Apresentação

Quem analisar com imparcialidade a história da Igreja no sec. XX, encontrará entre as figuras do laicato mais salientes, sem dúvida, o nome de Plinio Corrêa de Oliveira.

Em sua longa existência, desde jovem atuou ele na vida pública. Líder nas Congregações Marianas e mais tarde na Ação Católica.

O País se surpreendia, então, com o surgimento de uma nova força no panorama: o eleitorado católico, disposto a ter voz e vez. Sempre batalhando em prol dos interesses da Santa Igreja, a atuação de Dr. Plinio exerceu inegável influência nos acontecimentos, tanto na esfera civil como eclesiástica.

Publicou Dr. Plinio 18 livros, sempre sobre temas doutrinários, com edições em vários idiomas, sendo considerados alguns deles autênticos “best-sellers”. Sua obra mestra, intitulada “Revolução e Contra-Revolução”, analisa as raízes da crise contemporânea à luz da teologia da História. Vários de seus pronunciamentos, a propósito de temas candentes que interessavam à causa católica, tiveram repercussão internacional, influenciando decisivamente os acontecimentos.

Destacou-se também como profícuo jornalista, conferencista e professor catedrático de História, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, a ponto de ser considerado um dos polos do pensamento nacional. Tanto em sua obra escrita quanto em suas aulas e conferências, Plinio Corrêa de Oliveira se salientava pela clareza de linguagem, beleza de estilo e inatacável lógica, primando por analisar tudo à luz da Fé, único critério válido de verdade, de bem e de beleza.

Por sua atuação como líder católico, é a sua vida pública bem conhecida por largos setores da opinião em nosso País e também no Exterior. O mesmo, no entanto, não se pode dizer de sua pessoa, de sua espiritualidade, de suas originais explicitações no campo filosófico e teológico, enfim, da história de sua alma.

Para sanar essa lacuna, e no intuito de tornar a pessoa de Dr. Plinio conhecida em seu todo, foi criado este site para publicações de suas memórias, contadas a pedido de jovens discípulos, em muitas de suas conferências e palestras, ao longo das décadas.

Nelas, a narração de fatos de sua existência individual é enriquecida com profundos e vivos comentários a respeito de múltiplos aspectos sociais, culturais e religiosos de uma era histórica marcada por imensas transformações.

E, ao mesmo tempo, o leitor terá acesso à Opera Omnia de Plinio Corrêa de Oliveira, começando pelas redações escolares, as correspondências, como também os discursos, entrevistas e artigos.

É princípio geralmente aceito por todos que para analisar as figuras do passado é necessário fazê-lo tomando em consideração o contexto de sua época. Também no âmbito individual algo de análogo ocorre. É preciso discernir o contexto interior da pessoa, para entendê-la, principalmente suas grandes metas da existência.

O que faz, por exemplo, um São Francisco de Assis despojar-se de tudo para seguir a Cristo, enquanto outros viviam cercados de pompa em seus palácios, como São Luís Rei de França, alcançando igualmente a santidade? Parece uma contradição, à primeira vista, e por isso é preciso entender a finalidade que cada um se propôs atingir na vida.

Quem analisa Dr. Plinio, apenas por sua atuação pública, que abarcou o sec. XX, quase de um extremo ao outro, atravessando contextos históricos tão variados, talvez não consiga tirar facilmente uma resultante. Qual foi o objetivo de sua vida?

Aos 20 anos de idade, o Congresso da Mocidade Católica, realizado em São Paulo em 1928, foi o marco de sua entrada para o movimento católico, abrindo toda uma nova era em sua vida. Ali o jovem Plinio encontrou o ideal ao qual se consagrou por inteiro até o seu último hausto, em 1995: a restauração do reinado de Cristo, nos corações, através do reinado de Maria.

Esse intuito de trabalhar pela implantação do Reino de Cristo na terra levou Dr. Plinio, na década de 1940, a pensar na fundação de uma instituição religiosa, chegando inclusive a redigir o esboço de sua regra. Ao longo das décadas posteriores, tentou algumas vezes retomar essa iniciativa, sob diversas formas, tendo sido uma delas a constituição de um instituto secular. Infelizmente, não conseguiu concretizar essa iniciativa por falta de compreensão de alguns de seus mais próximos seguidores.

O Reino de Cristo é antes de tudo a conformidade do coração à Lei de Deus. Por isso, Nosso Senhor responde a uma pergunta dos fariseus sobre o tempo em que viria o Reino, dizendo: “O Reino de Deus não virá de um modo ostensivo. (…) Pois o Reino de Deus já está no meio de vós” (Lc 17, 20-21). Se Dr. Plinio não alcançou seu objetivo, em vida, pelo qual tanto trabalhou, que era o triunfo da Igreja, podemos dizer com segurança que o atingiu plenamente em seu coração.

Se muito fez Dr. Plinio pela causa católica por sua incansável ação, contudo pode-se considerar que a sua maior obra consistiu no aprimoramento de sua própria alma segundo os desígnios de Deus.

O que dizer dessa sequência de fisionomias desse varão que considerava o ser filho amantíssimo da Santa Igreja o seu maior título, e que não pretendeu ser em toda a sua longa vida outra coisa senão um eco fidelíssimo do ensinamento da Mãe e Mestra da Verdade?

São os olhos as janelas da alma, costuma-se dizer, com razão. Falam eles por si, e dizem aquilo que os lábios não conseguem exprimir. Nesse sentido, é a fisionomia retratada nestas páginas o mais autêntico testemunho da história de uma alma inocente.