Refrigério, luz e paz
Aos catorze anos de idade, eu estava no quarto ano secundário,1 quando resolvi sair do Colégio São Luís e estudar num outro curso, pois achava insuportável o peso da Revolução2 no ambiente escolar.
No meu tempo, o ensino secundário era homogêneo e permitia que um aluno saísse de algum colégio e passasse para outro, sem maior dificuldade. E eu tinha ouvido falar muito elogiosamente de um curso livre que existia na Rua Fortunato, quase na esquina com a Rua Jaguaribe,3 onde lecionava certo professor chamado Aquiles Raspantini,4 bem como um outro, de nome Luís Simione,5 os quais, naturalmente, cobravam caro. Ali havia uma salinha de aula com dez ou quinze alunos.
Se eu entrasse nesse curso, estudaria mais ou menos as mesmas matérias que no Colégio São Luís, mas teria maior liberdade e uma vida mais folgada, pois apenas devia assistir às aulas e sair, uma vez que não havia recreios, os quais tanto me haviam aborrecido nos anos anteriores.
Então, eu quis me inscrever no estabelecimento do Prof. Aquiles Raspantini e pedi isso a mamãe. Ela – tão desejosa de que eu fosse muito católico – ao comparar esse curso com uma casa religiosa como o São Luís, marcada pela tradição dos jesuítas, poderia ter dito: “Não! Quem é esse Aquiles Raspantini?” Mas, pelo contrário, concordou comigo, deu-me licença e aceitou minha transferência. Assim, matriculei-me e comecei a frequentar as aulas.
Entretanto, a Providência se aproveitou do caso para me dar uma lição.
A lamparina com falta de azeite
Ao cabo de pouco tempo, cursando no estabelecimento do Prof. Raspantini, de repente aconteceu o que eu não esperava: comecei a sentir uma espécie de vazio dentro de mim – ao pé da letra! – e percebi que, se permanecesse assim, não teria mais equilíbrio sobre as minhas próprias pernas. Eu era como um vidro de perfume que estivesse sem rolha e cujo aroma se evaporasse, ou como uma lamparina que sentisse faltar-lhe o azeite, se pudesse sentir.
Havia qualquer coisa que me fazia uma falta mortal, como se essa coisa fosse de tal natureza que eu precisasse absolutamente dela para permanecer católico. Ou seja, as forças de alma para conduzir minha batalha começavam a diminuir. Sentia em mim, por assim dizer, um declínio da substância religiosa, como se a minha piedade decaísse e meu fervor se evaporasse. As graças místicas – que eu não sabia chamarem-se assim – se evanesciam e se dessoravam em mim, ainda que eu fizesse reação e quisesse “agarrá-las com a mão”.
Não era nenhuma dúvida contra a Fé ou uma questão de castidade, pois, graças a Nossa Senhora, eu estava com o assunto da castidade resolvido – tanto quanto ele possa estar resolvido para alguém – e meu comportamento moral era sempre muito direito, mas sentia uma espécie de demissão do sagrado, numa existência meramente fruitiva. Ora, se me jogasse numa vida assim, categórico como sou, aconteceria um desastre, pois, ainda que se tratasse de fruições puras, acabaria por decair e depois a minha pureza desapareceria.
Um passo irrefletido?
Fiz um exame de consciência e, de repente, me dei conta de algo curioso: isso se dava porque eu tinha deixado de ser assíduo na frequência a uma casa religiosa. Eu não havia calculado o quanto me fazia bem ir ao São Luís todos os dias!
Apesar das dificuldades que a justo título eu sentia no colégio, tratava-se de um estabelecimento católico e eclesiástico, pertencente a uma ordem religiosa, onde Sacerdotes ensinavam a doutrina tradicional da Igreja. Eu ainda comungava pouco, umas duas ou três vezes por ano, mas havia no prédio uma capela, com a presença do Santíssimo Sacramento e a imagem de Nossa Senhora do Bom Conselho, na qual eu me sentia muito bem, quando os Padres ali nos levavam de vez em quando para participar de alguma cerimônia religiosa. E, mesmo nas ocasiões em que eu não estava na capela, mas na sala de aula ou em outro local, lembrava-me com frequência daquele quadro de Nossa Senhora.
Pessoalmente, o Prof. Aquiles Raspantini era um bom homem, e eu declino o seu nome com simpatia e respeito, mas o estabelecimento dele não era uma instituição católica… Talvez houvesse na parede um crucifixo, porém não existia ali nenhuma capela ou imagem de Nossa Senhora. Nem o Prof. Raspantini nem o Prof. Luís Simione faziam propaganda religiosa ou tratavam de Religião, embora as aulas de História deste último pudessem dar muitas oportunidades para isso. Os ruídos que eu ouvia naquela casa não eram como o som do harmônio do colégio e, em tudo isso, me faltava o ecclesiasticus do São Luís, para eu ser aquilo que desejava ser.
Então, vendo-me reduzido ao convívio dos meus familiares e das pessoas daquele cursinho, percebi que, irrefletidamente, havia cometido um erro saindo do colégio. Parecera-me estar já tão firme e amparado na Religião, que não tinha mais nada a receber do São Luís. E não imaginei que essa ausência fosse causar tal efeito sobre minha Fé, pois, do contrário, não teria pedido para mudar de curso.
