Apresentação
Os homens e mulheres que, na prática do bem, marcam os caminhos da História com o sinal de seus passos são quase sempre obrigados a pagar um duro tributo: em seus desígnios, em sua atuação e em suas realizações, eles se diferenciam do geral da sociedade de seu tempo, e por ela são dificilmente compreendidos.
Assim, é sabido e comprovado que nenhum seguidor do sentimento dominante, da popularidade fácil ou do unanimismo prazenteiro será aclamado pela posteridade como varão ou dama de fortaleza, como desbravador de novas vastidões no campo do pensamento ou da ação. Pelo contrário, aqueles que em sua época se dedicaram a um alto e nobre empreendimento, pelo qual se ergueram como pedras de escândalo e divisores de águas, talvez reunindo junto a si um punhado de dedicações heroicas, mas, sobretudo, fazendo crescer em torno de si as muralhas do desprezo e da hostilidade, estes sim, depois de dissipadas as nuvens da incompreensão pelos ventos do tempo, reaparecem nos firmamentos da História e dela recebem a glória que lhes é devida.
Tal realidade é especialmente notável quando o personagem assim tratado pelos acontecimentos deve seu isolamento à integridade na prática dos Mandamentos, à fidelidade em relação aos preceitos eternos e imutáveis, contidos na Revelação e promulgados pela Santa Igreja; à sua tenacidade na consecução de um ideal religioso, com vistas à glória de Deus e o amor ao próximo. Então, aqueles que o desprezam passam a ser perseguidores, e o perseguido se torna um mártir.
Semelhantes reflexões por certo virão ao espírito do leitor ao percorrer as páginas do quarto volume das Notas Autobiográficas de Plinio Corrêa de Oliveira, elaboradas com base em conversas, palestras e conferências deste grande líder católico, registradas por seus discípulos ao longo de várias décadas.
Trata-se de uma importante fase na vida do Autor, em que suas decisões anteriores de fidelidade à Lei de Deus e à sua Igreja– contempladas em volumes já publicados – continuam a trazer para ele frutos de incompreensão e frieza, da parte dos seus contemporâneos. O adolescente se torna um moço, com todas as prerrogativas de aparente independência que a sociedade da época concedia aos que transpunham o umbral dos quinze anos, mas percebe que tal liberdade não faz mais que aumentar o abismo que o separava da generalidade dos seus coetâneos. Neles, a perdição moral é uma obrigação social e a impiedade uma regra da vida, enquanto Plinio timbra em se mostrar sempre como católico e contrarrevolucionário, puro e irrepreensível, mantendo em seu comportamento e em sua apresentação os reflexos de uma tradição cristã que agonizava. “Entrando para a vida, eu era a própria imagem de um mundo que acabava de morrer”.
Mais adiante, ao sentir-se rejeitado por parentes e conhecidos, enfrenta com varonilidade o futuro que já vislumbrava para si: “O programa de minha vida seria este martírio: sentir-me incompreendido e malvisto por todo lugar aonde fosse, no mundo inteiro”.
Entretanto, no presente volume também se descobrem alguns segredos do jovem Plinio, ainda não desvendados em anteriores anotações, reveladores de profundos aspectos de sua personalidade. Podemos acompanhá-lo em suas meditações solitárias na Igreja de Santa Cecília, a qual se torna para ele “como um livro de mística”, onde se abrem vastos e novos panoramas de contemplação: “A graça se servia de realidades materiais ponderáveis para me fazer intuir através do valor simbólico delas, algo de imponderável e sublime, que o simples raciocínio não me faria entender”.
Mais uma vez, o leitor se beneficiará com a presença suave e materna de Dª Lucilia, cujo papel na formação de Plinio jamais será suficientemente ressaltado e cujas orações tanto o ajudaram na luta pela fidelidade: “Ela pedia a Nosso Senhor a graça de nunca permitir que eu me desviasse do caminho que havia tomado, nem me tornasse um homem como os outros”.
Transparecerá também nesta narração a ardorosa devoção a Nossa Senhora, sempre crescente na alma de Plinio, manifestada por ele ao assumir certo propósito, na meia-noite do Ano-Novo de 1924, e premiada com especial proteção, por ocasião do episódio ocorrido num hotel cheio de estudantes, na cidade de Ribeirão Preto.
E um dos melhores sonhos do jovem católico, igualmente relacionado com seu amor a Maria Santíssima, será conhecido nestas páginas: a fundação de uma ordem de cavalaria marial, desejo que jamais o abandonará. Ao longo de sua vida, estará ele sempre à espera desses companheiros de ideal, cavaleiros dispostos aos “maiores heroísmos, as dedicações mais completas, as imolações mais fantásticas e mais perfeitas…”
Por fim, o leitor acompanhará “o começo de uma grande batalha”: havendo concluído os estudos ginasiais, Plinio ingressa na Faculdade de Direito de São Paulo, apreensivo pelas dificuldades que o esperam, mas disposto a tudo enfrentar, e sempre auxiliado por Aquela que jamais o abandona: “Ela é Mãe de misericórdia! Ela me ajudará!”
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