1937 – Relatório sobre o Integralismo
Introdução ao
Relatório imparcial
ao episcopado brasileiro
O Leitor tem aqui ante seus olhos uma obra doutrinária inédita, de grande alcance, saída da pluma de Plinio Corrêa de Oliveira. Melhor se diria, sua primeira denúncia profética. Pois a maior parte de seus escritos se insere no âmbito de uma luta contra os adversários da Igreja e da Civilização Cristã, contra o mal a que mais tarde ele daria o nome de Revolução, em seu ensaio Revolução e Contra-Revolução, publicado em 1959.
Diante desse inimigo universal, a Revolução, que ao longo dos séculos se vai metamorfoseando segundo as necessidades e o dinamismo de seu desenvolvimento, Dr. Plinio usa uma tática tão antiga quanto eficaz: a denúncia. Com efeito, quando consideramos a história eclesiástica, constatamos que a heresia, em seus primórdios, se apresenta sempre com as aparências da verdade e procura desenvolver-se dentro da Igreja, às vezes pretendendo coibir os abusos ou desvios reais de seu tempo, que afastam as almas do bom caminho. E habitualmente não é fácil identificar-lhe o veneno escondido no meio do belo ramalhete de suas pretensas boas intenções. A primeira medida dos Papas e dos verdadeiros reformadores da Igreja foi sempre a de denunciar o erro, provocando assim nos bons católicos uma reação salutar de rejeição à falsa doutrina que procura minar e corroer os fundamentos da Fé. A denúncia tem, pois, um papel profético de reconduzir os fiéis à via virtutis et veritatis, alertando-os contra os fautores de erro.
Em sua longa atuação, que abarcou mais de dois terços do século XX, Dr. Plinio combateu sobretudo as chamadas heresias sociais – o socialismo, o fascismo, o nazismo e o comunismo – que em seu tempo ameaçaram gravemente os fundamentos da Civilização Cristã e deram origem a sangrentas perseguições contra a Igreja. No Brasil, o fascismo para consumo nacional, tomou o nome de integralismo.
Para o grande público, todos esses movimentos divulgavam uma imagem diluída de si mesmos, mais adaptada às circunstâncias e às suas necessidades propagandísticas, enquanto sua verdadeira doutrina se revestia de uma radicalidade capaz de assustar e espantar boa parte de seus ingênuos adeptos, por vezes cheios de boas intenções. Era assim que certos simpatizantes do nazismo, do fascismo ou, no Brasil, do integralismo, eram movidos pelo desejo de preservarem as respectivas pátrias da ameaça comunista. E entre eles havia numerosos católicos.
O que fez Dr. Plinio? Denunciou os fundamentos doutrinários reais do integralismo brasileiro; não os que este propagava pelos jornais para consumo externo, mas os que eram difundidos de maneira discreta e fragmentada em seus círculos internos.
Esta sagaz tática, Dr. Plinio a usou invariavelmente em relação às diversas formas de erro que se lhe foram apresentando ao logo do caminho. Diante da denúncia destemida das veladas metas deste ou daquele movimento, muitos de seus adeptos tinham um sobressalto salutar e abandonavam suas fileiras.
O movimento integralista, então em franca ascensão no Brasil, contava com numerosos simpatizantes nos meios católicos, inclusive entre os membros do clero, em boa medida por desinformação. O que levou o Autor a afirmar na conclusão do Relatório imparcial:
“A bibliografia integralista é longa. Os documentos de propaganda são numerosos. Para ter do integralismo uma ideia exata, seria necessária a leitura de todos esses documentos, de toda essa enorme bibliografia.
“Evidentemente, a nosso Venerando Episcopado, já tão sobrecarregado de ocupações pastorais, não sobraria tempo para fazer tal estudo.
“Em geral, as manifestações de católicos sobre o integralismo revelam uma informação deficiente sobre o verdadeiro pensamento integralista. Se essa informação existisse, estamos certos de que o pensamento católico sobre a doutrina do sigma já se teria fixado de modo bem categórico.”
Ninguém tivera a preocupação de se aprofundar sobre os fundamentos doutrinários do integralismo. Dr. Plinio fez esse trabalho inestimável de ir às fontes dessa ideologia e extrair delas uma imagem real e coerente, acessível a qualquer espírito lúcido, mas ainda desconhecida da grande maioria dos brasileiros.
Este trabalho paciente e metódico, iniciado em 1936 e concluído em meados de 1937, influenciou certamente suas tomadas de posição face ao integralismo. Neste III volume, o Leitor poderá tomá-lo como fundo de quadro para ler os artigos de ambos os anos.
Para sua elaboração, quase artesanal, o Autor usou a imbatível máquina de escrever “Underwood” (herdada de seu avô); caneta tinteiro para escrever correções e observações à margem; tesoura, agulha e linha para encadernar um a um os exemplares do Relatório. Serviço este executado com esmero insuperável por sua mãe, D. Lucilia.
Uma vez pronto e enviado aos membros mais representativos do Episcopado nacional, produziu ele um efeito de alcance incalculável, embora imperceptível à superfície dos acontecimentos. Ao tomar consciência da incompatibilidade entre o integralismo e os princípios católicos, os Bispos brasileiros retiraram-lhe discretamente seu apoio, deixando-o entregue às próprias forças. Sem o arrimo da Igreja, foi-lhe impossível vingar. Estava fadado ao fracasso, que se concretizou como consequência imediata de fatores diversos.
O que teria sido de nossa Pátria se o integralismo tivesse conquistado a simpatia do grande público, sobretudo dos católicos? A pergunta convida-nos a ingressar no reino dos “se”… No entanto, ninguém está impedido de dar alguns passos no campo das conjeturas razoáveis. É um passeio agradável que o Leitor inteligente pode fazer sem grande esforço intelectual. Uma coisa é certa: esta denúncia profética, o Relatório imparcial ao Episcopado brasileiro, contribuiu de forma decisiva para afastar o Brasil de tantas tragédias nas quais se viram envolvidos os países europeus, na IIª Guerra Mundial.
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A matéria está dividida em três “fascículos”, tendo o Autor usado papel timbrado de seu próprio escritório de advocacia para abrir cada um deles. Os títulos e subtítulos são de sua lavra. O texto foi revisto em duas ocasiões (1937 e 1956); estão assinaladas entre < > as correções ou inserções posteriores.
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Relatório1
(Os textos a que o Relatório se refere vão em outro apêndice.)
Relatório imparcial ao episcopado brasileiro
I – A doutrina filosófica do integralismo pg. 1
II – O integralismo e a religião pg. 11
III – Conclusões pg. 21
IV – Prevendo objeções pg. 28
V – Textos numerados a que se refere o relatório (outro fs.)
VI – Considerações acessórias (outro fs.)
(confidencial)
Relatório imparcial ao
episcopado brasileiro
<I – A doutrina filosófica do integralismo>2
Nota-se, em muitos círculos católicos, uma certa desorientação sobre a atitude a ser assumida perante o integralismo.
Há quem aconselhe francamente aos católicos a entrarem na Ação Integralista Brasileira. É o que fez, por exemplo, o Sr. Alceu Amoroso Lima, incontestavelmente a figura de maior relevo do laicato católico do Brasil.
Mas há, também, quem se coloque em atitude de franca hostilidade.
Como é possível que, nos arraiais católicos, em que uma admirável disciplina intelectual congrega todos os espíritos em torno dos mesmos princípios sociais, se pronuncie uma tão funda divergência?
O fato é facilmente explicável. Muito poucos são os católicos que se deram ao trabalho de estudar a fundo o integralismo. Em geral, a diferença de atitude dos católicos, a este respeito, provém da diversidade das impressões gerais que eles colhem, sobre o problema, pela rápida leitura dos jornais. Queremos crer que um exame mais atento do que seja o integralismo reconduziria todos os espíritos à unidade.
Como estudar o integralismo
O programa oficial do integralismo está contido nas chamadas Diretrizes Integralistas.
Reconhecendo que este documento não contém senão alguns dos pontos fundamentais da doutrina integralista, resolveu a Ação Integralista Brasileira criar um Departamento de Doutrina, cuja incumbência consiste em elaborar os itens que deverão completar futuramente as Diretrizes.
Para realizar este desideratum, cabe ao Departamento de Doutrina orientar os estudos políticos e sociais dos intelectuais filiados ao integralismo, de sorte a coordenar seus esforços na elaboração dos pontos complementares do programa oficial. Compete-lhe também velar ↓3 [para] que os trabalhos publicados pelos integralistas não se afastem do pensamento contido nas Diretrizes.
O Departamento de Doutrina costuma editar, por sua conta, as obras dos intelectuais integralistas, que lhes pareçam particularmente interessantes.
As obras editadas <sob> o patrocínio do Departamento de Doutrina, que é orientado muito de perto pelo Chefe Nacional, Sr. Plinio Salgado, são pois, obras oficiosas do integralismo. Não são propriamente oficiais, porque o Departamento de Doutrina não faz suas todas as ideias contidas em tais obras. Mas são oficiosas, porque o Departamento ao editá-las, declara implicitamente que nada do que elas contêm colide com o programa ou as tendências do integralismo.
Temos aí, portanto, mais um elemento para estudar o integralismo.
Finalmente, temos os já numerosos periódicos integralistas.
Os autores do presente trabalho tiveram em mãos abundantes documentos pertencentes a essas várias categorias. Leram-nos com um espírito de inteira imparcialidade. E estariam dispostos, se preciso fosse, a jurar sobre o Santíssimo Sacramento, que são absolutamente sinceros nos comentários que vão a seguir.
O que é o integralismo?
É esta a primeira interrogação que ocorre a quem estuda o integralismo. A doutrina do sigma é apenas uma doutrina política? É também social? Filosófica? Religiosa?
Vamos às fontes. Delas se deduz que (ver os apêndices, com os textos 1 <a 10>):
1) O integralismo não é ainda uma doutrina completa: está em formação. Seu programa comportará futuramente diversos itens que nele ainda não figuram (vide no apêndice, texto 1).
2) O integralismo não é uma doutrina apenas política, mas também social, econômica, filosófica, moral (vide textos <10 e segs.>, no apêndice).
Qual a doutrina filosófica e moral do integralismo?
O primeiro ponto que, a este respeito, deveria ser esclarecido é o seguinte: o integralismo aceita como sua uma doutrina filosófica, moral e religiosa preexistente? Ou quer criar uma doutrina nova?
A pergunta não é ociosa. Afirmam os documentos que citamos, que a doutrina integralista abrange uma filosofia e uma moral.
Se o integralismo simplesmente incorpora à sua doutrina uma filosofia preexistente – o tomismo, por exemplo –, será fácil conhecer o pensamento filosófico dos camisas verdes.
Mas, se ele cria uma doutrina filosófica nova, quer isto dizer que ele pretende constituir para si uma filosofia distinta de todas <as> correntes filosóficas anteriores, inclusive o tomismo.
Compreende-se, pois, facilmente, o grande alcance da questão que formulamos.
Para encontrar uma solução objetiva e imparcial, devemos consultar os textos integralistas (ver, no apêndice, os textos 22 e seguintes).
Parece-nos que os textos citados afirmam, com uma insistência bastante significativa, o fato de ser nova e própria a filosofia do integralismo.
Outros textos, mais explícitos, nos informam no que consiste esta filosofia.
No seu livro A Quarta Humanidade de que já citamos alguns trechos, o Sr. Plinio Salgado faz um longo histórico da evolução das diversas correntes filosóficas que o mundo tem conhecido, em todas as épocas e todos países.
E, referindo-se à filosofia do integralismo, que, segundo ele, será a filosofia de toda a humanidade futura, afirma que a filosofia integralista não repudia nenhum dos sistemas filosóficos anteriores, mas, pelo contrário, os assimila, a todos, em uma imensa síntese.
Depois de demonstrar que as características da vida intelectual no século XIX foram a análise e a fragmentação (textos 26 e 27), Plinio Salgado descreve o processo através do qual, segundo ele, essa fragmentação excessiva reconduziu o homem à fusão das ciências naturais e das correntes filosóficas em um corpo de doutrinas que constitui uma unidade superior, que é a filosofia e a ciência do integralismo, bem como sua sociologia e sua economia.
As duas grandes etapas do pensamento humano e os dois grandes grupos de filosofias, anteriores ao período de desagregação e ateísmo que foi o século XIX, foram os períodos de adição (politeísmo) e fusão (monoteísmo). (texto 29).
Quando o politeísmo entra em decadência, afirma Plinio Salgado que ele se vê “entre dois fogos: o helenismo, que prossegue nos métodos naturalistas e o orientalismo”, que é monoteísta e “prossegue no rumo sobrenatural, estabelecendo em Deus o centro do Universo e do mundo anterior”. (Quarta Humanidade, pg. 26 <2ª ed. pg. 28>).
O helenismo e o orientalismo são a súmula de todo o pensamento da Antiguidade. No século XIX, eles não tinham desaparecido. Pelo contrário, no século passado “o espírito da filosofia readquire o sentido grego da consideração do Universo, abandonando completamente a concepção teológica” (Quarta Humanidade, Plinio Salgado, pg. 96 <2ª ed. pg. 98>). E o marxismo foi o “misticismo da raça judaica. Para se compreender a essência recôndita do socialismo de Marx, é preciso conhecer o Talmud e os Protocolos dos Sábios de Sion. Em última análise, essa ateocracia que domina a Rússia não passa da velha teocracia hebreia revestida de forma negativa. O autor de O Capital espera o Messias, que não é um homem, mas uma raça. O seu governo será com verga de ferro, como diz o Talmud.” (Plinio Salgado, A Quarta Humanidade, pgs. 55-6 <2ª ed. [pgs.] 57-58>).
“Sintetizando” o pensamento do século XIX, o integralismo abrange nesta síntese todas as filosofias do passado (textos 30 e 31).
Filho deste passado, ele não o maldiz. Pelo contrário, nasce dos seus escombros como uma flor que brota entre ruínas.
E, ao cabo deste estudo, uma dolorosa verificação se impõe a nossos olhos:
a) a filosofia do integralismo não é uma filosofia nova. Pelo contrário, ela é, e proclama ser, o receptáculo de todas as filosofias antigas e modernas, a colcha de retalhos em que se alinhavam com linha verde, numa absurda baralhada, todas as verdades e todos os erros, que até hoje, brotaram do cérebro humano;
b) maldizendo às vezes a política ou a economia do século passado, o integralismo não rompe com o que este século teve de pior: sua filosofia, ou melhor, suas filosofias. Condenando os erros do século XIX, o integralismo se apega ao pior e ao mais grave de todos: seu ecletismo.