Não quero dizer que eu tivesse pecado, mas não havia calculado bem o passo que dera. Senti que me faria mal continuar vivendo longe de um ambiente sacro, sem ter um lugar onde pudesse rezar diariamente, e indo à igreja apenas aos domingos para assistir à Missa.
Fiquei aflito e tive muito receio, a tal ponto que pensei seriamente em voltar ao Colégio São Luís, mas não havia possibilidade, pois as matrículas só eram feitas no começo do ano e já estavam encerradas, e nem mamãe compreenderia a minha atitude. As portas do São Luís estavam fechadas para mim naquele ano, mas resolvi voltar a ele no começo do ano seguinte.
Da Rua Fortunato à Igreja de Santa Cecília
Porém, enquanto esse momento não chegava, eu sentia tanto a falta dessa comunicação com o sagrado, que tomei o hábito de frequentar a Igreja de Santa Cecília, muito próxima do curso e da qual eu era paroquiano.
As aulas do Prof. Aquiles Raspantini terminavam relativamente cedo, pelas quatro e meia da tarde. Então, todos os dias – sem exceção! – em que eu tinha aula, quando saía do curso fazia um pequeno détour,6 passava pela igreja e depois continuava até minha casa.
Eram distâncias pequenas, que qualquer menino do meu tempo percorreria facilmente, mas enormes para mim, que sempre preferia movimentar-me em bonde ou em automóvel, e detestava andar a pé.7 Então, lembro-me de mim mesmo em certos dias de verão, sozinho, percorrendo os caminhos que me levavam da Rua Fortunato até a Igreja de Santa Cecília, com uma pasta cheia de livros debaixo do braço, sob o tórrido calor paulistano, do qual eu era muito pouco apreciador.
Sentia o peso do meu próprio corpo e, por assim dizer, o peso da minha alma, do calor, do dia e do futuro.
Alívio nas angústias
Eu entrava na igreja, que em geral estava vazia. Imediatamente, outra atmosfera e outras impressões se apoderavam de mim.
Como está num largo, isolada de todas as partes e sem construções altas ao redor – apenas casas de famílias – a qualquer hora a igreja era muito batida pelo sol, de um lado ou de outro. Não sei por que coincidência, os dias eram habitualmente bonitos e, em geral, eu entrava num momento em que a luz incidia mais sobre ela do que sobre a Igreja do Coração de Jesus, nos horários em que eu costumava frequentá-la.8 Assim, os vitrais coavam a luminosidade, que chegava tamisada, filtrada e brilhante.
Por alguma razão ligada à construção do edifício – grande para minha ótica –, a igreja também era sempre muito fresca, de um frescor insigne, mas moderado e agradável. Então, o cansaço por ter vindo a pé, o calor do qual eu fugia e a luz blafarde9 ou insolente que me desagradava, cediam lugar a um refrigério, uma luz e uma paz que me favoreciam, e pelos quais eu sentia na alma algum efeito, paralelo ao que sentia no corpo: uma descongestão que me fazia bem e me aliviava de mil ardências, mil angústias e mil aflições.
De fato, aquilo me conduzia à paz da ordem, ao verdadeiro refrigério – porque as preocupações pareciam arder e queimar-me – e também à luz, pois tornava diáfana a minha vista, que antes estava afundada em problemas tenebrosos.
Eu quase andava na ponta dos pés, olhando tudo e maravilhando-me.
A imagem da Imaculada Conceição
A igreja tem a forma clássica de cruz. No braço direito desta, portanto à esquerda de quem entra, acima do altar da nave lateral encontra-se a imagem da Imaculada Conceição. Não preciso dizer que eu ia diretamente fazer uma visita a Ela.
É uma boa imagem, de qualidade decente e digna de figurar naquela igreja, mas de uma beleza muito comum. Eu sabia disso, mas sentia grande comprazimento em estar ali, perto d’Ela, e quando rezava tinha a impressão de que Nossa Senhora atendia a súplica que eu fazia, e transmitia a Deus Nosso Senhor o meu pedido.
Atrás da imagem há uns vitrais representando folhagens e lírios num fundo azul, a cor de Nossa Senhora. Eu gostava bem do azul, mas não era objeto do meu entusiasmo como o vermelho, nem os vitrais têm nada de extraordinário. Entretanto, aquele fundo era para mim particularmente bonito e eu o olhava encantado, sentindo inclusive, em algumas ocasiões, certa consolação ao contemplá-lo.
Aquela cor me ajudava enormemente a rezar, pois me fazia pensar no Céu e me parecia ver nela algo da Santíssima Virgem, como se, no fundo, a alma d’Ela tivesse semelhança com aquele azul lindo. Assim, o vitral se animava aos meus olhos com um reluzimento sobrenatural, mas eu não sabia exprimir o que sentia, e pensava: “Vou rezar mais a Nossa Senhora, pois me entendo bem com Ela. Há muita harmonia entre Ela e eu”.
Ao mesmo tempo, sentia também qualquer coisa da pureza d’Ela, e algo pelo qual Ela é imensamente superior a todos os graus e formas de santidade possíveis e imagináveis. A minha alma se elevava a uma alta ordem de realidades que eu não era capaz de explicitar, mas, mesmo assim, queria estar junto à imagem da Imaculada Conceição para sentir isso.
Hoje percebo que Nossa Senhora condescendia em chamar-me mais especialmente para o serviço d’Ela e, então, fazia com que a imagem me fizesse sentir como era a santidade d’Ela. Conhecendo-A assim eu amaria mais a Santa Igreja, fonte de todo o bem, à qual eu queria me agarrar de todos os modos e em todos os momentos possíveis.
