1934 – julho a dezembro
“O Legionário”, nº 149, 8/7/1934, p. 1
Bastidores à mostra
Tem sido objeto de freqüentes cogitações dos pensadores católicos a posição que devem assumir no estudo comparativo do passado e do presente.
Cumpre evitar uma ruptura criminosa com o passado e um repúdio desdenhoso do presente
Entendem uns que a Igreja deve orientar o pensamento humano no sentido de uma volta enérgica ao que já foi. Acham outros que ela deve empunhar com firmeza o bastão de comando dos acontecimentos presentes, repudiando definitivamente um passado que, se lhe ornou com muitas jóias o diadema de glórias, cravou-lhe também muitos espinhos agudos na fronte veneranda. Entre estas duas opiniões extremas está o pensamento dos que querem evitar, ao mesmo tempo, uma ruptura criminosa com o passado e um repúdio desdenhoso do presente. Antes de tudo, é necessário ser sincero, ser objetivo, ser verdadeiro.
A Igreja, que sobrevive a todas as idades e a todas as paixões, não tem interesse em se ligar indissoluvelmente ao passado, ao presente, ou ao futuro. Mas, estudando o passado, auscultando o presente, preparando o futuro, ela tem o sincero empenho de retirar, da lição dos fatos, as normas de sabedoria que devem orientar os católicos na aplicação de seus princípios.
Se, portanto, o historiador ou o sociólogo católico exalta os benefícios do passado, ou estigmatiza os vícios do presente, ele não deve por isto permitir que sua atitude ↓1 seja interpretada como reflexo do suposto saudosismo incorrigível da Igreja. É preciso tomar sempre as cautelas devidas para que a ninguém pareça que, instituição oriunda de um passado remoto, só neste passado e nas suas condições mesológicas2 peculiares pode a Igreja viver. Quanto mais a Igreja verbera a decadência moral do século, tanto mais ela afirma, implicitamente, a integral atualidade de sua ação. É exatamente quando se aponta o mal, que mais do que nunca se afirma a oportunidade do remédio.
Foi necessário que dois imensos escândalos estourassem simultaneamente em duas das mais civilizadas nações européias, para que se conhecesse ao vivo a impureza das lavas incandescentes que borbulham no subsolo da sociedade contemporânea.
Uma população tradicionalmente republicana e liberal sai às ruas para dar morras à democracia
Ainda não estavam abafados os últimos ecos do rumoroso caso de Lindberg3, que mostrou ao mundo estarrecido a misteriosa impotência da polícia americana diante de não sei que máfias ou que maçonarias; ainda não estava encerrado o inquérito sobre o escândalo Kreuger4, que desvendou aos olhos do público todo o sale tripotage5 de uma camorra dourada de estadistas, banqueiros e notabilidades internacionais, funcionando em engrenagem com outras camorras douradas de personagens ilustres; e já o affaire Hanau6, a inominável trapaça de deputados, senadores e magnatas, atraía todas as atenções para o escândalo da “Gazette du Franc” e mostrava a extensão alarmante da corrupção contemporânea.
Foi então que arrebentou o inominável escândalo de Stavisky, em que uma população tradicionalmente republicana, democrática e liberal, como a da França, saiu pelas praças públicas a dar morras à democracia, ao Parlamento e ao Governo, acumpliciados com os defensores intransigentes dos bandidos que o clamor público perseguia. E à luz dos incêndios que então o populacho ateou, pudemos surpreender por minutos a fisionomia de uma outra república francesa, a verdadeira filha de 1789, despida da maquillage oficial com que a apresentam as agências telegráficas: um Parlamento sistematicamente submetido a forças de bastidores, vivendo em simbiose de patifarias com um governo cúmplice de Stavisky. Sobre toda esta corrupção, o lema de igualdade, liberdade, fraternidade, escarnecendo da nação defraudada e algemada, que os documentos oficiais chamam soberana!
Da chaga aberta no regime hitlerista, um intenso odor de gangrena se alastrou por todo o mundo
Ainda estávamos abatidos e humilhados pela visão macabra de uma tal decomposição moral grassando no seio da Primogênita da Igreja, como se se comprazia em chamar à França de antanho, e já o estampido das balas que abateram Von Schleicher7 e Röhm8 desviaram nossa atenção da França para a Alemanha, onde se rasgava violentamente o abscesso de uma crise interna do regime hitlerista. E o que vimos nós, dentro deste cenário de uma Alemanha que se pretendia renovada? Além de uma imoralidade que uma folha católica não pode registrar, a corrupção instalada nos mais altos graus da hierarquia hitlerista, tão ufanosa de sua capacidade reformadora! Ou os conchavos indignos com potências estrangeiras, os intuitos subversivos e ambiciosos, os banquetes no comando geral das tropas hitleristas, a famosa cena do automóvel que chegou com dez copeiros portadores de um banquete que até Galba, Othão e Vitelo invejariam, etc., são verdadeiros, e nesse caso vemos a impotência moralizadora visceral de qualquer ação meramente política; ou então todos os fatos são falsos, a ambição de Hitler foi o único móvel dos fuzilamentos, e a mesma tese se confirma com vigor ainda maior. Em qualquer caso, porém, dessa chaga que se abriu, um intenso odor de gangrena se alastrou por todo o mundo.
De que valem as soluções políticas, se não tiverem o apoio e a força moralizadora do Catolicismo?
Não contestamos a utilidade das soluções políticas. De que valem elas, porém, se não tiverem em seu apoio a força moralizadora do Catolicismo?
A democracia voltou-se contra a Igreja. Hoje ela cai sobre a ruína do país que a engendrou, vítima da corrupção completa dos caracteres.
O hitlerismo soube golpear a hidra liberal. Mas das sete cabeças do monstro, uma ele poupou: a da impiedade. E é esta, precisamente, que hoje o devora.
Quando, finalmente, tomarão os povos o caminho de Roma, onde os aguarda a Cátedra Apostólica, que só ela nos mostra a via, nos ensina a veritas e nos dá a vita9?
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“O Legionário”, nº 149, 8/7/1934, pp. 1 e 4
Um homem
Hominem fortem quis inveniet? Procul, et de ultimis finibus pretium ejus. Confidit in eo cor Dei sui… § – Quem encontrará um homem forte? É em lugares longínquos que se deve procurar seu preço. O coração de seu Deus confia nele…
Na triste época de decadência em que hoje vivemos, podemos fazer perfeitamente uma adaptação, ao homem, dos elogios magníficos que a Bíblia Sagrada faz à mulher forte10.
Realmente, enquanto a mulher perde completamente a noção de sua função social e só pensa em romper os laços que a prendem ao lar, para saciar sua sede de aventuras e de liberdade, o homem vê enfraquecer-se continuamente a fibra do seu temperamento viril, que fazia dele, outrora, o Rei da Criação.
Diógenes procurava um homem, com uma vela acesa em pleno meio-dia, nas ruas centrais de Atenas. Um Diógenes moderno já teria a seu serviço, não mais simples velas, mas faroletes e holofotes, sem ser, por isto, mais bem sucedido em sua infrutífera pesquisa…
Foram homens destemperados num conceito torpe
de virilidade que conduziram o mundo ao
estado em que o vemos hoje
É que a humanidade, divorciada da Igreja, procurou criar um tipo de virilidade próprio: o homem realmente viril não deveria mais exceler pela austeridade rígida de seus costumes, pela operosidade incansável nos seus deveres, pela sujeição inflexível de todas as revoltas de sua inteligência e de todos os caprichos de sua imaginação à sublime disciplina espiritual da Igreja.
Pelo contrário, era no excesso do deboche, nos atrevimentos impudicos das aventuras equívocas, no orgulho vaidoso e estulto de sua inteligência ímpia, que sua virilidade deveria brilhar. Homem e homem forte, ele deveria sê-lo, não para cooperar, como elemento útil, para a ordem geral, mas para se atirar cegamente contra todo o freio e toda a lei, desde que a isto o impelissem suas paixões. E foram os homens assim temperados, ou melhor, destemperados neste conceito torpe de virilidade, que conduziram o mundo, através dos desmandos acumulados por diversas gerações, ao estado em que hoje o vemos jazer.
E o homem forte passou a ser mais raro ainda do que a mulher forte, cujo preço, entretanto, a Sagrada Escritura diz que se deveria procurar nos confins da terra…
O catolicismo integral de D. Gastão
Todos nós, no entanto, tínhamos até há pouco, entre nós, um tipo magnífico de homem forte, com as qualidades sólidas e fundamentais que a expressão evoca: Dom Gastão.
Como todas as personalidades [ricas] em atributos, ele se apresentava, no labor cotidiano, sob aspectos psicológicos bem diversos que freqüentemente surpreendiam seus cooperadores, mas que, para o bom observador, se prendiam todos a um fundamento moral único.
Como conciliar, por exemplo, o seu senso de autoridade com a incomparável afabilidade e simplicidade de seu trato? Como explicar sua estupenda energia, com aquela sensibilidade afetuosa e delicada que tantas vezes nele pude observar? De que forma harmonizar, dentro de uma mesma mentalidade, aquela constante jovialidade e aquela compreensão austera e profundamente grave e séria de seus deveres? Como supor naquele Vigário-Geral operoso, onipresente e onisciente quanto a tudo que dizia respeito à Arquidiocese, o sacerdote que passava horas inteiras, e até a noite toda, na presença do Santíssimo Sacramento, recolhido em profunda oração? A explicação está toda neste catolicismo integral, que é a característica de Dom Gastão.§
A autoridade católica harmoniza firmeza com prudência suave
Catolicamente falando, a autoridade de forma nenhuma se choca com a simplicidade. O homem deixa de ser simples quando ele quer tornar o direito de governar o próximo um atributo inerente à sua pessoa. Mas o titular de uma autoridade qualquer, seja ela eclesiástica ou civil, trairia a sua missão se, considerando-se embora mero depositário do poder divino, não exercesse com toda a firmeza, com a mais implacável pertinácia e, ao mesmo tempo, com a mais suave prudência, todos os atributos decorrentes do seu cargo.
A energia, por sua vez, numa alma bem formada, não é um impulso desordenado da vontade, imoderadamente atraído para algum objeto. É principalmente, ou mesmo unicamente, a direção forte da vontade no sentido de realizar os atos necessários para a consecução do fim último que sua inteligência compreendeu plenamente e a que [também] plenamente aderiu seu coração.
“A jovialidade não exclui a gravidade de espírito”
A jovialidade não exclui a gravidade de espírito. Pelo contrário, numa alma perfeita deve reinar uma alegria que irradie o esplendor de um espírito sério que soube tomar sobre os ombros sua cruz e seguir a Nosso Senhor, com o corpo coberto de chagas, talvez, e a alma a estourar de dor, mas sentindo cantar-lhe, no fundo do coração, a esperança da vida futura e a consolação balsâmica das promessas proclamadas no Sermão da Montanha: bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque deles é o reino dos Céus11.
“A ação não exclui a contemplação”
E, principalmente, a ação não exclui a contemplação. É só aos pés de Jesus Sacramentado, ou de Maria Santíssima, que o apóstolo consegue a fecundidade de seu trabalho. O valor da colheita não depende tanto do número das sementes, como de sua qualidade. Ora, onde e como buscar a verdadeira semente espiritual senão numa união, numa fusão integral entre a alma do apóstolo e os Sagrados Corações? Apóstolos eucarísticos e mariais no sentido mais profundo e mais completo da palavra, eis a grande necessidade do nosso século. E se algum apóstolo quiser saber como será julgada sua vida no Tribunal Eterno, não indague tanto sobre os caminhos que palmilhou ou as gotas de suor que de sua fronte gotejaram. Indague, sim, das horas passadas de rosário em punho, aos pés do Tabernáculo.
Homens-guindaste, capazes de levantar uma diocese inteira
Quando alguém consegue realizar o equilíbrio ideal entre tantos atributos aparentemente contraditórios, mas que se deduzem uns dos outros numa seqüência impecavelmente lógica, não é ele verdadeiramente um Homem com “H” maiúsculo, um destes homens-guindaste, capazes de levantar e transportar, sob o fluxo poderoso de seus exemplos, de suas obras e de sua piedade, não só muitos homens, mas muitas paróquias, uma diocese inteira?
Foi com uma saudade dolorosa que vimos partir da plataforma da estação o trem que o conduzia ao posto de comando a que o Supremo Pastor o destinara. Mas também nós quisemos ser homens. Vencendo o sentimento meramente humano que procurávamos dominar em nós, lembramo-nos somente das superiores necessidades da Igreja, que acabava de abrir um campo ainda mais largo à sua atividade apostólica. E foi ex abundantia cordis12 que o demos à Diocese de São Carlos.
Plinio Corrêa de Oliveira
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“O Legionário”, nº 149, 8/7/1934, p. 3
Adeus
Plinio Corrêa de Oliveira
Ninguém jamais poderá compreender o que foi para mim a separação de Monsenhor Pedrosa quando, em maio de 3213, partiu para Maredsous. Habituado, desde minha primeira infância, a venerá-lo com um respeito todo particular, minha veneração perfumou-se com um delicadíssimo afeto quando tive a fortuna incomparável de penetrar na sua intimidade, na Congregação de Santa Cecília.
A amizade que lhe votava, e voto, era muito mais do que um simples afeto humano. Era o enlevo que em mim despertava sua alma, através da qual, como num vitraux de finíssimo lavor, eu discernia luzes do Céu… E tal era a suave fascinação que sua simples presença exercia sobre mim, que tinha o dom de aplacar minhas intensas agitações. Lembro-me perfeitamente de um dia em que eu rezava em Santa Cecília, vivamente perturbado. Ignorando o que em mim se passava, Monsenhor aproximou-se do genuflexório em que eu estava e me perguntou uma banalidade qualquer. Imediatamente fez-se uma grande paz em mim. Estava dissipada a tempestade, pela simples presença carinhosa e espiritualizadora de Monsenhor…
A Justiça Divina reclamava almas que se deixassem imolar pelo cutelo da dor
E, no entanto, foi de todo o coração que eu aceitei a separação que sua vocação nos impunha. Na grandeza de seu gesto, eu distingui perfeitamente o chamamento divino, a lhe aconselhar que tomasse a cruz sobre os ombros e caminhasse animosamente até o alto do Calvário. Eu percebi perfeitamente a virtude redentora das imolações internas a que iria proceder em união com Cristo, no seu áspero caminho da cruz. O seu sacrifício sobrevinha exatamente em um momento em que o Brasil gemia sob o açoite humilhante da tirania dos Tenentes. Tudo parecia ruir na nossa organização civil e política. E eu já via com horror o momento sinistro em que as lavas do vulcão começariam a atingir a Igreja.