Integralismo e tomismo
Mas, dirá alguém, um certo ecletismo é o predicado da filosofia sã. Em todas as doutrinas, por mais errôneas que sejam, se encontra uma parcela de verdade. § Realizando a síntese de todas essas parcelas, chegar-se-ia ao tomismo. Não é este o desígnio do integralismo?
O estranho conceito que, de filosofia, tem o Sr. Plinio Salgado, (texto 26), mostra até que ponto sua concepção filosófica é diversa do tomismo. § Mas temos, para demonstrar essa diversidade, textos mais numerosos e não menos claros. Provaremos que a doutrina integralista é contrária ao tomismo:
a) por suas concepções históricas;
b) por sua ideia de Deus;
c) por diversos outros pontos de atrito, de importância indiscutível.
A concepção da história, segundo o Sr. Plinio Salgado
Para não correr o risco de deformar, <resumindo-o>, o pensamento do Sr. Plinio Salgado, preferimos, tanto quanto possível, reproduzir textualmente suas palavras.
Diz ele que, para compreender a história, é necessário “surpreendermos as leis essenciais dos ritmos humanos, a teoria dos movimentos do Homem em torno do Absoluto.
“A história deve revelar-nos as posições do Ser Humano na sua permanente gravitação. No desenvolvimento desses ritmos é que vamos surpreender as três etapas, que poderemos denominar: de adição, de fusão, de desagregação.
“A formação da sociedade obedeceu a esses movimentos. A Primeira Humanidade veio da caverna, até a criação do politeísmo; a Segunda, vem do politeísmo ao monoteísmo; a Terceira vem do monoteísmo ao ateísmo; e a Quarta, que é a nossa, encontra-se na mesma situação trágica da Primeira diante do mistério universal.
“Depois da adição, da fusão e da desagregação, chegou a hora da síntese.” § (Plinio Salgado, Quarta Humanidade, pags. 15-16 <2ª ed. p. 17>).
A “síntese” a que se refere Plinio Salgado, é a filosofia nova, soma integral das filosofias anteriores, que abrangerá o pensamento oriental, com Jesus Cristo, Buda, Maomé; o pensamento grego, com Platão e Aristóteles; o pensamento medieval com S. Agostinho, S. Tomás e os nominalistas; o pensamento moderno com Hegel, Kant, Bergson e Marx.
Assim, depois da civilização ateia que ora agoniza, baseada no espírito analítico, desagregador e ateu das filosofias atuais, virá a Humanidade Integralista, isto é, a Quarta Humanidade (ver texto 24).
Detenhamo-nos, por um momento, na apreciação dessa estranha filosofia da história.
Segundo o Sr. Plinio Salgado, a Humanidade teria sido, a princípio, politeísta. Nesse primeiro período, os deuses novos se iam juntando aos antigos, até atingir o incontável número de deuses que o paganismo cultuava. Esse [é] o período de adição de deuses, isto é, o período politeísta.
Veio em segundo lugar o período monoteísta. Como surgiu o monoteísmo? Os deuses se fundiram num só. Daí o nome do período: monoteísmo ou fusão.
Em terceiro lugar, veio o período do ateísmo, caracterizado pela análise e pela desagregação.
Finalmente virá a síntese integralista.
Dessa concepção histórica ressaltam:
a) um erro: é francamente evolucionista;
b) uma interrogação para nós: Plinio Salgado divide a história em quatro períodos caracterizados por quatro posições da inteligência no problema de Deus; dessas quatro posições, as três primeiras nos são conhecidas – politeísmo, monoteísmo, ateísmo. Qual será a posição do integralismo <perante Deus>? Como se deve entender, neste terreno, a “síntese” que ele quer fazer?
Evolucionismo
Ninguém ignora que há divergências entre os historiadores, a respeito da origem da religião na humanidade primitiva.
Os evolucionistas afirmam que o homem foi primeiramente politeísta, e só depois monoteísta. Com isto, estaria destruída a tradição bíblica, que nos mostra o primeiro casal humano, e seus filhos, adorando um Deus único.
Os católicos, pelo contrário, afirmam que o homem foi primitivamente, monoteísta. Mais tarde, alguns povos decaíram para o politeísmo. Incólume, só ficou o povo eleito.
A este respeito, o que pensa o Sr. Plinio Salgado?
Ele divide a História em três etapas caracterizadas por três posições diferentes do homem, perante Deus. A estas etapas, ele dá os nomes de: 1) período de adição (politeísmo); 2) período de fusão (monoteísmo); 3) período de desagregação (ateísmo). Futuramente, a humanidade entrará em um novo período, que é o do integralismo, o período último e definitivo por que passará o Mundo. (Quarta Humanidade, pg. 15 <2ª ed. p. 17>).
Na primeira etapa, o homem – diz Plinio Salgado – criou diversos deuses, que ele ia adicionando aos mais antigos, à medida que criava novos. Dessa constante adição de deuses, nasceu o politeísmo. Daí o nome de período: de adição, ou politeísta. Note-se bem que esta é a primeira etapa. Logo, antes dela, não houve outras.
Na segunda etapa, que é monoteísta, a humanidade fundiu os deuses, uns com os outros, até chegar à concepção de um Deus uno. De onde o nome do período: de fusão ou monoteísta.
Na terceira etapa, este Deus uno desagregou-se no espírito do povo. Isto é, o povo repudiou o Deus uno. Tornou-se ateu. Daí o nome do período: de desagregação, ou ateu.
Virá, finalmente, o período Integralista, caracterizado por uma nova concepção de Deus. Este relatório estuda, em outro lugar, o assunto referente à concepção integralista de Deus.
Basta-nos, por enquanto, fazer notar que, se o Sr. Plinio Salgado aceitasse, como os historiadores católicos, a tradição da Bíblia, antes da etapa politeísta, ele deveria ter mencionado uma etapa monoteísta.
Da sua enumeração de períodos históricos, o Sr. Plinio Salgado excluiu, no entanto, a menção deste período inicial. A primeira etapa, para ele, foi politeísta.
Com isto, ele rejeita a tradição bíblica. E filia-se à corrente evolucionista.
Aliás, as convicções evolucionistas do Sr. Plinio Salgado são evidentes em toda a sua obra.
Em uma de suas obras, diz ele que, no primeiro período, “o homem primitivo fundou a tribo e engendrou o totem”. (Quarta Humanidade, pg. 16 <2ª ed. [p.] 18>).
Mostra-nos a História que a tribo não foi fundada pelo homem primitivo, como o homem moderno funda instituições comerciais ou beneficentes. Supô-lo seria grave erro. A tribo primitiva é, pura e simplesmente, o desdobramento da família, desdobramento gradual e espontâneo, que independe de qualquer fundação.
O evolucionismo do Sr. Plinio Salgado é particularmente nítido quando ele explica o aparecimento do monoteísmo.
Ouçamo-lo.
Quando entra em decadência o politeísmo, “começam a germinar, simultaneamente, as sementes das duas humanidades, as próximas antagonistas, que se perpetuarão e se revezarão no correr dos tempos: a humanidade monoteísta e a humanidade ateísta.
“Podemos representar graficamente o largo período politeísta como as nascentes de um rio. As causas são numerosas, todas convergem para uma causa única, para uma larga e profunda caudal. E é curioso como o mesmo espírito (o espírito politeísta) que fundiu todas as correntes para uma única concepção de Deus, é o mesmo espírito que prossegue, tentando a destruição do próprio Deus. É, em última análise, o mesmo espírito naturalista, que faz compreender melhor o universo formal. É a procura da causa única.” (Plinio Salgado, Quarta Humanidade, pg. 26 <2ª ed. p. 28>).
Assim, pois, para o Sr. Plinio Salgado, o monoteísmo é irmão do ateísmo. Nasceram ambos, por um processus lógico, do politeísmo.
Nessa evolução, ateísmo e monoteísmo são produtos do gênio diverso de duas raças diferentes, trabalhando sobre o fundo comum das convicções politeístas.
Filho do espírito analítico e naturalista da Grécia, o ateísmo é o “helenismo, que prossegue nos métodos naturalistas de interpretação e explicação dos elementos”. (Plinio Salgado, Quarta Humanidade, pg. 26 <2ª ed. p. 28>).
Filho do espírito místico do Oriente, o monoteísmo é um “orientalismo, que prossegue no rumo sobrenatural, estabelecendo em Deus o centro do Universo e do mundo interior, consequentemente o centro dos movimentos sociais”. (Plinio Salgado, Quarta Humanidade, pg. 26 <2ª ed. p. 28>).
Monoteísmo e ateísmo “vieram do politeísmo, pelo mesmo caminho, mas separaram-se porque cada um deveria constituir uma força na eterna dialética. Essas duas humanidades deveriam exprimir as duas faces da verdade, porque impossível seria compreender uma sem a outra.
“O bom não será bom sem o mau; a luz não será luz sem a treva; o agradável não o será sem o desagradável; o alto sem o baixo; o preto sem o branco. E do mesmo modo como a reta é que faz compreender a curva, embora a reta seja apenas uma ilusão, como observa Einstein, o Ser só se compreende em relação ao Não Ser, afirmação em relação à negação.” (Plinio Salgado, Quarta Humanidade, pg. 27 <2ª ed. p. 29>).
Positivamente, não é esta a doutrina católica, não é esta a filosofia do Doutor Angélico!
Mas, o Sr. Plinio Salgado continua:
“Qual é a única forma de negar? É abstrair. É não considerar. Negar, considerando, é uma maneira de afirmar.” (Plinio Salgado, Quarta Humanidade, pg. 27 <2ª ed. p. 29>).
Curioso é o conceito de cristianismo. “Para a Humanidade Monoteísta, que se desdobra dos hebreus para o amplo domínio do cristianismo (em cuja concepção de existência temos de incluir os maometanos e os budistas), Deus é a causa, a razão, a finalidade única do homem.” (Plinio Salgado, Quarta Humanidade, pg. 29 <2ª ed. p. 31>).
Curiosa, também, esta afirmação sobre o ateísmo grego: “dentro dele se encontram elementos da Quarta Humanidade, elementos que estão também na expressão contrária à do espírito grego. A ideia essencial está dentro de todas as civilizações e formas de mentalidade.” (Op. cit., pg. 30 <2ª ed. p. 32>).
É muito curiosa, também, esta outra afirmação: para o povo judeu, quando se encontrava no deserto, “na ausência da paisagem viva, no desamparo da amplidão arenosa, Jeová é a paisagem como é a Providência, que derrama as nuvens do maná e codornizes sobre as tribos esfaimadas; é a finalidade da nação, que acende a coluna de fogo para a marcha nas trevas do deserto; é a tradição que se conserva na Arca da Aliança; é a lei que procede do Decálogo; é a sociedade que se organiza segundo o culto divino, em levitas, guerreiros e trabalhadores. Tudo procede da ideia central, tudo nela repousa. <Tudo> é deduzido de um sentimento sobrenatural.” (Plinio Salgado, Quarta Humanidade, pg. 32 <2ª ed. p. 34>).
Não custa compreender, pois, que o Sr. Plinio Salgado chegue a afirmar que, “na elaboração da Humanidade Monoteísta, há o germen do materialismo, que mais tarde vai se aninhar no grupo sectário dos saduceus, cuja recusa à aceitação dos espíritos, anjos, arcanjos, irá ser repetida mais de vinte séculos depois, pelo racionalismo filosófico e pelo experimentalismo científico, em que tanto influíram os intelectuais da raça hebreia.” (Plinio Salgado, Op. cit., pg. 33 <2ª ed. p. 35>).
Por isto é que “as sociedades espiritualistas acusam índices de materialismo” como aliás também “das sociedades materialistas despontam traços de espiritualismo. É esse o aspecto geral dos séculos e nenhum pode fugir dessa fatalidade.
“É que não se compreende a tese sem a antítese. A certeza em trânsito paira sobre as dúvidas, como o espírito de Deus que paira sobre as águas.” (Op. cit., pgs. 34-35 <2ª ed. [pp.] 36-37>).
A própria doutrina cristã conheceu no seu seio a luta do materialismo e do monoteísmo: “há um momento em que se encontram as duas humanidades. São os primeiros séculos da Era Cristã. Esses dois caracteres universais do espírito vão se misturar, quase fundir-se, separar-se de novo, caminhar em sentido ora paralelo, ora divergente.” (Op. cit., pág. 35 <2ª ed. p. 37>).
Essas duas tendências do espírito humano, “tendo confluído na alvorada do cristianismo, sem nunca, entretanto, ter-se confundido de maneira absoluta, começam a separar-se em lineamentos mais nítidos, depois do século IV. O Concílio de Nicéia não é apenas o palco da controvérsia entre estudiosos da teologia dogmática. É um índice também revelador do livre-exame, de que Ario representa possivelmente a primeira expressão. É uma depuração de resíduos.” (Op. cit., pg. 37 <2ª ed. p. 39>).
Porque não se compreende a afirmação sem a negação, e a “única forma de negar é abstrair, é não considerar” (Op. cit., pg. 27) é que o helenismo e o pensamento burguês moderno são ateus: eles não negam Deus, mas abstraem dele.
Mas o materialismo marxista nem é antiespiritualista e nem é ateu (ver no apêndice textos 32 a 35). Pelo contrário, vibra nele o espírito do monoteísmo semítico (ver no apêndice, texto 36).
Eis aí a consequência a que chega a filosofia integralista!
Mas veja-se agora uma curiosa explicação da razão porque o comunismo prevaleceu na Rússia cristã e foi rejeitado pela Europa burguesa e ateia: é que a Europa ateia repugnou o comunismo, que é uma religião. Enquanto o comunismo não desagradou, em virtude de seu fundo religioso, ao povo russo, profundamente cristão. (Plinio Salgado, A Quarta Humanidade, pg. 56 <2ª ed. pg. 58>, ver texto 36 <do apêndice>).
Assim, pois, enquanto o integralismo proclama aos quatro ventos que a religião é a base da civilização, o Sr. Plinio Salgado sustenta que foi a religião que franqueou as portas da alma russa ao comunismo. Enquanto a irreligião burguesa salvou a Europa do perigo vermelho!