“O Mestre está aqui…”
A minha permanência mais prolongada se dava diante da imagem de Nossa Senhora, mas, depois, bem entendido, ia visitar o Santíssimo Sacramento.
A capela do Santíssimo é muito digna e bem arranjada, separada do corpo da igreja por uma grade, quase sempre fechada. No alto da parede, por cima do tabernáculo, estão escritas estas palavras, tiradas do Evangelho: “Magister adest et vocat te” – “O Mestre está aqui e te chama”. Trata-se de um recado transmitido por Marta a Maria, comunicando-lhe que Nosso Senhor mandava chamá-la,10 mas aplicava-se ao Santíssimo Sacramento que estava presente e chamava a alma fiel, o que completava muito bem a atmosfera da capela.
Eu me ajoelhava nos degraus junto à grade, equilibrando-me para não cair, desejoso de estar dentro. Se me deixassem, entraria eufórico, como um peixe na água, para ali permanecer bastante tempo, pois sentia enormemente a presença do Santíssimo Sacramento. Lia aquela frase – estava estudando latim e já sabia as declinações – e pensava: “É evidente! Ele está presente”.
Na contemplação dos vitrais iluminados
Todos os vitrais da igreja são aceitáveis e bastante dignos, tendo um bonito colorido com timbre muito católico, e tudo me leva a crer que foram fabricados antes da Primeira Guerra Mundial, ou ainda no século passado,11 alguns por Conrado Sorgenicht.12 Eu gostava muito de contemplá-los, pois me pareciam maravilhosos e, transpostos pela luz do sol, tomavam uma rutilância extraordinária.
Olhava aquilo e pensava: “Mas, que cores! Como seria agradável morar dentro desses vitrais! Se houvesse, por exemplo, um espaço em que tudo tivesse esse colorido, onde eu pudesse passear de vidro em vidro, apenas me enchendo dessas cores e também da densidade do ar e dos perfumes que deve ter um ambiente interior, todo habitado por elas! Eu seria capaz de perceber harmonias e belezas de uma ordem maravilhosa que não é desta Terra, mas que deve existir, e da qual esses vitrais são pelo menos um símbolo! Sinto que minha alma se realizaria completamente, se eu fizesse essa excursão através do mundo das cores dos vitrais iluminados… Entrar num verde absoluto ou num azul absoluto, receber a luz do sol em todo o seu percurso, desde a aurora até o ocaso, dentro de um azul que iria mudando de tonalidades, nesse ambiente onde eu não precisaria nem me sentar nem permanecer de pé, pois nele não existiria a lei da gravidade! Estaria todo o tempo ali, sem que ninguém me incomodasse, fazendo contemplações com base nessa cor. Sentir-me-ia feliz e imensamente superior ao mundo contemporâneo, por ter aprendido umas tantas coisas que ele não compreende, mas que valem mais do que ele, a perder de vista!”
Os Bispos, vitrais da Igreja Católica
Depois corria os olhos e via na nave central uma galeria de pinturas representando antigos Bispos de São Paulo.13
Eles pareciam viver na eternidade. Eram apresentados com alguns aspectos do que seria o Bispo ideal: de corpo inteiro, em pé sobre pequenos pedestais, bem vestidos e arranjados; homens ainda relativamente moços, fortes e cientes de sua autoridade, em atitudes convencionais diversas, virtuosas e um pouco retóricas, todas elas exprimindo a firmeza episcopal, e alguns deles inclusive em posição de mando. Entretanto, todos pareciam quietos e contentes, talvez um tanto ingênuos, com uma alegria afetiva, cheia de bom-humor e de boa acolhida, que revelava um precioso equilíbrio de temperamento. Ora, eu também encontrava essa atitude em muitos representantes da São Paulo antiga, pessoas em geral conscientes de sua imponência, que não permitiam brincadeiras consigo, mas, ao mesmo tempo, eram muito alegres.
Eu olhava aqueles personagens eclesiásticos e pensava: “Mas, meu Deus, que fantástica, essa galeria! Qual é a relação que há entre esses Bispos? Eles são, na ordem espiritual, o que são na ordem natural as cores e as luzes daqueles vitrais. Cada uma dessas almas é como um vitral da Igreja Católica. Que coisa maravilhosa é um Bispo!”
Santa Donata
Pouco adiante, perto do altar de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, há uma imitação, muito paroquial e provinciana, do que seria um sarcófago romano. É uma espécie de sepulturazinha bem feita, de bom mármore branco – creio que de Carrara –, toda encerada, com um tampo grande de vidro transparente e biseauté,14 onde se encontra deitada uma figura de cera, com cabelos inclusive, a qual representa Santa Donata, menina romana de doze ou treze anos, que morreu mártir.15
Dentro dessa figura estão postas as relíquias – suponho que sejam os ossos – da própria Santa Donata, as quais foram tiradas de uma catacumba, cedidas para a igreja e trazidas por D. Duarte,16 com selos da Santa Sé e toda a documentação necessária.17
A ideia é bonita e muito própria da época constantiniana.18 Ostentar ossos poderia horripilar a sensibilidade humana, da qual a Santa Igreja não é inimiga, mas, pelo contrário, amiga. Resultado: faz-se uma graciosa escultura de cera para revesti-los.