Eu senti, então, que a Justiça divina reclamava almas que se deixassem imolar passivamente pelo cutelo da dor. E a única palavra que eu lhe disse foi a de um adeus comovido e cheio de saudades. Nunca, porém, meus lábios se abriram para profanar com objeções despropositadas a nobreza de seu intento, que se explicava perfeitamente quando examinado com espírito de Fé.
As maiores distâncias não romperão esta fraternidade, enquanto a graça de Deus a alimentar
É agora Svend14 que parte. É o sacrifício de mais este amigo caríssimo que Nosso Senhor exige de mim. E eu não pude sequer pronunciar o discurso de despedida que queriam que, em nome da Congregação, eu lhe dirigisse. E, no entanto, foram seus os primeiros braços que se abriram como uma larga porta, de par em par, acolhedores, quando de meu ingresso na Congregação! Não seria justo que lhe dissesse eu o último adeus?
Mas foi melhor assim. Nada de humano se misturará a este sacrifício espiritual, onde nada deve ser para nós e tudo para Nosso Senhor. Conformando-me com esta ordem muda da Providência, eu não lhe farei agora o elogio, nem recordarei o longo caminho espiritual que juntos nós percorremos e que ele juncou para mim de tantas flores! Não lhe direi que a graça nos fez irmãos, com muito mais força do que o teria feito a natureza, e não lhe direi, também, que as maiores distâncias de tempo e de lugar não conseguirão romper esta fraternidade, enquanto a graça a alimentar.
Simplesmente, numa única palavra que deve resumir todo o meu afeto e toda a minha saudade, como a Monsenhor, eu lhe digo:
Svend, adeus!
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“Diário da Noite”, 18/7/1934
A ELEIÇÃO DO
PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Chegado hoje do Rio, o Deputado
Plinio Corrêa de Oliveira
fala ao “Diário da Noite” sobre o pleito de ontem
O resultado da eleição desgostou a oposição –
O dever do Sr. Getúlio Vargas –
As tendências espirituais
do Sr. Borges de Medeiros – O discurso
do deputado Cincinato Braga.
Chegou hoje a São Paulo o Sr. Plinio Corrêa de Oliveira, deputado da Chapa Única e figura altamente prestigiosa nos círculos políticos desta capital.
O distinto constituinte paulista desejava chegar a São Paulo juntamente com os seus companheiros de bancada, cuja vinda a esta capital deverá se dar na próxima sexta-feira.
Entretanto, por motivos ponderosos, não pôde ficar no Rio até àquele dia, tendo desembarcado, pois, hoje, pela manhã, na Estação do Norte.
Cerca das 13 horas, procurávamos em sua residência à Rua Marquês de Itu, 124, o Sr. Plinio Corrêa de Oliveira. Queríamos que ele comentasse a eleição de ontem. O deputado paulista nos atendeu prontamente, fazendo-nos estas declarações:
O resultado do pleito desgostou a oposição
– “Causou profunda contrariedade entre os elementos de oposição da Assembléia o resultado do pleito de ontem. Impunha-se, a todo transe, que o Sr. Getúlio Vargas encontrasse uma resistência vitoriosa à sua candidatura. O Brasil precisa de paz e tranqüilidade, para que possa cumprir serenamente o destino que lhe compete no concerto das nações civilizadas. Entretanto, o candidato ontem eleito não só não corresponde aos anseios da nacionalidade, como ainda fere e sobre-irrita as suscetibilidades da alma paulista.”
Dever do Sr. Getúlio Vargas
– “Conhecendo de perto os sentimentos da nacionalidade, que representam uma barreira oposta à sua continuação no governo, tinha o Sr. Getúlio Vargas o dever de tirar do cartaz político a sua candidatura. Mas não o fez. E, agora, o resultado aí temos: em vez da vitória de um candidato de conciliação, capaz de, pelas suas tendências apolíticas, pela sua eqüidistância das paixões partidárias, pelo seu passado e pelo seu civismo, apaziguar a família brasileira, assistimos à eleição de um nome que não pode nem podia reunir em seu favor a unanimidade das preferências.”
A figura do Sr. Borges de Medeiros
– “A muita gente poderá parecer estranho que eu, candidato à Constituinte da Liga Eleitoral Católica, tivesse sufragado o nome de um positivista, como é o Sr. Borges de Medeiros. Entretanto, a verdade é esta: as idéias atuais do Sr. Borges de Medeiros, em matéria religiosa, podem ser endossadas quase sem restrições por qualquer católico. O espírito do grande político gaúcho evoluiu muito, nestes últimos anos, no sentido do Catolicismo. Antes da eleição, conversei a esse respeito com o Sr. Alceu Amoroso Lima, que foi o coordenador do elemento católico dentro da Assembléia. E ambos concluímos que realmente não mais existe um motivo sequer, de ordem religiosa, que ponha em conflito um sincero católico com o nome do Sr. Borges de Medeiros.”
O discurso do Sr. Cincinato Braga
– “Quem quiser conhecer melhor as razões por que à Bancada de São Paulo era impossível apoiar a candidatura do Sr. Getúlio Vargas deverá ler o último discurso do Sr. Cincinato Braga. As palavras nele contidas resumem fielmente os sentimentos da bancada. E os sentimentos da bancada correspondem seriamente aos sentimentos da intrépida, altiva e nobre gente da minha terra.”
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“O Legionário”, nº 150, 22/7/1934, p. 1
A consolidação
A preocupação dominante das autoridades eclesiásticas é, no momento, a consolidação da esplêndida vitória que obtivemos na Constituinte da 2ª República.
Otimismo fácil, um dos pecados nacionais do Brasil
Devemos, atualmente, repelir uma tendência que pode ter, no momento, conseqüências extremamente funestas.
Deriva ela do otimismo fácil, que é um dos pecados nacionais do Brasil.
Pensam alguns que a aparente facilidade da vitória convida as hostes católicas a crescentes conquistas no terreno legislativo, conquistas estas que ingenuamente quereriam dilatar até à completa recristianização do Brasil.
“Ingenuamente”, dissemos nós, e estamos persuadidos de que só a ingenuidade de um zelo irrequieto ou de uma apatia incorrigível poderia tirar, de premissas erradas, conclusão absurda.
A grande imprensa, rancorosamente muda
Certamente, foi fácil a vitória para os que se contentaram em acompanhar os acontecimentos através das notícias resumidíssimas, que nossos jornais reproduziam sobre a marcha das reivindicações católicas.
Para estes – que sentenciam sem conhecimento de causa e se contentam em apreciar os fatos através dos comentários de uma imprensa rancorosamente muda em tudo que nos concerne –, a dificuldade da luta se mediu apenas pelo número dos discursos pronunciados.
A luta de bastidores pela causa da Igreja substituiu o combate oratório
Ignoram eles por certo a luta dos bastidores, a campanha dos cochichos, em que duas palavras habilmente sussurradas a um ouvido destroem o efeito de uma longa e eloqüente argumentação desenvolvida da tribuna.
Só o futuro dirá a amargura da luta que nós, os deputados católicos do Brasil inteiro, sustentamos pela causa da Igreja.
Também nós esperávamos a guerra a peito descoberto, o grande lance retórico, em que a beleza da luta cicatriza na alma as feridas abertas no combate.
E foi o contrário que tivemos de fazer.
Não foi o conflito das inteligências divididas por ideais antagônicos, que presenciamos, mas a perfídia a tramar na sombra das salas das subcomissões, a desarticular compromissos, a estimular vaidades, a se pôr de tocaia atrás de dispositivos regimentais, para desvirtuar o significado das votações do plenário, pacientemente coordenado e trabalhado por nós.
Como na guerra moderna, em que o gás asfixiante e as pulgas das trincheiras substituíram, como instrumento de tortura, o aço rijo das lanças medievais que se chocavam contra a couraça adversária em lances diretos, tão fortes quanto leais, também na vida parlamentar de nossos dias o trabalho dos corredores e da sala do café substituiu o combate oratório, hoje desenvolvido principalmente para as galerias.
É cedo para falar. Manda a prudência que calemos os nomes. Mas o Brasil saberá um dia, e se ele não souber, sabe-os Deus, os nomes daqueles que traíram, que fugiram ou que se calaram…
É necessário consolidar a vitória obtida
Não foi fácil, pois, a luta. E nem está ela concluída. É preciso, agora, consolidar.
Os preceitos constitucionais inscritos em nossa carta fundamental dependem, na sua maior parte, de regulamentação.
Há reivindicações católicas, como o casamento religioso, que se podem transformar, graças a uma regulamentação má, em espinho cravado na Igreja.
Nas eleições que se aproximam é, pois, necessário que consolidemos a vitória obtida, exigindo dos candidatos em quem votarmos o compromisso de regulamentar lealmente o exercício de nossos direitos espirituais.
Não é pela conquista de um terreno novo que devemos empenhar nossos esforços, mas pelo aproveitamento real do terreno que nos foi restituído, à força, pela impiedade.
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“O Legionário”, nº 151, 5/8/1934, p. 1
À margem dos acontecimentos
A posição superior e desapaixonada, que os católicos assumiram em face dos acontecimentos que vêm empolgando a nação brasileira, lhes permite uma visão muito mais clara e mais profunda da realidade, do que aos que, diretamente envolvidos pelo curso acidentado da vida política, são ao mesmo tempo espectadores e atores do drama nacional.
Exceção num “deserto de homens e de idéias”
Será curioso analisar as causas que, neste “deserto de homens e de idéias” tão justa e pitorescamente descrito pelo ex-ministro Oswaldo Aranha, a luta partidária se vai deferindo, de norte a sul do País, sem que uma grande idéia ou programa de palpitante atualidade explique tão intensa fermentação. E é com legítimo orgulho que nós católicos podemos apontar a nossa Liga Eleitoral como uma exceção, que procura situar-se num campo elevado, “fora e acima dos partidos”, para daí intervir nas pugnas eleitorais, tendo em vista tão somente a defesa de seu programa espiritual.
Será curioso analisar causas remotas do desinteresse geral de nosso povo por questões de programa.
Na Europa, interesses de clãs ligados a ideologias partidárias
Desde logo, um problema posto em grande atualidade pelos últimos desmandos abissínios da política européia, reclama nossa atenção. A despeito do que se diz da política brasileira de todos os graus, federal, estadual e municipal, será ela realmente mais cúpida e menos idealista do que a da maior parte das potências européias? A julgar pelos últimos dramas de que foram cenário a Alemanha de Von Schleicher, a Áustria de Rintelen, ou a França de Stavisky, parece que não. Neste caso, como explicar que a Europa nas suas lutas eleitorais, se deixe empolgar no mais alto grau pelas questões de programa, enquanto o eleitorado brasileiro se conduz, em face das mesmas questões, com uma indiferença quase total?
À primeira vista, ao menos, parece certo que o apego a um programa é um índice de idealismo do eleitorado de um partido. Assim sendo, como explicar que este índice, tão pronunciado nos partidos europeus, é desmentido pela realidade, que nos mostra que seu nível moral é, em geral, muito inferior aos nossos?
É que na Europa, a vida pública intervém e se entrosa muito mais estreitamente com a vida particular, do que no Brasil. Ainda somos, felizmente, um País que progride enquanto dormem nossos governos, muito mais do que retrocede enquanto eles estão acordados. A iniciativa particular desempenha, na economia em geral de todas as classes sociais, um papel muito mais relevante e mais ativo do que a iniciativa do Estado. A maioria dos nossos problemas pode ser resolvido com muito maior vantagem pela iniciativa do indivíduo, porque a natureza oferece, entre nós, muito maiores recursos à ação particular, do que no velho continente europeu.
Exatamente por esse motivo, os partidos políticos que militam na Europa têm toda a vantagem em associar ao seu destino os interesses de alguma classe social, que colaborará eficientemente na propaganda eleitoral e em toda a vida partidária, contanto que sejam defendidos os interesses particulares.
A vida partidária aparece, pois, não como um domínio inteiramente paralelo e alheio aos interesses particulares do grosso da população, mas como um poderoso meio de ação para a defesa dos interesses da classe.
E, infelizmente, sem aceitar o postulado marxista da luta de classes, devemos confessar que o interesse, não direi de classes, mas de grupos e de clãs está intimamente associado a uma grande parte dos princípios de ordem ideológica sustentados por certos partidos.
Como conseqüência, temos de reconhecer que, se a luta pelas idéias é sempre intensa e extensa na velha Europa, não é freqüente encontrá-la transformada em mero pretexto de rixa entre interesses antagônicos.
No Brasil, a luta pelas idéias não se mistura à lama dos interesses individuais
No nosso tranqüilo Brasil, pelo contrário, é força confessar que o grosso da população tem sua vida inteira orientada de tal maneira, que dificilmente lhe poderá trazer qualquer perturbação uma alteração de ministério, ou uma transformação governamental qualquer. Em geral as repercussões imediatas de tais acontecimentos ficam restritas ao público estreito do funcionalismo público, das classes armadas, e de meios comerciais interessados em negociar com o governo. E a vida pública interessa muito menos por este motivo, ao grande número, sempre constituído pelos que são medíocres no patriotismo como na inteligência. Uma vantagem, ao menos, decorre desta situação. É que se a luta pelas idéias se trava em uma frente de combate bastante reduzida, atraindo apenas o interesse dos que são verdadeiramente idealistas, ou dos jonteurs15 intelectuais, ela corre sobre um leito muito mais límpido, não trazendo nas suas águas, a lama dos interesses individuais.
E podemos assim, mais tranqüilamente, formar os princípios cardeais de nossa sabedoria social brasileira, que é hoje propriedade de um grupo de raríssimos estudiosos, mas que é o trilho lançado hoje sobre a história de amanhã, para que sobre ela caminhe, no futuro, o Brasil.
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“O Legionário”, nº 151, 5/8/1934, p. 1
As atividades da LEC em São Paulo
Está em plena e intensa atividade a Liga Eleitoral Católica, principalmente em suas secções de alistamento e propaganda.
Quanto ao primeiro, foi instalado mais um posto na sede do CEAS16 a cargo das ativas jovens que o integram.
Quanto à segunda, podemos informar que se projeta para breve a realização de uma série de conferências sobre os princípios da LEC. Essas palestras serão pronunciadas por representativas figuras da élite cultural de nossa terra e serão levadas a efeito no Salão do Club Comercial.
Está em organização, também, uma turma volante de conferencistas, que levará por todos os bairros de São Paulo a palavra quente da mocidade católica paulista.
Recentemente, visitou a cidade de Taubaté o Dr. Plinio Corrêa de Oliveira, que aí presidiu a uma grande Concentração das Jesuítas Diocesanas da Liga na zona dessa cidade.
O Dr. Vicente Melillo, presidente da LEC Estadual visitou a Diocese de Campinas, e os Srs. José Pedro Galvão de Souza e Paulo Ulhôa Cintra, a cidade de Amparo, onde fizeram conferências de propaganda.
