Veleiro – a conquista no escuro, por isso mesmo bela
O velho veleiro, na sua rudeza, oferecia coisas simples. Mas que coisas! Antes de tudo, velas estupendas, em castelo, em ponta, umas com a Cruz de Cristo ou as quinas de Portugal, outras com armas da Espanha, da França, do Sacro Império, de algum reino da Itália ou da Inglaterra. Ele oferecia os ventos desencadeados e furiosos das tempestades, o odor salino das ondas que inundavam às vezes o tombadilho e voltavam deixando suas madeiras embebidas de água; mas o homem, com a sensação do risco e do heroísmo, ia cortando o vento e fendendo a natureza; ou as noites doces, estreladas, tépidas, nas quais se tinha a impressão de que cada estrela sorria para cada passageiro e estavam tão próximas que se poderia brincar com cada uma delas, como se alguém acendesse uma maravilhosa luz e surgisse um céu recamado de lâmpadas de Aladim!
Então, havia a doçura das brisas que bailavam em torno do rosto, afagavam, faziam promessas do feliz destino da viagem. Ou, nas noites escuras, misteriosas, o deleite da incerteza. Ao avançar, o veleiro produzia a sensação de uma conquista no escuro, de uma conquista, por isso mesmo, bela. Cada pessoa se sentia dignificada.
Que riqueza existe na alma do homem e no universo feito por Deus para haver todo um conjunto de jogos de deleites diferentes! E como os deleites do veleiro antigo são superiores aos deleites do transatlântico moderno!
Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 10/11/1979)
Revista Dr Plinio (Fevereiro de 2012)
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