No curso secundário: Redações
O rei da Abissínia e o cruzado
Monotono e immenso, o deserto do Sahara só é entrecortado por pequenos rios, e também la existem os oasis, único refugio do viajante contra sede e fome.
O poderoso monarcha da Abyssinia atravessava um desses extensos areaes, e derepente, viu uma palmeira, em cujas folhas resplandecia o orvalho, brilhante da natureza, e o rei disse: vinde ó gota adornar meu turbante, mas a gota não veio.
Tempos depois, passava um cavaleiro, era cruzado, e ia defender os christãos, e o cavaleiro, morto de sede, viu a gota, chamou-a e ela cahiu lhe, a refrescal-o, nos seus labios. Cahiu porque era aquele, que ia defender a religião de um Ente Supremo que muitos homens não conhecem, mas cuja gloria a natureza canta.
Plinio Corrêa de Oliveira
Uma batalha
A corneta dá o alarme e 2 mortaes exercitos um diante do outro, palpitam n’um só coração e cada qual, doido de amor pela patria, contempla o seu estandarte (tremulo) que garbosa e galhardamente parece querer com o seu tecido cobrir maternalmente aqueles que por sua honra morrem. Mas, ó dissonância, de um lado flutua, erguido pela briza, um estandarte que ostenta a Corôa, e do outro, um symbolo de igualdade e fraternidade que apenas sendo um ideal, e que as massas humanas, querendo realizar, mostraram toda a negra ladroeira que estas palavras encerram.
De um lado, toda fieldade ao legitimo soberano, á legitima autoridade, sentimento que embriaga por assim dizer a alma sencivel que o sente. De outro, uma tropa maior, mas composta em pequeno numero, de ladrões, que querendo tornar-se cellebres, não podendo, pelo caminho da honestidão, sendo realmente dificil de trilhar, ganhar a fortuna mystificam com bellas palavras a maior parte de homens que pensam, com seu sangue abrir as portas do caminho da felicidade, da humanidade, sentimento bello mas falso, e que por isso deve ser rejeitado.
O primeiro golpe de canhão desferido dá o signal da mortandade, e imediatamente os dois exércitos jogando-se um sobre o outro, tornam tudo numa confusão enorme, dos montes circumvizinhos outras legiões mortais vêm reforçar as fileiras já enfraquecidas. Aqui, um amigo levanta o corpo inherte de seu companheiro, e, morto com este nobre fardo, cahe abracado com um cadaver, e não sente a bala que o torna um morto.
Ali, cahe dum espumante corcel um jovem cavaleiro, todo audácia e valor, todo coragem e ardor, a crina que seu casco importa, que antes, elevava-se garbosamente nos ares tinge-se agora em contato com o seu sangue, dum vermelho sinistro. Mais além, um velho general, figura da batalha em pessoa, calmo no perigo, sublime na morte continua, banhado em seu sangue, a comandar as suas tropas, e, tendo perdido o seu braço direito que sustentava sua nobre espada, a torna a pegar com a mão esquerda e com ella ainda desfere um derradeiro golpe.
Plinio Corrêa de Oliveira
Ó Todo-Poderoso, como vosso Filho, amansai o mar!
Verdes mares bravios da minha terra natal,
Onde canta a jandaya nas frondes da carnahuba!
Verdes mares que brilhaes como liquida esmeralda
Aos raios do sol nascente perlongando as alvas praias
Ensombradas de coqueiros!
Serenai, verdes mares, e alisae docemente a vaga impetuosa
Para que o barco aventureiro manso resvale á flor das aguas.
Ó bellos mares! cujas ondas imensas vão bater nas alvas praias da minha terra natal! Não ha coisa mais linda, do que vendo as aguas azues e verdes bater nas areias da costa cearense e apreciando o canto da jandaia, pousada nas frondes da carnahuba. E o sol ainda nascente com seus belos reflexos embelezando o magnifico espectaculo. Ó Todo Poderoso amansae como vosso filho[1] quando ainda estava entre os homens o mar, para que aquele astucioso navegante possa conservar seu barco á flor d’agua, afim de que não sucumba.