* * *
Soubemos por informação de S. Eminência, o Sr. Cardeal Leme, que a organização da LEC tem causado ótima impressão nos círculos católicos europeus, estando até sendo imitada sua idéia em alguns países do continente. Da mesma fonte vem-nos a notícia de que a colaboração entre a Igreja e o Estado, sem prejuízo da separação entre os dois poderes, consagrada pela nova Constituição brasileira, é favoravelmente comentada nos meios católicos da Europa, sendo reputada uma feliz inovação digna de ser introduzida na legislação das nações do velho mundo.
* * *
Em entrevista recentemente concedida, o Dr. Plinio Corrêa de Oliveira, Secretário da Liga eleitoral Católica, reafirmou mais uma vez a absoluta neutralidade da grande organização eleitoral dos católicos, em face dos partidos que atualmente militam no Estado.
Foi uma definição de posições que se estava tornando necessária, à vista das inúmeras versões veiculadas por elementos interessados, atribuindo à Liga Eleitoral Católica atitudes incompatíveis com a sua natureza apolítica e extra-partidária.
É preciso manter a todo o transe a verdadeira posição em que a Liga se colocou: “fora e acima dos partidos”, eis o seu lema.
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“O Legionário”, nº 152, 19/8/1934, p. 1
Diretrizes
Não sei quem mais teve a lucrar, e a quem mais honrou a belíssima circular17 de Dom Duarte Leopoldo e Silva, Arcebispo Metropolitano, ao clero de sua Arquidiocese.
Indiscutivelmente, reconforta a leitura daqueles períodos de uma elegância clássica na forma, e de uma energia militar no fundo, em que o Arcebispo de São Paulo, nesta hora de tremendas responsabilidades, apontou ao clero e, indiretamente, aos católicos o caminho do dever.
Inflexível posição de um autêntico Pastor
Estamos em uma situação confusa em que todo o mundo foge de se definir, à espera de que clareiem os horizontes, para permitir amanhã, aos tímidos, um acesso seguro aos banquetes do Poder.
Precisamente, neste momento, Dom Duarte Leopoldo define sua atitude com uma precisão de aço, desdenhando altivamente um lugar que lhe pudesse caber à mesa da vitória.
Antes de tudo, é o Pastor que aparece, a indicar, ora com energia de um chefe, ora com a suavidade de um Pai, a posição desapaixonada e superior que os Ministros de Deus devem aceitar como conseqüência inelutável do caráter espiritual da sua missão.
Em segundo lugar, vemos o observador profundo, a perscrutar até o seu íntimo as condições particularíssimas do atual momento paulista, para mostrar a premência com que as circunstâncias reclamam do clero paulista aquela superioridade de vistas, aquele desinteresse completo, aquele domínio integral sobre as suas paixões, ainda quando inspiradas pelo mais nobre ardor cívico, para fazer falar apenas o sacerdote, comunicando aos corações feridos pela luta o bálsamo da paz e da caridade cristã.
Honra, porém, e sobremaneira, ao seu clero, um Arcebispo que ousa reclamar dele uma conduta tão elevada, e que não se arreceia em declarar de público a sua posição, tal a certeza que tem de que será obedecido.
Honra quem a escreve e o clero à qual se dirige
É provável que, durante os longos anos de Episcopado de Dom Duarte Leopoldo, tenha ele tido oportunidade para dar ao seu clero as mais honrosas provas de sua confiança. No entanto, nenhuma foi tão solene, nenhuma tão cabal, nenhuma tão estupendamente expressiva, quanto a da divulgação da sua circular.
Realmente, não se destinava ela à publicidade. No entanto, é certo que às vistas argutas e onipotentes da imprensa não escapara documento de tão excepcional valia. E o Arcebispo afrontou a possibilidade de uma publicidade, confiou ao papel aquilo que poderia dizer em uma simples reunião de Vigários, e cortou implicitamente a sua retirada, pela absoluta certeza de que seria obedecido.
Se a circular de Dom Duarte Leopoldo honrou quem a escreveu, e serviu para confirmar ainda uma vez as qualidades de tato, superior visão dos acontecimentos, e profunda dedicação à Igreja, de nosso Arcebispo, ela honrou de modo não menos sensível o clero a que se dirigiu. E honrando a uns e outros, ela honrou o próprio Estado de São Paulo.
Feliz o Estado que tem à sua frente um tal chefe e tais Pastores!
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“O Legionário”, nº 153, 2/9/1934, p. 1
Um erro
Sustenta alguém que os políticos paulistas precisam contratar uma missão mineira, para os iniciar nos segredos da estratégia política, como a missão francesa ensinou à nossa Força Pública os segredos da estratégia militar.
Agora, mais do que nunca, se patenteia a inteira procedência do conselho impertinente.
A troca de difamações entre partidos gasta suas reservas de prestígio
Não sabemos, realmente, qual o pensamento dos próceres peceistas ou perrepistas, a respeito da campanha de mútua difamação, a que eles procedem diariamente, nas colunas de nossos diários.
Se, porém, eles quisessem auscultar a opinião pública, isto é, o pensamento daquela grande massa da população que não está presa às paixões partidárias pelos laços do interesse ou do parentesco, estamos certos que se encheriam de desgosto.
Efetivamente, os dois grandes partidos estão gastando suas reservas de prestígio perante a opinião. As difamações com que se bombardeiam, em lugar de se neutralizarem uma à outra, se somam. E o grande público vai se habituando a aceitar como certos ou ao menos como prováveis os aleives partidos de qualquer dos lados da barricada.
O Brasil precisa de um Ideal: o Catolicismo
Com isto, se acentua o imenso cansaço do Brasil, que, mais do que nunca, almeja o advento de um ou alguns homens capazes de imprimir rumos novos à sua curta e triste história de nação precocemente envelhecida ao contacto com os vícios e os erros da civilização burguesa.
E a tal ponto se tornou veemente esta aspiração, que as expressões de carcomido, renovação de quadros, mentalidade nova, etc., passaram à categoria dos mais surrados chavões.
É este, no entanto, o grande erro dos elementos bem intencionados.
Não é de um ou de alguns homens, que devemos esperar a salvação do Brasil. § Um país que se deixe guiar por movimentos meramente personalistas é um país que caminha muito longe de sua salvação.
O Brasil não precisa de homens, repito; o Brasil precisa de uma Idéia.
Esta Idéia, ou este Ideal que intencionalmente escrevemos com “I” maiúsculo, não precisamos dizer aos leitores d’“O Legionário” qual seja. Não é propriamente um Ideal mas o Ideal, o nosso Ideal, o Ideal por excelência, é o Catolicismo em todo o vigor de sua pujança sobrenatural e no esplendor de sua prática integral.
Reservamo-nos para, na próxima nota, mostrar até que ponto, quer no tocante aos seus problemas psicológicos, quer no que se relaciona com suas questões políticas, administrativas e até econômicas, a famosa realidade brasileira reclama a aplicação urgente do Catolicismo.
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“O Legionário”, nº 153, 2/9/1934, p. 1
À margem de uma crítica
Dizia alguém de Joseph de Maistre que ele “enfonçait la verité dans les têtes, par ses pointes”18. Eis aí uma crítica que não pode ser feita ao Sr. Plinio Barreto, que é um dos escritores mais suavemente, e eu quase diria, mais sorrateiramente persuasivos, que atualmente vivem em terras do Brasil.
Já de há muito lhe venho eu admirando a habilidade com que sabe sugerir ao leitor impressões que, em seus escritos, ele apenas esboça, e a admirável sutileza com que semeia no espírito alheio, com mão aparentemente despreocupada, premissas que, cedo ou tarde, frutificarão em conclusões desejadas pelo autor.
“Inocente gênero de… despistamentos”
Na bela crítica que ele faz ao trabalho do Sr. Daniel de Carvalho, sobre “Theophilo Ottoni, Campeão da Liberdade”, mostra o Sr. Plinio Barreto o desprestígio em que o liberalismo caiu, perante as massas, e principalmente as massas jovens do século XX. Nenhuma palavra, porém, trai a tristeza com que sua pena de infatigável batalhador do liberalismo traçou o atestado de óbito glacial da ideologia defendida com tanto amor.
Apenas, para que o percebessem tão somente os iniciados, deixou ele flutuar em torno de sua crítica um vago perfume de melancolia, que o autor não pretendeu ocultar, mas tornar acessível exclusivamente a um grupo reduzido de técnicos neste inocente gênero de… despistamentos.
Daí a poucos passos, porém, o liberal se trai. E é com a fougue19 e o brilho de sempre, que o vemos recitar seu velho credo democrático, com um encolher céptico de ombros em relação aos adversários, que faz esquecer certamente o doce comentador de Theophilo Ottoni.
Não é possível alicerçar o Brasil novo sobre o agnosticismo
Não posso furtar-me ao prazer de transcrever o trecho, para mim culminante, da crítica que faz ao livro do prócer integralista, o Sr. Miguel Reale: “O meu ceticismo sobre as virtudes de regimes políticos absolutos, sobre a possibilidade de encerrar os homens de uma nação no cárcere da unidade mental e social, tira a sua seiva da observação desapaixonada do que tem sido a humanidade na sua misteriosa peregrinação pela terra. Se a Igreja Católica, que é a mais admirável organização associativa e a mais forte domesticadora de homens que o mundo jamais conheceu, não conseguiu estabelecer, nem mesmo dentro de uma só nação, a unidade de pensamento e de ação e integralizar o homem aos Evangelhos, que são o mais famoso dos códigos morais, há de ser o Estado que consiga integralizá-los aos seus postulados, que nem sempre se recomendam pela moral e pela justiça? Se a ação integralizadora da Igreja falhou apesar da autoridade divina em que se apoiou e de se dirigir ao que o homem tem de mais belo e mais nobre, que é o sentimento, que é a espiritualidade, a do Estado, que se inspira em um triste utilitarismo e só se alicerça nos instintos mais grosseiros da humanidade, é que há de triunfar?
“Não se pode afirmar que a dúvida seja destituída de fundamento. Não. Se a Inquisição não pôde manter a Igreja ao abrigo das heresias, não serão as tchekas que darão aos Estados a uniformidade de pensamento e a subordinação integral dos indivíduos aos seus ditames. A razão humana será sempre uma revoltada contra a razão do Estado. O não-conformismo é uma das leis da criatura humana.”
Confesso que não conheço o livro do Sr. Miguel Reale.
No entanto, pelo que conheço da doutrina integralista e pelo que conheço do Sr. Plinio Barreto, de quem sou velho e assíduo leitor, não posso vencer a tentação de pôr em confronto o Sr. Miguel Reale e o liberalismo, ao que diz respeito à sua posição perante o Catolicismo.
Não há duvida que o integralismo assume, perante o Catolicismo, uma situação muito mais simpática do que o liberalismo. No fundo, porém, é sempre uma posição agnóstica que dita a norma de conduta de ambas as ideologias perante a Igreja. E, enquanto o agnosticismo continuar a servir de base para as concepções políticas de nossos homens de Estado, não será possível alicerçar no Brasil a civilização nova que ele tem de produzir.
A questão religiosa vista pelo liberalismo e pelo integralismo
O liberalismo parte do conceito de que, sendo o conhecimento da verdade religiosa “inacessível ou de difícil acesso”, não pode o Estado transformar em causa sua, a defesa de uma determinada Religião.
A questão religiosa é, para o liberalismo, uma bomba que, colocada nas mãos do Estado, nelas tem de estourar inevitavelmente, gerando as mais ruinosas guerras de religião ou provocando as mais intoleráveis opressões da liberdade de consciência. O seu âmbito natural é tão somente o da consciência individual. E a questão religiosa, de problema que interessa à própria ordem pública, passa a ser uma mera questão de ordem privada, rebaixadas, conseqüentemente, as diversas igrejas, a simples instituições de caráter particular. Dentro da imensidade da matéria e do seu número de variantes que a teoria liberal comporta, penso que resumi com fidelidade imparcial o pensamento do agnosticismo democrático.
O integralismo, pelo contrário, reconhece a Igreja… ou as igrejas como instituições que têm direito a uma expressão político-social determinada, elementos que são, e dos mais ponderáveis, da vida social que o Estado integralista deve levar em consideração ao organizar-se. Daí um deslocamento novo, em que a Igreja, da esfera de mera instituição de vida privada em que a pusera o liberalismo, é transferida para situação de instituição de caráter oficial. Ao contrário do que freqüentemente fazia o Estado liberal, o Estado integralista não persegue a Igreja, não a ignora e nem a odeia. Pelo contrário, ele lhe dá meios para se defender, e até a ampara; não só ele a conhece como a estimula no exercício de sua missão espiritual; e, em sã doutrina, ele de bom grado lhe vota aquele respeito atencioso mas um pouco superior com que um rapaz novo e cheio de vida se compraz em homenagear uma matrona, que se aproxima do ocaso carregada de gloriosas tradições.
A ponte de ligação entre os dois movimentos
Há, pois, um abismo que separa o integralismo e o liberalismo, do ponto de vista católico. No entanto, cortando este abismo, há ainda entre as duas doutrinas antagônicas uma ponte de comunicação. E a esta ponte, parece que até agora não houve, nos arraiais integralistas, senão poucos atrevidos que ousassem vibrar-lhe o golpe de misericórdia: é o agnosticismo.
Ao contrário do Estado liberal, o Estado integralista “afirma o espírito”. No entanto, ele não ousa romper de vez com o pior dos preconceitos liberais, que é o agnosticismo oficial.
Efetivamente, porque não vai o integralismo até um reconhecimento explícito e oficial da Igreja Católica como Religião de Estado? Endossa ele os velhos preconceitos liberais a respeito do famoso duende da liberdade de pensamento? Entende ele ser impossível estabelecer, no domínio invisível do espírito, uma soberania, uma disciplina e uma lei justificadas pela razão, a exemplo do que ele tenta fazer no domínio visível do Estado?
Se é este o estado de espírito integralista, é oportuna, profundamente oportuna a observação do Sr. Plinio Barreto, em alguns de seus aspectos.
De que maneira pretende o Estado integralista realizar a disciplina social, e suprimir a luta partidária, se não recorrer à incomparável força espiritual disciplinadora da Igreja, para estabelecer antes de tudo a unidade dos espíritos?
Pretender que se possa estabelecer em uma nação [uma] unidade de ação e de vida política, sem antes se ter estabelecido a unidade de pensamentos é pretender implicitamente que não é pelo pensamento que se governa o homem.
Desacoroçoados, parece-nos que já vemos alguns integristas a nos exclamarem (fazendo suas as críticas liberais do Sr. Plinio Barreto, note-se): mas se a Igreja já revelou sua incapacidade, permitindo que a civilização ocidental, nascida no seu regaço, progredisse sem ela, e finalmente se voltasse contra ela, como havemos nós de confiar esta tarefa novamente às suas mãos? Se fracassou a Igreja Católica no seu ideal de formar um único rebanho, apascentado por um único Pastor! Com que direito pretendem agora os seus adeptos arrancar novamente das mãos do Estado o cajado do mando dos povos, para os depositar novamente nas mãos da Igreja?
