Onde há respeito tudo entra nos eixos…
Para instruir seus jovens ouvintes sobre a importância do respeito no relacionamento humano, Dr. Plinio evoca um exemplo que marcara profundamente sua formação: o convívio entre Dona Lucilia e seu esposo.
Em minhas conferências, eu nunca me dirijo a meus ouvintes tratando-os de “vocês”. Falando individualmente com cada um, eu emprego a palavra “você”, mas coletivamente digo “os senhores”. Qual é a razão?
É para que, na jovem idade em que estão, as pessoas presentes no auditório se sintam respeitadas e, assim, compreendam a importância de toda criatura humana, bem como a necessidade de ter responsabilidade por aquilo que dizem e fazem.
O bom convívio está fundamentado no respeito mútuo
Ora, o fundamento do bom convívio está em que as pessoas se respeitem mutuamente. Quando não se respeitam, o convívio não se mantém bom, acaba azedando. Mesmo sendo tão novos, respeitem-se, e os senhores começarão a achar que os outros são interessantes. Quando os senhores não se respeitam a si próprios e não respeitam o outro, acabam desgastando aquela companhia e ficam fartos daquele ambiente.
Um ambiente austero, que não tem as pagodeiras imundas deste século, mas exige de cada pessoa pensamento, reflexão, domínio sobre os defeitos de sua própria natureza, castidade; esse ambiente se torna agradável na medida em que todos se respeitem. Se começarem a brincadeira e os apelidos, o nível do ambiente acaba abaixando; daí a pouco todos estão se achando cacetes, brigando uns com os outros e, terceiro passo, começam a olhar para a porta de saída, com a ilusão de que naquele mundo lá fora as pessoas se tratam melhor. Os senhores sabem que não é verdade, mas as pessoas se iludem.
O trato entre Dona Lucilia e seu esposo
Lembro-me de meu falecido pai e do relacionamento dele com minha mãe. Eu nunca os vi brigarem, nem terem algo de parecido com uma briga. Ele a tratava normalmente como todo o marido trata a esposa: você. Portanto, dizia para ela “Lucilia, você”; e ela a ele “João Paulo, você”. Mas às vezes, quando entravam em desacordo sobre um ponto qualquer, ele a tratava de senhora e afirmava: “Senhora, isto não é assim.” Era o máximo do fogo. Resultado: a companhia entre eles e o trato eram os mais calmos e os mais agradáveis que possam haver.
Às vezes, eu chegava em casa e encontrava os dois velhinhos deixando escorrer o tempo, à espera da morte que viria mais cedo ou mais tarde. Graças a Deus veio tarde para ambos: ele morreu com oitenta e quatro anos e ela com noventa e dois. Aquele tempo escorria devagar, mas tranquilo, mais ou menos como a areia de uma ampulheta.
Não sei se os senhores sabem o que é ampulheta. São aquelas duas bolas entre as quais existe um conduto pelo qual passa areia. Os antigos marcavam o tempo com ampulheta. O tempo que levava para que aquela quantidade de areia passasse da bola de cima para a de baixo, era a duração de um exame oral nas faculdades; depois passou para a vida de família. Ainda não havia relógio, e a ampulheta servia para marcar o tempo.
O relógio de parede ou o colocado num móvel faz um certo tique-taque. A areia seca, branquinha da praia, colocada numa ampulheta de cristal, escorre sem fazer barulho, silenciosamente. Assim corria o tempo na Rua Alagoas 350, primeiro andar, quando só os dois estavam em casa.
Quando moço e, portanto, com muito mais vida, eu tendia a falar alto. Os dois tinham ouvidos ruins, eu falava alto para eles me ouvirem e a casa tomava outra vida. O telefone começava a tocar, eram pessoas que estavam a minha procura, eu tinha que atender, vinha gente para conversar comigo, a casa se movimentava. Quando eu saía era como se a vida parasse, e uma ampulheta silenciosa fosse a única coisa a marcar o tempo que transcorria.
Por que isso era assim? Eles se respeitavam.
Então, compreendamos bem que onde as pessoas se respeitam tudo entra nos eixos. v
Plinio Corrêa de Oliviera (Extraído de conferência de 24/9/1994)
Revista Dr Plinio 173 (Agosto de 2012)
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