Plinio
[1]) (N. do E.) Cf. Mt 8, 23-27.
Ó Netuno, alisa as ondas de teu domínio
Verdes mares bravios da minha terra natal,
Onde canta a jandaya nas frondes da carnahuba!
Verdes mares que brilhaes como liquida esmeralda
Aos raios do sol nascente perlongando as alvas praias
Ensombradas de coqueiros!
Serenai, verdes mares, e alisae docemente a vaga impetuosa
Para que o barco aventureiro manso resvale á flor das aguas.
2ª parte.
Sobre o mar verde e azulado reflete o sol vermelho, na aurora, seus raios luminosos aos belos mares e as alvas areias colore; e as graciosas palmeiras, que perlongam a costa cearense deixam cahir elegantemente seus ramos verdes como o mar. Lá ao longo onde a abobada celeste parece reunir-se com o mar, uma jangada guiada por um destemido navegante busca o rochedo patrio aonde seu dono costuma pescar. Também um pouco longe é que um grumete faz navegar seu barco.
Ó Neptuno aliza as ondas de teu domínio para que o barco não vá a pique.
Plinio
Guerra Franco Prussiana
Os allemaes estavam com muito odio da França porque foi devido a Napoleão III que não se completou a unidade allemã porque elle exigio o muro como limite Austro-Prussiano. A causa da guerra foi a candidatura de um príncipe Hohenzollern. Napoleão exigio a renuncia desta candidatura para todo o sempre o que foi recusado ao embaixador Benedetti pelo Imperador Guilherme 1º. O facto poderia ser resolvido diplomaticamente se Bismarck não tivesse truncado o telegrama. Declarada a guerra, a França foi invadida e derrotada em Gravelotte e em Sedan, onde o Imperador reuniu-se. Dahi por diante só Paris é que resistio, mas infructiferamente. A França cedeu a Alcascia e a metade da Lorena e 65.000.000 marcos. Em Versailles, na sala dos espelhos, Guilherme foi nomeado Imperador Allemão.
Plinio Corrêa de Oliveira
Nota: escrita original de criança
José
Vivia em Hebron um ancião chamado Jacob e tinha doze filhos. O caçula da casa de nome José, era tratado com muito carinho e affecto. Esta predilecção causava inveja aos irmãos que não lhe demonstravam o mesmo amor. José teve um sonho que contou a seus irmãos dizendo-lhes: ouçam o que sonhei. Estava comvosco n’um campo atando feixes; o meu conservava-se em pé, emquanto os vossos se prostravam diante do meu. Ficaram os irmãos muito irados e resolveram vingar-se. Outro sonho teve José. Estava emcima d’uma nuvem, e o sol, a lua e onze estrellas se prostraram até o chão diante de elle. Ainda cresceu mais o rancor dos irmãos.
Excepto José, estavam todos os filhos de Jacob reunidos num campo, longe da casa paterna. O pai lhe disse: “vá ver o que fazem teus irmãos”; partindo este sem detença. Chegado lá, os irmãos o puzeram n’uma cisterna, e passando ricos egypcios venderam José por vinte talentos. Então matando um dos cordeiros, ensangüentaram a tunica com seu sangue e mandaram-a a Jacob, o qual não se pode consolar.
José no Egypto teve todos os postos, desde intendente da casa de Putiphar até o de vice-rei do Egypto. Mandou chamar Jacob e seus filhos junto com Benjamim, irmão que tinha nascido n’este espaço de tempo. Desde então todos levaram uma vida feliz.
O sabiá
Em miseravel taverna situada n’uma das mais feias ruas d’uma aldeia do sertão, um sabiá melancolico pulava desesperado, prisioneiro dentro da gaiola dependurada na janella. Lembrava-se dos canticos alegres que entoava nas mattas virgens apreciando o jogo brilhante do sol sobre uma larangeira predilecta cujas ramas eram ornadas de flôres cheirosas frequentemente visitadas por abelhinhas. Oh! que bellas recordações.