A Igreja conseguiu realizar a unidade do espírito humano
Esquece-se o Estado de que ele não sabe manejar o cajado do pastor, a não ser quando se serve dele como bordão com que se fustiga, ou tacape com que se agride.
Não é verdade que a Igreja nunca tenha realizado a unidade do espírito humano. A Idade Média realizou, sem dúvida, na Europa, uma unidade cristã, que o cisma russo reduziu à Europa Ocidental e que a reforma luterana destruiu.
No entanto, é incontestável que esta unidade existiu. E nem se argumente com as heresias que às vezes alteavam o colo na Idade Média.
A existência de meteoros que rolam pelo céu, vagabundos e desorbitados, não implica em negação da existência de um sistema planetário ordenado, que a marcha das estrelas errantes não pode alterar. As heresias foram apenas os aerólitos incandescentes que, de quando em quando, rasgavam com chamas o plácido céu medieval. Isto não impede, porém, que toda a vida nacional, internacional e social da vida do medievo estivesse fortemente centralizada, em toda Europa, em torno do Papado, que era a clarabóia da cúpula medieval, a filtrar sobre todo o organismo social as luzes celestes da doutrina Católica.
Seria loucura privar o mundo da influência da Igreja Católica
Que o mundo tenha fugido à Igreja, e que ele a tenha açoitado finalmente no doloroso calvário dos últimos séculos, que milagre?
O homem é livre. E serão vãs todas as tentativas que pretendam chumbá-lo indissoluvelmente a esta ou àquela ideologia. É o terreno íntimo do livre arbítrio, em que o Estado não pode intervir, e em que o próprio Deus quer deixar livre jogo à criatura humana.
Mas se o integralismo não quer reconhecer a verdade intrínseca da Igreja, mas apenas fazer dela uma propagadora de mitos sociais úteis, não será loucura tentar ele privar-se da ação daquela em que o Sr. Plinio Barreto – bem insuspeito, é certo – viu “a mais forte domesticadora de homens que o mundo jamais conheceu”?
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“O Legionário”, nº 154, 16/9/1934, p. 1
Relações indesejáveis
A numerosa clique de aventureiros burgueses e proletários, que o Soviet sustenta no Brasil, está novamente empenhada no restabelecimento das relações comerciais russo-brasileiras.
Para isto, desenrola ela aos olhos míopes da cupidez burguesa as miragens já sediças de negócios vultosos, a realizar com a gélida pátria de Lenine.
Há, implícito, nesta manobra um profundo conhecimento e um desprezo imenso da mentalidade burguesa.
Imprevidência e indiferença diante do incêndio que pode devorar nossa casa
Realmente, nada é mais tipicamente burguês do que o desejo de auferir lucros imediatos por meio da colocação de importantes partidas de café na Rússia, sem o menor receio da campanha comunista que imediatamente passará a grassar no Brasil. Nada, também, é mais imprevidente e mais míope do que esta inteira indiferença pelo incêndio que amanhã devorará nossa casa, contanto que possamos, hoje, ornar com mais luxo nossa sala de visitas.
Espanto que ainda se possa falar de relações comerciais russo-brasileiras.
Já no tempo dos Czares, em que as relações entre os dois países se exerciam com a máxima liberdade, era baixíssimo o seu intercâmbio comercial. E Eduardo Prado examinando em memorável artigo no “Jornal do Comércio” um plano já então existente, de propaganda do café na Rússia, mostrou o absurdo da idéia, pois que a Rússia, um dos maiores consumidores de chá, é por isto mesmo rival do Brasil, ao qual nunca compraria café.
Acresce que o café tem, sobre o sistema nervoso, um efeito estimulante, que o torna incontestavelmente inferior ao chá, em países de clima frio. Na Rússia o consumo de chá quente diversas vezes ao dia constitui uma verdadeira necessidade, para restituir ao organismo o calor que lhe é subtraído pela temperatura ambiente. Como supor que, impunemente, a população inteira possa substituir o chá pelo café, passando a servir-se com grande abundância, todos os dias, de uma bebida incontestavelmente nociva ao sistema nervoso?
Um comércio antinatural
À falta de espaço que nos habilite a aduzir outras considerações, parecem suficientes os dois argumentos citados, para mostrar que o comércio russo-brasileiro é antinatural, pois que vem estabelecer relações entre dois povos que, quer do ponto de vista financeiro, quer do moral, nunca tiveram o menor ponto de contato.
Se faltam motivos naturais, deve haver causas políticas em jogo, pois, que elas e só elas explicam a insistência com que certa imprensa trabalha pelo reatamento das relações comerciais com os Soviets.
Será necessário mencionar estas causas? Penso que não. Nenhum leitor inteligente poderá ignorá-las.
A todos nós que temos, dadas as idéias que professamos, uma responsabilidade muito pesada, incumbe o dever de ser em todas as palestras, em todos os círculos, em todos os ambientes, os pontos de resistência da opinião pública contra a manobra ardilosa que os comunistas, encapotados ou não, vêm de empreender mais uma vez.
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“O Legionário”, nº 155, 30/9/1934, p. 1
Chapas
As chapas dos dois grandes partidos, ou dos dois partidos grandes, já estão publicadas.
Fiel à sua preocupação de se manter alheio a dissídios partidários, o “Legionário” se desinteressa totalmente do aspecto político que apresentam. Há, no entanto, certas considerações de ordem geral, que podem ser expostas sem prejuízo de nossa inflexível linha de conduta. É o que vamos fazer.
Nota-se que as correntes partidárias se empenharam em afastar, na medida do possível, os marechais da velha política liberal. Gente nova, é o que reclama a opinião. E foi mister satisfazê-la.
Logo que as chapas foram dadas à publicidade, porém, houve um movimento de desgosto na opinião independente. Não havia o número suficiente de homens de valor, reclamados pela delicadeza dos assuntos confiados aos futuros legisladores. E o interesse do próximo pleito diminuiu aos olhos do público, quando viu ingressarem na arena gladiadores que ele não conhecia.
Pedia-se gente nova, e, se era gente nova que se pedia, achamos francamente injusta esta apreciação.
Nem gente velha, nem gente nova: gente boa!
Realmente, como sair do inexorável dilema? A gente velha se acusa por ser velha. A gente nova não interessa por ser desconhecida. A quem, pois, apelar? Onde buscar o remédio que a situação reclama?
Não se espantem os leitores, se formos apontar o remédio na boa imprensa.
Vivemos em uma democracia, isto é, em um regime em que a opinião pública tem, ou presume ter, o direito de governar. § Ora quem diz governo da opinião, diz governo da imprensa. E é a má imprensa que é responsável pela má opinião. § É a má imprensa que levantou o fetichismo da mocidade, como se bastasse à nação ser governada por gente moça, para ser feliz.
Não é gente moça nem gente velha, que o Brasil quer. O que o Brasil quer, é gente boa. § Ora, esta gente boa só logra ser conhecida pela opinião, quando se filia aos clãs políticos ou financeiros que dominam a imprensa.
A única porta pela qual a gente boa poderá ingressar na nossa vida pública é a imprensa independente.
Se o Brasil precisa, pois, não de gente velha ou de gente nova, mas de gente boa, ele precisa de uma imprensa que não seja nova ou velha, pouco importa, mas que seja boa.
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“O Estado de São Paulo”, 4/10/1934, p. 9
Os católicos e o próximo pleito
A Liga Eleitoral Católica forneceu à imprensa o seguinte comunicado:
Desassombro e amor à Igreja
“De acordo com o programa da Liga Eleitoral Católica, que, pairando acima dos partidos, exerce a sua finalidade vigiando que pelos mesmos sejam respeitados os interesses da nossa santa religião, a propósito das próximas eleições de 14 de outubro, a Junta Estadual de São Paulo cumpre o seu dever no sentido de orientar a todos que, com desassombro e amor à Igreja, se inscreveram eleitores em suas fileiras.
“Partido Constitucionalista, Partido Republicano Paulista e Federação dos Voluntários.
“As principais correntes partidárias, respeitáveis pela sua entidade moral, como pelos seus dignos chefes, apresentam um programa digno do nosso acatamento, especialmente, nos pontos que de perto interessam aos católicos, mandando reproduzir na Constituição Estadual os postulados religiosos já enquadrados na Carta de 16 de Julho.
“Diante desse procedimento e das promessas dos dirigentes dessas correntes partidárias, procurando assim acatar e respeitar os interesses dos católicos que, na realidade, hoje constituem uma força eleitoral no país, a Liga Eleitoral Católica julga de sua obrigação dar liberdade aos seus eleitores e aos católicos em geral, no próximo pleito, de modo a poderem votar num dos três partidos acima referidos, de acordo com a simpatia pessoal de cada eleitor.
“Entretanto, é bem de notar que infelizmente, nem todos os candidatos dessas chapas merecem o nosso voto incondicional, pois sabemos o modo de pensar de alguns deles.
“Como, porém, confiamos na disciplina dos partidos no cumprimento de seu programa e como a votação vai ser feita por turnos, aconselhamos vivamente que os eleitores católicos procurem conhecer os nomes dos candidatos que vão receber os seus votos em 1º turno.
“Nesse 1º turno, proceda-se à seleção dos elementos mais desejados pela Liga Eleitoral Católica.
“Entretanto, aqueles que preferirem, poderão sufragar uma chapa pessoal, isto é, sem legenda.
“Não pretendemos, com a orientação acima, desinteressar a Liga Eleitoral Católica do próximo pleito; pelo contrário, insistimos com todos os católicos para que, nesse dia de memorável batalha cívica, vão às urnas e assim façam valer seus direitos de cidadãos, votando de acordo com suas simpatias, mas dentro da consciência católica.
Aliança dos partidos comunistas, socialistas, protestantes e anticlericais
“É essa consciência católica que, visando os sagrados direitos da Igreja e os interesses da Pátria que amamos, nos proíbe de modo terminante de votar nas legendas dos partidos comunistas, socialistas, protestantes e anticlericais, que, numa inexplicável aliança, também entendem apresentar sua chapa às próximas eleições.
“Aos eleitores da Liga Eleitoral Católica recomendamos, pois, todo o cuidado na aceitação de chapas. Para evitar equívocos, aqueles que ainda precisarem de algum esclarecimento, peçam-no aos membros das juntas locais, aos rev.mos párocos, ou a amigos insuspeitos na matéria.
“Dessa forma, entendemos haver cumprido o nosso dever para com o eleitorado católico que, acima dos partidos, com essa orientação razoável, continua afirmando a sua força e o seu prestígio pela Igreja e pelo Brasil.”
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“O Estado de São Paulo”, 5/10/1934, p. 4
Ao Eleitorado Católico
Candidatura de Plinio Corrêa de Oliveira
para deputado estadual20
Católicos militantes que somos, visando sobretudo o bem da Igreja para a felicidade social e a grandeza da Pátria, cumpre-nos previamente declarar que acatamos com o profundo respeito de sempre as determinações constantes no comunicado que a Junta Estadual da Liga Eleitoral Católica fez publicar pela imprensa de São Paulo.
Nesse comunicado21, fica patente que a abstenção oficial da Liga e dos órgãos autorizados da Igreja não importam em desinteresse dos católicos nas próximas eleições.
É, portanto, dentro da mais estrita obediência à orientação da Liga que, interpretando os sentimentos da mocidade católica de São Paulo, vimos apresentar “fora e acima dos partidos” a candidatura de Plinio Corrêa de Oliveira, a expressão mais característica do pensamento novo. A juventude católica reclama, para representá-la, a voz autorizada de um chefe absolutamente alheio às competições partidárias e que venha a ser apenas um batalhador de seus ideais e um portador imparcial de suas aspirações. Além dos candidatos fiéis ou simpáticos à causa da Igreja, e filiados a partidos, julgamos que convém ao pensamento católico um representante que, para melhor defender os nossos princípios, esteja livre de qualquer compromisso com qualquer corrente partidária ou ideológica. Desta forma poderá servir sempre a doutrina católica, só a doutrina católica e toda a doutrina católica.
Foi este precisamente o inestimável serviço de Plinio Corrêa de Oliveira nos trabalhos da Constituinte Federal, onde, no dizer de Tristão de Athayde, “de modo tão claro, demonstrou a sua dedicação exclusiva, intensa, continua à sua causa”.
O melhor elogio que se possa fazer à sua ação na Assembléia Constituinte se encontra ainda nas seguintes palavras de Tristão: “Deputados como ele, total e exclusivamente católicos, são uma garantia perene de que quaisquer outros interesses, de ordem temporal, não venham perturbar a obra de defesa das liberdades religiosas que vimos empreendendo. Queira Deus que nunca nos faltem, no Parlamento Nacional, homens de Deus, e só de Deus, como Plinio Corrêa de Oliveira ou como Barreto Campello22, capazes de tudo dar pela causa da Igreja de Cristo, que no Brasil se confunde com a da própria sociedade brasileira.”
É neste caráter que vemos em Plinio Corrêa de Oliveira o homem naturalmente indicado para prestar agora ao Estado de São Paulo os serviços que já prestou a toda a Nação Brasileira.
São Paulo, 4 de Outubro de 1934.
Guilherme do Amaral Lyra, José Pedro Galvão de Souza, Júlio de Oliveira Penna, Odilon Costa Manso, Dr. Olavo Marcondes Calazans, Óscar Amarante, Dr. Paulo Sawaya, Dr. Pedro Moncau Júnior.
(As adesões podem ser enviadas à rua Libero Badaró, nº 10, sala 211, 2º andar, onde serão encontrados todo o material para a propaganda e as cédulas organizadas pela Comissão. Fone. 2-2328).
(Secção Livre)
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“O Estado de São Paulo”, 6/10/1934, p. 9
As eleições de 14 de outubro
O Sr. Arcebispo Metropolitano baixou, ontem, pela Cúria Metropolitana, o Edital que abaixo vai transcrito, sobre a conduta que devem observar os eleitores católicos, nas próximas eleições no qual S. Ex.cia Rev.ma reitera a sua anterior circular, datada de 14 de agosto23 findo, bem assim [como] o comunicado da Liga Eleitoral Católica, desta capital, declarando S. Ex.cia que os termos deste seu edital valerão – uma vez por todas – como aviso aos eleitores católicos.
Este o Edital do Sr. Arcebispo de São Paulo:
“De ordem de S. Ex.cia Rev.ma o Sr. Arcebispo Metropolitano, faço público que o pensamento da autoridade eclesiástica, em matéria eleitoral, está suficientemente esclarecido na circular do Sr. Arcebispo e no último comunicado da Liga Eleitoral Católica24, única competente para orientar os católicos, em assunto que lhe está diretamente afeto.
