1928 – Artigos, entrevistas, discursos, etc
1928
Artigos de imprensa, entrevistas, discursos e outros documentos
“O Legionário”, nº 19, 9/9/1928, p. 1
Numa vibração isócrona de entusiasmo, os jovens católicos, tendo à frente S. Ex.cia Rev.ma D. Duarte Leopoldo e Silva, nosso magnânimo Metropolita, se dispõem a celebrar o Congresso da Mocidade Católica1
Instala-se hoje, com solenidade e pompa inexcedíveis, o Congresso da Mocidade Católica. Na imponência da sua grandiosidade, na majestade da sua elevada significação, e na fulgurância superlativa da sua finalidade, o grande certâmen ficará assinalado na história como o início de uma época de ressurgimento religioso, de intensificação da piedade, de robustecimento da fé, prelúdio da organização da nossa juventude católica, que pretende emparelhar-se com a dos demais países.
Vai vibrar em toda esta semana a alma católica brasileira neste recanto da Pátria, onde a mocidade aliará ao brilhantismo do culto externo, a profundeza da meditação e do estudo sério e perseverante, a fim de tornar-se mais compacta, mais disciplinada, colocando o vigor da sua energia varonil ao dispor da causa católica, que é a causa brasileira.
Brilhante e sadia, essa juventude que se reúne em S. Paulo, será, sem dúvida, a pioneira da organização católica que se há de estender por todo o Brasil, reunindo todos os seus elementos eficientes em um elo de aço, para contrapor a harmonia instintiva da sua vontade inquebrantável, à corrupção que cada vez mais se alastra em seu seio, procurando tisnar a candura da sua alma.
Valente essa mocidade que aqui vem formar esse tecido vivente de almas sequiosas de combates, de batalhas, mas das batalhas serenas do ideal cristão, para conquista do coração do moço para Jesus.
Nas sessões de estudo serão discutidos os mais sérios problemas que interessam aos jovens militantes nas fileiras católicas, a fim de que se preparem com suficiência para terçar armas com inimigos abastecidos e sem piedade, para afrontar impávida e corajosamente, mesmo à custa de sacrifício, o indiferentismo que domina e campeia infrene no seu cerne, corroendo, minando os seus alicerces, numa ânsia de destruição e dissolução dos grandes empreendimentos.
O Congresso virá fazer reflorir no semblante da mocidade o sentimento de confiança nos seus próprios esforços, fornecendo-lhe a armadura necessária para entrar na peleja e sair vencedora, para solver resolutamente as mil dificuldades que hão de embaraçar a sua marcha ascensional para consecução do seu ideal sublime.
Nas sessões solenes ouviremos as palavras doutas e fartas de ensinamentos, da élite da nossa mentalidade católica, que ao lado da sua experiência, nos há de trazer a sabedoria dos seus conselhos, o entusiasmo da sua atuação nas fileiras dos soldados de Cristo.
Conforta muito ao coração do católico presenciar e sentir a intensa vibração, misto de fraternidade e de abnegação, que dimana de todos os recantos da nossa Pátria, pulsando uníssona com essa juventude que ora se encontra entre nós, para a realização do Congresso que já transpôs os limites regionais, abraçando num grande amplexo a catolicidade brasileira.
É digna de nota a propaganda desenvolvida, principalmente na Capital, em prol do Congresso. Às Semanas Marianas sucederam-se os comícios, é indescritível a emoção comunicada a quantos assistiram à enorme massa de jovens a percorrer as ruas desta cidade, erguendo vivas a Cristo Rei, à Imaculada, ao Papa, à Igreja.
Nunca se viu espetáculo idêntico e jamais se mostrou tão vivo o entusiasmo dos nossos jovens, que sabem sentir bem no âmago, a sublimidade da nossa Religião.
Já se apresentam, numa maturação precoce, os frutos do Congresso. A atividade desenvolvida por todas as associações paroquiais tendo à frente as Sociedades Marianas, veio provar exuberantemente a têmpera do nosso carácter católico. Por toda a parte se nota vida, movimento, entusiasmo, trabalho, esforço e sacrifício. Todos querem ceder uma parcela que seja de si mesmo para maior eficiência da grande prova.
Se são de bom presságio os fins do congresso, se se espera o mais legítimo triunfo desta grande reunião, não podemos deixar no olvido, o nome do…
Promotor do Congresso
O Rev.mo Pe. José Visconti, SI, que foi, por assim dizer o estimulador desta grandiosidade que ora se nos depara fruto do seu zelo incansável, da sua dedicação e do seu amor à causa da nossa juventude. Calar o nome do Rev.mo Pe. Visconti, esse denodado jesuíta de valor, seria a maior das injustiças. Foi S. Rev.ma, que se colocou à frente do grande movimento vindo sacudir a nossa sensibilidade, levantando brios e adestrando vontades, para empreenderem esta jornada que agora atinge ao acume2. Moléstia pertinaz e rebelde prostrou-o no leito, privando-nos do conforto da sua companhia.