O dia abrazador déra um somno ao nosso sabiá que repentinamente fechára os olhos. Sonhou que estava voando sobre um deserto quente, ardentissimo. Avistava ao longe, perto d’uma cascata, uma matta colossal; sua entrada era ornada com flôres, bellas como n’um conto de fadas. Ahi se collocava pensando no dia seguinte, em que comeria as máis suculentas laranjas do lugar.
Com tudo isso o nosso sabiá cantava admiravelmente em sua gaiola; cousa que nunca fazia por querer amolar o dono da taverna. O sabiá accordou vendo diante de si o taverneiro arrebatado por seu lindo canto e dizendo: “canta optimamente”.
Desde então a bodega ficou com um habitante de menos porque o sabiá conseguiu fugir, levando no sertão uma vida feliz e alegre.
Cem dias
Os Bourbons tinham se tornado impopulares por serem reis impostos pelos vencedores aos vencidos. Pouco tempo depois da coroação de Luiz XVIII, elle já estava tão odiado pelo francezes que Napoleão parecia o defensor da patria vencida. Conhecendo este estado de coisas, – Napoleão sahio furtivamente de seu exilio e desembarcou em Cannes com um pequeno exercito que por toda a parte ia grangeando adhesões. Em Lyon onde o Conde d’Artois queria organisar a resistencia, os operarios das fabricas auxiliados por grande parte da população, abriram a porta da cidade e d’ahi por diante o trajecto de Napoleão até Paris foi uma marcha triunphal. Napoleão começou por protestar de seus desejos pacíficos, mas os alleados foram mobilisando as suas tropas. Ao mesmo tempo uma formidavel revolução dos Chouans da Vandea obrigou-o a destacar 30.000 homens de seu exercito. Feriram-se as batalhas de Ligny e de Charleroy. Finalmente em Waterloo, Napoleão foi derrotado estrondosamente por Wellington. Depois Napoleão refugiou-se no navio Belorophonte confiando-se á hospitalidade inglesa: mas elle foi levado a Helena onde morreu com uma molestia no estomago.
O mendigo
Avistava-se n’uma das collinas verdejantes que cercam a cidade de Caldas um pobre velhinho que com custo a subia. Chegado bem ao alto procurou avistar á esquerda sua aldeia natal. Com tristeza apoiou a fronte sobre uma pedra, recordando o passado. Fora rico, tivera innumeros amigos porem, apenas perdera a fortuna, estes se afastaram. Pobre e doente levava uma vida errante e miseravel. Sentindo a sua hora derradeira chegar, quis morrer contemplando o seu torrão natal; e expirou recommendando sua alma a Deus.
Plinio Corrêa de Oliveira 12-IV-1920
A pátria
Ó patria amada, que de tua gloria resta? As ondas do mar contam me, quantas vezes teus navios sulcaram sua tonna carregados de louros. Choraram teu manto de rainha o Ganges, o Tigre. Tão temida outr’ora, e hoje ninguem te receia! Adormecida sobre as tuas passadas glorias, só um monumento resta que as attesta: Os Lusiadas! Dizem em vão os lisboetas que, quem não viu Lisbôa não viu cousa boa. Em 1500 extendeu os seus braços immensos á uma vastissima região que denominou: Vera cruz (mais tarde Brazil). Ó patria amada onde está essa gloria?
Plinio Corrêa de Oliveira 20-IV-1920
O filho pródigo
No anno de 517 vivia perto de Belem um rico gentilhomem no seu bello palacio cercado de campos tambem de sua propriedade.
Casara-se com uma jovem nobre; porem esta logo morreu ficando elle viuvo e tendo dois filhos, José e Jacob.