“A Cúria Metropolitana não patrocina nenhuma candidatura, por mais respeitável que seja, fora das linhas traçadas pela LEC, com audiência prévia de quem de direito. Excluído rigorosamente todo e qualquer candidato contrário ou de todo indiferente aos postulados religiosos, os católicos, sob a direção da Liga e dentro das suas finalidades, são livres de votar em quem melhor lhes pareça, sem nenhuma intervenção das autoridades eclesiásticas. Vale este aviso uma vez por todas.
“De ordem de S. Ex.cia Rev.ma
“O Chanceler do Arcebispado
“(a.) Padre João Kullay”
São Paulo, 5 de outubro de 1934.
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“Diário da Noite”, 6/10/1934
CATÓLICOS!
Manifesto do Sr. Plinio Corrêa de Oliveira ao eleitorado católico
Designado, por um honroso mandato do povo paulista, para representar o pensamento católico na Constituinte da segunda República, desde logo se apresentaram ao meu espírito os dois traços mais salientes da minha delicada missão.
Restaurar as tradições católicas do Brasil
Deputado católico, incumbia-me por um lado, envidar o melhor dos meus esforços em prol dos direitos espirituais do povo brasileiro. Diante de meus olhos, estava uma nação precocemente conturbada por todos os germens de dissolução que abalam o velho continente europeu. Organismo sadio, dotado pela Providência de uma pujança quase inexaurível, o Brasil se via, no entanto, minado por uma série de crises convergentes, direta ou indiretamente provocadas pela agonia em que hoje o mundo se debate, e singularmente agravadas por circunstâncias locais. E eu sentia vibrar em mim a persuasão absoluta de todo o laicato católico, de que somente em uma restauração de suas tradições religiosas poderia o Brasil encontrar remédio para seus numerosos males. Esta restauração, porém, não deveria ser de forma nenhuma o regresso puro e simples do passado, mas a readaptação de nossa vida pública e particular aos valores espirituais eternos, e portanto de uma perene atualidade, que refulgem nas tradições de nossa História.
Defender, sem abusos, a causa da justiça empunhada por São Paulo
Por outro lado, deputado paulista, eu via diante de mim uma larga obra de reparação a apoiar.
Nada mais difícil, e nada no entanto mais necessário, do que manter dentro de suas justas expressões a grandiosa vibração cívica do 9 de julho e do 3 de maio25. Era preciso defender em toda a sua extensão os direitos vilipendiados de um Estado que ocupa lugar de inconfundível relevo na Federação Brasileira. Nesta defesa intransigente e tenaz, era necessário, no entanto, que se evitasse qualquer excesso capaz de afrouxar os laços da unidade nacional. Era necessário defender palmo a palmo, e com zelos de filho extremoso, a causa da Justiça que São Paulo empunhou. Mas cabia-nos a nós paulistas o grave dever de evitar que a reação contra abusos imperdoáveis nos arrastasse a outros abusos também indefensáveis, em que acabasse por naufragar o próprio sentimento da unidade nacional.
Ambas as causas, para cuja defesa me designaram vinte e quatro mil votos paulistas, se ajustavam numa perfeita harmonia em que não havia e não há lugar para preocupações facciosas ou preferências partidárias.
Durante a elaboração constitucional como agora, hoje como ontem, eu procurei respeitar escrupulosamente a natureza especial de minha missão, abstendo-me de qualquer atitude que pudesse denunciar em mim o menor pendor para qualquer das correntes políticas que militam em nosso Estado.
Seria lastimável que os católicos se abstivessem de participar dos grandes movimentos políticos que fazem a História de uma Nação, pois que tal atitude seria implicitamente um recuo em benefício de outras correntes ideológicas que procurassem conquistar a direção de tais movimentos.
Longe de mim, portanto, qualquer censura aos católicos praticantes que, com espírito de fé, participam, aliás com a bênção de nosso Episcopado, de movimentos partidários.
Pugnar pela causa católica, “fora e acima de partidos”
No entanto, tenho como indiscutível que, colocada naturalmente fora e acima dos dissídios políticos, a causa católica carece, nos congressos legislativos, de defensores que possam sustentar seus direitos com a serenidade e com a imparcialidade de quem se colocou voluntariamente à margem de contendas temporais.
Só quem ignora a complexidade dos aspectos que apresenta às vezes a vida parlamentar, pode desconhecer o modo muitas vezes imprevisto, por que se entrelaçam e reciprocamente se subordinam questões que, intrinsecamente, nenhum nexo apresentam entre si. Assim é que, por exemplo, na Constituinte de 34, a questão da promulgação de uma Constituição provisória esteve estreitamente ligada às reivindicações católicas, de tal sorte que um problema de natureza eminentemente política e outro de caráter exclusivamente espiritual vieram a se entrelaçar por uma imprevista série de circunstâncias.
Nestas ocasiões, a voz de um homem, por mais imparcial e digna que seja, não ressoa aos ouvidos da opinião com aquela insuspeição e aquela autoridade de quem se conserva alheio às paixões da luta. E é precisamente, então, que a necessidade de defensores “fora e acima de partidos” se faz mais agudamente sentir.
Estas considerações me conduziram a recusar os honrosos convites de três das correntes eleitorais que constituíram a Chapa Única por São Paulo Unido, que desejavam incluir meu nome na lista de seus representantes para a Câmara Federal ou Estadual.
Dada a atitude assumida pela ilustre Junta Estadual da Liga Eleitoral Católica26, atitude esta que foi prefixada quando ainda ocupava eu o honroso cargo de Secretário-Geral daquela corrente, e portanto com a minha mais irrestrita solidariedade, um único caminho estava diante de mim; seguindo o exemplo nobre e desinteressado do Sr. Dr. Vicente Melillo e de diversos de meus dignos companheiros da Junta Estadual, recusar qualquer candidatura partidária, e retirar-me da vida pública, com a extinção do mandato que me foi outorgado a 3 de maio.
Porta-voz da vibrante mocidade católica
A deliberação de um grupo de amigos, de lançar minha candidatura à Constituinte Estadual, desviou-me, porém, da rota tranqüila que eu me dispunha a trilhar, sequioso, como estava, de assumir minhas funções de Professor na Universidade de São Paulo.
Era a voz da juventude católica, que me convidava a novo prélio, consciente de que o Catolicismo tem, perante o Brasil, responsabilidades próprias e inconfundíveis, e de que estas responsabilidades pesam de modo todo particular sobre os ombros da mocidade católica, desejavam eles ter um porta-voz autorizado, na próxima legislatura, porta-voz que fizesse sentir, com todo vigor de expressão que um representante privativamente católico poderia ter, o espírito novo que vibra em todos os católicos militantes de São Paulo; um espírito aliás impropriamente qualificado de novo, pois que outra coisa não é senão o espírito eterno da Verdade católica, deitando raízes novas nos corações cheios de seiva, dos moços de Piratininga!
Obedeci. Há certas honras ou certas cruzes que se não recusam. E eis-me novamente a campo, para, em uma atitude caracteristicamente apolítica, iniciar uma nova cruzada a serviço “da causa católica, só da causa católica, e de toda a causa católica”.
Pedida minha exoneração do cargo de Secretário-Geral da Junta Estadual da Liga Eleitoral Católica, e orientando minha propaganda dentro de uma rigorosa disciplina às suas determinações, venho, com a mera autoridade de um particular, mas com o grande conforto de quem se sente impelido para a frente por um ideal superior aos homens, e que eles não conseguirão deter, concorrer ao próximo pleito eleitoral.
Com o intuito de conservar minha candidatura alheia às lutas partidárias, deliberou a comissão promotora de minha candidatura imprimir cédulas contendo em primeiro turno meu nome e, em segundo, respectivamente os candidatos de nossas principais correntes partidárias. Por este modo, a preferência dada a meu nome não impedirá que o eleitor manifeste simpatias partidárias legítimas, e a propaganda de minha candidatura não alterará de forma nenhuma a posição das atuais forças eleitorais.
Bandeira erguida a serviço da Igreja e da Pátria
Uma única palavra me resta a dizer. Apresentando-me como candidato “total e exclusivamente católico”27 no dizer de Tristão de Athayde, é certo que minha posição não implica em olvido dos interesses temporais legítimos do Estado. É um erro de nossa época materializada, supor que uma barreira indestrutível separa os interesses espirituais dos temporais. Se há uma realidade brasileira, o fato mais clamoroso desta realidade é a catastrófica conseqüência que este preconceito determinou entre nós. Uma sábia defesa dos interesses espirituais prepara, dirige e condiciona uma judiciosa gestão dos interesses temporais. Os primeiros governam os segundos, como o espírito governa a matéria. Não é necessário esquecer ou desprezar uns, para defender os outros. É num sentido exatamente oposto, que a tendência católica se deve firmar. E, se há um aspecto que merece destaque especial em uma candidatura apolítica, levantada por elementos exclusivamente católicos, este aspecto sem dúvida é a reação dos valores espirituais contra a única preocupação dos interesses materiais.
A serviço da Igreja e, por estar a serviço da Igreja, também a serviço da Pátria, está erguida nossa bandeira.
Católicos de São Paulo, o momento é vosso. Decidi!
São Paulo, 6 de Outubro de 1934
Plinio Corrêa de Oliveira
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“Folha da Manhã”, 11/10/193428
A atuação do Sr. Plinio Corrêa de Oliveira na Constituinte
A respeito da atuação do Sr. Plinio Corrêa de Oliveira, candidato apresentado por moços católicos de São Paulo à Constituinte Estadual, nos trabalhos da Constituinte Federal, a Comissão de Propaganda pede-nos a publicação da seguinte carta, dirigida por Tristão de Athayde (Alceu Amoroso Lima) ao Sr. José Pedro Galvão de Souza, presidente da AUC. e um dos membros dessa comissão, escrita após os trabalhos da mesma Assembléia:
“Meu caro José Pedro:
“Soube que se murmura contra a atitude do Plinio na Constituinte. Foi o mesmo que sucedeu, em Pernambuco, com a atitude de Barreto Campello. E ainda o que sucede, um pouco por toda a parte, com a da própria Liga Eleitoral Católica.
“Tendo espontaneamente limitado nossa atuação aos pontos em que os católicos não podem estar desunidos, mas deixando plena liberdade de opção em outras matérias, a Liga tinha de sacrificar, um pouco, a sua força ao seu espírito.
“Por toda a parte, no Brasil, e a cada momento, posso assegurar-lhe que a tarefa mais difícil é resistir à tentação do prestígio. Para sermos fiéis, porém, à nossa natureza de organização extra-partidária, que reúne católicos de todos os partidos ou sem partido na defesa dos princípios e direitos da consciência católica brasileira, temos de limitar nossa atuação, mesmo em prejuízo de êxitos aparentes e imediatos.
“O mesmo, ou coisa semelhante, sucedeu com os deputados que foram à Constituinte com um programa exclusivo de defesa religiosa, como o Plinio ou o Barreto Campello.
“Tiveram, quantas vezes, de sopitar os seus ímpetos, de limitar a sua atuação, para não prejudicar o êxito das idéias que ali se empenhavam em defender acima de tudo. De modo que tiveram a sua atuação propriamente parlamentar tolhida, mas em benefício da sua atuação católica. E como o que iam defender ali eram princípios e direitos da Igreja, não podiam figurar nos Anais com o mesmo rumor que outros, exclusivamente dedicados a uma função parlamentar.
Intensa e contínua dedicação de um servidor de Cristo
“Essa circunstância, longe de infirmar a atitude do Plinio na Constituinte, deve ser motivo para ainda mais admirarmos um servidor de Cristo, que de modo tão claro demonstrou a sua dedicação exclusiva, intensa, contínua à Sua causa, de olhos fechados a tudo mais.
“Um temperamento naturalmente parlamentar, dir-se-á, poderia reunir uma e outra coisa, como O’Connell no Parlamento inglês. Não sei se já temos aqui alguém nessas condições. Não creio. Que venha, e será bem-vindo. Mas não será motivo, a sua ausência, de não darmos graças a Deus por possuirmos católicos como o Plinio que sopita todas as suas inclinações naturais para se colocar, integralmente, ao serviço da Igreja, no Parlamento. Deputados como ele, total e exclusivamente católicos, são uma garantia perene de que quaisquer outros interesses, de ordem temporal, não venham perturbar a obra de defesa das liberdades religiosas que vimos empreender.
Homem de Deus e só de Deus
“Desconhecer, pois, os serviços prestados por Plinio na Constituinte é preferir o romantismo das atitudes teatrais à eficiência do trabalho devotado, anônimo e incessante. Será uma questão de temperamento. Mas nunca um motivo de desprestigio por menor que seja.
“Queira Deus, ao contrário, que nunca nos faltem, no Parlamento nacional, homens de Deus e só de Deus como Plinio Corrêa de Oliveira ou como Barreto Campello, capazes de tudo dar pela causa da Igreja de Cristo, que no Brasil se confunde com a da própria sociedade brasileira.
“Que estas minhas modestas palavras possam contribuir para que se faça justiça à inexcedível dedicação do nosso Plinio, na Constituinte, é o voto que formula ao terminar o seu velho amigo e irmão em JC
“Alceu.”
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Manifesto divulgado em Mogi das Cruzes, outubro de 1934
Ao eleitorado católico [de Mogi]
Diante da confusão reinante entre os eleitores católicos, resolvemos apoiar a candidatura do Dr. Plinio Corrêa de Oliveira, deputado federal e professor da Universidade de São Paulo.
Para isto, distribuímos à nobre população mogiana cédulas com os candidatos do PC e cédulas com os candidatos do PRP contendo em primeiro turno o nome do Dr. Plinio Corrêa de Oliveira, e riscados os inimigos de nossa fé.
Assim os eleitores católicos podem votar em candidatos que não são contra a nossa religião.
O Dr. Plinio Corrêa de Oliveira é candidato independente, e exclusivamente católico.
Esperamos que toda a população católica de Mogi, o prestigie com o seu valioso apoio.
As cédulas poderão ser procuradas com :
A Comissão
Antonio Marmora Filho
Manoel Corrêa da Rocha
Faustino Fernandes de Sousa
Luiz de Paula Ramos
Carmine Porcelli
Miguel Cury
João Benedito de Almeida
Jair Salvarani
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“Folha da Manhã”, 13/10/1934
Católico!