Quando eu era pequeno – portanto antes dos fatos que estou narrando – aproximei-me certa vez daquela figura, com muita curiosidade, e alguém me deu uma explicação sumária, como se dá às crianças:
– É Santa Donata que está aí.
Entretanto, por ser tão menino, começava por não saber distinguir bem se ela estava viva ou morta… E, se estivesse morta, perguntava-me há quanto tempo o estava. Mas sentia certa timidez em perguntar, pois percebia que haveria da parte da Fräulein19 uma simplificação mal humorada, que eu não queria enfrentar. Então permanecia olhando para ver se Santa Donata respirava, cheio de suspeitas e incertezas à vista da situação. De outro lado, apesar de saber o que significava a palavra mártir, não tinha esse conceito tão firmado no meu espírito quanto a ideia de santidade, e pensava: “É uma santa! Oh! Isso é formidabilíssimo!”
Inclusive mais tarde, nesse tempo em que passei a frequentar mais a Igreja de Santa Cecília, eu não sabia ao certo se aquela figura era a própria santinha, que estava lá com o seu corpo incorrupto, ou se era uma imagem, dentro da qual se encontravam relíquias dela. Havia ali uma placa escrita em latim, que eu tentava ler e em parte compreendia, mas não por inteiro. Mesmo assim, tinha ideia de que não se tratava exatamente do corpo dela.
Via o pequeno rosto e tinha noção, por certo discernimento dos espíritos,20 de que essa não podia ser a fisionomia da menina mártir, de maneira que quase não o olhava, por entender que, se eu quisesse analisar bem Santa Donata, não deveria dar importância à face, pois havia na imagem algo a mais para observar.
Ela está vestida com um bonito traje romano ou, pelo menos, como alguém da São Paulo de começo do século poderia imaginar – sem preocupações arqueológicas – a roupa de uma antiga demoiselle21 romana, ainda muito jovem. Uma túnica até os pés, feita de seda comum, mas muito arranjada, toda enfeitada com bordados que me pareciam ser de ouro e umas pedras bonitinhas costuradas – as quais eu só muito mais tarde percebi serem meros vidrilhos –, dando-me a ideia de uma menina nobre e abastada,22 a quem os pais teriam enterrado com essas joias.
Contemplação diante da pedra colorida
Eu olhava com muita atenção os bordados, os vidrilhos, a seda e o mármore de Carrara, com a ideia de que eles me diziam alguma coisa e me explicavam quem era a mártir Santa Donata. Aquelas pedras aplicadas sobre o vestidinho me davam a impressão de refulgirem com algo da santidade dela e da própria santidade da Igreja primitiva. Era, portanto, como se cada ornato fosse a palavra de uma frase, a qual, por sua vez, seria o conjunto dos ornatos e representaria a definição de Santa Donata.
A certa altura da imagem há uma faixa que cobre discretamente uma parte do vestido23 e que ostenta, como conclusão do desenho, uma espécie de lírio com um vidro trabalhado, imitando um grande topázio ou alguma outra pedra semipreciosa. É de fato parecido com um topázio autêntico, portanto de um amarelo-dourado claro muito bonito. Eu olhava com especial atenção aquela pedra colorida, pois me parecia o centro dos ornatos e, portanto, a parte mais inteligível e aproveitável do traje. Não que eu analisasse aquilo com olhos de joalheiro cúpido, pelo valor da pedra. Isso nem me passava pela mente! Era a cor que produzia, em minha alma, certo efeito.
Em geral, na hora em que eu costumava ir lá rezar, entrava a luz pelos vitrais e incidia no sarcófago de Santa Donata, refletindo-se no vidro biseauté. E mais de uma vez coincidiu em que os raios de sol batessem naquele pseudotopázio. Eu via a luz passear na joia e rebrilhar com bonitos reflexos naquela cor quente. Aquilo me causava uma intensa impressão e uma comoção religiosa, levando-me a ter maior admiração e respeito para com Santa Donata, pois a luminosidade especial daquele ornato de vidro era como a expressão do heroísmo da mártir. Eu entendia que aquilo simbolizava as suas virtudes de modo magnífico! No meu espírito, a cor do topázio possuía também um nexo qualquer com a glória da alma dela e me levava a compreender o gênero de felicidade que a mártir estava gozando. Era como se o Céu dela fosse vivido dentro de um topázio.
Tratava-se de um toque místico, um trabalho da graça, que se servia de realidades materiais ponderáveis – um pedaço de vidro ou uma pedra – para me fazer intuir através do valor simbólico delas, pelo discernimento dos espíritos, algo de imponderável e sublime que o simples raciocínio não me faria entender: como é a graça, numa pessoa que tenha analogia moral com o topázio. Ao mesmo tempo, acendia em mim o amor e a devoção a esses imponderáveis no espírito de uma santinha e, nesse sentido, o corpo dela, para mim, era como um livro de mística!
Porém, a minha emoção não era tanto causada pela própria Santa Donata. Era, sobretudo, uma ideia de virtude e de retidão que me tocava profundamente e, mesmo se ela não possuísse de fato as características que eu via, Deus queria que compreendesse o quanto a santidade comporta tudo isso. Assim aumentava o meu respeito para com a santidade enquanto tal, na consideração daquela pedra.
Essas consolações me rehaussaient l’âme24 e me causavam novo impulso, pois me faziam ver fugazmente uma ordem de coisas absoluta, em cuja consideração meu espírito encontrava a fixidez e a força de quem viu o eterno. Não se pode calcular o bem que me fazia o brilho do sol naquela pedra de vidro que imitava um topázio!
