Promulgada a Constituição e regulamentado o ensino religioso, nem mais um passo foi dado pelos nossos políticos, no sentido de recristianizar o Brasil.
Mas em quase todos os rótulos do regime novo há manifestações religiosas capazes de dar arrepio a Benjamin Constant.
É um exemplo disto o novo selo que será brevemente posto em circulação e que será comemorativo do Congresso Eucarístico de Belo Horizonte.
No entanto, é preciso que certa gente compreenda que não é por meio de selos e quejandas coisas, que se recristianiza um povo.
Deus e os anjos tomados como graciosas ficções
Enquanto os selos oficiais trazem a homenagem do Governo à Sagrada Eucaristia, eis como o jornal situacionista e governamental de São Paulo se refere às coisas da religião:
“O Deus amoroso a quem essa música é consagrada (trata-se da Missa de Coroação, de Mozart) é um bondoso e velho Senhor de longas barbas brancas. E o seu céu está povoado por inúmeros e pequenos anjos de olhos claros e de elegantes asas, que apesar dos deveres celestiais podem seguramente dar impulso e alegre ‘aletria’.”
Esta linguagem não convém a assuntos relacionados com o Deus três vezes Santo, diante [do qual] ↓58 até os anjos velam as faces puríssimas, cheios de temor.
Dir-se-ia que o autor das linhas que citamos considera Deus e seus anjos como graciosas ficções, comparáveis ao Chapeuzinho Vermelho e às fadas da Idade Média.
Mais católicos que o Papa…
Há em certos círculos uns tantos cavalheiros que nem sequer são católicos e que, no entanto, querem ser mais católicos do que o Papa.
Mostrou-se dessa marca o Sr. Adalberto Corrêa, quando discordou, na tribuna da Câmara, do gesto impregnado de “excessiva bondade”, com que o Sr. Cardeal-Arcebispo do Rio de Janeiro autorizou a celebração de uma Missa segundo as intenções do Sr. Pedro Ernesto.
Tudo que é excessivo, é mau. Se a bondade de S. E. o Cardeal fosse excessiva, não seria uma qualidade, mas um defeito.
O Sr. Cardeal não poderia proibir, porém, que fosse rezada uma Missa segundo as intenções de uma pessoa que terá todos os crimes políticos que se queira – nós estamos disto certos –, mas que ainda não foi julgada criminosa pelos nossos tribunais de cuja imparcialidade não temos motivos para duvidar. Não é lícito negar-se auxílio espiritual a alguém pelo simples fato de estar sendo acusado de crimes políticos, ainda não confirmados pela Justiça.
Excessos de brandura e tolerância
O Sr. Adalberto Americano pronunciou um discurso na Câmara dos Deputados, profligando59 as supostas crueldades praticadas pela direção de nossos presídios políticos, contra os implicados nos acontecimentos de novembro próximo passado. Podemos afiançar que são inteiramente errôneas as informações dadas à Câmara por S. Ex.cia. Realmente há excessos, mas esses excessos são de brandura e tolerância. De tal vulto é essa tolerância que confina com a cegueira e a imprudência.
Ficaria melhor a S. Ex.cia condoer-se com a sorte das vítimas brasileiras e espanholas do comunismo do que com as dos criminosos detidos pela polícia.
Ou o PRP já não é um partido conservador?
* * *
Pouco sabemos da vida e das ideias do General João Gomes, mas a imparcialidade nos força a elogiar mais uma vez nosso Ministro da Guerra.
Nestes tempos de indisciplina e de anarquia, a nota com que S. Ex.cia pulverizou os boatos de instauração de uma ditadura militar, constituiu uma página que honra o Exército e a História do Brasil.
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“Legionário”, nº 213, 11/10/1936, p. 2
Cobras, cordeiros e governadores
Reputamos inteiramente errônea a tática de que se está servindo a liberal-democracia, para se defender contra as investidas do integralismo.
Solidariedade com a justiça em relação a quem deva ser punido
Por mais de uma vez, temos feito nossas reservas categóricas ao integralismo. Ninguém, portanto, nos pode suspeitar de correligionários dos camisas verdes.
Católicos que somos, estamos ao lado das autoridades constituídas, sempre que, à mão armada, se procurar expulsá-las do Poder. Declaramo-nos, portanto, plenamente solidários com as medidas repressivas que os tribunais vierem a aplicar contra os integralistas dos quais realmente se prove que conspiravam contra a ordem pública. Será, pois, inútil que alguém procure vislumbrar, no que se segue, o mais leve desejo de subtrair à ação da justiça aqueles que, realmente, merecerem as penas determinadas pela lei. Não fazemos obra de acusação nem de defesa. Somos meros críticos e críticos imparciais. Mas se, em vez de críticos imparciais, fôssemos adversários políticos do integralismo, aconselharíamos aos governadores que ora o perseguem, uma tática diametralmente diferente da que eles vêm adotando.
Acusações e promessas do integralismo
Qual a grande acusação formulada pelos integralistas contra o liberalismo? Que ele dissolve a família, corrompe a ideia de Pátria, solapa as instituições fundamentais de nossa civilização e, com isto, abre as portas ao comunismo. Qual a constante censura com que eles indispõem as massas contra os detentores do poder? Que estes são agentes da judeu-maçonaria e que, portanto, não têm nem vontade, nem forças para combater energicamente o comunismo. Qual a invariável promessa com que atraem para as fileiras verdes os seus partidários, cada vez mais numerosos? Que o integralismo reprimirá com pulso de ferro as intentonas comunistas e, revigorando os alicerces cambaleantes da civilização, tornará refratário o terreno à semeadura de ideias subversivas.
A essas acusações e a essas promessas, cumpre dar uma resposta. E grande número de governadores de Estado têm respondido a uma como às outras, com um argumento muito débil aos olhos da opinião pública: a perseguição. Fechar a boca dos adversários não é provar que eles estão errados. Há uma dialética mais eficiente do que esta. E raramente se tem feito uso dela.