Dar o 1º turno a
Plinio Corrêa de Oliveira
é garantir os direitos de tua consciência
(Rua Libero Badaró, 10 – 2º – Tel. 2-2528)
A Comissão de Propaganda recomenda com muito empenho as seguintes instruções aos eleitores católicos que desejem apoiar a candidatura [de] Plinio Corrêa de Oliveira:
“I – A tais eleitores cumpre procurar as cédulas que tenham em primeiro turno o nome de Plinio Corrêa de Oliveira, podendo no segundo turno haver os nomes dos candidatos de um dos vários partidos. As cédulas contendo outros nomes em 1º turno e o nome do Sr. Plinio Corrêa de Oliveira em 2º turno em nada aproveitam a este candidato. Há também cédulas apenas com o nome do Sr. Plinio Corrêa de Oliveira. Aquelas e estas cédulas são impressas e não devem conter legenda alguma. Os que quiserem formar chapas mistas, com candidatos de diversos partidos ao mesmo tempo, deverão usar cédulas datilografadas ou já impressas pois cédulas escritas à mão não têm valor e não serão apuradas. Note-se, porém, que não se deve acrescentar nomes nem mesmo datilografados nas cédulas que contiverem o nome de Plinio Corrêa de Oliveira já impressos. Não se deve também riscar nenhum nome, pois, as cédulas também são anuladas.
“II – Devem também levar as cédulas em questão no bolso, pois na ocasião de encher a sobrecarta oficial no gabinete indevassável, pode haver confusão com as outras cédulas, devido à pressa com que é geralmente feito esse trabalho pelos eleitores.
“III – As chapas com o nome de Plinio Corrêa de Oliveira em 1º turno devem ser encimadas pelo dístico: “Para deputados à Assembléia Constituinte Estadual” ou então “Para deputados à Assembléia Legislativa do Estado”.
“IV – Cada eleitor deve procurar saber qual é a secção a que pertence, conforme nominata publicada pelos jornais, e dirigir-se ao respectivo posto eleitoral, aí pedindo uma taxa numerada e aguardando a chamada de seu nome. No mais, fará o que lhe for indicado na ocasião pelos mesários e funcionários presentes.”
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“O Legionário”, nº 156, 14/10/1934, p. 1
O Sentido do Congresso de
Buenos Aires
Encerra-se hoje, em Buenos Aires, o 32º Congresso Eucarístico Internacional.
Sobre os que o precederam, teve ele de especial contar como Legado Pontifício o próprio Secretário de Estado de Sua Santidade. Salientando esta deferência do Santo Padre para com a América Latina, quando por nós passou o Embaixador da República vizinha junto à Santa Sé, procurou justificá-la com as relações pacíficas que reinam, em geral, entre os povos sul-americanos.
Reconhecer a suprema soberania de Cristo, primeiro elemento para a ordem e a paz mundiais
Difícil, talvez, encontrar conseqüência entre um fato e outro, não o é, entre os Congressos Eucarísticos e a paz das nações. Guerras são sempre frutos de paixões exacerbadas. E, como entre os indivíduos, a virtude das partes domina os ímpetos do amor-próprio e conserva em harmonia as relações recíprocas, também entre as nações é mister reine a virtude cristã que impeça os excessos das paixões nacionais. Ora, para tanto, muito concorrem os Congressos Eucarísticos. Primeiramente, porque neles há uma consagração da realeza transcendente de Nosso Senhor Jesus Cristo. Reúnem-se representantes dos mais diversos países para, prostrados, reconhecerem a soberania suprema do Rei dos reis, de quem procede todo o poder na Terra. Este espetáculo não pode não impressionar os soberanos deste mundo.
Não compreenderão aquela massa enorme de homens diante do que para eles não seja talvez mais do que um pedacinho de pão; mas sentirão a precariedade de sua soberania, perceberão que sua autoridade não é absoluta ou ilimitada, mas que deve curvar-se diante de outra mais excelsa a que peça normas por que se regular. E, como o ateísmo liberal foi o maior causador das rivalidades e conseqüente desequilíbrio entre as nações, esta humildade por parte dos governantes, este temor de Deus é o primeiro elemento de ordem e paz entre as mesmas; pois, na Soberania Divina encontrarão os soberanos o limite necessário às demasias do orgulho nacional.§
A paz de Cristo só se obtém com o reinado de Cristo nos indivíduos e na sociedade
Depois, os Congressos Eucarísticos favorecem um conhecimento mais profundo de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele já não aparece apenas como o Redentor que uma vez se sacrificou pelos homens para merecer-lhes uma coroa de glória na vida de além-túmulo. Sua vida eucarística, perpetuando o sacrifício, convida os homens a uma reflexão sobre a perenidade de sua paixão, os motivos que a determinam, seu influxo diuturno nas almas. E vem à luz a vida da graça, a vida estabelecida por Nosso Senhor, como uma realidade que deve ser vivida e intensamente. Daí os frutos mais ocultos, que amadurecem no íntimo dos corações: a reforma dos indivíduos. Uma vida mais cristã, mais eucarística, em comunhão contínua com Nosso Senhor, uma vida na qual a religião não é um acréscimo acidental, mas o móvel único que da vitalidade sobrenatural a todas as ações do indivíduo, um revestimento de Cristo, na frase de S. Paulo. Não se diga que, todos espirituais, estes frutos, na sociedade são valores somenos. Absolutamente. Não é possível uma separação real entre os indivíduos e a sociedade. Não há uma sociedade abstrata à qual se apliquem normas e reformas sem considerar os homens que a compõem. Estes são sempre os membros daquela na qual ingressam, todo inteiro, corpo e alma, vícios e virtudes que porventura possuam. E como os vícios concorrem para a desordem e intranqüilidade, as virtudes são elementos de ordem e de paz. A paz social depende, pois, e muito, da paz interna de seus membros. Esta só se obterá quando se compenetrem os homens de sua finalidade extraterrena, sobrenatural, e saibam que ela se subordina ao cumprimento exato de seus deveres para com Deus e para com o próximo. Tal compreensão proporcionam os ensinamentos de Nosso Senhor; executá-la facilitam os exemplos de Nosso Senhor: uma e outra coisa se obtêm nos Congressos Eucarísticos.
Há, pois, estreita relação entre os Congressos Eucarísticos e a paz na Terra. Já o atual Pontífice gloriosamente reinante, apontava este benéfico influxo dos Congressos Eucarísticos, ao reatar a série dos mesmos interrompidos pela Grande Guerra. E realmente a paz de Cristo só se pode obter com o reinado de Cristo nos indivíduos e na sociedade.
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“Nossa Senhora Auxiliadora”, nº 132, 15/10/1934, p. 229
Crônica paroquial
Mês de outubro
Houve, como sempre, na 1ª quinta-feira exposição do SS. Sacramento durante o dia, à noite procissão no interior do Templo, prática e Bênção. […]
O Dr. Plinio Corrêa de Oliveira, realizou no Teatro D. Bosco, no dia 11 do corrente, uma longa conferência. S. Ex.cia dissertou brilhantemente sobre as eleições. […]
O segundo domingo, dia regulamentar dos Congregados Marianos, foi solenizado pelos mesmos com uma brilhante comunhão geral, reunindo-se em seguida presididos pelo S. Pe. Diretor, o qual tratou da obrigação de todo Mariano de combater o respeito humano. Lembrando também o dever de todo o bom católico no pleito que ora se realiza.
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“O Legionário”, nº 157, 28/10/1934, p. 1
Três rumos
Plinio Corrêa de Oliveira
Granjeou o Sr. Getúlio Vargas, nos 4 anos em que exerceu a dignidade do Executivo Nacional, a fama de mestre na difícil arte de contemporizar.
Por mais hábil que seja o atual Presidente da República, na execução de sua clássica norma de “deixar como está, para ver como fica”, pensamos que S. Excelência não é um mestre, mas apenas um aluno inteligente e sagaz, do inexcedível especialista em matéria de contemporizações, que é o povo brasileiro.
Contemporizando e rodeando os bordos do abismo
Entre os papéis velhos de minha família, foi encontrada uma carta dirigida a meu avô por José Bonifácio. A carta era uma análise apaixonada da situação política e moral do Brasil de então. E, com uma insistência alarmante, afirmava o ilustre escritor paulista que o “Brasil caminhava para o abismo”, e que a decadência moral, os destinos da administração, a desordem das ambições, haveriam de colocar forçosamente o Brasil diante de um dilema: ou entregar-se resolutamente à decadência, ou, por meio de uma grande reação nacional, empreender uma reforma geral que não poupasse quaisquer desordens, desde as domésticas até às políticas.
Pensei que havia exagero na veemência do famoso missivista e as desordens por ele narradas fizeram-me sorrir, diante da enormidade dos escândalos sociais, políticos e administrativos que hoje ocorrem. Com o tempo, porém, convenci-me de que José Bonifácio tinha razão, e que já no seu tempo o Brasil estava caminhando para o abismo, cujos bordos há uns bons vinte anos, vimos rodeando imprudentemente.
Um outro povo qualquer, que, ainda em vida de José Bonifácio, se tivesse posto em demanda do abismo, já nele teria caído, talvez antes do derradeiro cerrar de olhos de sua geração. Mas o Brasil é mestre entre os mestres, na arte de contemporizar, e há muitos lustros já que ele vem fugindo ao severo dilema de José Bonifácio: não caímos ainda no fundo do abismo e nem empreendemos a reação moralizadora que nos deveria salvar. Pelo contrário, floresce a imoralidade, campeia a desordem em todos os terrenos da vida social, e ainda assim, estamos a nos reerguer de uma crise econômica sem igual, prontos para outros esbanjamentos e para outras imprudências que nos venha trazer outra crise ainda maior.
Cansado de um regime de insinceridade
Se é possível, porém, contemporizar como o tem feito o Brasil, diante das crises econômicas e das dificuldades políticas, há uma força que o mais hábil dos despistadores não consegue romper, e que parece, finalmente, estar imprimindo mais velocidade à marcha morosa com que o Brasil caminha na estrada até aqui tão plana e horizontal de sua História.
Ninguém consegue deter a força de certas idéias quando elas surgem num meio social como resultante de um profundo mal-estar psicológico de um povo. Parece que o Brasil está, enfim, cansado de um regime de insinceridade para consigo mesmo, de uma tortuosidade mental que o levou a entoar loas à monarquia que tivemos, “por ser mais liberal do que uma república”, e à república que findou em 30, por nos ter proporcionado um executivo muito mais forte e disciplinador do que a monarquia, e oligarquias infinitamente mais sólidas do que a inofensiva coorte de condes e barões do Império. Da monarquia elogiavam as qualidades de excelente república; na república apreciavam a linha eminentemente monárquico-aristocrática. Os brasileiros só foram bons republicanos no tempo da Monarquia e só foram bons monarquistas depois de 15 de Novembro. Sob o regime da união da Igreja e do Estado, procurava-se prestigiar a Igreja, quando na realidade se a oprimia. Proclamada a separação, tinha-se em vista diminuir a Igreja, banindo-a do Estado que doravante seria leigo. E, na prática, deu-se-lhe liberdade. Sempre a contradição de quem fugia de optar decididamente por um princípio e tirar dele todas as suas conseqüências. Cada vez que se era obrigado a tomar oficialmente uma atitude, tinha-se o cuidado de a colocar no maior antagonismo possível com a corrente de idéias contrária. Com que escrúpulo o Império zelou pelas liberdades públicas e com que zelo a República procurou prestigiar a autoridade! Com que cautelas de carcereiro o Estado brasileiro agrilhoava a Igreja, quando lhe dava no País a posição de rainha, e com que luxo de prudências tabelioas o Brasil leigo assegurou os direitos do Catolicismo, ao mesmo tempo que lhe infligia a humilhação máxima de o expulsar da vida pública do País!
Florescente ação católica que aspira a um Estado integralmente cristão
Parece que, enfim, este período já passou. As correntes sinceras e integralmente voltadas para um ideal já estão apaixonando a opinião. Há uma ação católica florescente, que não aspira a nada menos que o Estado integralmente cristão. Em contraposição a esta corrente, há os comunistas que anseiam pelo Estado integralmente ateu e, neste terreno, a única nota confusionista foi o apelo tardio e desesperado do Sr. Guaracy da Silveira aos católicos liberais, que lhe não acudiram ao chamado, em defesa do Estado leigo, porque está morta esta raça de gente no Brasil.
Os dois grandes partidos liberais-democráticos parecem querer manifestamente o famoso “governo do povo, para o povo e pelo povo”, que constitui o sonho e o passatempo do Sr. Sampaio Dória30 ou do Sr. Mário Pinto Serva, não figurando mais, nos quadros destas organizações os incongruentes defensores de uma república forte, qual a do Sr. Bernardes, por exemplo, que é bastante sensato para não ser demagogo e bastante tímido para não romper com a democracia.
O Integralismo, por fim, está cada vez mais conquistando posições, e não tem medo em zombar, dentro mesmo do templo do liberalismo que é a nossa Faculdade de Direito, dos ídolos vãos da democracia liberal. E, na extrema-direita do Integralismo, já vemos despontar a mais extremada das organizações reacionárias, os Patrionovistas, que realizam o nec plus ultra31 da contra-revolução, substituindo o espiritualismo dos integralistas pelo catolicismo integral, seu espírito de hierarquia social, por uma tendência pronunciada a uma aristocracia quase feudal, e completando o princípio de autoridade de que os integralistas se mostram tão ciosos, pela fidelidade a um monarca de direito divino.
Compete aos católicos traçar os rumos para o Brasil
Há, pois, no pensamento brasileiro, uma força que eu chamaria centrífuga, neste sentido que procura desviar as mentalidades, deste centro comum e amorfo em que se encontram, para tendências extremas, embora antagônicas.
Esta força atuará – permita-o Deus – com mais virulência sobre a apatia da alma nacional do que todas as crises financeiras com que tanto nossa burguesia se inquieta.
Mas, indagamos, no final destas considerações, qual dos rumos tomará o Brasil?
O que os Católicos escolherem.
É preciso que nos persuadamos, nós católicos, de que o Brasil somos nós.
A nós, é que compete traçar as diretrizes que nós mesmos vamos seguir.
A nós, é que incumbe chefiar orientar e decidir.
E só uma condição se exige de nós, para que entremos no uso de tão excelsas prerrogativas: que não sejamos inferiores à nossa missão.
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“O Legionário”, nº 157, 28/10/1934, p. 1
Um telegrama de D. Sebastião Leme
Ao diretor do “Legionário”, enviou S. Em. o Cardeal D. Leme o seguinte telegrama em data de 7 do corrente.
“Cmt Vianæ Deputado Plinio Corrêa de Oliveira – De bordo Bagé Junção Rs 3/57 36 6º 14-H-40 – Agradecendo votos boa viagem invoco bênção Divina aquele que por sua atuação ininterrupta e elevada Constituição esteve sempre na primeira linha dos mais dedicados e eficientes defensores causa católica – Cardeal Leme.”
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“O Legionário”, nº 158, 11/11/1934, p. 1
O caso das urnas
Quanta celeuma em torno do famoso caso da inviolabilidade das urnas! No entanto, se procurarmos investigar as verdadeiras causas de tanta paixão, encontraremos apenas, de uma parte e de outra, o ardor partidário, alimentado por ódios facciosos e interesses subalternos, a que são inteiramente alheios os altos e verdadeiros interesses do país.