Santo Expedito e a dignidade do Império Romano
Em frente à relíquia de Santa Donata existe uma imagem muito comum de Santo Expedito, apresentado com uma cruz na mão e vestido de legionário romano. A condição de guerreiro católico me entusiasmava e as couraças sempre exerceram sobre mim uma verdadeira fascinação. Então, olhava aquela figura com um interesse extraordinário.
Essas imagens de Santa Donata e de Santo Expedito me punham diante dos olhos certa noção da dignidade do Império Romano, com muito colorido. Vinha-me ao espírito a ideia seguinte: “Como eles estão bem vestidos!” E fazia um raciocínio um tanto infantil: “Naturalmente! Tinham de comparecer à presença do Imperador para serem julgados e, ainda que fosse como réus, por respeito deviam apresentar-se assim. Eles estão numa espécie de traje de corte, com o qual foram martirizados”.
Aliás, a palavra romano me parecia um dos títulos mais bonitos que podia haver. Era como uma espécie de palavra predestinada, contendo todos os sons…
Cenas da vida de Santa Cecília
Eu também costumava prestar muita atenção numa série de pinturas em volta do altar-mor, obras do pintor Benedito Calixto,25 que focalizam os principais episódios da vida de Santa Cecília, padroeira da igreja.
Ela é apresentada como patrícia romana, ainda moça, mas à maneira como se concebia a jovem ideal no começo do século26 – quando essa igreja foi pintada –, ou seja, a moça já um pouco entrada na maturidade, próxima dos trinta anos.
Uma das cenas, por exemplo, é a conversão de Valeriano, cuja história é a seguinte: os pais de Santa Cecília obrigaram-na a casar-se com esse homem, mas ela converteu o marido. Ambos resolveram manter a castidade perfeita depois do casamento e assim ela conservou a virgindade.
Então, a pintura representa uma sala, onde Santa Cecília e Valeriano – que foi mártir também – estão ajoelhados, rezando ou conversando, depois do casamento. Aparece um Anjo reluzente, trazendo em cada mão uma coroa de lírios brancos para os dois, o que simboliza o propósito deles.
A cena está semivedada por uma cortina e, escondido atrás desta, há um homem olhando. É Tibúrcio, irmão do marido, que notou estar se passando algo de extraordinário naquele local onde se encontram os recém-casados, e teve vontade de ver o que era. Ele foi pé ante pé, sem eles perceberem, puxou a cortina e conseguiu desvendar a cena, no momento exato em que estava descendo o Anjo com as coroas, irradiando fachos de luz. Então, os dois olham a aparição com ar extasiado, enquanto Tibúrcio permanece em atitude de quem está pasmo, muito espantado…
Vendo aquela representação grandiosa e levado pelo discernimento dos espíritos, eu tinha uma noção das diferentes “camadas” de graças que eles recebiam, e de qual era a graça própria a cada um. O casal se encontrava muito mais alto e o outro estava apenas começando. Aquilo me encantava!
Eu soube que Santa Cecília depois converteu o cunhado Tibúrcio, o qual foi mártir também. Assim, todos os três engajaram-se no caminho do martírio.
“Ubi Petrus baptizabat”
Outra pintura representa o batismo de Valeriano. Impressionava-me muito que ele foi batizado pelo Papa Santo Urbano “ubi Petrus baptizabat”,27 quer dizer, na própria pia batismal onde São Pedro costumava batizar.
Eu olhava aquilo: “Ubi Petrus baptizabat”, e tinha a impressão de uma enorme sacralidade. Batizar onde Pedro batizava! Eu teria vontade de oscular o chão daquele local e de levar uma pedrinha na qual ele talvez tivesse pisado. Pedro batizando ali era para mim algo de fabuloso!
Cenas de martírio
Em outra cena, vê-se Santa Cecília fazendo uma proclamação de Fé que é também uma invectiva aos ídolos, e recusando-se
a prestar-lhes culto. Eu tinha a impressão de que ela já se encontrava diante dos carrascos, mas depois, olhando melhor, percebi ser um tribunal. Há um personagem em cuja presença ela está falando, bem como uma mesa junto à qual alguns homens estão sentados, ouvindo, enquanto um escriba toma nota do que ela diz, pois isso serviria depois como justificativa para a aplicação da pena de morte.
Eu também olhava a representação do martírio, na qual ela aparece degolada e prostrada, com sangue escorrendo do pescoço. Parecia-me que se tratava de uma decapitação comum, mas, algum tempo depois, lendo uma vida de Santa Cecília, verifiquei algo que me causou um calafrio horroroso: essa decapitação fora mal feita, pois o verdugo não cortou o pescoço inteiro, e a cabeça dela se manteve um tanto ligada ao tronco, portanto, nas mais atrozes circunstâncias. Ainda viva, ela esteve nessa situação durante três dias e, não podendo mais falar para exprimir sua crença na Santíssima Trindade, respondia aos algozes mostrando três dedos estendidos. E assim a virgem permaneceu até morrer, desafiando os próprios carrascos.