Para extirpar o integralismo é preciso extinguir o comunismo
É preciso, para que se extirpe o integralismo, extirpar o comunismo. A opinião pública acompanha com atenção constante e apaixonada o que as autoridades fazem, ou deixam de fazer, em prol da causa ameaçada da civilização. E francamente, em mais de um Estado, o que as autoridades fazem é imensamente menos do que o que elas deixam de fazer. De todas as partes nos chegam notícias desagradáveis. Ora nos informam que no Estado “A” os presos políticos podem se comunicar livremente, e sem a menor fiscalização, com seus visitantes. Ora nos afirmam – e demonstram, o que é mais grave – que no Estado “B” os comunistas conseguem facilmente a liberdade condicional. Ora, finalmente, verificamos que a polícia do Estado “P” dormita tranquilamente, enquanto o comunismo reorganiza suas hostes.
O que nós vemos, toda a opinião pública também o vê. E diante de uma situação tal, como evitar que a prédica do integralismo obtenha uma estranha repercussão?
Que a democracia mate pela raiz o comunismo. Que ela desenvolva contra a gangrena vermelha, com braço mussolínico, uma meticulosa campanha de extermínio. Que ela prejudique a ação dos agitadores não só com medidas repressivas, mas com sábias e eficientes medidas de prevenção social. Que, sobretudo, se dê mão forte à Igreja para que esta dissemine em todos os setores sociais aquela irradiação religiosa da qual foge o comunismo, como a toupeira foge da luz. E o integralismo se verá desfalcado das melhores armas com que luta atualmente. Leão sem garras, poderá urrar, mas já não poderá ferir. E, aos poucos, seus urros diminuirão e se sumirão dentro do ambiente geral de felicidade e despreocupação.
No dia em que se tiver exterminado o comunismo, terá sido golpeado de morte o integralismo. Se se quer arruinar os vendedores de soro, matem-se as cobras.
Quem denunciará o erro e evitará o suicídio da democracia?
Infelizmente, porém, não é esta matança de cobras que assistimos. Enquanto as cobras são calidamente tratadas nos serpentários, dissolvem-se os grupos dos que queriam matá-las por processos bons ou maus, pouco importa.
E principalmente, olha-se com indiferença aqueles que, em lugar de matar as cobras, têm o dom infinitamente superior de, quando se trata de cobras políticas, transformá-las muitas vezes, pela ação contagiosa do amor, em alvos e mansos cordeiros: a Igreja Católica.
É acertada esta tática?
Quem ousará afirmá-lo? Quem não vê que entre uma democracia inerte perante Moscou e um extremismo da direita, até os amigos da primeira preferirão o segundo?
Não há, nas fileiras democráticas, quem denuncie o erro e evite o suicídio?
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“Legionário”, nº 213, 11/10/1936, pp. 1 e 3
7 dias em revista
Displicência do governo britânico… só em certos casos
Os atuais dirigentes da Inglaterra são de uma incoerência perfeitamente liberal. Fecham os olhos às atrocidades cometidas na Espanha e procuram paralisar as iniciativas ítalo-germânicas favoráveis aos revolucionários. Fecham os olhos à propaganda comunista que se desenvolve na própria Inglaterra com toda a liberdade, às barbas da polícia. Fecham os olhos aos verdadeiros móveis do autor de um recente atentado contra a vida do Rei, dizendo que ele quis tão-somente amedrontar o governo com seu gesto. Dir-se-ia que é um governo de displicentes.
De displicentes, sim. Mas só em certos casos. Recentemente, um desconhecido traçou a giz um desenho de grandes dimensões no Masons Hall, edifício suntuoso em que funcionam 15 lojas maçônicas, e cuja construção custou um milhão de libras. Foi só um inocente desenho a giz. Mas a Scotland Yard procura em todo o Império o autor de tal desrespeito à Maçonaria, enquanto os telegramas do mundo inteiro noticiam o fato como se se tratasse de assunto de interesse mundial.
Para isto, não há displicência.
Certos deveres morais não podem transformar-se em obrigações jurídicas
A Bolívia e o Paraguai estão dominados por elementos esquerdistas do naipe dos que, em 1935, assaltaram o Brasil. Tais elementos, porém, procuram despistar o público, baixando proclamações contra o comunismo, enquanto elaboram uma legislação absolutamente vermelha.
Recente telegrama do Paraguai informa que o Presidente Franco, baixou simultaneamente dois decretos, um que obriga todos os cidadãos a trabalhar e outro que proíbe a propaganda comunista.
É certo que o trabalho é um dever moral que incumbe a todos, indistintamente, mas há certos deveres morais que não podem ser transformados em obrigação jurídica sem que, implicitamente, descambemos para o socialismo avançado. Todo mundo, por exemplo, deve dar esmolas. Mas, no dia em que a lei obrigasse todo o mundo a fazê-lo, estaríamos praticamente em regime comunista.
Aqui já tivemos coisa análoga a isto.
Que o digam os que ainda se lembram do Cel. Rabello.
Qualquer concessão à esquerda é uma derrota
Aliás, são muitos os artifícios de que se serve o comunismo, para iludir a opinião pública. Um deles é o “imposto único” do georgismo. É uma medida tributária francamente comunista. E, no entanto, ela conseguiu iludir a perspicácia do Sr. Lellis Vieira que, no “Correio Paulistano”, o aconselha como meio seguro de se extirpar o perigo comunista.
Uma medida meramente econômica nunca extinguiria o comunismo, cujas causas são sobretudo morais. É Leão XIII quem o afirma.
Qualquer concessão às esquerdas é uma derrota que prepara novos reveses: abyssus abyssum invocat60.
Aliás, estranhamos também que S. S.a mencione como autores comunistas, S. Thomas Morus – o grande mártir inglês, recentemente canonizado – e, ao que parece, até S. João Crisóstomo e S. Ambrósio.
Achará S. S.a que pode haver um santo comunista e que, sem embargo disto, a Igreja possa ser anticomunista? Esta incoerência estaria bem para protestantes. Para católicos, nunca.
Protestantismo e contradição: coisas inseparáveis
Realmente, protestantismo e contradição são coisas inseparáveis.
Na semana passada, um bispo anglicano baixou uma pastoral em que condenava a Revolução espanhola e manifestava sua simpatia pelo governo de Madrid, cujos propósitos julga compatíveis com a doutrina cristã.
Nesta semana, um telegrama do Canadá noticiou que a Igreja Unificada protestante “aprovou o princípio de esterilização dos indivíduos cuja prole possa herdar suas taras”.
Enquanto a Igreja Católica luta pela civilização, as confissões protestantes recuam, transigem, sofismam.