Enquanto se discute a inviolabilidade das urnas e a segurança real ou ilusória das famosas fechaduras Yale, que o Major Levy tornou célebres, os verdadeiros problemas nacionais continuam votados ao abandono.
O comunismo só pode ser evitado pela recristianização da sociedade
Queremos falar hoje, especialmente do problema comunista.
Não achamos que ele não exista. Ele é real, mas existe apenas na medida estrita em que a polícia sonolenta de nossa sociedade burguesa o tolerar.
Como perigo remoto, o comunismo só pode ser evitado pela recristianização da sociedade, especialmente no que diz respeito à família e às relações entre o capital e o trabalho! A inobservância dos preceitos católicos, neste terreno, vai produzindo um mal-estar social crescente, que, em futuro menos próximo gerará provavelmente graves comoções sociais.
Neste sentido, o perigo comunista é real, tremendo, indiscutível, e só um tolo pretenderá resolvê-lo na imensa complexidade dos seus aspectos, a tiro ou à pata de cavalos.
Isto posto, podemos afirmar também, e desassombradamente, que a preservação da ordem social contra a fermentação comunista de encomenda, que ora fervilha em São Paulo, é única e exclusivamente uma questão de polícia e pata de cavalo.
Dois ingredientes cristãos para a crise: justiça e caridade
Para o perigo comunista remoto a que acima me referi, o remédio único deve ter apenas os dois ingredientes cristãos da justiça e da caridade.
Para a fermentação comunista de efeitos imediatos, varia o receituário, que passará a se compor de dois outros ingredientes, também cristãos: habilidade e energia.
Tomo nos jornais a notícia de um crime qualquer; por exemplo o de uma casa assaltada por um ladrão no caminho de Santo Amaro. Foram roubados aos proprietários, pobres portugueses, o brinco dourado em forma de argola, da mulher, e, do marido, o relógio de ouro duvidoso, adquirido por ocasião do casamento.
Como se trata de atentado à propriedade particular, a polícia se põe em campo, procura o ladrão em todos os Estados vizinhos, e acaba por descobri-lo no Triângulo mineiro. É um mulato que vem a São Paulo escoltado como se fosse uma fera ou um réptil. Começam os interrogatórios. E, dentro em pouco, se sabe exatamente onde comprou as ferramentas com que violou o lar alheio, de onde lhe veio o dinheiro para tal compra, etc., etc., até o mínimo detalhe, inclusive a hora exata em que parou na venda, para, cometido o roubo, sorver um trago de pinga.
Que as atenções se voltem para as ranhuras em nossas tradições morais, religiosas e familiares
Outra página do mesmo livro: mata-se no Largo da Sé, conspira-se contra a propriedade privada – e não mais contra um par de brincos de ouro sem quilate –, contra toda a ordem social e a família, e a polícia não sabe de onde vêm as armas, de onde vem o dinheiro, de onde os conspiradores estrangeiros que conduzem a sinistra farândola dos conspiradores pelas ruas.
Não julgamos grave a situação senão pela curteza de vistas da polícia que nos deveria garantir.
É necessário que a atenção do público e das autoridades se retire enfim das ranhuras das urnas, para as ranhuras muito mais importantes dos cofres em que guardam nossas tradições religiosas, morais e familiares. Aí estão os arrombadores de Moscou, que tentam roubar-nos tais tesouros, enquanto a polícia… dorme.
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“O Legionário”, nº 159, 25/11/1934, p. 1
Justiça de Salomão
Não pode “O Legionário” deixar de dizer sua palavra orientadora, a respeito da notícia publicada pela “Agência Havas” sobre [as] próximas alterações no quadro do Episcopado paulista.
Uma simples notícia telegráfica de uma agência, que timbra em deter a palma da capciosidade, foi suficiente para desencadear, em nossa soi-disant grande imprensa, os mais apaixonados comentários.
O prestígio moral da Igreja sacrificado ao prestígio político
É claro que a tais jornais – que, no entanto, se dizem católicos –, não interessou a nomeação possível de um Arcebispo-Coadjutor para São Paulo, a remoção de D. Gastão Pinto para nossa Capital, a despeito da suma importância de tais fatos para nossa vida religiosa. A única coisa que lhes mereceu a atenção foi o anunciado afastamento de Dom Carlos Duarte da Costa, da Diocese de Botucatu. É que, em tal notícia havia o sabor particular de uma possível exploração política, a ser feita com grande proveito para o aumento da tiragem dos jornais.
Francamente no seu afã de atrair as simpatias da Igreja, lembram as alas rubras do PRP e do PC ou suas respectivas imprensas, o caso das mulheres que disputavam a maternidade de uma criança, perante a justiça de Salomão32. Com esta diferença: que, no caso atual, qualquer dos contendores prefere ver rachado ao meio o menino (neste caso a Igreja), a vê-lo em mãos do adversário.
Realmente, pouco se lhes dá o prestigio moral desta Igreja cuja influência tão vorazmente querem conquistar. Para qualquer deles, membros do PRP ou do PC, é preferível ver dividida pela espada de uma publicidade escandalosa a dignidade da Igreja, a permitir que o adversário se possa jactar de lhe ter monopolizado o prestígio eleitoral.
Daí a irreverência com que gregos e troianos, mas muito particularmente “A Gazeta”, se permitem comentar a nota da “Agência Havas”.
Roma nunca aprovaria as artimanhas jornalísticas e partidárias
Calando nossa indignação, nada diríamos, se o interesse partidário se mostrasse lealmente em tais comentários. Mas o que nos indigna é que se pretenda invocar o amor aos interesses da Igreja, para justificar tão destemperadas apreciações. E é contra isso que vimos protestar.
Vamos diretamente ao que se refere ao Sr. Bispo de Botucatu. S. Ex.cia Reverendíssima julgou oportuno para os interesses da Igreja, aconselhar aos seus diocesanos uma determinada atitude eleitoral. Este ato foi público, recebendo o mais amplo debate na imprensa e, portanto, chegou certamente ao conhecimento do Sr. Arcebispo Metropolitano, de S. Ex.cia o Cardeal-Arcebispo do Rio de Janeiro e da Nunciatura Apostólica.
Andou certo ou andou errado o Sr. Bispo de Botucatu? A nós, leigos, não nos compete decidir a questão. A Igreja tem seus órgãos informativos competentes, e a ela somente, caberá resolver o problema.
Suponhamos, porém que tenha andado errado o Sr. Bispo de Botucatu.
Neste caso, a quem cabe proferir a sentença condenatória? A Roma ou à “Agência Havas”? Ao Santo Padre, ou às rubras do PRP e do PC?
Suponha-se ainda que, a despeito de discordar da atitude de D. Carlos Duarte da Costa, resolva a Santa Sé, na sua grande prudência, guardar reserva em torno do assunto. Neste caso, com que direito se julgam jornalistas pseudo-católicos, de glosar a informação da “Agência Havas” (que não é oficial e nem oficiosa) prevenindo uma eventual manifestação da Santa Sé, e tentando, [por] ↓33 assim dizer, forçar-lhe a mão?
Finalmente, suponhamos que a Santa Sé tenha, realmente, determinado substituir o atual Bispo de Botucatu. Podem ter todos a certeza de que, neste caso, ela o faria de forma a respeitar o mais possível em D. Carlos Duarte da Costa a dignidade de Bispo e homem de costumes incontestavelmente ilibados.
Nunca, portanto, daria a Santa Sé sua aprovação a esta revoada de jornalistas que só se dizem católicos para, com mais liberdade e irreverência comentar um acontecimento eclesiástico no exclusivo sabor de seus interesses partidários.
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“O Legionário”, nº 160, 9/12/1934, p. 1
Extremismos
Plinio Corrêa de Oliveira
Conheci o atual Ministro da Justiça em condições especiais.
Quando se debatia, nos bastidores da Constituinte, o projeto da promulgação de uma Constituição provisória, a Bancada Paulista opôs, aliada a todo o elemento católico, uma resistência invencível às manobras do Club 3 de Outubro34.
A delicada situação política tratada num ambiente de intimidade
Houve certa fase dos pourparlers35, em que pareceu definitivamente vitorioso nosso ponto de vista hostil à Constituição provisória, e eu me aprestava a embarcar à noite para São Paulo, onde reclamavam minha presença assuntos da maior gravidade.
Já estava eu no hotel, de malas arrumadas, quando um telefonema de Antônio de Alcântara Machado36 me cientificou de uma súbita transformação da situação, de que convinha que eu me inteirasse com minúcias, para trazer pessoalmente ao conhecimento do Sr. Armando Salles de Oliveira.
Por este motivo passei, antes de embarcar, pela Secretaria da Bancada. Chegado ao edifício Guinle me esperava à porta o deputado nº 23 (assim chamávamos ao dedicado e competentíssimo Secretário da Bancada, sob todos os pontos de vista digno de ser também deputado), que, de olhos arregalados, me foi logo dizendo: “Está tudo perdido. À última hora, fracassaram todas as combinações, e a Constituição provisória parece inevitável. Papai lhe pede que informe de tudo ao Dr. Armando e que, se encontrar o Dr. Rao no Cruzeiro – ele volta também hoje para São Paulo –, o ponha ao corrente do novo aspecto que tomou a situação.”
No vagão-restaurante do Cruzeiro, encontrei efetivamente o Sr. Vicente Rao, e a gravidade das notícias que eu lhe trazia nos conduziu de plain-pied37, feitas as apresentações preliminares, a uma longa conversa em que a gravidade do perigo a conjurar e a absoluta identidade de pontos de vista criou desde logo um ambiente de intimidade.
Tive, então, ocasião de constatar a acuidade de inteligência, a plasticidade de espírito e o poder de persuasão do homem a quem eu considerava como a sentinela do Brasil atual, disposto a defendê-lo encarniçadamente tanto contra os inovadores quanto contra os renovadores, contra os destruidores como contra os restauradores ou os instauradores.
Categórica desaprovação à atitude do Ministro
Ministro da Justiça, resolveu ele assestar desde logo as baterias conjuntas de seu poder, de sua cultura e de sua inteligência contra seus adversários de sempre, e ei-lo a preparar um projeto de lei contra os extremismos, que é uma corda com que deseja enforcar, numa ponta o comunismo e na outra o não menos execrado integralismo.
Católico, exclusivamente católico, é bem clara minha intenção de me manter rigorosamente alheio a todo e qualquer partido ou Ação política, para consagrar todo o meu tempo e toda minha energia, até o menor dos meus minutos e o último dos meus esforços, pela causa da Igreja.
E, da sinceridade desse propósito, penso ter dado arras superabundantes, recusando as cadeiras de deputado, que, com tão honrosa insistência, me foram oferecidas pelas maiores correntes políticas de São Paulo.
A despeito da simpatia que me merece, permitirá, pois, o Sr. Ministro da Justiça, que desaprove, muito imparcial e categoricamente, sua resolução, apontando à execração pública, atados ao mesmo pelourinho, os adeptos de Marx e de Plinio Salgado.
Com a mesma franqueza com que tenho assinalado aos meus numerosos amigos integralistas as omissões e as indefinições ainda tão freqüentes na sua doutrina, insurjo-me agora contra a designação genérica de extremistas com que se pretende irmaná-los com os mais irredutíveis adversários da ordem social.
Tomem-se as leis humanas e divinas, tente-se fazer funcionar um Estado pela sistemática violação de tais leis, e ter-se-á o comunismo. Pois não é ele réu dos mais negros crimes contra Deus e das mais graves violações dos Códigos penais de todas as nações civilizadas, desde o roubo ao lenocínio?
O integralismo, pelo contrário, afirma Deus, a propriedade, a família. Procura outrossim organizar uma resistência anticomunista de que, freqüentemente, a polícia não é capaz. A mais negra acusação que, a meu ver, se possa fazer ao integralismo, não passa de elogio róseo perto do menor dos delitos comunistas, e esta proposição continua verdadeira ainda que nos transportemos do ponto de vista católico, em que nos colocamos, para o ponto de vista liberal em que está o Sr. Ministro da Justiça.
É com toda a solidariedade dos católicos, pois, que merece aplausos a repressão ao comunismo, é com o meu mais formal protesto, que se coloca o integralismo ao lado daqueles quando é certo que nem sequer podem ser articulados contra eles as tropelias selvagens que foram o preço do triunfo do fascio ou do hitlerismo.
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“O Legionário”, nº 160, 9/12/1934, p. 1
Krishnamurti
O pensamento de Helena Blavatsky, russa de nascimento e portanto mais asiática que européia, deu origem ao Teosofismo. Este encontrou em Annie Besant e em Leadbeater, seus maiores propagandistas, em Rudolph Steiner, seu primeiro reformador.
O avatar da nova época
Trazendo em seu corpo de doutrinas as linhas mestras das crenças indianas, e dotado de uma estrutura de caráter nitidamente maçônico, ele se propagou mais ou menos rapidamente pelo mundo ocidental, pretendendo ser o restaurador dos princípios espirituais da humanidade. Oferecendo aos homens um panteísmo ateísta, consubstanciado na definição de Deus como sendo o Pensamento Absoluto razão pela qual não existe, e uma [imortalidade] ↓38 na terra, representada pela crença na reencarnação, faltava-lhe ainda alguém que fosse, por assim dizer, a encarnação de seus princípios doutrinários. Foi então que Annie Besant descobriu Krishnamurti, apresentando-o ao mundo como o “novo Messias”, a “reencarnação de Buda”, o avatar da nova época.
É também conhecida a personalidade desse jovem hindu, cuja visita ao Brasil está anunciada para o próximo ano. Universitário de Oxford, esportista, culto e elegante, preferiu renunciar ao pomposo título que recebera para ser apenas um filósofo! Mas, Messias, ou apenas um filósofo, sabe-se muito bem o que ele e os teosofistas pretendem. Na luta contra a civilização cristã, todas as armas são boas e todos os inimigos se unem. Por que não procurar vencê-la, substituindo-a pelo velho Buda, que abandona sua clássica posição contemplativa e passa a viajar em aeroplano? Ele traz um pensamento tão agradável aos homens, uma doutrina tal, que ninguém deixará de o seguir. Quer apenas que cada um pense livremente, destruídas as velhas doutrinas, porque “o mundo já não precisa de muletas”! E assim, o Buda em sua reencarnação do século XX, destrói e nega o Buda antigo; e o avatar, o Messias da nova época, ao invés de traçar uma norma à humanidade, adapta-se prazenteiro à vontade dessa mesma humanidade.