N’uma bella tarde Jacob poz-se a pensar: “meu pai é rico e tem um bom nome; minha mãe era abastada e sua herança nos deve caber; somos pois ricos”. Então chegando-se ao pai disse-lhe: “pai querido, quando morrerdes me deixareis grande fortuna e um dos vossos palacios; não posso esperar este momento e peço que me deis a parte que me cabe”. O pai sempre bondoso fez as partilhas e deu a Jacob a parte que lhe cabia; e este, poucos dias depois, fez sua trouxa e partiu.
Lá bem, bem longe, gastara sua fortuna e em farrapos, resolveu voltar a casa paterna.
Apenas o pai o avistara fez matar um vitello e preparou um banquete no qual o filho prodigo só pensava na bondade do pai e cada vez mais se arrependia do seu pecado. Succedeu chegar do seu trabalho José, o qual vendo o festim que preparava o pai, ficou agastado e disse: “papai fez esta festa pela volta do mau filho, e para mim que sempre lhe fui obediente nunca sequer fez preparar um frango em minha honra, não tomo parte na festa”. O pai porem disse: “este meu filho morreu e reviveu, perdi-o e tornei a achal-o e por isso faço a festa, considerando que sem elle nunca tive alegria; divirtamo-nos”.
Plinio Corrêa de Oliveira 18-V-1920
[O rei dos montes]
O famoso rei dos montes estava cercando uma cidadella pouco fortificada mas que a resistencia heroica dos habitantes tinha tornado inexpugnavel. Acostumado de vencer a todos estava furioso de ver que os seus esforços e as espertezas e astucias dos seus generaes não tinham feito capitular a heroica cidade. O mais valente dos generaes do rei, o confidente do monarcha pediu-lhe audiencia e expoz-lhe o seguinte plano: os arautos deviam jogar na cidade papeis nos quaes o soberano inimigo prometia 4.000.000 de piastras a quem lhe entregasse as chaves da porta da cidade. Este plano apezar de não agradar ao rei foi posto em execução, e de noite um miseravel aproximou-se da tenda do soberano e desejou fallar-lhe sendo logo recebido. Aproximando-se do trono o desconhecido disse: “grande rei eis as chaves da porta da cidade, e vamos ao cobre agora”. O rei deu a sua visita a promettida recompensa e expulsou-a indignamente do acampamento depois de ter feito jogar as chaves denovo pelo muro e dizendo: resolvi a capitular pois quando tinha um trahidor na praça não vencemos como venceremos agora que não temos senão adversarios heroes?
O nosso miseravel caminhava porem satisfeitissimo da vida com uma tamanha somma em suas mãos. Mas depois das emoções, sobretudo quando são bem succedidas, o somno é agradavel e foi esta a sensação que invadio o nosso malfeitor.
Mas não gozou muito do somno porque teve tremendos pesadelos.
Via as ruas de sua cidade com muito sangue e ao passar pelo cemiterio viu abrirem se os tumulos e varios espectros perseguirem um outro no qual reconheceu sua mãe, e as outras caveiras berravam furiosas: “Vá ao diabo maldita mulher, tu que geraste um diabo e peor que diabo, um misero trahidor que innunda de sangue a cidade natal que amamos e nossos filhos amam”. Isto fez sobresaltar o trahidor que quiz beber agua para calmar o susto, mas esta soube-lhe sangue, e o mesmo succedeu com o vinho. Avistando ao longe um pomar quiz por força comer as suas fructas mas a primeira teve o gosto de cinza, a segunda de carne humana, e a terceira de metal com zinabre.
Chegando na cidade que tinha escolhido para residir, foi deitar-se na sua ante-camara onde tinha moldurando o tecto uma porcão de nymphas dançando, e quando as enchergou vio a mesma scena do cemiterio passar ante sua vista e então louco de remorso foi á corte do rei dos montes para reentregar-lhe o dinheiro tão mal acquisto, mas o soberano não quiz vel-o e mandou dizer aos soldados que o expulsassem com tudo que era seu fora de suas propriedades dizendo: “Não quero dinheiro que foi entre mãos de trahidor”.
Plinio Corrêa de Oliveira 28-III-1921
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