O “Lembrai-Vos”, uma oração para todos os momentos
É muito importante ponderarmos bem as magníficas palavras do “Lembrai-Vos”, esta bela oração com que rogamos a misericórdia de Nossa Senhora.
“Lembrai-Vos, ó piíssima Virgem Maria, que nunca se ouviu dizer…” A palavra nunca é bastante categórica. “… que algum daqueles…” Algum daqueles, isto é, quem quer que seja: não houve um só caso.
“…que têm recorrido à vossa proteção, implorado vossa assistência e reclamado vosso socorro, fosse por Vós desamparado.” Proteção, assistência, socorro. Proteção para evitar que a tentação venha. Assistência é um auxílio numa situação difícil. Socorro é para uma pessoa que está periclitando, sumindo, afundando.
Está bem: nunca se ouviu dizer que, tendo alguém pedido proteção, assistência e socorro a Nossa Senhora, fosse por Ela desamparado. “Animado eu, pois, com igual confiança, a Vós, ó Virgem entre todas singular, como a Mãe recorro, de Vós me valho”.
Quer dizer, se nunca Vós deixastes de proteger a ninguém, aqui estou eu, que sou um ente humano e, como tal, batizado na Igreja Católica, sou vosso filho, venho Vos pedir auxílio. Estou tentado, eu tive culpa, digamos que até caí em tentação. Mas eu existo, vivo, e a vossa Clemência me mantém nesta vida. E, permanecendo vivo, tenho o direito e o dever de rezar para Vós. Assim, aqui me apresento, cheio de confiança na vossa misericórdia.
“E, gemendo sob o peso de meus pecados, me prostro a vossos pés.”
Note-se como é animadora esta expressão. Ela não diz o seguinte: “Eu, o inocente, o puro, o límpido; eu, o homem sem mancha, me dirijo a Vós e peço socorro. A minha inocência me dá direito a vosso auxílio”. Não! Mas diz: Gemendo sob o peso de meus pecados… Ou seja, são tantas faltas que elas me prostraram no chão. Eu estou caído ao solo sob o fardo delas, e este me oprime de tal modo que eu chego a gemer.
Ora, gemendo sob o peso de meus pecados, o que faço eu? Prostro-me aos vossos pés. Eu venho para junto de Vós, minha Mãe, e a Vós me agarro, na opressão de meus pecados.
Então vem a conclusão: “Não desprezeis as minhas súplicas, ó Mãe do Verbo de Deus humanado, mas dignai-Vos de as ouvir propícia e de me alcançar o que Vos rogo. Assim seja”. O pensamento é lindo. Dignai-Vos de ouvir com benignidade, com bondade, o que eu estou dizendo. De vossa parte eu espero um sorriso e que me alcanceis aquilo que Vos peço. Amém.
Digamos agora uma palavra sobre a oração no seu conjunto.
Ela é uma tocante e filial manifestação da confiança de qualquer alma, em qualquer estado, posta em qualquer situação, para com Nossa Senhora. Uma confiança que a reveste de ânimo e a faz voltar-se à Santíssima Virgem, dizendo-Lhe: “Isto eu Vos peço, tende pena de mim e auxiliai-me”.
O raciocínio que essa súplica encerra é simplíssimo: “Vós nunca abandonastes ninguém; ora, eu sou alguém; logo, Vós não me abandonareis”. É uma reflexão a mais lógica possível, a mais concludente, a mais convincente, a mais singela na sua esquematicidade, a mais irresistível, expressa numa linguagem de fervor e devoção. Uma linguagem que, além de bonita, tem um verdadeiro conteúdo teológico: Nossa Senhora é Mãe de cada homem; donde Ela não deixará de socorrer a qualquer um que a invoque. Nunca será supérfluo insistir neste ponto: é preciso invocá-La, é necessário que a Ela sempre recorramos, máxime nos momentos difíceis de nossa existência. Seja nas horas de tentações, de provações, angústias e sofrimentos, seja nos problemas comuns de todos os dias.
Por exemplo, em nossas atividades apostólicas, em nossas ações de caridade, devemos confiar e suplicar o auxílio de Nossa Senhora. Pedir a Ela que favoreça tal conversa com uma alma aflita ou com alguém que vemos vacilar nas sendas da virtude. Então peçamos: “Minha Mãe, considerai esse espírito tíbio e mole que corre o risco de se afastar de Vós. Comunicai a ele algo de vossa vitalidade e de vosso fervor”.
E se o mole sou eu, digo-Lhe: “Minha Mãe, infundi em mim esse vosso ardor. Eu me vejo atolado na pasmaceira, da qual, entretanto, tenho horror. Quanto mais Vós o tereis! Tende pena de mim, e curai-me dessa lepra”. E assim como no apostolado, também em nossas mais diversas ocupações sociais e profissionais, devemos tratar Nossa Senhora como uma Mãe boníssima a quem nós pedimos tudo aquilo que nossa alma aspira ou necessita, sobretudo quando ordenado para a glória dEla.
Segundo a boa tradição católica, os Anjos estão sempre prontos a em tudo nos socorrer e ajudar, enquanto os demônios, pelo contrário, procuram nos causar danos e atrapalhações.
É conhecida, por exemplo, a funesta ação de um espírito maligno que costumava talhar a manteiga fabricada por certos camponeses europeus. O fato pode até despertar sorrisos, pois lembra algo da inocência da vida rural, em comparação com as fuligens e inferneiras das grandes metrópoles.
Desperta sorriso, sim, mas contém uma realidade. Quantas vezes fazemos alguma coisa e esta sai errada, desanda, talha. Por quê? Não raro, devido à ação preternatural de algum demônio. Nesses momentos, a atitude correta não é nos enervarmos, nem nos apavorarmos, nem tampouco nos desesperarmos. É rezar: “Lembrai-Vos, ó piíssima Virgem Maria…”
Quer dizer, a solução para as nossas dificuldades, grandes e pequenas, está em possuirmos essa constante confiança, em todas as horas, na infalível assistência de Nossa Nossa Senhora da Penha (Rio de Janeiro) Senhora.
Plinio Corrêa de Oliveira
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