As graças da Igreja nascente
A próxima cena mostra uma Missa nas catacumbas, e vê-se nela um jogo de luz. Essas pinturas do Benedito Calixto representando a vida de Santa Cecília, embora muito comuns e inclusive objetáveis quanto à perspectiva, são bonitas e há nelas uma espécie de inocência provinciana, além de certa característica, não sob o ponto de vista artístico, mas social: revelam o consenso que existia, em fins do século passado,28 sobre o ambiente da Igreja Primitiva. E, de fato, elas exprimem de modo digno – apesar de não inteiramente verdadeiro – as graças da Igreja nascente.
Eu prestava atenção nessas representações, a mais não poder, pois tudo aquilo me produzia impressões interiores, que seriam como se eu estivesse vendo o episódio real, ou seja, o que cada cena deve ter comportado de sobrenatural.
Pedro Corrêa e as paisagens marinhas
Benedito Calixto foi um pintor exímio de panoramas marítimos. Na Igreja de Santa Cecília há também duas pinturas dele tidas como célebres e, a meu ver, realmente esplêndidas, representando aspectos do litoral paulista.
Uma dessas cenas, pintada no alto da porta da sacristia, mostra a conversão de Pedro Corrêa. Era um português cruel, o qual prendia os índios e os vendia como escravos. Então, na pintura aparece um jesuíta29 admoestando Pedro Corrêa e outro homem, dizendo-lhes que não deviam escravizar os índios. O vendedor, com ar contrito, reconhece que agiu mal, enquanto o segundo já segura de modo frouxo as correntes dos índios que ambos haviam aprisionado. O personagem se converteu, e a inscrição diz: “A via de Damasco de Pedro Corrêa”.
A outra pintura está em cima da porta que dá acesso à capela do Santíssimo Sacramento, e representa o martírio de Pedro Corrêa. Ele aparece agora vestido de batina, o que significa que entrou na Companhia de Jesus, foi preso e está sendo morto pelos índios que procurou salvar. Um jesuíta mártir.30
Nessas duas cenas marinhas, a natureza está esplendidamente bem pintada. A paisagem, o mar como fundo, o ambiente matinal, a beleza, a doçura e a suavidade das praias da zona de Santos, São Vicente ou Itanhaém; tudo está posto com arte, de modo estupendo e com certo imponderável sobrenatural.
Maternalmente recebido
Assim, eu gostava de olhar tudo: as pinturas representando a história de Santa Cecília e a vida de Pedro Corrêa, os vitrais, as fisionomias daqueles santos benévolos, puros e bem ordenados, que olhavam para mim, a imagem de São José… Encantava-me, inclusive, ouvir o eco do som de um banco que alguém empurrava, ou de um genuflexório que era arrastado.
Aliás, nunca se aproximou de mim alguma pessoa, a qual, vendo um menino tão aplicado em rezar na igreja, quisesse conversar um pouquinho e dar-me ajuda. Entretanto, eu me julgava tão regiamente atendido, que nem me passava pela mente a ideia de que alguém se preocupasse comigo. Entrava como indigno, mas era recebido de modo maternal; sentia o ar divino da misericórdia e agradecia o ser tolerado ali dentro.
Equilíbrio e ordem interior
Eu permanecia algum tempo na igreja, rezando a Nossa Senhora e por meio d’Ela a Jesus Sacramentado, mas, além de rezar, impregnava-me intensamente daquele ambiente. Sentia que alguma coisa me envolvia e minha alma se reabastecia – como a lamparina que recebesse combustível –, enchendo-se daquilo que eu não sabia definir, mas que me dava impressão de algo que eu tivera antes, no Colégio São Luís.
Com aquela impregnação, conseguia compensar em mim o tumulto dos desejos fruitivos desordenados e restabelecer o equilíbrio em minha alma, tomando o “lastro” necessário para a minha “navegação” até o dia seguinte, o que me parecia absolutamente essencial e indispensável para minha perseverança.
Anos depois, também percebi que naquelas ocasiões eu saía da Igreja de Santa Cecília mais fino, mais inteligente, mais capaz e, sobretudo, mais composto. Uma espécie de descontrole e de desengonço interior era substituída por uma ordem fundamental, como se alguém me dissesse: “Olhe! Aqui existe outro ar, outro clima e outra vida para você, que é imponderável e vale mais do que todo o resto”.
Um torneio de fidelidade
E, apesar de eu não ir à igreja pensando na Contra-Revolução, mas apenas com preocupações de vida espiritual e na minha intenção de ser um católico modelar, vejo com o retrospecto do tempo que a minha frequência à Igreja de Santa Cecília estimulava, apoiava e dava uma irrigação de vida às raízes mais profundas do meu espírito contrarrevolucionário.
Por exemplo, enquanto rezava eu ouvia também os ruídos da rua, sentia passar os automóveis e os bondes em torno do largo, subindo e descendo a Rua das Palmeiras, e já naquele tempo a cidade me parecia barulhenta, pois toda a vida fui grande amigo do silêncio. Pelos vitrais abertos via os fios elétricos que cruzavam o ar, escuros e medonhos, e os horríveis postes com seus copinhos de vidro. Notava com muita clareza a diferença entre a Igreja de Santa Cecília e o ambiente da rua, com seus barulhos pagãos. Era um contraste entre dois mundos!
Então, percebia haver diante de mim uma opção: se eu estivesse ali dentro e não execrasse os fios, os postes e os ruídos de fora, me habituaria a eles e acabaria por não voltar à igreja. Se, pelo contrário, eu os rejeitasse, sempre retornaria a ela. De maneira que, por assim dizer, cada ida a Santa Cecília era um torneio de fidelidade, para detestar o mundo moderno e amar a Igreja Católica.