Confere.
Ingenuidade ou maquiavelismo?
O Sr. Café Filho apresentou um longo projeto sobre a proteção às famílias numerosas. É que S. Ex.cia quer defender o instituto da família, contra os perigos que o ameaçam.
Será talvez por isto que S. Ex.cia dirigiu ao Governo um pedido de informações, em que censura as justíssimas medidas de vigilância tomadas a respeito dos criminosos políticos que, em 1935, de armas na mão, atentaram contra a família e a propriedade?
Incoerência? Ingenuidade? Ou maquiavelismo?
* * *
Em lugar de se preocupar com criminosos que aguardam a ação da justiça, não seria mais lógico que o Sr. Café Filho se preocupasse com a triste sorte da cidadã brasileira que foi barbaramente fuzilada pelos marxistas da Espanha?
Por que razão não dirigiu S. Ex.cia um pedido de informação ao governo, sobre as providências dadas pelo ministro do Exterior a este respeito?
O Uruguai, pequena potência secundária da América Latina, rompeu relações com a Espanha por idêntico motivo.
E o Brasil? Romperá também com a Espanha? Ou condecorará com a Ordem do Cruzeiro o Sr. Azaña, como já condecorou o Sr. Cardenas, Presidente do México?
* * *
Convém notar, a este propósito, que a Câmara está cheia de católicos. Nenhum deles, porém, se interessou em saber do governo o que fez para vingar o ultraje sofrido pelo Brasil, na Espanha.
Mas o mundo é assim. Nenhum católico (?) apresentou um projeto favorável às famílias numerosas. Foi preciso que o Sr. Café Filho pensasse nisso, para que o assunto viesse a ser ventilado.
Também confere.
Sensacionalismos da má imprensa
Mediante proposta do Sr. Wladimir Piza, o Rotary Club cogitou da repressão ao sensacionalismo da imprensa.
Para que até o Rotary se preocupe em reprimir o sensacionalismo da imprensa, é porque o mal atingiu um aspecto agudo e os frutos funestos da má imprensa já estão preocupando até os espíritos menos afeitos a exagerar a gravidade do assunto.
Todos os jornais andam cheios de palavras de simpatia para com a civilização cristã. E, enquanto as notas de fundo ressoam com tais declarações, a seção de crimes conspira contra a pureza e integridade da família.
De propósitos assim tão sérios, o que se pode esperar?
E ainda há gente que não compreende a necessidade da imprensa católica!
Trave e argueiro
O candidato à presidência dos Estados Unidos pelo Partido Comunista foi preso por praticar a vagabundagem.
E, no entanto, queria ser representante dos trabalhadores. Vivendo do trabalho alheio, afetava advogar a causa dos que vivem do suor do próprio rosto. Espichado indolentemente nos bancos dos logradouros públicos, deblaterava contra o excesso de horas de trabalho; e, passando junto aos clubs burgueses, maldizia os que ali consumiam horas a fio no ócio, enquanto os operários trabalhavam!
É o caso da trave e do argueiro61…
O caso da Rádio Católica
O “Legionário”, no seu número de 27 de setembro último, procurou esclarecer o público acerca do caso da Rádio Católica62. Salientamos hoje que todas as nossas afirmações então emitidas estão de pé, apesar de duas entrevistas concedidas pelo Sr. Marcellino de Carvalho aos “Diários Associados”. Pois limita-se este diretor da Organização Record a divulgar a circular da Rádio Excelsior, prenhe de inverdades – como demonstramos no nosso artigo de domingo atrasado63 –, e a afirmar que as irradiações católicas duraram nove meses. Foi talvez um lapso de memória. Pois todo o mundo sabe que a nova transmissora da Rádio Excelsior pela qual, segundo o contrato, se deveriam fazer as irradiações católicas, só se inaugurou em 31 de maio deste ano, tendo o contrato com os católicos sido rompido em 4 de agosto. Ora, de 31 de maio a 4 de agosto contam-se dois meses e 4 dias, e não nove meses.
* * *
Reconhece, entretanto, o Sr. Marcellino de Carvalho que os católicos contribuíram com quase duzentos contos. Esta asserção vaga esconde talvez sua impressão de que não deve prestar contas. Fiquem, porém, os católicos cientes de que não falharam com sua cooperação, senão que a prodigalizaram largamente generosa. Pois, realmente concorreram com duzentos contos por dois meses de irradiações mais ou menos regulares.
* * *
A entrevista sobre o assunto, concedida por Mons. Ernesto de Paula aos “Diários Associados”, relatada com muita exatidão pelo “Diário da Noite”, de 6 do corrente, não foi bem fielmente reproduzida pelo “Diário de São Paulo” do dia seguinte. Estamos autorizados a afirmar que a última frase que aí se atribui ao Vigário-Geral da Arquidiocese não exprime seu pensamento. Foi um muito explicável engano, involuntariamente cometido pelo repórter, ao querer variar a expressão de seu colega do “Diário da Noite”.
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“Legionário”, nº 214, 18/10/1936, p. 2
Reis, presidentes e ditadores
Um dos fenômenos curiosos que nossa época vai assistir – e prometem ser tantos – é, sem dúvida, a transformação da fisionomia dos chefes da Estado.
O gosto moderno exige imponência e autoritarismo
Os reis da velha geração, Alfonso XIII, Jorge V, Victor Manuel, Alberto I, etc., tinham uma fisionomia moral uniforme: elegância meticulosa, grandes uniformes constelados de condecorações, um sorriso invariável nos lábios e uma atitude convencionalmente discreta, através da qual não filtrava nem um único pensamento, para gáudio dos primeiros-ministros. Em uma época em que os monarcas eram bonecos de palha, cada vez mais imobilizados pelas restrições constitucionais, parece que o ofício de figura de proa deixou um selo indelével na fisionomia dos que o praticavam. E os reis europeus davam geralmente a dolorosa impressão de bonecos bem nutridos e bem vestidos, capazes de servir de elegantes marionettes aos ministérios que a opinião pública lhes impunha.