<II – O integralismo e a religião>
Deus, segundo o integralismo
Não há, no Brasil, quem ignore que o lema do integralismo é Deus, Pátria e Família. O lema é simpático entre os que mais o sejam.
Mas estamos no nosso direito de perguntar: qual é a concepção que, de Deus, faz essa filosofia integralista tão obscura e tão surpreendente, para a qual o monoteísmo e o ateísmo são irmãos gêmeos, filhos do politeísmo, para a qual se encontra no cristianismo o germen do ateísmo e que vê no comunismo uma semente do monoteísmo?
Ouçamos algumas <invocações> a Deus, feitas pelo Chefe Nacional, menos divulgadas que seus artigos na “Offensiva”, em que ele se mostra vagamente cristão. Estas palavras nos revelam um aspecto curioso de suas concepções teológicas. Falam os textos:
“Destino dos povos, vontade desconhecida, que age no fundo das Eras, através das transformações numerosas do Espírito do Tempo e da fisionomia da Terra;
“Força providencial, que determinastes as migrações das raças, e tangestes nações em marchas de conquistas, fundando religiões e estabelecendo impérios;
“Tenhas partido da Ásia, ou hajas ali renascido da morte de civilizações milenárias, és tão eterna como o roteiro dos astros, e és agora tão viva no nosso amargurado século XX, como estavas presente quando nasceram os primeiros deuses.
“Tu, Destino Misterioso, que conduziste, pelo deserto, Moisés e seu povo.
“Tu, Destino dos Povos, dá ao Brasil o seu instante de afirmação, proporciona-lhe a hora de sua palavra no Mundo.” § (Plinio Salgado, oração pronunciada em 1926).
O pensamento que esta oração contém, foi, segundo informa o autor <(Quarta Humanidade, pg. 135, 2ª ed. pg. 137)>, reproduzido por ele na tribuna da Câmara Estadual e em uma conferência em Ribeirão Preto. Este pensamento também foi afirmado no manifesto da Legião Revolucionária, em 1931, e aí foi mais bem fixado. Este mesmo pensamento foi novamente reafirmado no manifesto de Outubro de 19324, quando foi lançado o integralismo. Este discurso está anexo ao livro de Plinio Salgado, A Quarta Humanidade, pgs. 135 e seguintes. A seu propósito, o autor diz na edição de 1934 (loc. cit.): “é este o pensamento que me absorve, e que está presente em todos os meus livros. Esta oração cabe perfeitamente nestas páginas e serve para esta hora sombria que só os inconscientes não percebem.”
É inútil mostrar os erros evidentes, destes textos heterodoxos.
Eis agora outro trecho dessa significativa oração:
“É que acendes teu fogo imortal, Destino dos Povos, no risco fosfóreo do Boitatá, nas fagulhas da Mãe de Ouro, na brasa do cachimbo do Curupira e do Saci, nos largos sertões, como se fosse a própria alma do Brasil ígnea e palpitante.” (Plinio Salgado, A Quarta Humanidade, pg. 145 <2ª ed. p. 147>).
E continua:
Destino dos Povos, “vieste da nossa história, vives na nossa terra; és a meiguice das mães brasileiras, és a bondade do homem rude do Brasil. És o ritmo das nossas canções tristes, és a volúpia dos nossos maxixes e cateretês.” (Op. cit., pgs. 145-146 <2ª ed. [pp.] 147-148>).
Curiosa esta ideia de Deus presente nas volúpias do cateretê!
Mas, alguém dirá: este discurso é de 1926. Estamos em 1936. Nestes 10 anos, o autor tem publicado declarações cada vez mais categoricamente cristãs. É, pois, um cristão.
Não conhecemos um único dos artigos, discursos ou livros do Sr. Plinio Salgado que, lido com uma imparcialidade perspicaz e arguta, contenha cabais, claras e insofismáveis afirmações de que é cristão, <no sentido autêntico da palavra,> isto é, que crê “in unum Deum, Patrem Omnipotentem, factorem cæli et terræ, visibilium omnium et invisibilium. Et in unum Dominum Jesum Christum, Filium Dei Unigenitum. Et ex Patre natum ante omnia sæcula. Deum de Deo… per quem omnia facta sunt … et incarnatus est de Spiritu Sancto ex Maria Virgine et homo factus est.”
Pela desgraça dos tempos, a palavra cristão já não é privativa dos que creem em Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem.
Há numerosas correntes religiosas, até entre protestantes, que, sendo apenas deístas, veem no Cristo Jesus um mero super-homem. E, no entanto, dizem-se cristãs.
Será este, ou será o nosso, o cristianismo do Sr. Plinio Salgado? Nenhum escrito seu, ou do integralismo, deixa perceber.
Quanto ao discurso de 1926, o autor reeditou-o em 1934, dizendo que o pensamento que ele contém foi apenas “fixado melhor” em 1931, e se tornou “definitivamente nítido” em 1932. Fixado, tornado nítido, sim. Mas retocado, mas alterado, mas reformado nos erros substanciais e gravíssimos que viciam sua essência, não. As ideias essenciais continuaram de pé.
Exposto, assim, o pensamento do Sr. Plinio Salgado, vamos ao do Sr. Gustavo Barroso5, a primeira figura do integralismo depois do Chefe Nacional.
Em um dos esquemas finais do seu livro [O que o integralista deve saber] ↓6, Gustavo Barroso traça a posição religiosa da doutrina do sigma.
<“Deus é o ponto de convergência de todas as religiões7 – afirmação básica de todas – em que se coloca o integralismo para fundamentar a ordem social.” (Gustavo Barroso, O que o integralista deve saber, Apêndice [esquema] V).>
<Cumpre notar que o Budismo aceita diversos deuses, que não têm poder para auxiliar os mortais. O bramanismo e o teosofismo são francamente panteístas, isto é, aceitam um Deus que se confunde com a natureza, e é um ser que não tem consciência de si mesmo. Qualquer destas concepções cabe na concepção integralista de Deus.>
Como se vê, para o integralismo, qualquer Deus serve, seja ele o deus vago <e impessoal> dos panteístas, ou o Deus dos católicos. O Deus do integralismo pode ser até o Deus-natureza dos panteístas, etc.
A mesma noção figura com toda clareza nas Noções elementares da Doutrina Integralista, do Sr. Olímpio Mourão Filho. Figuram essas noções em anexo do livro citado, do Sr. Gustavo Barroso. O trecho seguinte pode ser lido nas páginas 188-9:
“Todas as religiões que não atentarem contra a moral terão amplas garantias por parte do Estado. O Estado não tem religião, oficial. Para o integralismo, Deus é o ponto de <intersecção> de todas as religiões morais.”
Também se manifestou de modo absolutamente explícito, a este respeito, o Sr. Miguel Reale, Chefe do Departamento de Doutrina da Ação Integralista e, portanto, pessoa muito ortodoxa quanto à pureza de seus princípios integralistas.
Em artigo publicado no dia 29-6-1935 pela “Offensiva”, órgão oficial do integralismo, o Sr. Miguel Reale examina as razões pelas quais a maçonaria combate o integralismo. Publicamos <no apêndice, os principais tópicos> deste importantíssimo artigo.
Dele ressalta que o Sr. Miguel Reale não vê qualquer oposição religiosa entre a doutrina do integralismo e da Maçonaria, afirmando que “conhece maçons dignos de fazer parte do integralismo, que exige de seus adeptos tão somente a nota espiritualista.”
O espiritualismo da Ação Integralista é pois, para o chefe do Departamento de Doutrina, o mesmo falso espiritualismo da maçonaria.
E tanto isto é verdade, que também a maçonaria declarou que a doutrina religiosa do integralismo contém a mesma liberdade de consciência que <ela>, maçonaria, adota. E que, portanto, “baseando-se no princípio da liberdade de consciência, isoladamente, <a maçonaria não tem razões para> opor-se ao integralismo.” É ainda o Sr. Miguel Reale que nos informa isto em seu artigo. E conclui que a hostilidade entre maçonaria e integralismo é toda ela política<, e não tem o mínimo cunho religioso.>
No terreno religioso, encontram-se pacificamente no amor “à liberdade de consciência”. § Ora, nós sabemos qual é a liberdade de consciência da maçonaria.
Não é, pois, em vão, que um pastor anglicano publicou na “Offensiva”, órgão oficial do integralismo, um artigo concitando todos os anglicanos a se filiarem ao integralismo, que em nada contraria a sua doutrina religiosa.
Não é em vão que os numerosos protestantes filiados ao integralismo celebram ofícios religiosos em seus templos heréticos, no natalício do Sr. Plinio Salgado, enquanto nas igrejas católicas se celebra pelo mesmo motivo o Santo Sacrifício. E não é em vão, que a “Offensiva” publica de uma e outra cerimônia – a católica e a herética – amplas notícias.
Não é em vão, que a “Offensiva” publicou, por largo tempo, uma coluna espírita ao lado da coluna católica.
Não é em vão, que, na “Offensiva” de 1-VI-35, o Sr. J. Ferreira da Silva escreve um artigo em que faz calorosa e clara profissão de fé espírita e diz que “não é apenas a harmonia doutrinária que obriga ou torna o integralismo uma doutrina perfeitamente aceitável pelos espíritas. O que de fato desperta a sensibilidade dos espíritas para as fileiras integralistas é ser uma revolução que se fará apoiada no Evangelho de Cristo”. (Conhecemos qual a autenticidade do cristianismo espírita como do espiritualismo das Lojas e da liberdade de consciência da maçonaria).
A filosofia integralista é claramente, profundamente, essencialmente eclética. § E por isto mesmo é anticatólica. § Só o poderão negar os que não leram do integralismo senão as famosas Diretrizes.
A Igreja e o Estado no integralismo
Há, porém, um importantíssimo aspecto da doutrina integralista, que não quereríamos deixar de examinar, antes de encerrar este trabalho.
Como se sabe, sobre este assunto a Doutrina Católica afirma:
a) que é lícito optar alguém pela separação entre a Igreja e o Estado, na prática, em determinado caso concreto;
b) mas que não é lícito sustentar <doutrinariamente> ↓ que o Estado <não deve declarar> oficial <o culto verdadeiro>, ↓8 e falsos os demais.
O integralismo é pela Concordata. Mas é pela separação. E, como vamos demonstrar, ele é pela separação, não em virtude de razões práticas, locais, ocasionais, mas em virtude de concepções doutrinárias condenadas pela Igreja.
O integralismo coloca o Estado, em relação a todas as religiões, em situação de rigorosa equidistância. É uma consequência lógica de sua concepção de um Deus igualmente católico, protestante, budista, taoísta, xintoísta ou espírita.
O Estado Integralista será <rigorosamente> neutro <em matéria religiosa>. Quando muito<, ele se afirmará> vagamente espiritualista e deísta (ver textos 37 e segs.).
Nas Diretrizes Integralistas, por exemplo, o item XVII diz:
“O integralismo, visando promover o aperfeiçoamento moral e espiritual da Nação, se declara pelo espiritualismo contra todas as correntes materialistas de pensamento e de ação que, acobertadas pelo liberalismo, vêm exercendo a sua obra nefasta de desintegração de todas as forças vivas da Pátria.”
Já sabemos o que significam as palavras “materialismo” e “espiritualismo” na técnica filosófica caótica do Sr. Plinio Salgado: o monoteísmo contém <germens> materialistas, e o materialismo comunista tem germens de espiritualismo.
Isto posto, o que significa de positivo, de concreto, de útil, como garantia para a Igreja, o artigo XVII das Diretrizes? Evidentemente, nada.
<Como vemos, a posição religiosa do integralismo é idêntica, absolutamente idêntica à das arquiliberais repúblicas americanas do norte e brasileira (depois de 1934). Ambas as repúblicas afirmam a existência de Deus, mas se conservam rigorosamente alheias às diversas confissões religiosas.>
<Dito isto, perguntamos: o que lucrará a Igreja com a instauração do regime integralista? Nada.>
Mas passemos adiante. <Há mais.>
“Dentro deste critério, o integralismo se propõe respeitar integralmente a liberdade de consciência e garantir a liberdade de cultos, desde que não constituam ameaça à paz e à harmonia social.” (Diretrizes, XVIII.)
A este respeito, os regimens liberais tinham outra fórmula: liberdade de todos os cultos que não contrariassem a ordem pública e os bons costumes.
O integralismo alterou a fórmula. E a alterou sensivelmente.
Os intérpretes de nossas constituições liberais de 1891 e 1934 são unânimes em afirmar que as religiões só atentariam contra a ordem pública se pregassem e praticassem violências materiais, como agressões, motins, revoluções, etc.
Fora daí, porém, não haveria violação à ordem pública. Reuniões, discussões, polêmicas, tudo isso era amplamente permitido.
Vem o integralismo, e introduz uma inovação: é proibido aos diversos “cultos” ameaçar a harmonia social. Ameaçar, note-se bem, e não perturbar.
Ora, pergunta-se, qual é a forma de proselitismo que não pode gerar uma desarmonia social? Bastará à Verdade que desmascare o erro; ao Bem que estigmatize o mal, para que daí brotem descontentamentos, protestos, polêmicas e discussões.
E esses descontentamentos, polêmicas, protestos e discussões romperão a harmonia social.
A fórmula “harmonia social” é tão ampla, dado o significado dos termos que a compõem, que erige o Estado em supremo regulador das atividades da verdade e do erro. E põe nas suas mãos a cadeia de ferro, com que poderá algemar igrejas heréticas juntamente com a Santa Igreja de Deus.
Não é à toa, pois, que o integralismo professa um verdadeiro horror às lutas confessionais. Gustavo Barroso (O que o integralista deve saber, pg. 67) diz que o integralismo combate “todo e qualquer sectarismo, porque todos quantos fazem de sua crença em Deus o fundamento da ordem social devem formar hoje em dia, em defesa da civilização ameaçada, segundo as palavras de S. S. o Papa Pio XI, uma frente única contra o materialismo; porque o integralismo não é um movimento religioso ou clerical, mas um movimento político-social que acolhe em seu seio todos os brasileiros integralistas seja qual for sua confissão religiosa.”
Através deste texto vê-se o que o autor entende por “sectarismo”: é a luta religiosa entre as confissões diversas.
Que S. S. o Papa [Pio XI] recomende uma frente única de todos os homens crentes, contra o comunismo, é razoável e sábio.