E formulava uma conclusão: “Da Igreja Católica eu não largo nunca! Fui feito para ela, e sem ela a vida não tem sentido. Ela é divina mesmo, e eu creio nela!”
A solução de um problema interior
Hoje tenho a certeza de que toda essa degustação que eu sentia na Igreja de Santa Cecília era verdadeiramente causada por graças místicas do Divino Espírito Santo, concedidas pela intercessão de Nossa Senhora, pois se tratava de sensações de grande elevação, com verdadeiras consolações de caráter específica e nitidamente religioso. Tudo isso sem nenhuma causa natural e com frutos de virtude extraordinários, os quais concorriam muito para confirmar e dar vigor à minha Fé.
Entretanto, eu não conhecia bem a doutrina sobre a graça e, por isso, não sabia explicar o que se dava comigo. Eram encantos tão vivos, que eu tinha a impressão de que aquilo ia me tirar de dentro da realidade! Além do mais, na formação religiosa daquele tempo existia certa desconfiança em relação à mística, da qual eu ouvia dizer que era destinada apenas a alguns poucos privilegiados. Assim, mencionava-se o menos possível a existência de fenômenos como visões e revelações, pelo receio de que fossem ilusões, das quais o demônio se servisse para desviar as almas, enquanto a ascese e o raciocínio eram considerados como realmente dignos de confiança.
Eu também era entusiasta da ascese e me parecia haver certa razão nessa afirmação, mas, quand même,31 vinha-me a objeção de que nem tudo é ascese na vida espiritual… Então, punha-se para mim o problema: “Isso que você segue, essa luz, é uma fantasia ou tem fundamento racional? Se tem, apresente-o! Se não tem, liberte-se! Mas assim não pode continuar!”
Por outro lado, notava existir um grande veio de riqueza, o qual não era considerado nessa fundamentação do raciocínio: o mundo das impressões ocasionadas pelo contato com a Igreja, com as coisas católicas ou com a Civilização Cristã. Sem que ninguém o afirmasse com clareza, pressupunha-se e dava-se a entender que esse mundo devia ser excluído, como fonte de enganos e fantasias perigosas.
Ora, o raciocínio me parecia magnífico e eu tinha por ele um entusiasmo que guardo até hoje, mas não queria perder nenhum filão de riqueza espiritual, e não podia resignar-me com a ideia de que essas impressões fossem afastadas, postas de lado e em nada aproveitadas para a formação de minha alma de católico. Então, a minha resposta foi: “Não sei que fundamento racional tem isso, mas já que isso me faz bem, e rezar na igreja é uma coisa boa, vou fazê-lo sempre. Qual é a natureza disso? Não me importa, contanto que eu persevere! Além do mais, isso é tão coerente com o que há de mais reto, de mais real e de mais autêntico em mim, que se isso não existe eu também não existo. Ora, eu existo, logo isso existe!”
A tábua de salvação
Quando eu saía da igreja e me via na rua, tinha a sensação de entrar num campo de batalha, mas voltava a casa com as minhas forças restauradas. Às vezes retornava a pé, mas em outras ocasiões tomava o bonde na esquina da Rua das Palmeiras com o Largo Santa Cecília. O bonde dava uma volta de uns quinze minutos por vários bairros e acabava passando em frente a minha casa, na esquina da Alameda Barão de Limeira com a Alameda Glete.
Assim, todo o período em que deixei de frequentar o Colégio São Luís nunca se apagará de meu espírito, pois nesse tempo recebi muitas graças. Acabou a sensação de vazio que eu tinha, atravessei o ano sem perder nada de minha vida espiritual e com isso evitei o meu naufrágio.
Não tenho dúvida: se eu houvesse negligenciado de ir à Igreja de Santa Cecília todos os dias de aula, o meu fervor ameaçaria ruir, teria me tornado relaxado e depois, com o tempo, perderia a Fé.
Desse modo, uma igrejinha paroquial de São Paulo foi minha tábua de salvação. Depois desse período Nossa Senhora me ajudou de outras maneiras, e continuei a minha caminhada.
1 Em 1923.
2 O Autor se refere à pressão exercida pelos maus alunos, no sentido de arrastar os colegas nos rumos da revolução hollywoodiana, descrita e comentada por ele em diversas ocasiões. Cf. Volume II, p. 340 ss. e Volume III, p. 75 ss. desta coleção.
Na presente obra, o termo Revolução, quando grafado com inicial maiúscula, nomeia o processo revolucionário várias vezes secular, explicado pelo Autor em sua obra Revolução e Contra-Revolução. Cf. Corrêa de Oliveira, Plinio. Revolução e Contra-Revolução. São Paulo: Retornarei, 2002.
3 No Bairro de Santa Cecília.
4 Aquiles Raspantini (1889-1966), nascido em Nova Friburgo (Estado do Rio de Janeiro) e filho do Major Luigi Raspantini, ex-combatente das guerras da unificação italiana. Lecionou em vários importantes estabelecimentos de ensino da capital paulista e fundou, em 1920, o Externato Rui Barbosa, no qual Plinio estudou em 1923.
5 O Prof. Luís Simione Sobrinho (1898-1970), originário de Itatiba (SP), começou a lecionar no externato do Prof. Aquiles Raspantini no ano de 1923.