O aparecimento das ditaduras europeias transformou, porém, o gosto estético dos nossos contemporâneos no que se refere a chefes de Estado. Ninguém mais, em nossos dias, teria admiração pela rústica simplicidade de um Pedro II, passeando tranquilamente na Quinta da Boa Vista com uma calça de brim e um fraque usado. As multidões, hoje em dia, exigem cenários imponentes, chefes autoritários, governantes aguerridos, capazes de lhes inspirar confiança pela ousadia dos seus gestos e pelo feitio despótico de seu temperamento.
Se Mussolini despisse as vistosas fardas que enverga, para se trajar como um pequeno burguês, se Hitler abandonasse sua indumentária semimilitar e o decoro imponente das manifestações nazistas, para se trajar com a deselegância plebeia do Sr. Léon Blum, estaria comprometido seu prestígio. A bonomia, a simplicidade, a docilidade e, principalmente, a nulidade são atributos que ninguém mais louva em um chefe de Estado.
Eduardo VIII e seu pendor pela Alemanha nazista
Por esta razão, os monarcas da nova geração se têm assinalado por atitudes profundamente diferentes das de seus pais. Eduardo VIII tem simplificado sensivelmente o cerimonial da corte britânica que Jorge V mantinha intacto, ou quase intacto. Cremos, porém, que se trate aí de uma medida de mera economia. Na realidade, o soberano britânico já se tem manifestado muito mais cioso de suas prerrogativas políticas, do que seu velho pai. Todos os seus gestos indicam seu propósito de participar ativamente dos negócios públicos de seu Império e de ser, na realidade, o chefe da Nação, e não o boneco que esta aciona como quer. Em matéria de política internacional, ninguém ignora sua inclinação pela Alemanha. Nem todos os políticos ingleses são favoráveis a essa orientação do soberano. Ele, porém, tem feito prevalecer mais de uma vez seu ponto de vista e, quando lhe parece difícil guiar eficientemente seus embaixadores, toma ele próprio o avião e vai negociar diretamente com as potências interessadas. Foi o que fez com as potências balcânicas, enquanto todo o mundo o supunha entregue a uma inocente pescaria. E depois repetiu o mesmo em Viena, assegurando embora, aos repórteres, que sua presença na capital austríaca era devida tão-somente a um tratamento de ouvidos que queria fazer com um famoso especialista residente na cidade imperial.
Leopoldo III: firmeza e prudência política
Outro soberano que promete seguir os trilhos dos modernos ditadores é Leopoldo III. Seu recente e sensacional discurso sobre a situação política da Bélgica perante uma possível conflagração europeia, foi uma peça modelar de firmeza e prudência política. Nada, no documento, indicava um Rei acionado pelos partidos políticos. Seu discurso foi uma definição pessoal de suas atitudes e de suas condições. A Bélgica teria de se conformar com elas, porque o Rei assim o queria. Alberto I foi um homem de grande fibra moral, mas os preconceitos liberais nunca lhe permitiram fazer uso de linguagem tão autoritária. O conde de Paris64 parece ter o vivo desejo de intervir diretamente na política francesa. Ele não parece disposto a seguir a linha de conduta sóbria e discreta de seu pai, o Duque de Guise65. Pelo contrário, parece que ele quer expor pessoalmente, intervir pessoalmente, dirigir pessoalmente, e, se possível, reinar em nome próprio e nunca em nome de parlamentos.
Monarcas ditadores, presidentes democráticos
Ainda hoje, o “Legionário” publica uma fotografia do herdeiro carlista ao trono espanhol66. Seu porte não lembra em nada o débil Alfonso XIII. Pelo contrário, parece um moço disposto a lutar com a mesma energia com que Isabel, a Católica, consolidou seu trono.
Otto de Habsburg também tem mostrado seu pulso forte com mais vivacidade até, do que seus colegas.
Enquanto os monarcas evoluem, assim, para o tipo ditatorial com o qual tomarão uma fisionomia moral muito parecida com a de Luís XIV, parece que os presidentes da República, na Europa, tomam ares cada vez mais democráticos, para não dizer coisa pior.
O Sr. Lebrun67, sob este ponto de vista, ainda é tolerável. Mas o Presidente do Conselho de Ministros da França, Sr. Blum, é de uma deselegância, de um desalinhavamento, de uma trivialidade física digna de enrubescer as águas do Sena, em que se espelharam Luís XIV e a grande Mademoiselle68. Aliás, não é só o Sr. Blum que está nestas condições. Quase todos os chefes de partido – os da esquerda, é claro – da França têm um físico que não deixa a menor dúvida sobre sua origem plebeia e o chá que, quando meninos, não beberam.
Napoleões ou sans-culottes?
Quanto ao Sr. Azaña, o presidente da Suíça, o da Polônia, o da Tchecoslováquia69, embora um pouco menos desalinhavados, não estão longe do tipo semítico-francês do Sr. Blum.
É curioso observar que, na eventualidade de uma guerra mundial, as repúblicas francesa, polonesa, tcheco-eslovaca e russa (e também a espanhola, se o Sr. Azaña vencer) ficarão constituindo um bloco inimigo do grupo monárquico-ditatorial, hostil ao qual só ficará a Inglaterra.
Dos chefes de Estado, que grupo vencerá? O dos sans-culotte70 ou dos Napoleões?
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“Legionário”, nº 214, 18/10/1936, pp. 1 e 2
7 dias em revista
Hitler impede religiosas de lecionarem em escolas públicas
Na Baviera, há 1.675 religiosas ensinando em cerca de 400 escolas públicas. O que elas ensinam, ninguém o ignora: que seus alunos devem ser filhos modelares, futuros chefes de família exemplares, patrões benignos, operários disciplinados, cidadãos respeitadores das autoridades legítimas e amantes da Pátria. Sua obra constitui, pois, uma eficientíssima propaganda anticomunista.
Os hitleristas, que se proclamam os paladinos da civilização contra o comunismo, vão, no entanto, proibir a essas religiosas que lecionem nas escolas públicas.
Para isto, será necessário violar a concordata entre a Baviera e a Santa Sé. Mas o que custa a Hitler a violação de mais uma concordata ou de mais um tratado?
Violações do tratado de não-intervenção na Espanha
Estamos em uma época infeliz, em que a palavra oficial dos maiores países de nada vale. Nas mãos de Hitler, perdeu o valor a palavra do governo alemão que dirige, no entanto, os destinos de um dos povos mais inteligentes e gloriosos do mundo. Se isto se dá com Hitler, é fácil imaginar o que se verifica com a malta de bandidos que, aboletada no Kremlin, asfixia a Rússia e procura incendiar o mundo.