Mas que o Estado Integralista tire daí um pretexto para proibir qualquer luta religiosa! Quem não percebe o perigo que aí se oculta?
No entanto, essa fórmula perigosa se encontra frequentemente nos livros integralistas. Na pg. 86 de seu livro já citado, Gustavo Barroso afirma que “o integralismo mantém as religiões sem sectarismo e afirma Deus”.
E daí tira uma consequência imensamente grave. Diz ele (op. cit. pg. 108): “Reconhecemos o valor espiritual das religiões, mas não compreendemos a necessidade de organizações políticas de caráter religioso.” Está aí o germen de toda luta de Hitler contra o que <o Führer> chama “catolicismo político”.
Mas há mais.
O Estado Integralista reservará para si o direito de interferir nas próprias doutrinas filosóficas e religiosas. Di-lo Gustavo Barroso, na pg. 61 de seu citado livro: “O integralismo assegura liberdade religiosa absoluta, embora o Estado considere e examine as religiões e crenças filosóficas”.
A esta afirmação, o Sr. Miguel Reale junta a seguinte: “O Estado e a religião devem agir de comum acordo, como forças paralelas. Nas questões mistas, meu ponto de vista pessoal é pela supremacia da autoridade do Estado, de acordo com as aspirações nacionais que lhe cumpre interpretar e dirigir.” (Miguel Reale, O Estado <Moderno>, pg. 199 <3ª ed. p. 179>).
Se esta é a opinião pessoal do Chefe do Departamento de Doutrina, claro está que ela não colide com o pensamento integralista.
A esta declaração, basta-nos acrescentar só mais esta outra do Sr. Plinio Salgado:
O Sr. Plinio Salgado declara que dá o nome de Revolução à “interferência de uma ideia na vida social, para restabelecer o equilíbrio perturbado”. (Quarta Humanidade, pg. 115 <2ª ed. p. 117>)9.
Revolução é, pois, qualquer atividade tendente a restabelecer o equilíbrio social. Por mais surpreendente que pareça, é este o sentido que ele dá à palavra Revolução. Sentido este que ele reafirma inúmeras vezes, com toda clareza, no seu livro já citado. Ora, diz o Sr. Plinio Salgado, “o Estado é, para nós, integralistas, o interferente modificador. Nos séculos anteriores ao nosso, essa tarefa cabia a indivíduos ou grupos de indivíduos.” E acrescenta: “só o Estado tem o direito de agir para manter o equilíbrio social.” (Quarta Humanidade, pgs. 115-118 <2ª ed. [pp.] 117-120>).
Quer isto dizer que, para os integralistas, é ilícita toda a atividade social da Igreja, pois que tal atividade não é senão uma “interferência” da Igreja na vida social, para restabelecer o equilíbrio rompido.
<III – Conclusões> ↓10
<Pareceu-nos de evidente utilidade> o trabalho informativo sobre o integralismo a que procedemos. A bibliografia integralista é longa. Os documentos de propaganda são numerosos. Para ter do integralismo uma ideia exata, seria necessária a leitura de todos esses documentos, de toda essa enorme bibliografia.
Evidentemente, a nosso Venerando Episcopado, já tão sobrecarregado de ocupações pastorais, não sobraria tempo para fazer tal estudo.
Em geral, as manifestações de católicos sobre o integralismo revelam uma informação deficiente sobre o verdadeiro pensamento integralista. Se essa informação existisse, estamos certos de que o pensamento católico sobre a doutrina do sigma já se teria fixado de modo bem categórico.
Vamos agora tirar, de tão amplo estudo, nossas conclusões. Elas são de duas ordens: doutrinárias e práticas.
Conclusões doutrinárias
I – Quanto à filosofia:
a) o integralismo não é somente uma doutrina social e política; é também filosófica;
b) a doutrina filosófica do integralismo é antitomista e eclética, e procura abranger, em uma imensa síntese, todas as filosofias, compatíveis ou não com a doutrina católica;
c) nessa síntese está abrangido um grande número de afirmações divergentes do pensamento católico.
II – Quanto à religião:
a) o integralismo toma as palavras espiritualismo e materialismo em um sentido inteiramente peculiar à filosofia do integralismo. O comunismo lhe parece ter uma raiz espiritualista. E o monoteísmo lhe parece conter germens materialistas.
b) empregadas neste sentido, as palavras “afirmação de espiritualismo”, e outras congêneres, frequentemente inscritas em documentos integralistas, não significam a menor garantia para os católicos.
c) quanto à história das religiões, o Sr. Plinio Salgado é francamente evolucionista.
d) a concepção de Deus, contida no lema integralista, comporta até o panteísmo;
e) isto posto, é inadmissível que o integralismo seja sincera, lógica e autenticamente cristão.
III – Quanto à Igreja:
a) o integralismo é neutro em matéria religiosa. Limita-se a afirmar um Deus, já vimos de que modo. Daí ele deduz que a Igreja, ou antes, as Igrejas devem ser separadas do Estado. A razão desta separação não é política e ocasional. É doutrinária. E, por isto, está condenada pelo Syllabus.
b) embora estabeleça a separação, o integralismo evoca a si o direito de impor a “harmonia social” e de “combater o sectarismo”; isto é, de controlar o proselitismo desenvolvido pelas diversas Igrejas;
c) além disto, o integralismo se julga no direito de “examinar” as filosofias e doutrinas.
d) opõe-se a qualquer agremiação cívica de caráter religioso.
e) O integralismo, pois, estabelece a separação entre a Igreja e o Estado, mas tira àquela a indispensável liberdade.
f) O chefe do Departamento de Doutrina da Ação Integralista Brasileira acha que, em matéria mista, cabe ao Estado a supremacia.
Estas as conclusões a que chegamos. Estão apoiadas sobre textos irrefutáveis, que transcrevemos na íntegra, no apêndice. Pelas indicações com que acompanhamos nossas citações, será fácil controlar qualquer <delas>.
Dir-nos-ão talvez: mas há nas diretrizes integralistas a afirmação explícita de que o integralismo porá em vigor a sociologia cristã, e conservará as conquistas religiosas inscritas na Constituição de 1934. Logo, podemos confiar nele.
E nós perguntamos: o que é uma sociologia cristã? Uma sociologia católica, sim, é coisa explícita, de sentido definido. Mas que garantia representa para nós a promessa da aplicação de uma sociologia cristã? Na Rússia, há uma seita cristã cismática que apoia o comunismo. Inúmeros têm sido os pregoeiros da Revolução Social que tem afirmado que o comunismo é a aplicação plena dos princípios sociais do Evangelho. Na Alemanha há uma confissão protestante que presta incondicional apoio a Hitler. Quem, com bom senso e boa-fé, pode sentir-se tranquilizado ante <a> promessa tão vaga <do integralismo, de aplicar a sociologia “cristã”>? Essa <promessa, aliás, é> contrariada pelos próprios corifeus do pensamento integralista, como acabamos de demonstrar!
Quanto às reivindicações de 1934, é simples a resposta. Todas elas fazem parte do famoso “terreno misto” de competência cumulativa da Igreja e do Estado. A prevalecer o pensamento do Chefe do Departamento de Doutrina da Ação Integralista, a supremacia, neste terreno, cabe ao Estado sobre a Igreja.
De onde se conclui que essas reivindicações existirão enquanto o Estado quiser. Desde que elas suscitem “desarmonias sociais”, <isto é, provoquem protestos de meia dúzia de protestantes ou espíritas>, deverão ser suprimidas. Isto é claríssimo.
Conclusão prática
Sendo o integralismo uma corrente que professa uma filosofia incompatível com a da Igreja, pergunta-se: é lícito ao católico filiar-se ao integralismo?
Resposta: Não. Quem se filia a uma escola filosófica incompatível com a doutrina da Igreja, professa implicitamente convicções <filosóficas> que sua <religião> repele.
Mas todos os partidos políticos brasileiros são favoráveis à separação da Igreja e do Estado, e ao Estado leigo. Logo, deveria também ser proibida a filiação de católicos a tais partidos.
Resposta: Distingo. Nas correntes <ideológicas> que, explicitamente, se declaram favoráveis à separação entre a Igreja e o Estado por motivos doutrinários errôneos, o católico não se pode inscrever.
Nos partidos políticos favoráveis à separação por motivos de ordem concreta (por exemplo), porque a união tolheria, no Brasil, por razões ocasionais locais, a liberdade da Igreja, é permitido ao católico inscrever-se.
Nos partidos políticos que são favoráveis à separação, sem declarar o motivo dessa atitude, podem os católicos inscrever-se, uma vez que não há qualquer declaração hostil às suas convicções religiosas.
Mas neste último caso, toda prudência ainda é pouca.
É lícito afirmar-se que, de todos os partidos ou correntes políticas do Brasil, o integralismo é a mais próxima do pensamento católico?
Resposta: não.
É certo que o integralismo promete manter as reivindicações católicas de 1934. Mas idênticas promessas se encontram nos programas de diversos outros partidos.
É certo, ainda, que promete aplicar a sociologia cristã na sua íntegra. Mas já vimos de que vale essa promessa.
Mas é ao menos certo que o integralismo faz à liberal-democracia uma crítica razoável, capaz de arrancar o Brasil do abismo a que o está atirando o regime atual[?]11
É certo que o integralismo, como aliás também o comunismo, denuncia com vigor e com precisão diversos erros da liberal-democracia.
Mas não é menos certo ainda que o integralismo acusa no seu próprio seio tendências talvez mais funestas de que os erros da liberal-democracia, por mais graves que estes sejam. <O integralismo, por exemplo, ameaça invadir a esfera da ação da Igreja, e tirar-lhe a liberdade de que goza no Brasil hodierno.>
Em todo o caso, para os que ficarem perplexos ante as contradições existentes entre os sentimentos de certos integralistas, incontestavelmente bons católicos, e a doutrina que eles professam, <uma conclusão se impõe: os referidos católicos estão mal informados sobre o integralismo. Em todo o caso, este merece a condenação de seus erros doutrinários.>
Merecerá, porventura, <aprovação> uma doutrina como a que expusemos? Será lícito aconselhar aos católicos que se inscrevam no integralismo? Não.
Diz-se que os Srs. Plinio Salgado e Gustavo Barroso fizeram um retiro fechado no Rio de Janeiro, durante o qual comungaram.
Pouco importa. Por mais excelsas que sejam as virtudes e o saber do sacerdote que lhes deu a Sagrada Comunhão, perguntamos: § podem inspirar confiança, aos católicos, homens que escrevem, publicam e editam livros contrários à doutrina da Igreja?
Há muito mais de um ano, que <constou a realização do> referido retiro espiritual. Onde está a retratação a que, em consciência, os retirantes estavam obrigados?
Ninguém a conhece.
<IV – Prevendo objeções> ↓12
Os autores deste estudo condensaram, nele, o material contido nos principais livros integralistas.
Para não alongar excessivamente o Relatório, não lhes foi possível aproveitar os textos da totalidade dos livros publicados por autores integralistas.
A respeito dos livros e documentos integralistas, convém, no entanto, fazer algumas observações que já se encontram esparsas no Relatório, mas que queremos focalizar neste capítulo, de modo particular.
I
Habituados à disciplina reinante na Igreja, os católicos, ao lerem as Diretrizes Integralistas, e o Manifesto de Outubro, supõem que estes dois documentos têm uma autoridade doutrinária análoga à que tem, entre os fiéis, o Credo.
O católico é obrigado a aceitar todos os artigos do Credo. Se negar um só deles, está automaticamente excluído da Igreja.
Mas o mesmo não se dá com as Diretrizes Integralistas e o Manifesto de Outubro, bem como com outros documentos oficiais do integralismo. É lícito ao integralista negar um ou alguns itens das Diretrizes. Nem por isto, será ele excluído da Ação Integralista Brasileira. Pelo contrário, pode até ser chamado a ocupar altos postos.
Por isto é que, há muitos ateus inscritos na Ação Integralista, embora as Diretrizes afirmem que a crença em Deus faz parte integrante da doutrina do sigma. O juramento de fidelidade ao Chefe Nacional, que todo integralista deve prestar antes de ser admitido nas fileiras verdes, tem duas fórmulas diversas, ambas igualmente oficiais. Em uma delas, o juramento é feito “por Deus”, e em outra “pela honra”. Assim, não fica vedado aos ateus o ingresso nas fileiras integralistas.
Há exemplos flagrantes da sem-cerimônia com que os integralistas se conduzem em relação às Diretrizes que, como já dissemos, são o programa oficial do integralismo. A um desses exemplos, já aludimos: enquanto as Diretrizes afirmam que o “integralismo pretende construir a sociedade sob a dependência de Deus”, o Chefe do Departamento de Doutrina, Sr. Miguel Reale, escreve um livro sobre o Estado Moderno, em que expõe os fundamentos do Estado segundo a doutrina integralista. Neste livro, não existe a mais leve referência a Deus, como fundamento do Direito.
Enquanto o art. XV das Diretrizes garante que o “Estado jamais poderá ultrapassar a legítima esfera de seus direitos, aniquilando ou mesmo coarctando os direitos primordiais da religião”, e o item II declara que o “integralismo subordina os valores materiais aos espirituais”, o Sr. Miguel Reale afirma que, a seu ver, em matéria mista, a supremacia do Estado sobre a Igreja é legítima.
E assim por diante. Teríamos mais de um exemplo a acrescentar.
Conclusão: não se pode julgar o integralismo exclusivamente através de suas Diretrizes, porque estas não representam o pensamento da unanimidade dos integralistas. Nem sequer o Chefe do Departamento de Doutrina aceita a totalidade dos itens das Diretrizes.
Se algum dia o integralismo se apoderar do Governo do País, não temos a menor garantia de que as Diretrizes serão cumpridas, pois que, desde já, sofrem repúdios parciais. E repúdios procedentes de figuras de maior destaque no integralismo.
Ninguém venha, portanto, argumentar contra nosso Relatório, armado tão-somente com as Diretrizes, e fechando os olhos aos livros do Sr. Plinio Salgado e dos demais chefes integralistas, porque seria ingênuo fazê-lo.
II
Aliás, cumpre acrescentar que as Diretrizes, bem como os demais documentos congêneres, são tão confusos, que nem sequer podem servir de garantia aos católicos.
Examinemos de perto as coisas.