Por ordem de S. Ex.cia Rev.ma, o Sr. Arcebispo Metropolitano, substituiu-o o Rev.mo Pe. Danti, SI, que tem ultimado as providências necessárias para a realização do Congresso. A atuação de S. Rev.ma tem sido a mais profícua e benéfica que se pode desejar. Não houve solução de continuidade. S. Rev.ma com o espírito de organização que lhe é peculiar, dirigiu com proficiência os trabalhos preparatórios, atendendo com solicitude e zelo inigualáveis aos diversos reclamos exigidos por uma reunião como a que ora se verifica.
Os nomes destes dois filhos de Santo Inácio ficarão, certamente, para sempre gravados no coração da mocidade que lhes será sempre agradecida.
(…)
O programa
É o seguinte o programa do Congresso:
Dia 9 – domingo
Missa e Comunhão geral das Associações Católicas em todas as igrejas, capelas, matrizes e colégios.
Às 10 horas – Missa do Espírito Santo na basílica de São Bento, celebrada pelo Ex.mo Rev.mo Sr. Dom Duarte Leopoldo e Silva, Arcebispo Metropolitanos de São Paulo, com assistência dos Ex.mos Rev.mos Srs. Bispos, Rev.mo Cabido Metropolitano, Autoridades Civis e Militares.
Às 15 horas – Reunião das crianças do catecismo em São Paulo, no Largo da Sé. Romaria à basílica de São Bento para rezar uma Ave Maria pelas vítimas do México.
Às 20 ½ horas – Sessão solene de abertura do Congresso na basílica de São Bento.
Dia 10 – segunda-feira
Às 7 ½ horas nas igrejas de Santa Cecília, Brás, São Bento e Convento da Imaculada Conceição, Comunhão geral das crianças do catecismo de São Paulo e das escolas paroquiais.
Às 20 ½ horas – Sessão de estudos, na matriz de Santa Efigênia, para moços, e na matriz da Consolação, para moças.
Dia 11 – terça-feira
Às 7 ½, nas matrizes da Consolação, Santa Cecília, basílica de São Bento, Comunhão geral dos colégios femininos.
Às 14 horas – Concentração de todas Filhas de Maria de São Paulo, no Largo da Sé. Romaria à basílica de São Bento e consagração à Santíssima Virgem.
Às 20 ½ horas – Sessão solene na basílica de São Bento.
Dia 12 – quarta-feira
Às 7 ½ horas – Na basílica de São Bento e santuário do Coração de Jesus, Comunhão geral dos colégios masculinos.
Das 16 às 17 horas – Hora Santa na basílica de São Bento. Representação de todas as paróquias de São Paulo.
Às 20 ½ horas – Sessão de estudos nas matrizes da Consolação e Santa Efigênia.
Dia 13 – quinta-feira
Às 7 ½ horas – Missa e Comunhão geral das Damas da Caridade, Rosário, Vocações, Mães Cristãs, Tabernáculos, Ordem 3ª do Carmo e demais Associações de Senhoras, na basílica de São Bento.
Às 20 ½ horas – Sessão solene na basílica de São Bento.
Dia 14 – sexta-feira
Às 7 ½ horas – Missa e Comunhão geral do Apostolado da Oração no santuário do Sagrado Coração de Jesus.
Às 16 horas – Festival de gala em homenagem aos Ex. mos Rev. mos Arcebispo e Bispos, no salão Teçayndaba.
Às 20 ½ horas – Sessão de estudos nas matrizes da Consolação e Santa Efigênia.
Dia 15 – sábado
Às 7 ½ horas – Missa campal e Comunhão geral das Filhas de Maria de São Paulo no páteo do Liceu do Sagrado Coração de Jesus.
Às 15 horas – Parada e desfile dos batalhões colegiais e escoteiros católicos em homenagem aos Ex.mos Rev.mos Srs. Bispos.
Às 20 ½ horas – Sessão Solene de encerramento dedicada ao Sumo Pontífice na basílica de São Bento.
Dia 16 – domingo
Às 8 horas – Missa campal no páteo do Liceu do Coração de Jesus e Comunhão geral dos homens.
Às 10 horas – Solene Pontifical na basílica de São Bento com assistência dos Ex.mos Rev.mos Srs. Bispos, Rev.mo Cabido, Clero Secular e Regular, Autoridades Civis e Militares.