No mesmo dia em que os jornais nos informaram de que a Rússia protestava contra a intervenção de Portugal na Revolução da Espanha, um telegrama informava que aportara em Barcelona, sob os vivas da população, um navio soviético trazendo víveres para os legalistas.
É a isto que a Rússia chama não-intervenção? É assim que ela respeita o tratado que assinou?
* * *
Infelizmente, porém, não só a Rússia e a Alemanha, mas também a França viola a palavra empenhada no pacto de não-intervenção na Espanha.
Um telegrama de Almeria informa que o cruzador francês “Duplessis” foi recebido em Barcelona sob os aplausos de todo o povo. Palmas por quê? O que teria de extraordinário a passagem de um vapor francês por Barcelona, se ele estivesse em simples viagem de excursão?
Evidentemente, os aplausos não foram para o navio, mas para algo que ele trazia consigo…
* * *
Enquanto se discute gravemente, em Londres, o tratado de não-intervenção, também a Universidade de Glasgow mete sua colher de pau na revolução espanhola, enviando uma unidade hospitalar para servir… os marxistas!
Em linguagem sisuda, a “Agência Havas” informa que os sete membros que compunham o corpo de saúde dessa unidade hospitalar voltaram para a Inglaterra, dois por motivo de saúde e cinco “por motivos disciplinares”. Para bom entendedor, meia palavra basta. Não é difícil imaginar quais tenham sido esses motivos “disciplinares”.
Só a Igreja Católica é um dique eficiente contra o comunismo
Enquanto permite que seus nacionais aticem o incêndio na Espanha, a Inglaterra procura evitar, a todo o custo, que as chamas lhe alcancem as próprias barbas.
Por esta razão, o conselho de cidadãos (espécie de Câmara Municipal) do este de Londres, resolveu montar uma organização destinada a manter a ordem no lugar, evitando as agitações populares. E foram buscar para isto o Arcebispo católico de Canterbury.
Como se sabe, Canterbury é a sede do Primaz da igreja anglicana. Por que não se arranjaram eles com a prata da casa? Isto é, com o Primaz protestante, que é Par do Reino, membro do Conselho Real, etc.? Por que foram buscar um católico? É óbvia a razão: só a Igreja Católica é um dique eficiente contra o comunismo.
Enquanto isto, porém, a diplomacia inglesa se agita para evitar que a Itália e Portugal detenham o braço criminoso dos salteadores da Igreja na Espanha.
Onde foi parar a lógica?
Indolência sul-americana
Dormem em mansa paz as chancelarias sul-americanas. Nenhuma delas se lembra de dar um passo, ainda que meramente moral, a favor da Espanha. Enquanto cochilam os governos burgueses, o México despeja combatentes sobre combatentes na Espanha, para auxiliar o governo de Madrid. Os jornais nos informam que estão para partir do México numerosos grupos de novos combatentes marxistas.
O México quebra, assim, a linha de neutralidade que todos os países americanos estão seguindo.
Por que não fazem nossas chancelarias uma démarche junto ao governo do México? Para marxistas não haverá por acaso a famosa não-intervenção?
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“Legionário”, nº 215, 25/10/1936, p. 2
O Barrete Frígio, perante a Cruz, o sigma e a bandeira vermelha
O acontecimento político mais sensacional da semana transata foi, indiscutivelmente, o discurso do Sr. Armando Salles de Oliveira, pronunciado na histórica cidade de São José do Rio Pardo.
Distinção discreta e autêntica
Seria um lugar comum, elogiar a elegância e a facilidade de estilo que distinguem todos os discursos do Governador do Estado. Orador moderno, o Sr. Armando Salles de Oliveira rejeitou decididamente os velhos tropos71 de retórica política que faziam o enlevo dos tribunos e das massas até à Grande Guerra. Sóbrio, claro, preciso, o Governador paulista comunica a seus discursos aquela nota de distinção discreta e autêntica, que tantas vezes tem sabido demonstrar. A evidência destas qualidades dispensa comentários. Passamos, pois, por cima das virtudes literárias da alocução governamental, para examinar o seu conteúdo, que é o que mais interessa.
Em vista os interesses da civilização católica no Brasil
De há muito, vem o “Legionário” sustentando uma campanha perseverante, para fazer prevalecer entre os católicos alguns pontos de vista fundamentais para a fixação de nossas atitudes na política nacional. O discurso do Sr. Governador não nos fez alterar uma só linha a respeito de quanto dissemos em nossos números anteriores. Pelo contrário, veio dar-lhe esplêndida confirmação.
No seu discurso, o Sr. Armando Salles de Oliveira fixou a posição dos políticos filiados aos partidos liberal-democráticos perante as três grandes correntes intelectuais que empolgam atualmente o Brasil: o catolicismo, o comunismo e o integralismo.
Em nossa penúltima edição72, dissemos já o que pensamos sobre o combate que, em todos os Estados, está sendo feito ao integralismo. Católicos que somos, não temos, como tais, qualquer preferência política. Na apreciação dos fatos, não nos guia nenhum secreto pendor pela democracia ou pelo Estado forte. Temos em mente, tão apenas, os grandes interesses fundamentais da civilização católica no Brasil. E é à luz desses interesses que consideramos os acontecimentos.
Debelar o comunismo: preocupação prioritária dos governantes
Ora, parece-nos que os perigos devem ser combatidos com uma energia proporcional à sua gravidade.
Ninguém, por exemplo, combaterá um simples defluxo com a mesma energia com que combate uma ameaça de pneumonia, pela claríssima razão de que o defluxo, por mais que incomode, não pode trazer para o organismo, as consequências fatais que a pneumonia pode acarretar.