6 Em francês: desvio.
7 A aversão de Plinio em andar era causada pelo acentuado desvio na espinha dorsal de que ele padecia. Cf. Volume III desta coleção, p. 70.
8 Plinio costumava assistir à Missa dominical no Santuário do Coração de Jesus, às onze horas da manhã. Cf. Volume III desta coleção, p. 270.
9 Em francês: esbranquiçada e sem beleza.
10 Citada em latim pelo Autor, é a frase de Marta ao chamar sua irmã Maria, no momento em que Jesus chega à casa delas, em Betânia, para operar o milagre da ressurreição de Lázaro, irmão de ambas (Jo 11, 28).
11 O século XIX.
12 O Autor se refere à famosa Casa Conrado, empresa fundada em 1889 pelo alemão Conrado Sorgenicht (1835-1901). Os vitrais fabricados por essa casa ornamentaram numerosas igrejas e prédios paulistanos, como a Catedral da Sé, o Teatro Municipal, o Mercado Municipal e outros.
13 Os Bispos representados nessas pinturas, da esquerda para a direita de quem entra na Igreja de Santa Cecília, são os seguintes: D. Mateus de Abreu Pereira, quinto Bispo de São Paulo, D. Manuel Joaquim Gonçalves de Andrade, sexto Bispo de São Paulo, D. Antônio Joaquim de Melo, sétimo Bispo de São Paulo, D. Sebastião Pinto do Rego, oitavo Bispo de São Paulo, D. Lino Deodato Rodrigues de Carvalho, nono Bispo de São Paulo e D. Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti, décimo Bispo de São Paulo e primeiro Cardeal da América Latina.
14 Em francês: biselado; com as bordas cortadas obliquamente, formando moldura.
15 O martírio de Santa Donata está consignado em atas de reconhecida autenticidade. Ela faz parte de um conjunto de cristãos habitantes da colônia de Scillium, próxima a Cartago, na África Proconsular romana, decapitados à espada no dia 17 de julho de 180 por ordem do Procônsul Vigellius Saturninus, sob o reinado do Imperador Cômodo. Os mártires de Scillium são doze: Speratus, Nartzalus, Citinus, Vetturius, Felix, Aquilinus, Lætantius, Januaria, Generosa, Vestia, Donata e Secunda. A referência sobre esses mártires constitui um dos mais antigos documentos cristãos em latim que chegaram até nossos dias, e é também o mais antigo da África romana. À jovem Donata são atribuídas as seguintes palavras, durante o juízo que resultaria no seu martírio: “Nós honramos a César como é devido, mas só tememos a Deus”.
16 D. Duarte Leopoldo e Silva (1867-1938), primeiro Arcebispo de São Paulo.
17 Sobre a vinda das relíquias de Santa Donata ao Brasil, dispomos das seguintes informações: “Em 1909, D. Duarte trouxe de Roma, autenticados pelo Cardeal Piero Respighi, segundo termo recognitio exuviarum, ossos da menina mártir Santa Donata, descobertos no cemitério de Santa Priscila. Encontram-se presentemente envoltos por camada de cera, em figura humana, e são motivo de especial culto pelos devotos. De acordo com as informações de Frei Basílio Röwer, OFM, tais relíquias são consideradas insignes ou primárias”. Jorge, Clóvis de Athayde. Santa Cecília. In: História dos Bairros de São Paulo. São Paulo: Departamento do Patrimônio Histórico, 2006, v. XXX, pp. 71-72.
18 É comumente chamada de constantiniana a fase da história eclesiástica inaugurada por ocasião do término das perseguições e com a liberdade da Igreja, promovida pelo Imperador Constantino no ano de 313. Esse período teria se encerrado com as reformas do Concílio Vaticano II.
19 Em alemão: senhorita. Trata-se da Fräulein Mathilde Heldmann, a governanta alemã que esteve a cargo da educação de Plinio durante muitos anos. Cf. Volume I, pp. 196-198 e Volume III, p. 295 ss. desta coleção.
20 Sobre o discernimento dos espíritos do jovem Plinio, cf. Volume III desta coleção, p. 401 ss.
21 Em francês: donzela, senhorita.
22 Uma historiadora moderna considera a hipótese de os mártires de Scillium terem sido realmente de elevada condição, devido aos nomes latinos da maior parte deles, habitantes de uma colônia romana na África. Cf. Bernet, Anne. Les Chrétientés d’Afrique. Versailles: Éditions de Paris, 2006, pp. 14-16.
23 O Autor parece referir-se à prega central do traje, que desce a partir da cintura da imagem.
24 Em francês: “me reerguiam a alma”.
25 Benedito Calixto de Jesus (1853–1927),
pintor, desenhista e historiador paulista.
26 O século XX.
27 Em latim: “onde Pedro batizava”. Inscrição existente na pintura mencionada pelo Autor.
28 O século XIX.
29 O Pe. Leonardo Nunes, SJ (†1554).
30 Pedro Corrêa era, com efeito, mercador de escravos indígenas, que ele próprio capturava na região do litoral sul do atual Estado de São Paulo. Convertido pelas admoestações do Pe. Leonardo Nunes, SJ, e após ingressar na Companhia de Jesus como irmão leigo, tornou-se um dos mais abnegados apóstolos desses mesmos indígenas que outrora perseguira, e morreu martirizado por estes – instigados por certo colono castelhano –, juntamente com o Irmão João de Sousa, no ano de 1554.
31 Em francês: mesmo assim, apesar de tudo.
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