Palmeiras imperiais do Jardim Botânico
Mas há uma espécie de árvore inteiramente diferente daquela do Pacaembu: palmeiras imperiais, das quais existe um renque magnífico no Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Aquelas duas filas de palmeiras muito altas, tendo só em cima a galharia, parecem soldados apresentando armas a um rei de sonho que deve passar entre elas, e em cuja expectativa estão alinhadas para continência.
Esse renque de palmeiras é muito bonito e determina em mim movimentos orientados para o entusiasmo, muito mais do que aquela arvorezinha seca do Pacaembu com a qual tenho uma simples complacência, um simples gosto; enquanto que o renque de palmeiras é grandioso e me entusiasma.
Por que me entusiasma? Vou examinar — a pergunta já está mais precisa: se o meu entusiasmo é bom, aquilo deve agradar elementos de ordem que existem em mim.
Aquelas palmeiras altas têm algo que se aprecia muito em colunas, e que vegetalmente possuem a beleza das coisas feitas diretamente por Deus. Uma coluna não é tão bonita quando ela é um cilindro, igual desde o chão até o teto. Por exemplo, as colunas deste auditório; não vejo nelas beleza nenhuma. Porque no chão e na parte de cima são iguais, nem têm capitel; estão encostadas no teto, aguentando um fardo; cada uma é como um carregador sem poesia, que leva um peso cansativo e feio.
O tronco, a folhagem, as cores de uma palmeira
Uma coluna é bonita quando há uma proporção entre o círculo embaixo e o círculo em cima; ela vai afinando até chegar ao cume, mas sem nenhum salto, como um taco de bilhar. E aquela coluna do tronco da palmeira, como não tem folhagem, mas apenas casca, percebe-se que ela sobe com uma espécie de facilidade, de graça. E chega, digamos, a tocar as nuvens com uma naturalidade, com uma lógica que o meu senso da ordem se encanta de ver.
Uma palmeira que em cima não tem folhas é uma coisa medonha. Porque dá a impressão de um palito espetando, não tem graça. Então, depois de uma grande ascensão, muito lógica, existe a folhagem entregue à fantasia dos ventos. E é uma folhagem muito nobre, com folhas largas, e que parecem feitas para esvoaçar de todo lado, e que atestam a firmeza da árvore, porque ela não cede, e não há vento que a faça hesitar; aquele espanador de folhas se move devido aos ventos e, no meio daquela mobilidade, a palmeira é imóvel.
Percebendo esse contraste, instintivamente, intuitivamente, eu gosto porque vejo que aquilo está ordenado. E a minha natureza se alegra em observá-lo. Mas, também há diferença de cores: aquele seco, estorricado, marrom muito escuro, tendente ao preto, da coluna da palmeira, chega em cima e dá numa parte verde, atestando que a árvore não está morta; sem percebermos, do chão ao longo de sua casca escura, numa ascensão espantosa, a seiva sobe e, chegando ao alto, irriga aquela parte mais delicada que brilha ao sol. É uma coisa bonita!
A sensação de ordem existente na palmeira causa entusiasmo
Então, percebemos que a palmeira por vários lados satisfaz o nosso senso da ordem. Há uma bonita proporção de cor entre aquele verde claro, da parte palmito da palmeira, e a madeira escura; existe uma bonita sensação de ordem.
Esta sensação de ordem encanta-me vendo a palmeira, e me dá entusiasmo. Mas há uma coisa mais sutil: a palmeira, pela sua posição, só se explica inteiramente num panorama que ela domina, ou em função do qual está numa atitude de serviço.
É muito bonito ver uma palmeira no alto de um montezinho, isolada; ela cresceu meio oblíqua em relação ao solo e se agita inteira. É uma palmeira frágil que dá graça a um panorama. Mas, a palmeira durona, espetada no alto de um morro, causa susto. E posta no terreno plano ela representa alguém que está em atitude de serviço diante de outrem. Lembra um soldado em atitude de sentido, à espera do seu general, a ideia de homenagem, de disciplina, de hierarquia, de guerra; os elementos ordenados da palmeira têm qualquer coisa de militar.
Analisando a palmeira e seus reflexos em mim, percebo a ordem dela. Assim, vejo que o meu entusiasmo pela palmeira é lógico; então eu digo: “Viva o meu entusiasmo, a lógica o apoia! Viva a lógica porque o meu entusiasmo se ilumina!” Assim é feita a alma do católico.
Quando o católico é muito ordenado, logo nos primeiros movimentos ele se entusiasma muito. E não tem razão para temer, porque sente no fundo de si que nele é a ordem que se entusiasma sempre, e nunca a desordem. É um filho da luz. Nós todos somos ou precisamos querer ser filhos da luz, e só devemos nos entusiasmar com as coisas que nos provocam essa impressão da ordem.
Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 24/10/1987)
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