Às 15 horas – Manifestação às Autoridades Eclesiásticas e Civis, no Largo da Sé.
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“O Legionário”, nº 20, 23/9/1928, p. 1
O Primeiro Congresso da Mocidade Católica
“O Congresso da Mocidade Católica serviu a Deus, servindo à Pátria” palavras de S. Ex.cia Rev.ma D. Sebastião Leme, o Arcebispo da Eucaristia
Encerrou-se há uma semana o 1° Congresso da Mocidade Católica e ainda nos achamos sob a impressão forte de sua grandiosidade. Impossível descrever a série ininterrupta de manifestações das nossas forças católicas, fazendo vibrar uníssonos todos os corações verdadeiramente brasileiros.
Nesses oito dias de demonstração religiosa, de civismo, de ressurgimento do ideal que já se ia diluindo no veículo altamente dissolvente que é a metalização da vida hodierna, S. Paulo – e com ele o Brasil inteiro – sentiu bem fundo, estremeceu até o âmago, vibrando com a mocidade católica radiante e esplendorosa, num hino estupendo de glória a Deus e à sua Santa Igreja.
Nada faltou à nossa juventude. As bênçãos do Santo Padre, o apoio do episcopado brasileiro, a simpatia das autoridades civis e militares, a confiança imensa de toda a nossa população, tudo isto veio dar vida, realce, brilho inexcedíveis ao Congresso.
Não houve quem não comungasse com os moços nesse belíssimo movimento de fé e patriotismo. O amor à nossa santa Religião e o amor à nossa incomparável Pátria, formaram um todo único expandindo-se de cada peito, tomando parte nesse concerto magnífico, nessa epopeia extraordinária que foi a grandiosa reunião. Foram sem número os telegramas, os ofícios e as cartas portadoras das adesões, dos mais longínquos recônditos do nosso querido Brasil.
Ao lado de todas estas demonstrações de simpatia votadas ao nosso 1º Congresso, não podemos deixar de salientar a ação da nossa imprensa que acompanhou bem de perto todas as solenidades e todas as manifestações. É muito significativo o apoio de todos os jornais da Capital e de outras cidades vizinhas, secundando e auxiliando os nossos moços nesta grande cruzada de recristianização do nosso povo, de afirmação de caracteres, para “omnia instaurare in Christo”3. A grandiosa pregação de fé promovida pela nossa mocidade é prova eloquentíssima do seu acendrado amor à causa católica que é a causa da nossa Pátria.
Não esmoreceu ainda e não esmorecerá jamais o ardor da luta pela implantação integral do reino de Cristo na terra. O Congresso não foi somente uma manifestação de fé, mas foi também um retemperar de energias, um intensificar de forças, um sintetizar elevado de esforços, uma modernização, por assim dizer, de nossa diretriz combativa a fim de que todos nós, moços católicos brasileiros, nos tornemos valores verdadeiramente eficientes na serena batalha do ideal cristão.
O Congresso vai tornar mais unidos, mais compactos os nossos grupos, a fim de que se faça mais eficiente a nossa ação de conjunto, dominada por único pensamento: lutar sempre e sempre com Jesus e por Jesus!
“O Congresso da Mocidade Católica, diz D. Benedito de Souza, bispo do Espírito Santo, indicou o esplendoroso futuro que Deus nos reserva, que é o da Paz e do Amor.” Não duvida que diante de nós se descortina imensa a tarefa que pesa sobre os ombros dos mentores da nossa organização, a fim de conseguir-se esse desideratum. É certo, a Paz há de vir, essa Paz que tanto desejamos virá após esta guerra pacífica que a mocidade católica promove, batendo-se pela sua fé quente e robusta, pelo seu ideal altaneiro e sublime.
Encerrou-se o Congresso, mas agora é que começaremos o trabalho. As conclusões oriundas do grande certâmen deverão passar da região das teorias para o terreno prático das realizações. Os nossos jovens se encontram a postos. Avante pois! “Ora et labora…”
[A notícia prossegue descrevendo pormenores do Congresso.
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1) (N. do E.) O Congresso da Mocidade Católica exerceu profunda influência no futuro do Autor. Com efeito – conforme o narrou inúmeras vezes, ao longo dos anos –, foi após a participação neste evento que o Dr. Plinio Corrêa de Oliveira tomou a decisão de se dedicar por inteiro ao serviço da Igreja.
Esse o motivo pelo qual são aqui transcritos os dois artigos publicados no “Legionário” sobre o Congresso.
2) (N. do E.) Ponto mais alto, ápice, cume.
3) (N. do E.) “Restaurar todas as coisas em Cristo” (Ef 1, 10).
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