À vista do rumo que teria tomado o fascismo italiano, se não fosse a intervenção vigorosa do Santo Padre Pio XI; à vista do rumo que tomou o nazismo alemão, que o Santo Padre não pôde conter, porque a Alemanha está mais longe de sua influência imediata, do que a Itália; pergunta-se: não é justo recear-se que tome idêntico rumo o integralismo brasileiro?
Dizem os integralistas, e seus amigos, que não.
E, como garantia, mencionam: a) as Diretrizes Integralistas; b) declarações escritas que o Chefe Nacional teria feito ao Episcopado; c) declarações verbais do Chefe Nacional, também a membros do Episcopado.
A última das garantias não tem o mínimo valor. Quando se trata de assunto sumamente grave, como este, de nada valem palavras: verba volant13.
A segunda não é muito mais segura. Na hipótese de tais declarações existirem, e na hipótese de serem absolutamente claras (coisa de que duvidamos), sem as reticências e ambiguidades frequentes nos autores integralistas, elas exprimem somente a opinião pessoal do Chefe, opinião contrária, aliás, ao pensamento que ele divulga francamente em suas obras.
Como já vimos, auxiliares dos mais graduados do Chefe Nacional professam doutrinas incompatíveis com o programa social da Igreja. E o Chefe tolera isto de tão boa vontade que, a um dos mais assinalados expoentes da ala acatólica do integralismo, ele confiou o próprio Departamento de Doutrina: trata-se do Sr. Miguel Reale.
Vamos, agora, às Diretrizes.
Constituem elas uma garantia para a Igreja? Afirmamos que não.
Para que elas constituíssem garantia eficaz, seria necessário que elas fossem tão claras, que não pudessem sofrer qualquer interpretação alheia ou hostil à doutrina católica. Ora isto não se dá.
Dos itens das Diretrizes, que podem interessar [ao] nosso programa social católico, já analisamos os de nos XVII, XVIII, XIX e XX. Já vimos que são ambíguos e que, interpretados em conjunto com outras fontes integralistas, podem abrir passagem às mais inesperadas consequências.
Vejamos agora os outros itens.
O item 3 é totalmente oco. Poderia indiferentemente ser colocado no programa de um liberal, de um socialista, de um comunista ou de um católico, porque contém uma afirmação tão genérica que convém a qualquer corrente doutrinária.
O item 8 é do mesmo gênero: totalmente vazio. Não basta dizer que o homem tem direitos naturais intangíveis. É preciso enumerá-los. Enquanto essa enumeração não for feita pelo integralismo, nunca se poderia saber até onde pode ir o Estado e até onde o indivíduo. E estará entreaberta a porta para a prepotência brutal do Estado nazista.
O item 10, definindo os deveres do indivíduo para com o Estado, é igualmente vazio. Pesem-se atentamente seus termos: ver-se-á que cabem dentro deles todos os matizes de pensamento que vão do liberalismo ao socialismo. Não há enumeração. Não há definição. Cada qual pode dar ao item 10, uma interpretação diversa, que varia segundo a doutrina filosófica que professa.
Merece especial referência o item ↓14 [XV]. Tem ele sido apontado como a garantia mais satisfatória do integralismo aos católicos. É, ao menos, o que dizem os amigos do sigma.
Já vimos com que liberdade o Sr. Reale age em relação a este artigo, no que se refere aos direitos da religião.
Se o Sr. Plinio Salgado designou o Sr. Reale como Chefe do Departamento de Doutrina, deve-se supor que acha muito boa a doutrina que este professa.
Nesta doutrina, figura uma violação expressa, clara, categórica, do item XV. Esta violação consta da afirmação do Sr. Reale de que o Estado tem supremacia, em matéria mista, sobre a Igreja.
Por aí se vê o valor que o Sr. Plinio Salgado dá ao item XV do seu programa.
Conclusão: Ninguém pode argumentar com as Diretrizes Integralistas, fechando os olhos a todos os outros documentos de origem integralista. No entanto, ainda mesmo que nos cingíssemos somente às Diretrizes, desde que pesemos atentamente cada uma de suas palavras, verificaremos que elas não importam na menor garantia de que, uma vez no Poder, o Estado Integralista não enverede pelos caminhos de Hitler.
Declarações que, a meu ver,
poderiam ser acrescentadas no Relatório15
1) O autor do Relatório, quando o redigiu, só conhecia os livros nele mencionados. Posteriormente, porém, leu ainda Integralismo e Catolicismo, de Gustavo Barroso, O Quarto Império, do mesmo autor; A doutrina do sigma, de Plinio Salgado; e A.B.C. do Integralismo, de Miguel Reale. Todos estes livros vêm em abono das teses contidas no relatório, ao qual o autor nada tem a tirar. O autor só não acrescenta os textos dos novos livros que leu, ao Relatório, para não torná-lo excessivamente extenso. No livro Integralismo e Catolicismo, o Sr. Gustavo Barroso declara-se aberta e explicitamente católico. Entretanto, nesse mesmo livro se encontram graves erros de doutrinas que um católico nunca poderia subscrever. Mais ainda: no livro Quarto Império, o Sr. Gustavo Barroso faz sua a doutrina da Quarta Humanidade [de Plinio Salgado] e manifesta certas ideias que fazem duvidar muito – para não dizer “contestar formalmente” – de suas convicções católicas.
2) Muitas pessoas cuja opinião conheço, e até membros do clero, concedem sem dificuldade que a doutrina integralista é muito falha, mas acham que a doutrina é secundária no movimento integralista, e só o que interessa é o homem. Para responder a estes, seria conveniente acrescentar os seguintes textos da Doutrina do sigma, edição de 1937:
“O que deve unir ou separar os homens são as ideias. Seguir um homem sem motivos ideológicos, é uma indignidade, ainda quando esse homem possua as maiores virtudes. Eis porque não permito que os integralistas vejam em mim o integralismo. Os camisas verdes devem ter como chefe supremo a doutrina integralista. Não devem gastar o seu tempo em erguer hosanas ao Chefe, a cantar-lhe loas”, pgs. 74, 75.
“O que vale em nosso movimento, como argumentação para atrair os brasileiros, não são os homens, porém os livros que os homens publicam, as conferências que fazem, os artigos que escrevem. É com esses elementos que se deve julgar o integralismo, porque esses elementos têm caráter de permanência e perpetuidade, ao passo que os homens são transitórios”, pg. 73.
E na página 69 acrescenta: …“Este movimento é de ideias claras, nítidas, precisas, não de fanatismo em torno de minha pessoa. Determinei que os integralistas pensassem menos em mim e mais em nossa doutrina.”
Como se vê, é absurdo relegar para segundo plano a doutrina integralista, e colocar em primeiro plano os homens do sigma.
Ora, essa doutrina, como vimos, é a mais errônea possível.
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No seu livro A doutrina do sigma, o Sr. Plinio Salgado afirma que “a revolução integralista se processa em dois planos simultaneamente: 1º) o plano espiritual mediato; 2º) o plano cultural imediato. No plano espiritual, o objetivo é mediato, porque, para atingi-lo, teremos de levar muitos anos de doutrinação, de educação constante da massa, de esforço individual de cada um. No plano cultural, o objetivo é imediato, porque o Brasil necessita, desde logo, de uma transformação do Estado, mediante a qual poderemos, como queria Alberto Torres, assumir nova atitude em face dos problemas”, pg. 14.
Os integralistas estão “crentes de que uma obra sistemática de educação individual e das massas elevará a média das virtudes morais e cívicas do povo brasileiro, cuja estrutura mais íntima revela traços de superioridade incontestável. Essa obra de educação é que é a ‘revolução espiritual’ e é em razão dela que nos distinguimos tanto do fascismo como do hitlerismo, imprimindo um sentido profundo ao nosso movimento”, pg. 16. Donde se deduz que o integralismo é ainda mais absorvente, em matéria educacional, do que o fascismo e até o hitlerismo!
Depois de enumerar minuciosamente, à pag. 17, toda a reforma moral que o integralismo quer operar em seus adeptos, os defeitos morais a combater, as virtudes a adquirir, etc., ele conclui à pag. 18: “Essa é a revolução interior, a revolução espiritual. Nós sabemos que ela se processará devagar, porque estamos encharcados dos vícios de uma educação materialista, de uma educação farisaica de catecismos hipócritas em que se esfacelou uma república que confiou mais nos doutores da lei do que na realidade da Pátria e nas profundas verdades humanas. Sei que essa revolução espiritual durará muito tempo, e o seu triunfo completo só se dará nas futuras gerações. É por isso que, paralela a essa transformação do espírito nacional, estamos acionando a Revolução Cultural. Há no integralismo uma revolução subjetiva e outra objetiva.”
“A revolução espiritual, nós a realizamos nos quadros da Secretaria Nacional de Educação. Somos hoje 1.000.000 de brasileiros que, em 3.000 núcleos que funcionam em todo o país, constituímos uma só família”, pg. 27.
Para que se compreenda esse texto cumpre acrescentar que a Secretaria Nacional de Educação é um dos Departamentos da atual Ação Integralista Brasileira.
“Perguntamos: no caos da vida brasileira, na confusão que assinala estes dolorosos dias de nossa história, onde estão os doutrinadores, os propagandistas, os educadores das massas? E podemos responder com segurança: estão no integralismo. O governo mantém cursos populares de doutrina, em que se ensina o amor da Pátria, o respeito à Família, o culto a Deus, em que se combatem os vícios, o comodismo, o oportunismo, o indiferentismo de uma sociedade que apodrece a olhos vistos? Não. Pois bem: o integralismo mantém esses cursos em cada um de seus núcleos, arrancando a massa popular dos erros com que a envenenam aqueles que recebem dinheiro do capitalismo internacional para preparar o operário brasileiro à escravidão do soviet. Quer dizer que hoje, no Brasil, a única força coordenadora das consciências no sentido da ordem espiritual e moral é o integralismo. Desafiamos quem nos aponte outra organização semelhante, que abranja toda a extensão territorial da Pátria e congregue maior número de brasileiros, pois somos hoje 1.000.000.
“A essa campanha doutrinária e mobilização das forças morais da Pátria, juntamos a obra educacional, que realizamos através de nossas organizações atléticas e esportivas de camisas verdes.
“Porque mantemos essas organizações? Em relação a esse importante sector, nós o mantemos como ‘escola de disciplina’. O camisa verde aprende a ser modesto, diligente, respeitoso; adquire um exato conceito de Autoridade; aprende a amar sua Pátria e a tudo sacrificar por ela, inclusive seus interesses e vaidades pessoais; aprende a sofrer, a calar, a trabalhar sem alarde; aprende a amar seus companheiros, que constituem hoje uma família de um milhão de irmãos. No dia em que todos os brasileiros forem camisas verdes, estará resolvido a primeira questão desse complexo problema da ordem”, op. cit., capítulo “Ordem espiritual”, pg. 35 e seguintes. Os grifos são nossos.
Daí se deduz que a Ação Integralista não é apenas política, mas social e moral. Ela visa uma reforma do indivíduo.
Poderá um Bispo permitir que os Congregados Marianos e outros membros de associações religiosas, que devem fazer essa reforma pelas respectivas associações, frequentem esses cursos e esse ambiente em que se lhes prega toda uma reforma espiritual sem a menor assistência eclesiástica? Que garantias de ortodoxia traz essa verdadeira ação social leiga que, por mais parecida que possa ser com a Ação Católica – e não o é –, finge ignorar inteiramente a esta e procura equiparar-se a ela? Não será a última das imprudências permitir isto, principalmente se se toma em conta que é um livre-pensador ou espírita como o Sr. Miguel Reale, que é o Chefe do Departamento de Doutrina do integralismo, e que este admite em seu seio, e em todos os graus de sua hierarquia, e, portanto, como formadores de almas, homens de todas as religiões?
Ainda que seja lícito votar no integralismo, será lícito associar-se alguém a ele, com risco de se expor a toda essa influência?
Parece-me que não.
<V – Textos numerados a que se refere o relatório>16
Apêndice nº I
(Contém, em ordem numérica,
os textos mencionados na exposição)
(Os grifos são nossos)
Texto 1 – “O integralismo prega <essa> doutrina, completa-a e amplifica-a constantemente <com seus estudos>.” Gustavo Barroso, O que o integralista deve saber, pg. 10 <edição de 1935, idem 4ª edição 1936>.
Texto 2 – “O integralismo é uma Ação social, um Movimento de Renovação nacional em todos os pontos e em todos os sentidos. Prega uma doutrina de renovação política, econômica, financeira, cultural e moral.” Gustavo Barroso, O que o integralista deve saber, pg. 9.
Texto 3 – “O integralismo bate-se pela constituição de uma grande Pátria dentro de uma doutrina que contenha princípios definidos, desde as concepções do Mundo e do Homem, até às dos fatores materiais econômicos.” Gustavo Barroso, O que o integralista deve saber, pg. 10.
Texto 4 – “O integralismo compreende o mundo de um modo total, e pretende construir a sociedade segundo a hierarquia de seus valores espirituais e materiais, de acordo com as leis que regem seus movimentos, e sob a dependência da realidade primordial, absoluta <e suprema> que é Deus. Essa hierarquia, na qual se funda o princípio e o exercício da autoridade, faz prevalecer o espiritual sobre o moral, o moral sobre o social, o social sobre o nacional, e o nacional sobre o particular.” Diretrizes Integralistas, I e II.
Texto 5 – “Só uma revolução moral pode produzir uma grande, digna e benéfica Revolução Social. Porque esta é a projeção daquela. Por isso, a doutrina integralista afirma que a primeira revolução do integralismo é a revolução interior.” Gustavo Barroso, O que o integralista deve saber, pg. 16.
Texto 6 – “O integralismo, de modo geral, encarado como filosofia, é a concepção totalitária do universo, quer no referente ao sistema do movimento quer no tocante às representações formais do Universo17. O integralismo, portanto, compreende o Mundo de modo total, aceita a ideia de Deus e do Espírito, e pretende construir a sociedade segundo o sentido de sua essência espiritual e material, de acordo com as leis de seus movimentos.” Gustavo Barroso, O que o integralista deve saber, pg. 43.
Texto 7 – “O integralismo se guia por uma doutrina, não por um programa. Doutrina é um conjunto de princípios filosóficos, morais e científicos, no qual se baseia um sistema político por tempo indeterminado. A diferença é essencial. Uma doutrina dá origem a um número incalculável de programas. Um programa não produz nenhuma doutrina.” Gustavo Barroso, O que o integralista deve saber, pg. 9.