Aplicando à política este princípio de bom-senso elementar, parece-nos que, por mais que os políticos liberal-democráticos hostilizem o integralismo, eles nunca lhe poderão votar um ódio igual ao que merece o comunismo. Disse muito bem o Sr. Cardoso de Mello Netto, que o integralismo invoca para si os princípios de Deus, Pátria e Família, próprios a todos os corações bem formados e não apenas aos que envergam a camisa verde. Mas a simples ostentação desses princípios constitui para o integralismo um título de glória. A doutrina do sigma poderá ser incompatível com os interesses nacionais, com as tendências de nosso povo, com as tradições de nossa história. Não o afirmamos, nem o negamos. Mas reconhecemos perfeitamente aos liberal-democráticos o direito de o afirmarem, uma vez que é esta sua convicção. No entanto, nada neste mundo poderá justificar que eles tratem em pé de igualdade uma corrente que se proclama fiel aos “princípios próprios de todos os corações bem formados”, com outra que, visando a destruição desses princípios, advoga a extinção de todas as religiões, de todas as pátrias e de todas as famílias. Parece-nos, portanto, que a lógica exige que a democracia liberal, ao entrar na liça para combater o sigma, a foice e o martelo, tome em consideração esta circunstância de uma importância capital. E que empregue o melhor de suas energias, o mais vivo de suas forças, o mais proveitoso de suas reservas, para a luta contra o extremismo moscovita, ao qual nenhum homem de honra dá quartel.
A debelação do comunismo deve ser a preocupação principal dos nossos dirigentes. E – estejam eles disto certos – o sucesso de sua campanha anti-integralista está diretamente ligado ao sucesso de sua luta contra o comunismo.
Cumpre termos uma legislação social inteligente
Dentro em breve, começará a funcionar o Tribunal Especial, encarregado de julgar os comunistas presos depois de Novembro. É nas mãos deste tribunal que está o destino da democracia. Se ele usar de toda a energia exigida pela justiça, a parte mais sadia da opinião pública começará a crer na eficiência dos meios de defesa de que dispõe o Estado atual. Mas se o menor gesto de fraqueza indicar a insegurança das instituições básicas do nosso País, é inevitável que os olhos ansiosos dos chefes de família e dos homens crentes justamente alarmados pelos perigos com que se defrontam, comecem a procurar soluções novas.
O outro grande recurso de que deverá lançar mão o Estado atual é uma legislação social inteligente, que não esteja eivada dos excessos burgueses ou socialistas, tão frequentes nas leis promulgadas pelos Estados democráticos. Se a democracia souber aliar a uma ação policial e judiciária enérgica, uma legislação social inteiramente católica, limpa de taras burguesas ou socialistas, ela terá aberta diante de si a porta pela qual seja possível vislumbrar-se sua salvação. Que ela não o faça e os seus dias estarão contados, ainda que se alinhem entre seus defensores homens da envergadura intelectual e administrativa do Governador do Estado.
Cristianismo católico: sabor de autenticidade
Abordando este aspecto do problema, tocamos exatamente em um dos pontos mais melindrosos, para nós, do discurso do Sr. Governador. Polícia enérgica, justiça severa e imensas doses de um largo catolicismo social são os três principais remédios para a situação.
As afirmações cristãs do Governador do Estado ressoaram, pois, agradavelmente aos nossos ouvidos, máxime no momento em que o Sr. General Rabello promovia, para a maior glória (ou talvez para o contrário disto) da memória de Benjamin Constant, homenagens que feriram profundamente os sentimentos religiosos de nosso povo.
Mas cabe-nos fazer, a propósito das expressões religiosas de que se serviu o Sr. Armando Salles de Oliveira, a mesma observação que já temos feito a certos livros ou discursos integralistas: seria melhor falar claramente em catolicismo, do que em cristianismo. Catolicismo é a palavra que distingue o cristianismo autêntico das falsificações heréticas ou cismáticas; cristianismo é uma palavra usada indistintamente por inúmeros fautores de erros e de heresias, como por exemplo os protestantes.
No Brasil, a palavra cristianismo só tem seu som nacional e seu sabor de autenticidade, quando acompanhada do adjetivo católico. Em matéria religiosa, dever-se-ia dizer sempre catolicismo, ou, o que seria melhor, cristianismo católico.
Simples questão de forma? Não. A palavra católico dá um significado preciso e altamente expressivo à palavra cristianismo. Há uma apreciável dose de ecletismo religioso no simples vocábulo cristianismo, quando ele aflora aos lábios de nossos políticos.
E é contra este ecletismo que protestamos. Porque, se o Brasil tiver de se salvar, sua tábua de salvação não será um vago cristianismo, diluído segundo o paladar variável de cada um de nossos estadistas, mas o catolicismo, que é sua única expressão autêntica.
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“Legionário”, nº 215, 25/10/1936, pp. 1 e 4
7 dias em revista
Um centenário esquecido
Há uma observação que escapou inteiramente à imprensa quotidiana, mas que é nosso dever publicar.
Enquanto os poderes públicos celebram a memória de Benjamin Constant, transcorreu no maior olvido o centenário do ínclito Visconde de Ouro Preto73.
Estadista de uma envergadura incomparavelmente maior, com uma brilhantíssima folha de serviços [prestados] ao Brasil, e de uma moralidade ilibada e de uma cultura intelectual primorosa, Ouro Preto honra o país que o viu nascer.
Mas o centenário de Benjamin Constant foi muito mais festejado do que o seu. É fácil perceber o motivo: é que Ouro Preto não foi positivista, não combateu a Igreja, não serviu de títere à maçonaria.
E basta isto, para que muito general Rabello que por aí anda se desinteresse dele.
Preces pelo bom trabalho do Tribunal Especial
Parece que o Tribunal Especial está realmente disposto agora, a dar início às suas atividades. Aplaudimos calorosamente o ardor com que se estão fazendo as obras preparatórias de sua instalação.
Os católicos do Brasil inteiro devem erguer suas preces ao Céu, para que a proteção divina assista aos brasileiros que integram o Tribunal, inspirando-lhes aquele senso reto e vigoroso da justiça cristã, em que a ideia da clemência e da misericórdia nunca chega a ponto de desarmar o Estado perante seus inimigos.
Irregularidades da administração Pedro Ernesto
Estão sendo descobertas, quase diariamente, as irregularidades toleradas e permitidas pela administração Pedro Ernesto.
Ainda há dias, a comissão de inquérito sobre a Sociedade Médico-Cirúrgica dos empregados municipais descobriu tão graves abusos, que sugeriu ao Sr. Prefeito Municipal o fechamento daquela sociedade.
É bom que os brasileiros vão registrando estes fatos.
