Inocência, generosidade e afeto
O espírito revolucionário inocula e exacerba nas almas o egoísmo. Quando encontramos pessoas não egoístas, devemos apreciá-las e imitá-las, lavando, assim, as nossas almas da influência da Revolução. A inocência de Dona Lucilia se caracterizava não só pela pureza, mas por uma total ausência de egoísmo, tornando-a plena de generosidade e bondade.
A inocência de Dona Lucilia consistia, antes de tudo, na pureza, nas virtudes próprias à boa católica, comuns nas senhoras daquele tempo, e que hoje se tornaram raras devido à decadência moral do mundo.
Ela possuía essa inocência em alto grau.
Desprendimento de si mesma
Entretanto, tinha outra forma de inocência que tornava o convívio com ela extraordinariamente agradável e consistia em um desprendimento de si mesma, pelo qual a última coisa em que ela pensava era na vantagem própria, nos seus direitos, no que ela queria ou no que lhe convinha. Ela pensava muito na vantagem dos filhos, mas nas vantagens dela, absolutamente não.
Por exemplo, se uma pessoa quisesse ou lhe pedisse algo, encontrava uma generosidade, um prazer em dar, um contentamento em conceder, que era extraordinário e feito sem pretensão. Não se portava como certas pessoas que, ao fazer algum obséquio, ficam com uma fisionomia e um ar de quem diz: “Olhe aqui, você receba isto e veja que colosso eu sou!”
Mamãe não era assim. Ela dava aquilo que lhe pediam como uma muito boa irmã concederia para outra irmã. E se ela se lembrasse, depois, que podia dar mais algo que a pessoa não tinha pedido, ela ia atrás e dizia: “Olhe, eu me lembrei de que ainda podia fazer por você tal coisa assim!”, e fazia.
Isto tornava toda a presença dela muito agradável.
Bondade inspirada no Sagrado Coração de Jesus
O egoísmo torna a pessoa desagradável. Notando que determinado indivíduo está pensando apenas em seus interesses, o tempo inteiro, e não cogita de outra coisa, e continuamente medindo as vantagens, as desvantagens, etc., sente-se um afastamento, um desagrado muito grande.
Mas vendo essa generosidade, essa bondade cristã no sentido próprio da palavra, quer dizer, inspirada no Sagrado Coração de Jesus, modelo inigualável dessa bondade e dessa generosidade, tinha-se uma impressão de retidão de alma e de abertura de coração, que não me lembro de ter experimentado ao tratar com qualquer outra pessoa.
Evidentemente, na idade em que estou, tenho tratado com um número enorme de pessoas, tenho conhecido tanto pessoas boas como ruins, mas nenhuma me deu essa impressão de generosidade e de afeto.
Mamãe tinha isso em alto grau, o que tornava a presença dela deliciosa. É por esta razão que, por exemplo, quando eu voltava de alguma viagem, chegava a casa com uma espécie de sofreguidão de encontrá-la logo, de sentir o eflúvio da companhia dela, o seu agrado, etc.
A lembrança luminosa que acompanhou Dr. Plinio até o fim de seus dias
Quando ela morreu, eu já era um homem ultrafeito, tinha quase 60 anos e ela, 92. Em tão longo convívio, não me lembro de uma só viagem realizada por mim na qual, ao chegar, não tenha ido comungar em alguma igreja e, em seguida, dirigir-me diretamente para casa, a fim de vê-la. Ainda que fosse uma viagem pequena, dessas que não cansam e nas quais, chegando, vai-se diretamente tratar de negócios, antes mesmo de ir para casa.
Não me lembro de um só caso em que isso aconteceu, porque para mim, estar de volta a São Paulo era estar com mamãe, encontrar-me com ela, ver como ela estava, e — por que não? — ser visto por ela. Eu gostava de me sentir visto por ela, e de observar o olhar dela me querendo bem. Era um dos fatores de alegria de minha vida. Ainda hoje continua em mim essa lembrança luminosa que, se Deus quiser, me acompanhará até o fim. Aquilo fazia parte da inocência dela.
Devemos desejar encontrar muita gente assim em nossa vida, e, quando encontrarmos, saber reconhecê-las. Em geral, prestamos atenção nas pessoas pelas razões mais fúteis — porque riem ou fazem rir, são inteligentes, mil banalidades —, e não pelo verdadeiro valor que elas têm.
Devemos procurar os verdadeiros valores dos outros e celebrá-los como merecem
Resultado: habitualmente estamos em estado de injustiça em relação aos outros. Nós damos valor a quem não tem, e não a quem tem. E é muito bom sabermos procurar os valores onde estão e nos unir a eles, celebrá-los como merecem ser celebrados.
Eu fazia isto às torrentes com mamãe. Quando ela estava numa sala, quer em minha casa ou em outra, a primeira pessoa para mim era ela. Sendo outra residência, naturalmente, ao chegar, eu saudaria primeiro a dona da casa. Entretanto, logo depois me dirigiria à mamãe. E assim a punha em primeiríssimo lugar, com os primeiríssimos agrados, nas primeiríssimas manifestações de consideração, de respeito, etc.; o píncaro era ela. Com isso eu tinha também a intenção de fazer justiça a ela.
É recomendável que adquiramos o hábito de fazer o mesmo com as outras pessoas. Aprendamos a apreciar as pessoas isentas de egoísmos que encontremos em torno de nós. Saibamos imitá-las, lavando, assim, as nossas almas da influência da Revolução.
Sobretudo quando vier o Reino de Maria encontraremos muita gente assim.
Saibamos, então, ver tudo quanto há de nobre, virtuoso e santo no Reino de Maria, e dar graças a Nossa Senhora, compreendendo que depois desse reino virá outro: o Reino do Céu. Se pela misericórdia divina passarmos para lá, conviveremos por toda a eternidade, junto a Deus, a Maria Santíssima, aos Anjos e Santos. v
(Extraído de conferência de 14/4/1991)
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