Texto 8 – “O integralismo não pode ser um simples partido. É coisa muito mais elevada. É um movimento, uma ação, uma atitude, um despertar de consciências, um sentido novo da vida, a marcha de um povo que desperta.” Gustavo Barroso, O que o integralista deve saber, pg. 13.
Texto 9 – O Manifesto de Outubro, passo inicial da campanha integralista, expõe a doutrina (já vimos o sentido dessa palavra, na técnica integralista) do sigma, em diversos capítulos, dos quais o primeiro é de caráter nitidamente filosófico <e religioso>. Intitula-se ele:
“Concepção do Universo e do Homem”, e suas primeiras palavras são “Deus <dirige> o destino dos povos”. Mais adiante, analisaremos detidamente este capítulo. Por enquanto, basta-nos mencioná-lo, para provar que a doutrina integralista inclui preocupações de ordem filosófica e até religiosa.
A frase que citamos (“Deus <dirige> o destino dos povos”), não está colocada no Manifesto de Outubro como simples preâmbulo. Basta ler o referido documento, para persuadir-se disto o leitor. Ela é apenas a afirmação nº 1 de todo um capítulo <todo ele> de cunho filosófico.
Texto 10 – “Deduziremos as relações sociais com normas seguras de direito, de pedagogia, de política econômica, de fundamentos jurídicos. Como cúpula desse edifício, realizaremos a ideia absoluta, a síntese de nossa civilização; na filosofia, na metafísica, na música, como conclusão suprema do sentido do espírito nacional e humano.” Manifesto de Outubro. Da autoria de Plinio Salgado. É o documento com que foi lançada ao público a Ação Integralista Brasileira.
Texto 11 – “O que é o integralismo?
“O integralismo, de modo geral, encarado como filosofia, é a concepção totalitária do Universo, quer no tocante às suas representações formais, quer no referente ao sistema de movimentos.” Catecismo Integralista (Organizado e impresso pela Ação Integralista Brasileira, que distribuiu centenas de milhares de exemplares.) Quesito e resposta nº 1 do Catecismo.
“Como o integralismo entende o Homem?
“Como um ser de tríplice aspiração: material, intelectual e moral.” Catecismo Integralista, quesito e resposta nº 3. § Logo o integralismo tem um conceito próprio, sobre o homem, como sobre outros assuntos filosóficos.
“O integralismo combate a tibieza, o imediatismo, o ódio, porque o integralismo é Força Moral, Ação, Combate às Ambições, Fé, Denodo, Coragem, Renúncia e Amor ao Próximo.” Gustavo Barroso, O que o integralista deve saber, pg. 67. Mais uma vez, se reafirma neste texto o caráter filosófico e moral da doutrina integralista, que não é apenas uma doutrina política.
Texto 12 – “Para isso, o integralismo não apregoa a destruição da Ordem Social, mas a Revolução Transformadora do sentido da vida, com a restauração de todos os fatores humanos morais, sociais, materiais, subvertidos pela decomposição do liberalismo.” Gustavo Barroso, O que o integralista deve saber, pg. 73.
Texto 13 – Compete ao integralismo “desintoxicar os espíritos das teorias nefastas, mostrando sua inanidade e impedindo sua propagação; tudo fazer para conseguir o equilíbrio do sistema nervoso dos indivíduos; fortalecer os corpos com a higiene e a saúde”. Gustavo Barroso, O que o integralista deve saber, pg. 131.
Texto 14 – Compete ao integralismo “moralizar as classes superiores da sociedade, para que o seu desregramento não sirva para provocar o furor das massas, e sim para que o seu exemplo lhes sirva de ensinamento”. Gustavo Barroso, O que o integralista deve saber, pg. 132.
Texto 15 – “Integralismo, fascismo e nazismo têm os seguintes pontos de contato: a) sua origem comum: reação do espiritualismo sobre o materialismo”. Capitão Olímpio Mourão Filho, ex-instrutor da Milícia integralista. Noções elementares da Doutrina Integralista. É um fascículo. O texto citado se encontra no capítulo VI.
Texto 16 – A obra de Plinio Salgado O que é o Integralismo começa a exposição da doutrina integralista com uma longa dissertação filosófica sobre o destino do Homem (pgs. 13-27), de que citaremos mais adiante alguns trechos. O longo capítulo filosófico, pela extensão que lhe deu o Autor, bem como pelo lugar de destaque em que ficou colocado na obra, demonstra a importância que o Chefe Nacional do integralismo atribui ao aspecto filosófico de sua doutrina.
Texto 17 – “Dissemos, no capítulo anterior, que o mundo é o que é, e não o que sonham os teorizadores. Nós, integralistas, pretendemos restabelecer o critério das realidades humanas. Assim repito, em relação ao Homem, que ele deve ser tomado na verdade mais profunda de sua essência. E não foi por outra coisa, que traçamos, antes de tudo, o quadro das finalidades humanas, antes de entrar no estudo político”. Plinio Salgado, O que é o Integralismo, pgs. 40-41.
Texto 18 – Sob o regime integralista, “a filosofia, a sociologia, a economia, a ciência, a literatura, as artes, a política, terão no novo Estado a sua expressão integral”. Plinio Salgado, A Quarta Humanidade, pg. 68 <2ª ed. p. 70>. Qual é essa “expressão integral” da filosofia?
Texto 19 – “O movimento integralista brasileiro é um movimento de cultura que abrange: 1) uma revisão geral das filosofias dominantes até o começo deste século e, consequentemente, das ciências sociais, econômicas e políticas; 2) a criação de um pensamento novo baseado na síntese dos conhecimentos que nos legou, parceladamente, o século passado.” Plinio Salgado, A Quarta Humanidade, pg. 87 <2ª ed. p. 89>.
Texto 20 – “A formação das elites dirigentes é o escopo da primeira fase desta campanha. Ela deve firmar certos princípios, que servirão de base à nossa consideração do mundo e dos fenômenos sociais.” Plinio Salgado, A Quarta Humanidade, pg. 89.
Texto 21 – “Não nos limitamos ao terreno econômico e social, porquanto partimos da esfera filosófica, e estabelecemos um sistema de consideração do mundo, segundo o qual subordinamos nosso pensamento político.” Plinio Salgado, A Quarta Humanidade, pg. 91 <2ª ed. p. 93>.
Texto 22 – “Há um sentido de vida, que é novo, e que precisamos decifrar. Não é uma civilização que está terminando o seu ciclo; é uma humanidade que está em face de outra Humanidade. Não é um sistema econômico que está isoladamente em jogo, é um senso de vida, de concepção cósmica. Não se trata de rumos políticos, mas de algo mais profundo, de que dependem rumos políticos.
“Temos diante de nós problemas morais, culturais, multiplicando-se em problemas pedagógicos, estéticos, jurídicos, administrativos. E todos estes problemas não podem ser tratados segundo a mentalidade de civilizações extintas, mas segundo o sentido de uma época que se desdobra em novos planos e novas finalidades.” Plinio Salgado, A Quarta Humanidade, pgs. 13-14 <2ª ed. p. 15-16>.
Texto 23 – “Mas os que são moços pertencem à outra Humanidade, que está nascendo. E que saberá, em cada país, criar novos padrões de cultura, de moral, de direito, de administração e de política. E criará uma nova autoridade baseada numa concepção de origem e de finalidade do mundo. E criará um novo processo de relações sociais e econômicas. E criará o Estado Integralista.” Plinio Salgado, A Quarta Humanidade, pgs. 66-67 <2ª ed. p. 68-69>.
Texto 24 – “Depois da Humanidade Ateísta, virá a Humanidade Integralista. § É a Quarta Humanidade.
“Como o sol que vai nascer, ela já projeta os seus primeiros clarões. § Uma luz nova se anuncia no mundo.
“A nova civilização realizará a grande síntese. Síntese filosófica. síntese política. mas principalmente síntese das idades humanas.” Plinio Salgado, A Quarta Humanidade, pg. 82 <2ª ed. p. 84>. Veremos mais adiante que essa “síntese” é a criação de uma escola filosófica inteiramente nova.
Texto 25 – “O integralismo é um movimento original, genuinamente brasileiro, com uma própria filosofia.” Plinio Salgado, A Quarta Humanidade, pg. 88 <2ª ed. p. 90>. Trata-se de uma filosofia própria, isto é, de uma filosofia que é só do integralismo, e não se confunde com nenhuma outra filosofia.
Texto 26 – “O século XIX foi de análise, de fragmentação, de individualismos agudos e unilateralidades arbitrárias, tanto na ciência como nas artes, tanto na moral e no direito como na política.
“Cada capítulo de determinada ciência transformou-se em ciência particular. As especializações exprimem, não só um grande sentido técnico, mas, principalmente, um sentido de divisionismo e de parcialismo característicos de uma época histórica.
“O panorama que nos oferece este começo de século XX é de anarquia e de confusão caótica.” § Plinio Salgado, A Quarta Humanidade, pg. 65 <2ª ed. p. 67-68>.
Nota: no fim deste apêndice, se encontra o texto 26-A, omitido aqui18.
Texto 26A – “Acreditamos como Hegel acreditou, que a grande filosofia é principalmente a história das filosofias. E por isto tomamos todo o cabedal (filosófico) que nos forneceu o século passado, para construirmos com ele o século novo.” Plinio Salgado, A Quarta Humanidade, pgs. 109-110 <2ª ed. p. 111-112>.
Texto 27 – “O século passado foi de análise em todos os campos do conhecimento. Durante mais de cem anos, as ciências se delimitaram e, dentro dessas ciências, os objetos do conhecimento foram considerados segundo aspectos isolados. Esse processo aplicou-se desde a química ao direito, e desde a geografia à psicologia experimental. E, ao mesmo tempo que a ciência dividia e subdividia o mundo na sua expressão objetiva, as filosofias subordinavam a apreciação do Absoluto a quadros fixos e estreitos do experimentalismo científico.
“O século passado, que foi um dos mais fecundos da Humanidade, pelos elementos que forneceu ao nosso, nada pôde dar a si próprio.” Plinio Salgado, A Quarta Humanidade, pgs. 93-94.
Texto 28 – “Na extrema subdivisão da matéria, a química confundiu-se com a mecânica, e encontrou a essência dos mundos, expressões materiais do movimento; e, no mistério dos movimentos, a magia eterna do número, que Pitágoras pressentira. Essa mesma unidade científica nos inspira a unidade filosófica e a história da filosofia adquire um valor novo para nós, integralistas brasileiros, que somos os primeiros homens novos do século XX. O nosso pensamento totalizador nos oferece os elementos para a realização da síntese sociológica de que resulta a Nova Economia e a Nova Política.” Plinio Salgado, A Quarta Humanidade, pgs. 111-112 <2ª ed. p. 113-114>.
Texto 29 – No desenrolar da História, podemos “surpreender as três etapas, que poderemos denominar de adição, de fusão, de desagregação. A formação das sociedades obedeceu a esses movimentos. A primeira veio da caverna até a criação do politeísmo; a segunda vem do politeísmo ao monoteísmo; a terceira vem do monoteísmo ao Ateísmo.” Plinio Salgado, A Quarta Humanidade, pg. 15.
Texto 30 – “Por aí se vê que o integralismo Brasileiro, considerado como pensamento filosófico e método de crítica, nem se apresenta como destruidor do passado, nem como inimigo do século XIX, e sim como uma natural continuação de ambos. Trata-se principalmente de uma questão de nova perspectiva.” Plinio Salgado,
A Quarta Humanidade, pg. 94 <2ª ed. p. 96>.
Texto 31 – “O integralismo, portanto, não vem condenar e prescrever, de um modo absoluto, as filosofias do século passado; vem ampliar-lhes o ângulo de visão, vem subordiná-las a um conjunto, considerando-as simples anotações subsidiárias ao novo pensamento construtor.
“A nossa preocupação é de libertar o homem do século XX dos preconceitos do século XIX. Não se trata de destruir completamente o século passado, mas de inaugurar um novo sentido de vida, que é o de nossa época.” Plinio Salgado, A Quarta Humanidade, pgs. 91-92 <2ª ed. p. 93>.
Texto 31 <bis> – O integralismo é, na decadência contemporânea, “a flor da vida, que sob os escombros e as dores de um inverno melancólico, renasce numa misteriosa primavera de angústias”. O integralismo nasce da filosofia do século XIX como “do seio da noite nasce a madrugada”. E Plinio Salgado acrescenta: “Já se notam os primeiros sinais da aurora na espessa treva gemente.” Plinio Salgado, A Quarta Humanidade, pg. 66 <2ª ed. p. 68>.
Texto 32 – “O Fenômeno russo já não pode ser tomado, em hipótese alguma, como uma expressão de negação do espírito, de aspiração transcendental.
“A luta que se abriu no país dos soviets contra a religião foi um movimento ao qual podemos sem receio de erro denominar: o grande movimento religioso da Rússia.
“Em matemática, equivalem-se o sinal mais e o sinal menos; ambos consideram quantidades em possibilidade, o que representa, em última análise, quantidades em afirmação.
“Na concepção infinita do universo, cabem todas as extensões susceptíveis de serem ideadas, quer em adição, quer em subtração. E por isto a afirmação e a negação se encontram e se fundem numa mesma fisionomia interior. Ambas se traduzem pelos mesmos processos.” Plinio Salgado, A Quarta Humanidade, pgs. 46-47 <2ª ed. [p.] 48, 49>.
Texto 33 – “É aqui que eu quero declarar, com a mais sincera convicção, que o materialismo histórico, o marxismo, está no mesmo campo em que se encontra o espiritualismo, o sentido totalista do universo.” Plinio Salgado, A Quarta Humanidade, pg. 48.
<A este respeito, cumpre notar que, sempre que lemos a repetidíssima afirmação de que o “integralismo compreende o Universo de um modo total”, temos a impressão de que nessa “concepção total”, estão incluídas certas realidades suprassensíveis, como Deus e a alma. Tal, porém, não se dá. A prova disto está em que, para o Sr. Plinio Salgado, o comunismo que é ateu, e antiespiritualista, também tem o famigerado “sentido totalista do universo”.>
Texto 34 – “O materialismo histórico não é, pois, em última análise, uma negação do ‘ideal’ nem mesmo do sobrenatural: é uma forma de afirmação da negação.” Plinio Salgado, A Quarta Humanidade, pg. 56 <2ª ed. p. 58>.