Ingerência russa em Madrid
Chamamos a atenção de nossos leitores para a influência cada vez mais declarada e mais franca que tem o Sr. Rosenberg (o nome é eloquente), embaixador russo em Madrid, sobre as decisões do Sr. Azaña e seus companheiros.
Serve este fato para caracterizar os surtos comunistas, como uma verdadeira invasão de potência estrangeira, no território de outro Estado.
Deverão tomá-lo na devida consideração os nossos dirigentes.
Crítica ao igualitarismo comunista
O Sr. Yvon Delbos, saudando o Sr. Saavedra Lamas no banquete que lhe ofereceu, lhe dirigiu estas palavras:
“V. Ex.cia pertence, senhor ministro, à mais antiga linhagem argentina, porque seu bisavô – Cornélio Saavedra – foi o chefe do primeiro governo de sua pátria.
“Os seus antepassados mais próximos também se distinguiram em serviços prestados ao país. Tal ascendência deveria concorrer, forçosamente, para fazer de V. Ex.cia um dos maiores estadistas da atualidade e um dos mais eminentes jurisconsultos da nossa época.”
É curioso observar como até nos lábios esquerdistas do Sr. Delbos se encontra uma crítica indireta ao excessivo igualitarismo da doutrina comunista. Se o fato de alguém pertencer a uma linhagem de políticos o predispõe à inteligente gestão dos negócios públicos, não é insano o regime que procura entregar a direção do Estado a proletários, filhos de simples trabalhadores manuais?
Antissemitismo nazista
O Sr. Hitler não abre mão de seu antissemitismo feroz. Os telegramas nos informam que ainda agora o Chefe do Estado alemão está tratando de codificar as medidas penais que promulgou contra os que maculassem o sangue ariano, aliando-se matrimonialmente a judeus.
Preciso seria que, na Alemanha, surgisse um novo S. Bernardo, que invocasse para o povo de Israel aquela misericórdia que nem a sua grande vítima lhe negou.
Precaução contra judeus comunistas
A misericórdia, porém, não é cegueira. E as medidas de precaução contra os judeus comunistas se vão tornando cada vez mais indispensáveis.
Damos, a seguir, uma relação de passageiros comunistas presos a bordo do navio Jamaica: é significativa. Ilse Wolff, Fritz Noa, Berthe Noa, Hans Noa e Rita Noa, Joaquim Rosenthal, Chihel Blitzblum, Beita Blitzblum, e Mozes Rotenstreich, Bernardo Rotenstreich e Felicitos Rotenstreich.
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1) (N. do E.) Treinadores.
2) (N. do E.) {e}.
3) (N. do E.) Autodenominada.
4) (N. do E.) {digna}.
5) (N. do E.) Chamados a algo maior. No caso concreto, por políticos promovidos a cargos mais elevados.
6) (N. do E.) Ofício, profissão.
7) (N. do E.) José Calvo Sotelo (1893-1936) – político espanhol, católico, um dos líderes da Ação Nacional (monarquista). Quando, nas Cortes, Sotelo protestou contra a impunidade dos incendiários e assassinos que assolavam a Espanha, Dolores Ibarruri (la Pasionaria), gritou-lhe: “Este será seu último discurso!” Efetivamente, seu assassinato na noite seguinte (14 de julho de 1936), desencadeou a Guerra Civil.
8) (N. do E.) Genny Gleiser – militante comunista, de origem romena. Foi presa em São Paulo, em 1935, durante uma reunião do Congresso da Juventude Proletária Estudantil, à qual presidia. Foi julgada e deportada para a Alemanha, nesse mesmo ano, tendo conseguido escapar quando o navio fez escala na França, com a cumplicidade de operários comunistas que trabalhavam no porto.
9) (N. do E.) Semelhantes.
10) (N. do E.) Cf. Lc 10, 2.
11) (N. do E.) A partir deste número o jornal muda de nome e de tiragem. De “O Legionário”, passa a “Legionário”; e de quinzenário a semanário.
12) (N. do E.) “Na fase dos sorrisos e das ciladas”, “O Legionário”, nº 202, de 19/7/1936.
13) (N. do E.) Governadores, respetivamente, de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Em seguida o Autor faz menção às rivalidades dentro dos próprios Estados, pois os Srs. Souza Costa e Flores da Cunha são gaúchos, os Srs. Benedito Valadares e Antônio Carlos são mineiros, e o último é paulista e membro do Partido Constitucionalista (PC).
14) (N. do E.) Partido Republicano Mineiro.
15) (N. do E.) Na hora certa.
16) (N. do E.) A batalha cessou, por falta de combatentes.
17) (N. do E.) Francisco Largo Caballero (1869-1948) – político, conhecido como o Lênin espanhol, membro do PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol), secretário-geral da UGT (União Geral de Trabalhadores), deputado, ministro do Trabalho, um dos mentores da Frente Popular (de influência predominantemente comunista e anarquista) que derrotou a coligação de direita, em 1936. Nomeado chefe do Governo no início da Guerra Civil (setembro de 1936), com a vitória dos nacionalistas foi demitido desse cargo, afastado da direção do PSOE e da UGT, tendo, por fim, partido para o exílio.
18) (N. do E.) {como}.
19) (N. do E.) Francisco Mangabeira, advogado carioca, um dos fundadores da Aliança Nacional Libertadora (ANL).
20) (N. do E.) Controle de natalidade.
21) (N. do E.) A tradução é do próprio “Legionário”.
22) (N. do E.) Matizes.
23) (N. do E.) Nem quente, nem frio.
24) (N. do E.) A partir deste número a seção “À margem dos fatos” passa a chamar-se “7 dias em revista”.
25) (N. do E.) Johann Mauritius van Nassau-Siegen, dito Maurício de Nassau (1604-1679) – militar e administrador colonial, protestante. Como governador das possessões holandesas no Brasil, chegou a dominar o litoral que vai de Sergipe ao Maranhão. Retornou à Holanda após o fracasso na tentativa de conquistar a Bahia.
26) (N. do E.) “As subcorrentes”, “Legionário”, nº 204, de 9/8/1934.
27) (N. do E.) Desordeiros.
28) (N. do E.) General Manuel Goded Llopis (1882-1936) – militar espanhol, em 1934 colaborou com Franco na repressão da revolta das Astúrias. Quando a Frente Popular tomou o poder, foi afastado da capital com o cargo de comandante das Baleares. Ao começar o conflito militar levantou as praças de Mallorca e Ibiza a favor dos nacionalistas. Ao tentar fazer o mesmo em Barcelona, fracassou. Foi preso, julgado e fuzilado em agosto de 1936.