Um Buda que pretende substituir Cristo
Desse modo pretende a Teosofia substituir o Catolicismo; era esse o grande sonho de sua fundadora, que de uma união entre a maçonaria, o ocultismo, o espiritismo, o orientalismo e o misticismo, se propunha a fundar uma religião tão adaptada ao nosso século, que seria aceita por todos os homens. Seria essa a religião do futuro, a Teosofia, tomando o lugar do Cristianismo. E para doutrinador dessa nova religião, inventou um filósofo que não é filósofo, um Messias que não doutrina. Poder-se-ia perguntar então por que motivo: a Teosofia constitui um corpo doutrinário; ↓39 se divide em lojas e se dissemina pelo mundo; ↓40 publica livros onde expõe idéias que considera como suas. Se o Buda reencarnado, ou o filósofo que seja, não traz uma nova palavra ao mundo, por que segui-lo e por que ser teósofo? Sendo livre o pensamento humano, por que não deixar o homem onde está, disciplinado pela doutrina de Cristo? Mas Krishnamurti não o quer assim. Ele quer que sejam rompidas as tradições do passado, quer em uma palavra, substituir-se a Cristo. O pensamento só será livre para aceitar essa mistura confusa de Budismo e de Panteísmo que é a religião fundada por Helena Blavatsky.
Nada poderá abalar os alicerces da Santa Igreja
Krishnamurti virá pois ao Brasil; poderão assim os teósofos, os espiritualistas, os orientalistas, os maçons, beber suas palavras inócuas, contemplar, apalpar mesmo, o Buda reencarnado! Certamente a nossa imprensa levará para suas páginas o menor de seus gestos, e amplas discussões se estabelecerão em torno de suas doutrinas (sic)! Suas conferências serão ouvidas religiosamente e comentadas ardentemente. Depois ele se retirará para outras terras, levando a outros povos sua filosofia nirvânica. Em nada, porém, deixará de ser um homem como qualquer outro; inútil procurar nele a autoridade do Messias que manda aos elementos com poder divino. Este só pertence a Jesus Cristo e com Ele à Sua Igreja; e não será um Krishnamurti que abalará seus alicerces!
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“O Legionário”, nº 161, 23/12/1934, p. 1
Pela união dos católicos
A carta escrita41 por S. Ex.cia Rev.ma D. Duarte Leopoldo e Silva ao Pe. Cursino de Moura, Diretor da Federação das Congregações Marianas, é um documento admirável e perfeitamente expressivo do acendrado espírito cristão do nosso amantíssimo Arcebispo. Ela precisa ser lida com atenção e muito bem meditada por todos os Congregados Marianos, a quem S. Ex.cia se dirigiu com o particular afeto que visivelmente lhes dedica. É uma página belíssima e cheia de ensinamentos preciosos para o momento que atravessamos, a braços com tantos problemas de cuja boa solução depende o futuro da ação católica entre nós.
Apelo à união da mocidade mariana
Numa palavra traçou o Arcebispo de São Paulo todo o programa capaz de elevar e dignificar a vida de um homem: estar sempre com Jesus Cristo, tendo a Sua Cruz por “guia único”, a sua doutrina por “doutrina única”, a sua Igreja infalível e eterna por “mestra única”, e Ele próprio, Deus e Senhor Nosso, representado na Terra pelo Papa, por “chefe único”.
Com estas palavras, apela S. Ex.cia para a união de toda a mocidade mariana, coesa e disciplinada, sob a direção segura da Igreja.
Para cumprir tão respeitáveis ordens, é preciso agora que cada um saiba colocar os seus ideais religiosos acima de todos os outros interesses e todas as preocupações. Certamente, se o católico é um homem que vive no mundo como os outros, ele não pode deixar de se voltar para os problemas temporais que o cercam, especialmente para aqueles que mais de perto dizem respeito ao bem comum da sociedade. O seu desinteresse pelas mais sérias questões temporais poderia mesmo acarretar graves prejuízos para a vida religiosa. Mas é preciso subordinar as atividades de ordem temporal à ordem espiritual e religiosa representada pela Igreja.
Antes de tudo, salvaguardar os princípios da consciência católica
Nesse sentido, igualmente deve ser entendida a entrevista dada à “União” do Rio, por Tristão de Athayde, sobre a atitude dos católicos em face do integralismo. O extraordinário pensador católico brasileiro não podia deixar de mencionar como primeira condição para a participação dos católicos, num movimento de natureza política “a preeminência de sua consciência católica sobre sua consciência política”. Uma vez bem compreendido esse princípio, com toda a extensão que ele importa, ninguém poderá fugir aos compromissos supremos com a sua consciência ditados pela religião. Além disso, acrescentou Tristão de Athayde que todos aqueles que têm responsabilidade de direção na ação católica devem conservar-se alheios àquelas participações. De fato, a sua abstenção dos movimentos políticos partidários impõe-se em virtude da própria norma ditada pelo Santo Padre para a ação católica e a fim de a tornar realmente efetiva e praticada: “fora e acima dos partidos”.
A entrevista de Tristão de Athayde nos faz lembrar um artigo escrito há alguns meses pelo conhecido escritor católico francês Étienne Gilson42, num semanário de sua terra. Afirmações semelhantes aí faz Gilson dizendo que quando se pede aos católicos, como tal, a colaboração em movimentos tendentes a defender a família, a ordem, ou a moralidade, é preciso lembrar que todos esses objetivos são abrangidos pela finalidade da Igreja e que aos católicos deve ser reservada a escolha dos meios mais aptos para aquela colaboração, pois a Igreja não tem só um fim, mas também certos meios que lhe são próprios: a verdade de que é depositária, a graça, os sacramentos.
Docilidade à voz do Arcebispo
Enfim, quando os católicos se dispõem a participar de qualquer movimento político, é preciso que eles assegurem antes de tudo a salvaguarda dos princípios de sua consciência católica. Para isso, faz-se mister o conhecimento profundo de tais princípios por cada um e a união de todos em torno deles, acima de quaisquer divisões partidárias, para que os interesses políticos não venham a perturbar os interesses religiosos. Esse será o melhor meio de atender ao admirável apelo dirigido pelo Ex.mo Sr. Arcebispo, em que devemos ver não só um programa orientador, mas uma ordem para ser executada com docilidade e obediência.
XYZ
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“O Legionário”, nº 161, 23/12/1934, p. 1
O mundo às avessas
A quem leu o manifesto da “Frente Única de Luta de todos os estudantes, pela democratização do ensino e pela democracia escolar” 43, não hão de ter passado desapercebidos os perigos que ameaçam a nossa juventude e a fraqueza ou mesmo a decadência intelectual dos que supomos falarem em nome dessa mocidade. Reconhecendo, aliás, a necessidade de uma remodelação completa de nosso ensino, elevando-o e dando possibilidades ao desenvolvimento dos verdadeiros valores espirituais, não podemos contemplar sem tristeza, a anarquia do pensamento dos moços das escolas.
Reforma completa do sistema educacional, “através da pressão da massa”
Propõe o manifesto, “à massa estudantina em geral, a formação de uma ampla frente única de massas para a luta em comum…”; visa “transformar as lutas parciais de agora, numa ampla luta contra todo esse estado de coisas que sufoca e oprime os estudantes”. Visa ainda, “através da pressão da massa estudantil organizada, através de comícios, passeatas e demonstrações, da greve geral dos estudantes de São Paulo a caminho da greve geral de todos os estudantes do Brasil, levar o governo a atender às nossas justas reivindicações, reformando de cima abaixo (sic) o nosso sistema educacional, permitindo o seu acesso a todos os que têm sede de cultura, criando uma verdadeira e sadia democracia escolar”. E como base para essa reforma, verdadeiramente de “cima a baixo”, propõe, entre outros, os seguintes pontos:
“5. Livre transferência dos estudantes de uma escola para outra.
“6. Direito de administrar e dirigir as próprias escolas (superiores, secundárias, profissionais e normais) em igualdade de condições com os Conselhos Técnicos de professores, as Diretorias ou Congregações. Idêntica representação no Conselho Universitário.
“7. Plena liberdade de freqüência, sem nenhum empecilho para os alunos entrarem e saírem da escola, quando bem entenderem.
“12. Direito dos alunos participarem na escolha de seus professores, e de revogá-los quando o desejarem.
“13. Ampla liberdade de organização, propaganda, greve e reunião inclusive nos recintos das escolas, para a defesa de seus interesses.
“14. Direito dos alunos de tiro de guerra escolherem seus próprios instrutores. Abolição do ensino militar obrigatório e introdução do ensino militar para todos que o desejarem.
“15. Contra o sistema de exames orais, pela adoção do regime de médias.
“21. Exames de 2ª época para todos os estudantes independentemente da escola a que pertençam ou do número de matérias.”
Não se esquecem tampouco dos passatempos, pois no terceiro item pedem 50% de abatimento nas entradas das casas de diversões!… E depois de tudo isso, afirmam corajosamente que, com a “conquista e aplicação” desse programa, ter-se-á “um dos meios mais poderosos para a liqüidação do analfabetismo em nosso país, para a elevação de nosso nível cultural”(!).
Revolta marxista das inferioridades: quem ensina fica sujeito a quem aprende
Isso, o que quer o comitê estudantil. Apelo às massas e não à razão, apelos repetidos e contínuos à luta e não à cooperação; é claramente a revolta das inferioridades, que pedem a seguir as maiores regalias, desde a livre transferência, liberdade de freqüência e adoção do regime de médias, até “exames de segunda época para todos os estudantes” e para qualquer “número de matérias”! E como se não bastasse isso, querem ainda ter direitos administrativos nas escolas, possuírem o direito de veto na escolha dos professores e até na dos sargentos instrutores de linhas de tiro: é exatamente o mundo às avessas, quem tem autoridade, sujeito a quem não a possui; quem ensina, sujeito a quem aprende!
Tudo isso seria ridículo se não estivesse tão evidente a origem do manifesto. Raros são os documentos públicos nos quais esteja tão claramente exposta a ideologia marxista desorganizadora da sociedade. No valor dado às massas, no ideal de luta, na inversão hierárquica que preconiza, no espírito de revolta que se nota em todas as suas linhas, respira-se a mais completa erudição soviética. Nesse sentido ele é um índice de grande valor; mostra o trabalho lento de sapa, a que nossa mocidade é submetida pelos doutrinadores comunistas. Precioso sinal de alarme, pois, que não deve ser desprezado.
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1) (N. do E.) {não}.
2) (N. do E.) Ecológicas.
3) (N. do E.) Charles Lindberg (1902-1974) – norte-americano, primeiro aviador a realizar a travessia aérea Nova Iorque–Paris, sem escalas. Em 1932, seu bebê foi assassinado por seqüestradores.
4) (N. do E.) Ivar Kreuger (1880-1932) – industrial sueco, considerado o rei da indústria mundial de fósforos, envolvido num escândalo financeiro nos Estados Unidos.
5) (N. do E.) Sórdida falcatrua.
6) (N. do E.) Marthe Hanau (1886-1935) – empresária francesa, dona do jornal de economia “Gazette du Franc” e da agência de notícias econômicas “Interpresse”; esteve implicada num escândalo de escroquerie. Suicidou-se em julho de 1935.
7) (N. do E.) Kurt Von Schleicher (1882-1934) – general e ex-chanceler alemão, assassinado na Noite dos Longos Punhais, o expurgo feito em 30 de junho de 1934.
8) (N. do E.) Ernst Röhm (1887-1934) – oficial alemão, membro do Partido Nacional Socialista, assassinado na Noite dos Longos Punhais.
9) (N. do E.) “Ego sum via, veritas et vita” – “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14, 6).
10) (N. do E.) Cf. Pr 31, 10-31.
11) (N. do E.) Cf. Mt 5, 3-6.
12) (N. do E.) Com largueza de coração.
13) (N. do E.) Cf. “O Legionário”, nº 97, de 8/5/1932.
14) (N. do E.) Svend Kok, colaborador de “O Legionário” e grande amigo do Autor, ingressava na Ordem Beneditina, no Rio de Janeiro.
15) (N. do E.) Contendores, antagonistas.
16) (N. do E.) Centro de Estudos e Ação Social – organização feminina da Ação Católica.
17) (N. do E.) Infelizmente, não se dispõe de cópia dessa circular.
18) (N. do E.) Enfiava a verdade nas cabeças, pelas pontas.
19) (N. do E.) Ímpeto.
20) (N. do E.) Este manifesto foi publicado também no “Legionário”, nº 156, de 14/10/1934, p. 1.
21) (N. do E.) Cf. “O Estado de São Paulo”, de 4/10/1934.
22) (N. do E.) Francisco Barreto Rodrigues Campello – professor de Direito na Universidade de Recife, foi o deputado mais votado de seu Estado, nas eleições para a Assembléia Nacional Constituinte de 1934.
23) (N. do E.) Infelizmente não possuimos a circular em questão.
24) (N. do E.) Cf. “O Estado de São Paulo”, de 4/10/1934.
25) (N. do E.) Em 9 de julho de 1932 eclodiu a Revolução Constitucionalista; e em 3 de maio de 1933 foram as eleições para a Assembléia Constituinte.
26) (N. do E.) Cf. “O Estado de São Paulo”, de 4/10/1934.
27) (N. do E.) Cf. “O Estado de São Paulo”, de 5/10/1934.
28) (N. do E.) A presente matéria foi publicada também no “Legionário”, nº 156, de 14/10/1934, p. 1.
29) (N. do E.) Órgão da Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora, São Paulo. Sendo a notícia extensa, foi transcrita apenas a parte referente ao Autor.
30) (N. do E.) Antônio Sampaio Dória (1883-1964) – jurista alagoano, ministro da Justiça no Governo José Linhares, preparou as primeiras eleições presidenciais realizadas no Brasil, por voto direto, desde a Revolução de 1930. É autor de inúmeras obras sobre Direito.
31) (N. do E.) O que há de mais elevado.
32) (N. do E.) Cf. 1Rs 3, 16-28.
33) (N. do E.) {para}.
34) (N. do E.) A respeito do Club 3 de Outubro, ver o artigo “A Nota da Semana – O programa do Club 3 de Outubro”, publicado no I volume desta coleção, pp. 349-352.
35) (N. do E.) Debates.
36) (N. do E.) Filho do Dr. José de Alcântara Machado de Oliveira.
37) (N. do E.) Diretamente.
38) (N. do E.) {imoralidade}.
39) (N. do E.) {por que}.
40) (N. do E.) {por que}.
41) (N. do E.) Infelizmente não se tem cópia do documento.
42) (N. do E.) Étienne Gilson (1884-1978) – escritor e filósofo francês, católico, um dos líderes do movimento neotomista; professor no Collège de France, na Sorbonne, em Harvard e Toronto. Renovou os estudos da filosofia medieval, da qual era grande especialista. Foi ainda membro da Academia Francesa, Grande Oficial da Legião de Honra e condecorado com a Cruz de Guerra 1914-1918.
43) (N. do E.) Cf. também “O Legionário”, nº 179, de 1/9/1935.
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