O texto 35 vem imediatamente depois do texto 36, por erro de datilografia19.
Texto 36 – O marxismo “é o misticismo às avessas. É o misticismo da raça judaica. Para se compreender a essência recôndita do socialismo de Marx, é preciso conhecer o Talmud e os Protocolos dos Sábios de Sião. Em última análise, essa ateocracia que domina a Rússia não passa da velha teocracia hebreia, revestida de forma negativa.”
E continua: “Eis porque, não tendo o marxismo vencido nos países materialistas e industriais do ocidente, onde o capital e a máquina expulsaram de há muito a Deus e ao Espírito das fábricas e das metrópoles, pôde vencer na velha Rússia mística, onde as multidões se ajoelhavam chorando diante do gênio de Dostoievsky que lhes mostrava no Céu o objetivo de uma raça agitada nos seus dramas seculares, e trazendo no fundo da nacionalidade o substratum do sobrenaturalismo oriental.” Plinio Salgado, A Quarta Humanidade, pgs. 55-56 <2ª ed. p. 57-58>.
Texto 35 – “É o materialismo dogmático, extremo oposto da teologia, uma nova religião, a religião do ateísmo (?!) cuja liturgia é a violência de Sorel20.” Plinio Salgado, A Quarta Humanidade, pg. 45 <2ª ed. p. 47>.
Texto 37 – “O integralismo mantém as religiões, sem sectarismo, e afirma Deus.” Gustavo Barroso. ↓21 <O que o integralista deve saber, pg. 86>.
Texto 38 – “O integralismo quer inteira liberdade de confissão religiosa.”
“Afirmando Deus e o Espírito, não pode o Estado Integral ser exclusivista em matéria de crença.” ↓22 <Gustavo Barroso, O que o integralista deve saber, páginas 115-116-117>.
Em seguida a este texto, o Sr. Gustavo Barroso faz uma longa dissertação sobre o gesto de Pio XI, gloriosamente reinante, que aconselhou aos fiéis do mundo inteiro que se unissem a quantos creem em Deus para combater o comunismo. É desta recomendação do Santo Padre que o Sr. Gustavo Barroso quer concluir que “é preciso não ser exclusivista em matéria de crença”.
O Santo Padre recomendou a todos os fiéis que reunissem suas forças. Não, porém, que confundissem suas convicções.
[VI –] <Considerações acessórias,
a serem lidas depois de tudo>23
Segundo apêndice de textos
Procuramos reunir neste apêndice diversos textos que não se relacionam com a exposição já feita, mas que demonstram a insegurança dos rumos doutrinários do integralismo.
“Pretendemos tomar como base o homem de nossa terra, na sua realidade histórica, geográfica, econômica, na sua índole, no seu caráter, nas suas aspirações, estudando-o profundamente conforme a ciência e a moral. Desse elemento biológico e psicológico, deduzimos as relações sociais, com normas seguras de direito, de pedagogia, de política econômica, de fundamentos jurídicos. Como cúpula desse edifício, realizaremos a ideia absoluta, a síntese de nossa civilização; na filosofia, na metafísica, na literatura, na música, como conclusão suprema do sentido do espírito nacional e humano.” Gustavo Barroso, O que o integralista deve saber, pgs. 32-33.
É curioso notar que as relações sociais, as normas de direito e pedagogia serão deduzidas de considerações fisiológicas ou psicológicas. Quanto à religião, que também deve dizer sua palavra no assunto, o autor silencia inteiramente, como se ela nada tivesse a ver com isto.
Esse esquecimento da religião é notável em certos autores integralistas.
O Sr. Miguel Reale, Chefe do Departamento Nacional de Doutrina de Ação Integralista, escreveu um livro sobre a concepção do Estado segundo a doutrina integralista. Chama-se O Estado moderno. Em todo este livro não se encontra uma palavra que indique que o autor aceita a doutrina que faz derivar de Deus o poder público do Estado e nem tão pouco há indício algum que nos mostre que ele coloque Deus como base de todo o edifício jurídico e social.
A famosa afirmação das Diretrizes Integralistas, “Deus rege os destinos dos povos”, ficou relegada ao esquecimento. Para o Sr. Miguel Reale, o Estado se baseia em tudo, exceto em Deus.
Essa é a raiz do lema Deus, Pátria, Família na alma de certos dirigentes integralistas!
Com fundamentos tão inconsistentes, não é de admirar que se chegue até o socialismo.
“O Estado Integralista deve interferir na Economia Nacional?
“Deve, para que ela não exprima orientação de indivíduos ou grupos de indivíduos, o que seria pernicioso para a nação. Nenhuma classe profissional, nenhum grupo financeiro, intelectual, familiar ou local tem o direito de imprimir cunho próprio à Economia Nacional. O Estado é que deve <su>pervisionar todas as atividades e iniciativas, orientando-as, estimulando-as, equilibrando-as como julgar melhor.” Gustavo Barroso, O que o integralista deve saber, pg. 47. §
Pode haver afirmação socialista mais categórica? <Indiscutivelmente, traz vantagens preciosas a interferência do Estado na economia nacional. Mas essa interferência nunca pode [chegar] ao ponto de tolher os direitos da Igreja.>
E se essa afirmação é categórica, são múltiplas, por outro lado, nos livros integralistas, as passagens vagas e imprecisas, que podem também dar lugar a idêntico socialismo:
“O Estado integralista deve interferir na Educação?
“Sim; é seu dever fundamental, no interesse de sua própria perpetuidade; mas essa interferência não deve ir ao ponto de aniquilar o Indivíduo e a Família, cujas esferas de atividade devem ser garantidas para própria justificação do Estado integral. Os elementos morais da nação, vindo colaborar com o Estado, concorrem para identificar melhor esse com aquela.” Gustavo Barroso, O que o integralista deve saber, pg. 47.
Os documentos integralistas abundam em declarações desse estilo. Mas, em última análise, são todas imprecisas.
Qual é, nitidamente demarcada, a esfera de atividades própria à família, como ao indivíduo, na educação? A esse respeito, há uma infinidade de doutrinas. Qual destas adota o integralismo? Silêncio absoluto.
De quando em vez, afirma o integralismo que quer o “indivíduo nítido”. Mas, em última análise, de concreto, de positivo, que significa isto?
Sempre que o integralismo trata de definir, no Estado Integral, os direitos da Igreja, da Família, do indivíduo, fá-lo com frases gerais que mudam de sentido quando pronunciadas por um católico, um protestante, um espírita, um socialista. E que por isso servem a todos.
Espanta-nos que haja católicos capazes de afirmar que estas frases constituem garantia para a Igreja. É inexplicável uma afirmação dessas à vista de trechos como estes:
“Quais são os elementos morais da nação?
“Os elementos morais da nacionalidade são a religião e a família, envolvendo estas às tradições do povo e o gênio da raça.” Gustavo Barroso, O que o integralista deve saber, pg. 47.
Apliquemos esta afirmação aos seguintes conceitos do mesmo autor:
“O que é o integralismo?
“Em matemática, define-se a integral como a soma de um número infinitamente grande de parcelas, sendo cada parcela infinitamente pequena. Por analogia, dir-se-ia que o elefante ou a figueira brava seria, cada um, a integral das células animais ou vegetais. Cada célula é pequeníssima; somadas as células em avultadíssimo número, dão o colosso do elefante ou da figueira. O oceano seria a integral de moléculas de água, o deserto do Saara a integral dos grãos de areia.
“Pois bem, o Estado deve ser o oceano, o elefante, ou a figueira do exemplo; deve ser a soma de todas as células operosas do organismo social. Sem nenhum esquecer. O Estado é a integral dessas células. Cada pequeno lavrador é uma célula, e seu conjunto constitui o galho da federação agrícola integral do Estado. Cada operário, cada industrial, cada artífice, idem, idem. Daí a formação de sindicatos, que são integrais parciais de classe para a integralização social comum.” § Gustavo Barroso, O que o integralista deve saber, pgs. 35 e 36.
Dados os termos gerais dessas afirmações, pergunta-se: a Igreja, na concepção integralista, é coisa distinta do Estado? Ou é parcela dele?
Ainda a esse respeito, nada se encontra de explícito na doutrina integralista.
No mesmo sentido:
“O Estado integralista é absoluto, absorvente?
“Não; o estatismo socialista não é de essência da concepção integral. O Estado, para o integralismo, é a própria nação juridicamente organizada. Ele se confunde com a Pátria e exprime, ele próprio, os movimentos da sociedade.” § Gustavo Barroso, O que o integralista deve saber, pg. 55.
Afinal, qual o limite das atribuições da Igreja, da família e do indivíduo? Não se sabe.
Hitler, ele também, dirá que o IIIº Reich não é absorvente. De nada valeriam tais declarações diante dos fatos por nós conhecidos, como também os protestos acima do Sr. Gustavo Barroso de nada valem quando confrontados com outras afirmações do mesmo autor. Diz ele, no mesmo livro, que o integralismo quer “ensino unificado, gratuito nos graus primário e secundário; barato nos graus superiores, com a criação de cursos de alta cultura sob a fiscalização do Estado, tudo sob um plano de educação moral do povo brasileiro, de maneira a conseguir a mais estreita cooperação, nesse sentido, entre a Família e o Estado.”24 § Gustavo Barroso, O que o integralista deve saber, pg. 61. Ver também pg. 78.
A escola única é muito da tendência do Estado Forte. Mas é a ruína da liberdade educacional da Igreja.
Para contrabalançar o possível mau efeito, há uma incoerência flagrante: o integralismo quer “liberdade e estímulo à iniciativa particular em todos os ramos do ensino, sujeitando-a, porém, à indispensável fiscalização por parte do Estado.” Op. cit., pg. 78.
Como a iniciativa particular pode ser estimulada, se é pura e simplesmente instituída a escola única?
Ainda em matéria de educação, encontramos esta afirmação igualmente oca:
“Na execução deste vasto e intenso programa educativo, o Estado jamais poderá ultrapassar a legítima esfera dos seus direitos, aniquilando ou mesmo coarctando os direitos primordiais da família e da religião. Nas demais questões que se relacionam com os interesses vitais e supremos da nação, o integralismo promoverá sempre idêntica atitude do Estado com respeito aos direitos e interesses fundamentais da família e da religião.” Diretrizes Integralistas, XV.
Mas, mais uma vez perguntamos: qual é a esfera do Estado? Qual a da família? Qual a da religião?
Isto ficará provavelmente para definir depois da vitória do integralismo, quando o Estado soberano em matéria mista, como entende o Sr. Miguel Reale, julgar oportuno dizer a última palavra.
Já vimos que o integralismo considera a religião como uma das forças morais da nação.
As Diretrizes Integralistas (nº VI) afirmam que o Estado Integralista “coordenará e orientará numa diretriz única todos os grupos materiais que constituem a nação, e todas as forças vitais que a dinamizam”.
No que consiste essa coordenação das religiões que, sendo forças morais, são evidentemente forças vitais? Coordenação quer dizer que as religiões serão atreladas no carro do Estado e guiadas pela mão vigorosa de algum führer brasileiro.
Tanto mais que o mesmo Sr. Gustavo Barroso escreve o seguinte:
“Qualquer que tenha sido a origem do Estado fascista, hoje o fascismo é a identificação do Estado com os grupos profissionais, com a nação.
“Sua obra se realiza com o formalismo e o espírito da tradição romana, de cima para baixo, numa divinização contínua do Estado. O Estado de Mussolini não é apenas o supremo regulador da atividade e das instituições, mas é também o resultado do gênio nacional da Itália, síntese dos seus valores morais, culturais e religiosos.” Gustavo Barroso, O que o integralista deve saber, pg. 102. Assim, a divinização do Estado italiano é uma síntese dos sentimentos religiosos da católica Itália.
Sobre o fascismo diz ainda o Sr. Gustavo Barroso:
“Integralismo, fascismo, nazismo são a mesma coisa?
“Não. Os três regimens têm os seguintes pontos de contato: § a) sua origem comum: reação do espiritualismo sobre o materialismo.” § Gustavo Barroso, O que o integralista deve saber, pg. 201.
Assim, o espiritualismo do integralismo é o mesmo do nazismo.
Vejamos ainda algumas considerações do Sr. Miguel Reale que merecem cuidadoso exame:
Os sistemas políticos que disputam a primazia do mundo estão errados porque “repousam sobre a abstração de fatos isolados. O socialismo é a doutrina do homem econômico que não existe; o liberalismo sofisma sobre o homem cívico; o solidarismo e a Ação Social Cristã (note-se que não digo cristianismo) tecem castelos sobre o homem ético, depositando demasiada confiança no espírito espontâneo de sacrifício e de impulsos caritativos. São doutrinas incompletas que não satisfazem mais nosso espírito <ávido> de organicidade.” Miguel Reale, O Estado moderno, pg. 30. <3ª edição, pg. 31>
Qual é essa “Ação Social Cristã”? A Ação Católica? Parece que sim. Como sempre, é essa confusão que servirá amanhã para desculpar a violação de compromissos assumidos hoje.
Citando o Sr. Plinio Salgado, cujo pensamento expõe e endossa, o Sr. Miguel Reale mostra-se partidário do determinismo:
“No domínio da ciência do ser, o determinismo é um pressuposto necessário, condição inicial de todas as pesquisas. Eis porque devemos fazer abstração de todo e qualquer conceito de finalidade, até se completar a pesquisa. E isto vem provar mais a ausência de Liberdade, pois Liberdade implica Finalidade.” Miguel Reale, O Estado moderno, pag. 45. <3ª ed. pg. 44>
“Cada civilização é uma conciliação entre o determinismo da história e o arbítrio individual, da qual tira os efeitos necessários o Gênio Político, o Homem de Ação.” Miguel Reale, op. cit. pag. 173. <3ª ed. p. 155>
Esse mesmo fundo de determinismo aliado ao evolucionismo a que já nos referimos anteriormente, encontra-se em diversos outros trechos do Sr. Plinio Salgado.
