Uma senhora verdadeiramente católica
Mamãe ensinou-me a amar a Santa Igreja!”
Com estas palavras, entrecortadas por um copioso pranto, Dr. Plinio, poucos instantes depois de Dona Lucilia exalar seu último suspiro, no dia 21 de abril de 1968, fez-lhe a sua primeira homenagem póstuma. De fato, que maior elogio se pode fazer a uma mãe católica? É esse o sentido mais sublime de sua missão materna: educar catolicamente os filhos.
E, a tal ponto Dr. Plinio realizou plenamente esse ideal de Dona Lucilia, que não quis outro epitáfio em sua sepultura a não ser este: vir catholicus, apostolicus et plene romanus — varão católico, apostólico e plenamente romano.
Certa vez, durante uma homenagem, no aniversário de seu batismo, qualificaram-no como um “varão católico, apostólico e todo romano”. E o que em qualquer fiel pode soar tão natural como declinar a própria nacionalidade, em Dr. Plinio fez vibrar as fibras mais sensíveis da alma, até a emoção. Em suas palavras de agradecimento, nessa ocasião, fez uma filial referência à causa de sua catolicidade:
“Meus caros, eu não poderia ouvir palavras mais bonitas, nem ditas de um modo mais emocionante. O que vos dizer? Foi tocada uma fibra sumamente emotiva de minha alma.
“Inesperadamente para mim, e a despeito de minha placidez habitual, essa emoção veio inteira, a tal ponto que eu tive que me conter, quando ouvi a referência a um ‘varão católico, apostólico e todo romano…’
Com a voz embargada pela emoção, Dr. Plinio prossegue:
“… porque é o que quero ser…
E conclui depois de curta pausa:
“… é filho da Igreja!
“Se eu amo tanto mamãe, é porque ela me conduziu à Igreja. E se eu a amei até o fim, é porque, examinando-a, notei que nela tudo conduzia à Igreja Católica.”1
Dentre os ensinamentos deixados pelo Filho de Deus, encontramos este: “Minha mãe e meus irmãos são os que ouvem a palavra de Deus e a observam” (Lc 8, 21). Por este motivo, Nossa Senhora era amada por seu Divino Filho a dois títulos: pela sua total fidelidade à Palavra de Deus e por sua maternidade. Ora, Dr. Plinio mereceu o apelativo de católico, apostólico e romano também por conformar-se plenamente com essas palavras do Divino Mestre, já que o amor devotado por ele à sua mãe, Dona Lucilia, não era unicamente impulsionado por um vínculo humano. Qual era o motivo mais profundo desse amor? Dr. Plinio mesmo o apontou:
“Conhecendo-a, eu tinha uma espécie de confirmação tangível de como era Nosso Senhor Jesus Cristo. Vendo que Ele era infinitamente maior, porém semelhante, eu tinha uma espécie de confirmação na Fé. Quer dizer, se à força de rezar ao Sagrado Coração de Jesus mamãe ficou assim, Ele é ainda muito mais. Olhando para as imagens d’Ele, mais de uma vez eu me lembrava dela; e olhando para ela, mais de uma vez eu me lembrava d’Ele.
“A razão principal de minha benquerença por ela — eu a queria imensissimamente bem — era por ver nela uma discípula de Nosso Senhor Jesus Cristo. No fundo, era um querer bem a Ele, nela.”2
“Ela era verdadeiramente uma senhora católica… Ninguém pode imaginar o bem que ela me fez… Eu estudei sua bela alma com uma atenção contínua e era por isto mesmo que eu gostava dela. A tal ponto que, se ela não fosse minha mãe, mas a mãe de um outro, eu gostaria dela da mesma maneira, e daria um jeito de ir morar junto a ela. Mamãe me ensinou a amar a Nosso Senhor Jesus Cristo, ensinou-me a amar a Santa Igreja Católica.”3
“Às vezes eu chegava tarde à casa e encontrava minha mãe rezando junto ao Sagrado Coração de Jesus. Ela não estava lá movida por um espírito ascético duro, mas sim por amor.”4
Mas é no olhar que a pessoa mais deixa transparecer toda a sua riqueza interior. É através dele, também, que se transmite tudo quanto o vocabulário humano não é capaz de expressar. Algo disso Dona Lucilia deixou como um precioso legado em suas fotografias. Entretanto, foi a Dr. Plinio que coube o maior quinhão desse tesouro, pois teve a vida inteira para o contemplar:
“Mil vezes eu peregrinei dentro dos olhos de mamãe: vendo-a rezar, fitando-a enquanto ela me olhava… enfim, em diversas ocasiões e de vários ângulos. Seu olhar era indescritível: luminoso, profundo, sereno, honesto, inocente, extraordinário, despretensioso.”5
Por cima de tudo, o olhar de Dona Lucilia incutiu em seu filho o desejo de um dia ver a Deus:
“Porque a visão beatífica é isso: olhar Deus face a face e peregrinar dentro d’Ele.”6
“O que eu devo a ela nesta ordem de coisas é algo inimaginável, pois eu passei a vida inteira analisando-a e haurindo-a ao mesmo tempo, e na medida do possível, tornando-me semelhante a ela.”7
“A árvore se conhece pelos seus frutos. Não se colhem figos dos espinheiros, nem se apanham uvas dos abrolhos. O homem bom tira coisas boas do bom tesouro de seu coração.” (Lc 6, 44-45). Certeiro conselho dado por Nosso Senhor para discernir os corações humanos. Tudo quanto podemos admirar do vasto tesouro de ensinamentos deixados por Dr. Plinio, publicados nesta revista, devemo-lo, em grande parte, a essa puríssima seiva que nutriu a sua alma desde a mais tenra infância: o convívio com sua mãe, uma senhora verdeiramente católica.
Plinio Corrêa de Oliveira
Revista Dr Plinio 169 (Abril de 2012)
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