General Álvaro Fernández Burriel – em 1936 estava no comando da Brigada de Cavalaria da Catalunha, liderou o levante de Barcelona até à chegada de Goded. Teve a mesma sorte deste último, sendo também fuzilado no Castelo de Montjuich, em agosto de 1936.
29) (N. do E.) Nome pelo qual ficaram conhecidos os membros da Ação Integralista Brasileira (AIB). Paralelamente aos fascistas italianos (camisas pretas) e aos nazistas alemães (camisas pardas), os integralistas brasileiros tornaram-se conhecidos por camisas verdes. A camisa verde era um dos símbolos mais importantes dos militantes integralistas.
30) (N. do E.) Miguel Reale (1910-2006) – jurista, filósofo, professor e escritor paulista, um dos fundadores e líderes do integralismo. Autor de inúmeras obras sobre filosofia, direito e ciência política, entre as quais: O Estado moderno (1933), Perspectivas integralistas (1935), ABC do integralismo (1935), Filosofia do Direito (1953), e Teoria tridimensional do direito (1968).
31) (N. do E.) Expressão usada aqui como sinônimo de integralista. Sigma (Σ), letra do alfabeto grego, correspondente ao “s” latino. Significando a soma dos valores, tornou-se o símbolo do integralismo, por resumir sua filosofia.
32) (N. do E.) {às}.
33) (N. do E.) “O tribunal de exceção”, “Legionário”, nº 205, de 16/8/1936.
34) (N. do E.) Manuel Azaña y Díaz (1880-1940) – estadista espanhol, comunista, Ministro da Guerra no Governo Provisório (1931), Primeiro-ministro (1931-1933); nas eleições de 1936 seu partido (Esquerda Republicana) teve papel preponderante na coalização da Frente Popular. Foi Presidente da República de maio de 1936 até ao fim da Guerra Civil. Renunciou em 1939, após a vitória dos nacionalistas, e refugiou-se na França.
35) (N. do E.) {que}.
36) (N. do E.) Literalmente, ovelhas e bois. Significa todo mundo, indistintamente.
37) (N. do E.) Chocante, escandaloso.
38) (N. do E.) “Na fase dos sorrisos e das ciladas”, “O Legionário”, nº 202, de 19/7/1936; e “Um passeio nos bastidores”, “Legionário”, nº 203, de 2/8/1936.
39 ) (N. do E.) Entediado.
40) (N. do E.) Termo de uso popular, para designar o Estado de Minas Gerais.
41) (N. do E.) Assim são denominados, no Estado do Rio Grande do Sul, os cavalos de raça, de boa qualidade.
42) (N. do E.) Arthur Ernst Ewert, comunista alemão, membro do Komintern. Ingressou no Brasil com passaporte americano, sob o nome de Harry Berger. Foi preso após a Intentona Comunista de 1935.
43) (N. do E.) D. José Maria P. Lara, Bispo de Caratinga (MG), falecido a 8 desse mês.
44) (N. do E.) {quanto}.
45) (N. do E.) Clama sem cessar (cf. Is 58, 1).
46) (N. do E.) {capo di lavoro}. Capolavoro – obra-prima.
47) (N. do E.) Cf. Lc 18, 9-14.
48) (N. do E.) Cf. Mt 26, 9-25.
49) (N. do E.) João Mangabeira, advogado e deputado federal pela Bahia.
50) (N. do E.) Rafael Salazar Alonso (1895-1936) – político espanhol, um dos dirigentes do Partido Republicano Radical. Detido em 1936, foi preso no Cárcel Modelo de Madri, condenado à morte e executado em 23 de setembro do mesmo ano.
51) (N. do E.) “O caso do Rádio Católico”, “Legionário”, nº 211, de 27/9/1936.
52) (N. do E.) {feito}.
53) (N. do E.) Mt 26, 25.
54) (N. do E.) Cf. Mt 26, 48-49.
55) (N. do E.) De direito.
56) (N. do E.) “O caso do Rádio Católico”, “Legionário”, nº 211, de 27/9/1936.
57) (N. do E.) Motorista.
58) (N. do E.) {dos quais}.
59) (N. do E.) Reprovando energicamente.
60) (N. do E.) “Um abismo chama outro abismo” (Sl 42, 8).
61) (N. do E.) Lc 6, 41-42.
62) (N. do E.) “O caso do Rádio Católico”, “Legionário”, nº 211, de 27/9/1936.
63) (N. do E.) “Ainda o Rádio Católico”, “Legionário”, nº 212, de 4/10/1936.
64) (N. do E.) Henri Robert Ferdinand Marie d’Orléans, Conde de Paris.
65) (N. do E.) Jean Pierre Clément Marie d’Orléans, Duque de Guise.
66) (N. do E.) Alfonso Carlos de Áustria e Este, falecido nesse mesmo ano. A mencionada foto acabou sendo publicada no número seguinte do “Legionário”.
67) (N. do E.) Albert Lebrun, presidente da República francesa.
68) (N. do E.) Anne-Marie-Louise d’Orleans (1627-1693) – Duquesa de Montpensier, conhecida como la Grande Mademoiselle. Filha de Gaston, Conde d’Eu e Duque d’Orleans, e prima de Luís XIV, Rei da França.
69) (N. do E.) Manuel Azaña Diaz, presidente da República espanhola; Albert Meyer, presidente da Suíça; Ignacy Moscicki, presidente da Polônia; e Edvard Benes, presidente da Tchecoslováquia.
70) (N. do E.) Culotte – espécie de calça justa e muitas vezes de seda, que cobria até pouco abaixo dos joelhos, sempre acompanhada com meias longas, usada no Ancien Régime.
Sans-culotte – nome pelo qual, na Revolução Francesa, eram designados os revolucionários, que tinham trocado a culotte pela calça para contrastarem com os membros da aristocracia a quem combatiam.
71) (N. do E.) Argumentos.
72) (N. do E.) “Cobras, cordeiros e governadores”, “Legionário”, nº 213, de 11/10/1936.
73) (N. do E.) Afonso Celso de Assis, Visconde de Outro Preto.
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