“As ideias nítidas do espiritualismo cristão que nos trouxeram os jesuítas, logo após a descoberta, ganharam uma forte vitalidade impregnando-se do espírito de uma raça cósmica.” Plinio Salgado, A Quarta Humanidade, pg. 70. <2ª ed. p. 72>
“Através do processo de cruzamentos étnicos, de amálgamas sociais, o monoteísmo cristão absorveu as forças bárbaras e refulgiu numa expressão inédita.” Idem, pag. 70. <2ª ed. p. 72>
“O estudo das manifestações religiosas das populações brasileiras, em que se mesclaram a mitologia tupi e os ritos africanos, revela-nos o formidável potencial de energia mística expressivo notadamente nos grupos sociais do nordeste. Há em nossa raça um notável poder religioso.” Idem, pg. 71. <2ª ed. p. 73>
O que diria a Teologia desse modo naturalista de considerar o cristianismo, que se alimenta com forças bárbaras, para adquirir vigor novo, cuja vitalidade se renova em simbiose com o paganismo?
“A conjunção dos dois fenômenos (complexus cósmico e complexus objetivo) dá ao espiritualismo brasileiro uma força nova. O Nosso cristianismo tem um sentido de humanidade profundo, uma delicadeza incomparável, que exprime, de modo eloquente, o próprio temperamento de um povo.” Idem, pag. 71. <2ª ed. p. 73>
É outro modo naturalista de considerar a ação do cristianismo sobre as almas, ação que, sem o sobrenatural, não se poderia explicar.
Dentro desta ordem de ideias, ainda, o Sr. Plinio Salgado afirma que os “aldeamentos étnicos que se processaram no Brasil estão produzindo um tipo de humanidade novo. Seus característicos fundamentais são, entre outros, a profunda espiritualidade que confere ao nosso sentimento cristão uma pureza inatingida por outros povos.” Idem, pag. 77. <2ª ed. p. 78-79>
Assim, provém de nossa origem racial, a profundeza de nossa espiritualidade e a pureza “inatingida” de nossos sentimentos cristãos!
Prosseguindo na série de afirmações vagas e imprecisas, o Sr. Plinio Salgado escreve ainda:
“Em vos falando de verdade, pergunto-vos: existe uma verdade da direita e outra da esquerda? Onde está a verdade? Respondo-vos dizendo que não existe uma verdade da direita ou da esquerda, e sim condições de movimentos e processos da expressão de forças eternas, de um modo imutável.
“A verdade está no Absoluto das coisas e nós a atingiremos, pela concepção integral do universo.” § Plinio Salgado, Quarta Humanidade, pg. 91. <2ª ed. p. 92-93>
“Tudo indica que se desafogarão em nós e aqui desaparecerão todos os ódios de raças ou de religiões, de classes ou de nacionalidades, e um tipo de humanidade melhor poderá surgir na Terra Jovem.” § Plinio Salgado, Quarta Humanidade, pg. 137. <2ª ed. p. 139>
O desaparecimento do ódio das religiões, certamente o integralismo pensa realizá-lo com sua atividade em prol da “harmonia social” que as seitas serão proibidas de violar.
“Até 1930, o clero era liberal-democrata, amigo de potentados, de maçons endinheirados.” Plinio Salgado, O que é o integralismo, pgs. 85-6.
“Nada poderá conter o esboroamento da civilização ocidental, porque ela traz em si mesma os germens de sua ruína. As forças morais submeteram-se ao domínio completo dos interesses econômicos, baseados nas máximas expressões das liberdades individuais.” § Plinio Salgado, Quarta Humanidade, pgs. 57-58. <2ª ed. p. 59-60>
Já vimos que, na linguagem integralista, “forças morais” são as religiões. <Os dois últimos textos mencionados se completam.>
Anauê!
(Transcrição de um capítulo do livro de Gustavo Barroso, O que o integralista deve saber,
sobre a saudação que, entre si, usam os integralistas,
e que é Anauê. Op. cit. pg. 149)
“Os integralistas cumprimentam-se erguendo o braço direito e pronunciando a palavra Anauê, que, repetida três vezes, é a saudação ao Chefe Nacional, e duas aos Secretários Nacionais, Comandante Nacional e Chefes Provinciais.
“Segundo os melhores autores que tratam da língua e costumes dos índios Tupis, antigos povoadores do nosso país, eles costumavam saudar-se do seguinte modo: dizia um “Enecoema” respondia o outro “Yauê”.
“Enecoema quer dizer bom dia, de coema, aurora, manhã, e ene, bom. Esta última expressão deixa entrever uma ideia religiosa, uma ideia de divindade. Assim, alguns, traduzindo enecoema por “que a aurora te traga alegria, Deus te abençoe, ou Deus seja contigo”, vão além do simples bom dia. O significado da resposta Yauê falta nos tratadistas.
“É curioso, entretanto, aproximar essa forma verbal do vetusto tetragrama, das antigas iniciações: Javé ou Iavé, Jeovah, Deus. A voz ene significando bom é sobremaneira interessante. Estamos em presença de outro termo dessas mesmas iniciações: enn, o nome do número instável, de grande número dos Templos, o nove, do qual Avicena escrevia: Antes de tudo, deveis saber que qualquer número não é mais do que o número nove ou seu múltiplo, e mais um excedente, porque os sinais dos números são simplesmente nove e um zero.”
“<Além das notáveis propriedades matemáticas do número nove, postas em face por Mairau, Portier e Moss, todos os pitagóricos e cabalistas lhe emprestam um valor místico que ressalta a cada passo nas suas obras…> ↓25 É o ternário-triplo que exprime o tríplice aspecto de todas as manifestações. Nele Schwaller vê a totalidade dos princípios criadores. Os egípcios consideravam-no o desenvolvimento completo dos três mundos. Os platônicos entendiam-no como a plenitude das perfeições e daí o sistema neo-platônico de Plotino, baseado nas Eneadas. As seitas filosóficas da Índia, a iniciação órfica, o pitagorismo, a Gnose, a Sublime Ciência dos chins, o hermetismo e os que defendem a existência da Atlântida com suas tradições, todos atribuem ao nove (enn) as modalidades dos seres, os termos da geometria e da mecânica, os organismos corporais, psíquicos e espirituais, as atividades humanas, as partes da linguagem, etc. Segundo o doutor Allendy, o nove é o número completo da análise total. Na civilização cristã, a sua antiquíssima tradição ainda se perpetua nas novenas. E a sua figuração comum recorda a antiga serpente dos Templos, o uroboros que engolia a própria cauda, símbolo do retorno do indivíduo à unidade sintética de que o círculo é a imagem; que se devorava a si próprio, a fim de mostrar que a passagem da unidade analítica à unidade sintética exige a destruição da personalidade individual.
“Afinal, Enn, Nove, é o número perfeito, porque simbolicamente representa a solidariedade cósmica, não em ação no jogo dos fenômenos e das forças, mas realizada e vivida pelo ente que renuncia à individualidade para reintegrar-se no seio da Divindade. Essa reintegração é a plenitude do desenvolvimento espiritual, dada pelas nove graças especiais do Espírito, a que alude São Paulo. Na nona hora, o Senhor expirou no topo do Calvário, consumando a Redenção, reintegração definitiva do Homem-Deus no Eterno Absoluto.
“Essa ideia de perfeição ligada ao número nove desde os mais recuados e tenebrosos tempos não pode deixar de ser lembrada diante da voz tupi ene com o significado bom, como se apresenta em enecoema, bom dia.
“Reunindo ‘ene’ e ‘yauy’, teremos a palavra altamente simbólica ‘eneyauê’, corrompida em anauê, saudação ritual dos Camisas Verdes.”
É curioso que o Sr. Gustavo Barroso se refere, neste capítulo, aos autores que defendem a existência da Atlântida, como ligados a todas as formas de ocultismo. E o próprio Sr. Gustavo Barroso é autor de um livro onde sustenta a existência da Atlântida…
Aliás, cumpre notar que o texto ora transcrito tem uma tal allure26 ocultista, que poderia muito bem ser assinado por Krishnamurti ou Annie Besant27.
* * *
1) (N. do E.) O conteúdo desta primeira página, em papel timbrado do Autor, está todo manuscrito por sua mãe, D. Lucilia, como se pode ver na imagem ao lado.
2) (N. do E.) Os títulos de I a IV foram manuscritos pelo Autor e constituem um “fascículo” com 33 laudas datilografadas (algumas em papel comum e outras em papel timbrado da Secretaria da Junta Estadual da LEC paulista), com entrelinhas de espaço e meio.
3) (N. do E.) {por}.
4) (N. do E.) Manifesto de autoria de Plinio Salgado, com o qual foi fundada a Ação Integralista Brasileira (AIB), em 7 de outubro de 1932.
5) (N. do E.) Gustavo Dodt Barroso (1888-1959) – escritor, político e historiador cearense. Foi deputado federal pelo Ceará entre 1915 e 1918; eleito para a Academia Brasileira de Letras em 1923; fundador e diretor do Museu Histórico Nacional. Aderiu à Ação Integralista Brasileira (AIB) em 1933, sendo um de seus mais ativos militantes. É autor, entre outras, das seguintes obras: Brasil – Colônia de banqueiros (1934), O quarto império (1935), O que o integralista deve saber (1935), A destruição da Atlântida (1936), Integralismo e catolicismo (1937).
6) (N. do E.) {O que é o Integralismo}. Por um lapso, o Autor colocou o título do livro de Plinio Salgado.
7) (N. do E.) Neste ponto há um desenho que se pode ver na imagem ao lado.
8) (N. do E.) {há razão}, {um culto}. O Autor fez várias correções nesta alínea b), riscando algumas palavras, mas não todas as necessárias para dar sentido lógico ao pensamento. Por isso se omitiram as aqui indicadas.
9) (N. do E.) Na lateral esquerda da folha (ver imagem na página seguinte) vem a seguinte observação manuscrita do Autor: “Revimos este texto em I-1956, confrontando-o com a edição de 1934. O texto, no livro de 1934 é: ‘interferência de uma ideia no sentido de estabelecer um equilíbrio’.”
Por evidente lapso, o Autor escreveu a data da primeira edição da obra, ao invés do ano da segunda edição (1954), da qual certamente se serviu.
10) (N. do E.) {Conclusão}. Neste ponto havia dois títulos redundantes. O primeiro manuscrito pelo Autor e o segundo mecanografado. Optamos por manter o primeiro, pois segue a numeração romana empregada ao longo do Relatório, e também por exprimir mais a realidade, uma vez que o Autor tira conclusões doutrinárias e práticas, como se verá em seguida.
Neste título procurou manter-se a diagramação original. Os destaques são do Autor.
11) (N. do E.) A frase acabava com ponto final. Pelo contexto, vê-se que se trata de uma interrogação, e não uma afirmação.
12) (N. do E.) {Prevendo futuras objeções}. Ver explicação de motivos do título anterior.
13) (N. do E.) Provérbio latino: Verba volant, scripta manent. – As palavras orais voam, as escritas permanecem.
14) (N. do E.) {XC}.
15) (N. do E.) Acréscimo que o Autor fez ao Relatório. São quatro laudas datilografadas em papel comum, com entrelinhas de espaço e meio. Está costurado no “fascículo”, de onde se deduz ter sido escrito logo após a conclusão do trabalho.
O Autor não colocou título neste acréscimo. Para maior facilidade na apreensão da matéria, optou-se por transformar em título a primeira frase do texto normal, que era terminada por dois pontos.
16) (N. do E.) Este título, em letra manuscrita de D. Lucilia, está na primeira página do segundo “fascículo” do Relatório imparcial, em papel timbrado do Autor. O caderno contém 7 folhas datilografadas, todas de papel timbrado da Secretaria da Junta Estadual da LEC, do Estado de São Paulo. Procurou-se manter a diagramação original.
17) (N. do E.) Estas duas linhas vêm com uma chave na lateral esquerda. No verso da página anterior há uma anotação, manuscrita por D. Lucilia (os grifos são também dela, ver detalhe da imagem da página 372), com uma seta apontando para a mencionada chave. O teor da nota é o seguinte:
“ 4ª edição (1936):
“Pg. 43.
“Texto 6 – ‘O Integralismo, de modo geral, encarado como filosofia é a concepção totalitária do Universo, quer no tocante às suas representações formais, quer no referente ao sistema de movimentos.’ etc.
“(Confere adiante Texto 11)”
18) (N. do E.) Este parágrafo ocupa apenas uma linha no original, ficando bem claro que o Autor o inseriu neste ponto (aproveitando o espaço duplo que há entre cada texto), por se ter esquecido do mencionado documento. Em consequência, optamos por transcrever em seguida a citação inadvertidamente omitida.
19) (N. do E.) O Autor intercalou esta linha entre os dois textos, aproveitando o espaço duplo que há entre ambos, para sanar o lapso, como se poderá facilmente verificar.
20) (N. do E.) Georges Sorel (1847-1922) – teórico francês do sindicalismo revolucionário, fortemente influenciado pelas teorias de Proudhon. Suas teses exerceram certa influência no fascismo italiano.
21) (N. do E.) {O que é o Integralismo, pg. 86}. O Autor corrigiu à mão o título do livro, conforme está entre < >. Suprimiu-se o trecho indicado (o rasurado é do próprio Autor), a fim de evitar confusões.
22) (N. do E.) {Gustavo Barroso, O que é o Integralismo, pg. 85.}. No original, o autor riscou apenas o número da página (conforme indicado), e acrescentou a correção manuscrita (colocada entre < >). Mas como o título do livro também estava equivocado, optamos por omitir o trecho inteiro.
23) (N. do E.) Este título, em letra manuscrita de D. Lucilia, está na primeira página do terceiro “fascículo” do Relatório, em papel timbrado do Autor (ver imagem na página ao lado). O caderno contém 12 folhas datilografadas (entrelinha de espaço e meio), na sua maioria, em papel timbrado da Secretaria da Junta Estadual da LEC, do Estado de São Paulo.
24) (N. do E.) À margem deste parágrafo o Autor fez a seguinte anotação: “Cf. O que o integralista deve saber, pg. 78”.
25) (N. do E.) Este trecho está manuscrito no verso da página anterior, com uma seta indicando onde deve ser acrescentado no texto. Para ficar bem claro o ponto de inserção, o Autor repetiu uma frase que já constava no Relatório. A fim de não bisar, omitiu-se esta última: {Todos os pitagóricos e cabalistas lhe emprestam um valor místico que ressalta a cada passo nas suas obras.}.
26) (N. do E.) Genericamente, maneira de andar, de se apresentar, de se comportar. Em concreto, aspecto, aparência.
27) (N. do E.) Ver, a respeito destes personagens, o artigo “Krishnamurti”, no
II volume desta coleção, pp. 243-245.
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